Título: Samba no Teatro
Artista: Inez Viana
Gravadora: Fina Flor
Cotação: * * * 1/2
Atriz que tem se revelado uma das mais criativas diretoras do teatro carioca, Inez Viana entra em cena no mercado fonográfico com o lançamento de seu primeiro CD, Samba no Teatro, no qual canta 12 músicas feitas para os palcos, onde debutaram entre 1912 e 2006. Convincente até ao interpretar a mítica Elis Regina (1945 - 1982) em controvertido musical carioca de 2002, a atriz está bem no papel de cantora deste disco produzido pelo compositor João Callado. Viana dá voz graciosa a um repertório nada óbvio. Esquecido dentro do magistral cancioneiro de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980), o samba Eu e o Meu Amor - composto para a trilha sonora da peça Orfeu da Conceição (1956) - se revela popular, vocacionado para o sucesso. "Vê se não fica a duvidar / Que eu seja pop, pop, pop, popular", pede a atriz-cantora por meio de versos da irreverente Pop Pop Popular, composição de Eduardo Dussek (artista que debutou na carreira artística nos anos 70 como pianista de peças de teatro), gravada por Edson Cordeiro em 1994. Dentro dessa linha popular, Viana faz desabrochar com ternura Linda Flor (Henrique Vogeler, Luiz Peixoto, Cândido Costa e Marques Porto), marco inaugural da era do samba-canção, tema propagado pela cantora carioca Araci Cortes (1904 - 1985) na revista Miss Brasil em 1929, ano em que Cortes registrou o samba-canção em disco de 78 rotações. Delícia da obra de Chiquinha Gonzaga (1847 - 1935), O Forrobodó - música lançada pela pioneira compositora carioca na homônima opereta de 1912 - é a faixa que evoca o espírito da pré-história do teatro brasileiro e das revistas, destino de boa parte da música popular produzida até os anos 30. Foi numa revista de 1936, Maravilhosa, que o Brasil conheceu No Tabuleiro da Baiana, um dos sambas mais saborosos de Ary Barroso (1903 - 1964). Sob o toque dos metais arranjados por Humberto Araújo, Viana apimenta o quitute ao lado do cantor Pedro Miranda. Três faixas depois, a atriz-cantora faz pitu no dendê ao reviver Biscate - samba composto por Chico Buarque para o musical Suburbano Coração (1989) - em dueto harmonioso com o próprio autor deste samba de harmonia peculiar. Sim, Chico entra em cena com Inez Viana, talvez pelo fato de ser o compositor mais recorrente na ficha técnica de Samba no Teatro. Além de Biscate, a atriz-cantora dá voz ao samba-enredo O Rei de Ramos (Francis Hime, Chico Buarque e Dias Gomes - tema que deu título ao musical encenado no Rio de Janeiro em 1979), a Tem Mais Samba - tema seminal da obra de Chico, composto para o musical Balanço de Orfeu (1964) - e a Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra), um dos títulos mais conhecidos da trilha sonora de Calabar, O Elogio da Traição (1973). Pena que Viana não imprima na sua interpretação toda a força dramática e a sensualidade de Tatuagem, ficando o maior destaque da faixa para a interpretação de pequeno trecho da peça na voz do ator Sérgio Britto (1923 - 2011), em um de seus últimos trabalhos. Cacilda (José Miguel Wisnik, 1998) - tema-título da peça encenada em São Paulo (SP) por José Celso Martinez Correa - também ressurge sem a plenitude do ser da atriz, em arranjo emoldurado pelo piano e o acordeom de Itamar Assiere. Sem jamais sair do tom, a atriz-cantora está mais à vontade no gracioso esculacho dado em Tipo Zero (1934) - samba composto por Noel Rosa (1910 - 1937) para a opereta A Noiva do Condutor (1936) - e no afro Toque de Benguela (Paulo César Pinheiro), belo tema de capoeira do musical Besouro Cordão-de-Ouro (2006). Bom, o CD Samba no Teatro reitera o talento de Inez Viana como boa atriz que consegue pôr seu afinado canto a serviço da cena, com graça, sem fazer drama.
5 comentários:
Atriz que tem se revelado uma das mais criativas diretoras do teatro carioca, Inez Viana entra em cena no mercado fonográfico com o lançamento de seu primeiro CD, Samba no Teatro, no qual canta 12 músicas feitas para os palcos, onde debutaram entre 1912 e 2006. Convincente até ao interpretar a mítica Elis Regina (1945 - 1982) em controvertido musical carioca de 2002, a atriz está bem no papel de cantora deste disco produzido pelo compositor João Callado. Viana dá voz a um repertório nada óbvio. Esquecido dentro do magistral cancioneiro de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980), o samba Eu e o Meu Amor - composto para a trilha sonora da peça Orfeu da Conceição (1956) - se revela popular, vocacionado para o sucesso. "Vê se não fica a duvidar / Que eu seja pop, pop, pop, popular", pede a atriz-cantora por meio de versos da irreverente Pop Pop Popular, composição de Eduardo Dussek (artista que debutou na carreira artística nos anos 70 como pianista de peças de teatro), gravada por Edson Cordeiro em 1994. Dentro dessa linha popular, Viana faz desabrochar com ternura Linda Flor (Henrique Vogeler, Luiz Peixoto, Cândido Costa e Marques Porto), marco inaugural da era do samba-canção, tema propagado pela cantora carioca Araci Cortes (1904 - 1985) na revista Miss Brasil em 1929, ano em que Cortes registrou o samba-canção em disco de 78 rotações. Delícia da obra de Chiquinha Gonzaga (1847 - 1935), O Forrobodó - música lançada pela pioneira compositora carioca na homônimia opereta de 1912 - é a faixa que evoca o espírito da pré-história do teatro brasileiro e das revistas, destino de boa parte da música popular produzida até os anos 30. Foi numa revista de 1936, Maravilhosa, que o Brasil conheceu No Tabuleiro da Baiana, um dos sambas mais saborosos de Ary Barroso (1903 - 1964). Sob o toque dos metais arranjados por Humberto Araújo, Viana apimenta o quitute ao lado do cantor Pedro Miranda. Três faixas depois, a atriz-cantora faz pitu no dendê ao reviver Biscate - samba composto por Chico Buarque para o musical Suburbano Coração (1989) - em dueto harmonioso com o próprio autor deste samba de harmonia peculiar. Sim, Chico entra em cena com Inez Viana, talvez pelo fato de ser o compositor mais recorrente na ficha técnica de Samba no Teatro. Além de Biscate, a atriz-cantora dá voz ao samba-enredo O Rei de Ramos (Francis Hime, Chico Buarque e Dias Gomes - tema que deu título ao musical encenado no Rio de Janeiro em 1979), a Tem Mais Samba - tema seminal da obra de Chico, composto para o musical Balanço de Orfeu (1964) - e a Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra), um dos títulos mais conhecidos da trilha sonora de Calabar, O Elogio da Traição (1973). Pena que Viana não imprima na sua interpretação toda a força dramática e a sensualidade de Tatuagem, ficando o maior destaque da faixa para a interpretação de pequeno trecho da peça na voz do ator Sérgio Britto (1923 - 2011), em um de seus últimos trabalhos. Cacilda (José Miguel Wisnik, 1998) - tema-título da peça encenada em São Paulo (SP) por José Celso Martinez Correa - também ressurge sem a plenitude do ser da atriz, em arranjo emoldurado pelo piano e o acordeom de Itamar Assiere. Sem jamais sair do tom, a atriz-cantora está mais à vontade no gracioso esculacho dado em Tipo Zero (1934) - samba composto por Noel Rosa (1910 - 1937) para a opereta A Noiva do Condutor (1936) - e no afro Toque de Benguela (Paulo César Pinheiro), belo tema de capoeira do musical Besouro Cordão-de-Ouro (2006). Bom, o CD Samba no Teatro reitera o talento de Inez Viana como boa atriz que consegue pôr seu afinado canto a serviço da cena, com graça, sem fazer drama.
Li boas críticas a este disco. Gosto de Inez Viana, a acho uma excelentre atriz. E a ideia para o projeto desse disco é fantástica. Pegar sambas que foram criados para peças teatrais e gravá-los num disco é simplesmente inspirador. Na curiosidade e na melhor das expectativas para ouvir este álbum.
Dessas cantoras atrizes gosto da Thalma de Freitas tem voz boa.
ouvi falar aqui em sampa muito mal desse musical sobre elis
Bela Capa, simples e funcional, fiquei com vontade de ouvir o trabalho dela.
Postar um comentário