Mauro Ferreira no G1

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domingo, 2 de dezembro de 2012

'Victoria' depura canto de Herbert e faz seu coração bater em tom suave

Resenha de CD
Título: Victoria
Artista: Herbert Vianna
Gravadora: Oi Música
Cotação: * * * *

Sempre bateu um coração por trás dos óculos e da pose de roqueiro de Herbert Vianna. Quarto disco solo do vocalista e guitarrista do trio carioca Paralamas do Sucesso, Victoria reanima esse coração romântico em compasso íntimo e pessoal. O sucessor de O Som do Sim (2000) é disco de concepção quase solitária, dividida com o produtor Chico Neves. Autores dos (leves) arranjos, Herbert e Neves pilotam todos os instrumentos e criam a ambiência pop folk em que se aninha o cancioneiro inteiramente autoral, quase todos fornecido pelo (grande) compositor para cantoras e grupos. Ao longo de 20 faixas, Victoria alinha 17 músicas cedidas por Herbert para vozes alheias, duas gravadas pelo próprio artista (Une Chanson Triste e Eu Não Sei Nada de Você, ambas lançadas no supra-citado álbum O Som do Sim) e uma inédita . A novidade é Penso em Você, samba de aura bossa-novista, composto pelo artista nos primórdios de sua obra e ora tirado do baú. Com eventuais incursões pelo blues (na desconhecida Mulher Sem Nome - música gravada pelo cantor Eduardo Toledo - e no também obscuro Blues da Garantia, lançado por Ari Borger), Victoria é essencialmente um disco de amor que alude no título ao nome da inglesa Victoria Lucy Needham Vianna - mulher de Herbert, morta em fevereiro de 2001 no acidente de ultraleve que deixou o músico paraplégico - e que reitera a inspiração do compositor na criação de canções que falam ao coração. Pra Terminar (lançada pelo grupo Biquini Cavadão em 2000), Eu Não Sei Nada de Você (gravada pelo próprio Herbert em dueto com a cantora Luciana Pestano n'O Som do Sim), Pense Bem (pérola rara que jazia escondida na discografia do Negril, o grupo de reggae que lançou o tema em 1999) e a obra-prima Se Eu Não te Amasse Tanto Assim (rara parceria da obra solo do autor, feita com o letrista Paulo Sérgio Valle e lançada por Ivete Sangalo em 1999) são canções que injetaram frescor e alguma poesia na canção sentimental brasileira. Dispostas lado a lado em Victoria, tais canções dialogam umas com as outras  no canto depurado de Herbert. Sim, um dos traços marcantes de Victoria é o tratamento da voz do cantor. Intérprete que nunca primou pela afinação absoluta, Herbert acerta ao entoar as canções em tons suaves, mais graves, sem excessos, em sintonia com o toque brando dos instrumentos. Tudo está no tom, desde o canto falado de Vem pra Mim (música lançada pelo RPM em 2002) até a abordagem a la Los Hermanos de Junto ao Mar (canção lançada pela banda Penélope em 2001). A depuração do canto corta o açúcar de A Lua Que Eu Te Dei (balada feita para Ivete Sangalo em 2000) e valoriza Victoria. "Pra que buscar palavras na razão / Se a gente é coração?", questiona o bom cantor através de versos escritos por Paulo Sérgio Valle para a balada Quando Você Não Está Aqui, rejeitada por Roberto Carlos e lançada na voz de Maria Bethânia em seu majestoso álbum Maricotinha, em 2001. Victoria mostra que é preciso ouvir bem o coração de Herbert Vianna.

13 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Sempre bateu um coração por trás dos óculos e da pose de roqueiro de Herbert Vianna. Quarto disco solo do vocalista e guitarrista do trio carioca Paralamas do Sucesso, Victoria reanima esse coração romântico em compasso íntimo e pessoal. O sucessor de O Som do Sim (2000) é disco de concepção quase solitária, dividida com o produtor Chico Neves. Autores dos (leves) arranjos, Herbert e Neves pilotam todos os instrumentos e criam a ambiência pop folk em que se aninha o cancioneiro inteiramente autoral, quase todos fornecido pelo (grande) compositor para cantoras e grupos. Ao longo de 20 faixas, Victoria alinha 17 músicas cedidas por Herbert para vozes alheias, duas gravadas pelo próprio artista (Une Chanson Triste e Eu Não Sei Nada de Você, ambas lançadas no supra-citado álbum O Som do Sim) e uma inédita . A novidade é Penso em Você, samba de aura bossa-novista, composto pelo artista nos primórdios de sua obra e ora tirado do baú. Com eventuais incursões pelo blues (na desconhecida Mulher Sem Nome - música gravada pelo cantor Eduardo Toledo - e no também obscuro Blues da Garantia, lançado por Ari Borger), Victoria é essencialmente um disco de amor que alude no título ao nome da inglesa Victoria Lucy Needham Vianna - mulher de Herbert, morta em fevereiro de 2001 no acidente de ultraleve que deixou o músico paraplégico - e que reitera a inspiração do compositor na criação de canções que falam ao coração. Pra Terminar (lançada pelo grupo Biquini Cavadão em 2000), Eu Não Sei Nada de Você (gravada pelo próprio Herbert em dueto com Luciana Pestano n'O Som do Sim), Pense em Mim (pérola que jazia escondida na discografia do Negril, o grupo de reggae que lançou o tema em 1999) e a obra-prima Se Eu Não te Amasse Tanto Assim (rara parceria da obra solo do autor, feita com o letrista Paulo Sérgio Valle e lançada por Ivete Sangalo em 1999) são canções que injetaram frescor e alguma poesia na canção sentimental brasileira. Dispostas lado a lado em Victoria, tais canções dialogam umas com as outras no canto depurado de Herbert. Sim, um dos traços marcantes de Victoria é o tratamento da voz do cantor. Intérprete que nunca primou pela afinação absoluta, Herbert acerta ao entoar as canções em tons suaves, mais graves, sem excessos, em sintonia com o toque brando dos instrumentos. Tudo está no tom, desde o canto falado de Vem pra Mim (música lançada pelo RPM em 2002) até a abordagem a la Los Hermanos de Junto ao Mar (canção lançada pela banda Penélope em 2001). A depuração do canto corta o açúcar de A Lua Que Eu Te Dei (balada feita para Ivete Sangalo em 2000) e valoriza Victoria. "Pra que buscar palavras na razão / Se a gente é coração?", questiona o bom cantor através de versos escritos por Paulo Sérgio Valle para a balada Quando Você Não Está Aqui, rejeitada por Roberto Carlos e lançada na voz de Maria Bethânia em seu majestoso álbum Maricotinha, em 2001. Victoria mostra que é preciso ouvir bem o coração de Herbert Vianna.

Luca disse...

Pra terminar é um sucesso da Ana Carolina, não do Biquíni

gruvz disse...

O nome da música gravada pelo Negril é "Pense Bem" e não "Pense em Mim"

Jorge Barbosa disse...

Luca, você está mal informado. A música 'Pra Terminar' foi gravada pela primeira vez em 2000 no CD 'Escuta Aqui' do Biquini Cavadão. A Ana regravou em 2001. Nosso amigo Mauro Ferreira, como sempre, está certíssimo. Parabéns pelo blog. Leitura diária.

Jorge Barbosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

O Herbert levou uma porrada pra lá de pesada da vida.
Gostei muito do seu documentário - Herbert de Perto.
E estou com muita vontade de ver o do Yuka.
Eles são iguais em desgraça e em graça também.

Fábio disse...

O Biquini Cavadão gravou PRA TERMINAR antes daquela gritaria insuportável em que a Ana Carolina transformou a música.

Unknown disse...

Fiquei curioso para ouvir o Cd. Não sou muito fã de Herbert como cantor, mas ele tem músicas ótimas. Mauro, a canção "Junto Ao Mar" também foi gravada por uma cantora chamada Karyme Hass em 2003, no Álbum Faces e Fases. A canção teve um grande destaque na época na Rádio MPB Fm, e a gravação é linda.

Mauro Ferreira disse...

Gruvz, grato pelo toque do erro da grafia da música do Negril. Já corrigi! abs, MauroF

Palavras que escutam o som disse...

Mauro,
Primeiro devo lhe felicitar pelo ótimo trabalho que é este blog.Muito completo, muito rico.Sempre deixando todo mundo musicalmente atualizado ;)
Segundo, e mesmo sobre o post de Herbert, fiquei com curiosidade de destilar este seu novo trabalho.

Cp

Daniel disse...

Muito suave o cd.Bem palatável mesmo!Só faltaram duas pérolas que o Dussek gravou nos anos 80: "O Crápula"e "Recebi Seu Bilhetinho".Nem parecem composições do Herbert e acho que seria muito curioso e divertido se ele as gravasse.

Abs.

Rafael disse...

O disco é bonito, tocante. Gostei das versões que o Herbert fez para clássicos criados por ele já eternizadas nas vozes de outros cantores. Daniel, ficou faltando também ele fazer um cover da bela "Beijo Salvador", que a Verônica Sabino gravou no seu "Que Nega É Essa?". Seria interessante ouvir essa canção em sua voz.

Rafael disse...

Neste blog se conta uma história envolvendo a criação de cada canção:

http://faixaafaixa.blogspot.com.br/2012/11/o-compositor-reencontra-suas-cancoes.html