Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

'A dona das canções' perfila com paixão Cida Moreira, cantora brasileira

Resenha de livro - Coleção Aplauso Música
Título: Cida Moreira - A dona das canções
Artista: Thiago Sogayar Bechara
Editora: Imprensa Oficial Governo do Estado de São Paulo
Cotação: * * * *

É evidente a paixão com que Thiago Sogayar Bechara, jovem jornalista e escritor paulistano de 25 anos, perfila Cida Moreira ao longo das 288 páginas de livro recém-editado na Coleção Aplauso Música. Entretanto, tal paixão não dilui a objetividade do relato jornalístico da trajetória da cantora e atriz, feito com precisão em Cida Moreira - A dona das canções. Concluído em 2008, o trabalho de pesquisa e redação da biografia exclui - por conta da edição tardia do livro - toda a projeção obtida a partir de 2011 por Cida com o disco e o show A dama indigna, marco na carreira da intérprete. Mesmo sem alcançar esse último relevante trabalho de Cida, o livro se revela de suma importância por reconstituir os passos profissionais dessa cantora brasileira que tem feito ecoar sua voz operística com coerência, através das margens e frestas de mercado que costuma calar vozes dissonantes que rejeitam modismos e fórmulas de sucesso. Máxima representante nacional das saloon singers, Cida Moreira se impõe no perfil apaixonado de Bechara como uma cantora brasileira que extrapola os limites dos salões dos cabarés. Uma cantora brasileira que se consagrou como a principal voz nacional das canções dos compositores alemães Bertolt Brecht (1898 - 1956) e Kurt Weill (1900 - 1950). Mas que também deu voz a trilhas do cinema nacional, a modinhas dos tempos do Império, ao samba refinado do compositor carioca Cartola (1908 - 1980) - o Angenor tão bem cantado por Cida em belo disco de 2008 - e às músicas teatrais de Chico Buarque, cuja obra a artista abordou no CD Cida Moreyra canta Chico Buarque (1993), alvo de elogios do geralmente lacônico compositor homenageado. "...Mais uma vez, ela me surpreendeu pela inteligência e pela sensibilidade de suas interpretações. É um disco que escuto ainda hoje com muito gosto", confidencia Chico em depoimento ao autor do livro. Repleto de fotos do arquivo pessoal da cantora, Cida Moreira - A dona das canções expõe as várias faces de Maria Aparecida Guimarães Campiolo - paulista nascida em 12 de novembro de 1951 - ao longo da vida. Se os rostos são muitos, o amor pela música - manifestado já na infância e incentivado pelos pais de Cida - se revelou único, indissolúvel, eterno. Os estudos de piano foram iniciados na interiorana cidade de Paraguaçu Paulista - onde Cida cantou pela primeira vez, em 1957, aos seis anos, entoando o samba-canção Serra da boa esperança (Lamartine Babo, 1937) na Rádio Marconi - e continuados em Londrina (PR), parada posterior da artista em formação. Mas foi em outra cidade do interior paulista, Assis, que Cida começou a moldar sua personalidade artística, sempre no limiar entre a música e o teatro. Bechara detalha todo o envolvimento de Cida com grupos de teatro que, mais tarde, a levariam a dar os primeiros passos profissionais na carreira. Formada em Psicologia, Cida - ouvinte atenta das cantoras do rádio na década de 50 - chegou a exercer a profissão até que o trabalho com a música absorveu todo seu tempo e sua alma. Com trânsito livre pela cena underground de São Paulo (SP), a cantora montou shows - Summertime - Um show pra inglês ver (1979/1980), Serpente rara (1981), Arte (1984) - que sedimentaram seu estilo único e lhe garantiram público devotado, pequeno, mas fiel. Toda a caminhada dessa digníssima dama da canção brasileira está documentada no livro em relatos detalhados e em fotos deslumbrantes que falam por si só. Cida Moreira - A dona das canções é o atestado de que uma cantora pode construir carreira sem macular seu canto e sua Arte. Cida Moreira sempre foi dona do dom, da voz - e essa voz ressoa forte, inteira, firme, independente, na escrita passional desse livro digno de calorosos aplausos. Bravo, Cida Moreira!

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É evidente a paixão com que Thiago Sogayar Bechara, jovem jornalista e escritor paulistano de 25 anos, perfila Cida Moreira ao longo das 288 páginas de livro recém-editado na Coleção Aplauso Música. Entretanto, tal paixão não dilui a objetividade do relato jornalístico da trajetória da cantora e atriz, feito com precisão em Cida Moreira - A dona das canções. Concluído em 2008, o trabalho de pesquisa e redação da biografia exclui - por conta da edição tardia do livro - toda a projeção obtida a partir de 2011 por Cida com o disco e o show A dama indigna, marco na carreira da intérprete. Mesmo sem alcançar esse último relevante trabalho de Cida, o livro se revela de suma importância por reconstituir os passos profissionais dessa cantora brasileira que tem feito ecoar sua voz operística com coerência, através das margens e frestas de mercado que costuma calar vozes dissonantes que rejeitam modismos e fórmulas de sucesso. Máxima representante nacional das saloon singers, Cida Moreira se impõe no perfil apaixonado de Bechara como uma cantora brasileira que extrapola os limites dos salões dos cabarés. Uma cantora brasileira que se consagrou como a principal voz nacional das canções dos compositores alemães Bertolt Brecht (1898 - 1956) e Kurt Weill (1900 - 1950). Mas que também deu voz a trilhas do cinema nacional, a modinhas dos tempos do Império, ao samba refinado do compositor carioca Cartola (1908 - 1980) - o Angenor tão bem cantado por Cida em belo disco de 2008 - e às músicas teatrais de Chico Buarque, cuja obra a artista abordou no CD Cida Moreyra canta Chico Buarque (1993), alvo de elogios do geralmente lacônico compositor homenageado. "...Mais uma vez, ela me surpreendeu pela inteligência e pela sensibilidade de suas interpretações. É um disco que escuto ainda hoje com muito gosto", confidencia Chico em depoimento ao autor do livro. Repleto de fotos do arquivo pessoal da cantora, Cida Moreira - A dona das canções expõe as várias faces de Maria Aparecida Guimarães Campiolo - paulista nascida em 12 de novembro de 1951 - ao longo da vida. Se os rostos são muitos, o amor pela música - manifestado já na infância e incentivado pelos pais de Cida - se revelou único, indissolúvel, eterno. Os estudos de piano foram iniciados na interiorana cidade de Paraguaçu Paulista - onde Cida cantou pela primeira vez, em 1957, aos seis anos, entoando o samba-canção Serra da boa esperança (Lamartine Babo, 1937) na Rádio Marconi - e continuados em Londrina (PR), parada posterior da artista em formação. Mas foi em outra cidade do interior paulista, Assis, que Cida começou a moldar sua personalidade artística, sempre no limiar entre a música e o teatro. Bechara detalha todo o envolvimento de Cida com grupos de teatro que, mais tarde, a levariam a dar os primeiros passos profissionais na carreira. Formada em Psicologia, Cida - ouvinte atenta das cantoras do rádio na década de 50 - chegou a exercer a profissão até que o trabalho com a música absorveu todo seu tempo e sua alma. Com trânsito livre pela cena underground de São Paulo (SP), a cantora montou shows - Summertime - Um show pra inglês ver (1979/1980), Serpente rara (1981), Arte (1984) - que sedimentaram seu estilo único e lhe garantiram público devotado, pequeno, mas fiel. Toda a caminhada dessa digníssima dama da canção brasileira está documentada no livro em relatos detalhados e em fotos deslumbrantes que falam por si só. Cida Moreira - A dona das canções é o atestado de que uma cantora pode construir carreira sem macular seu canto e sua Arte. Cida Moreira sempre foi dona do dom, da voz - e essa voz ressoa forte, inteira, firme, independente, na escrita passional desse livro digno de calorosos aplausos. Bravo, Cida Moreira!

Apolo Bantuk disse...

CIDA ENCANTA COM SEU MODO PRÓPRIO DE "DIZER" O QUE SE PROPÕE...SUAS INTERPRETAÇÕES SÃO AUTÊNTICAS E GENUÍNAS...SEU TIMBRE INIGUALÁVEL E PROVOCANTE ARREPIA!

Denilson Santos disse...

Excelente cantora, mais que isso, excelente intérprete.

O disco em homenagem a Cartola é maravilhoso.

Ela é reminiscente de uma época em que os artistas eram menos comercialescos...

abração,
Denilson

Rafael disse...

Para mim, uma das grandes cantoras desse país, aliadas a umas tantas outras muito boas. Creio que esse livro desse estar sensacional. Artista nata, de talento ímpar e de canto inspirado.