sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Aos 57 anos, Marina expõe sua (atual) maneira de ser na volta à casa carioca

Resenha de show
Título: Maneira de ser
Artista: Marina Lima (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Centro Cultural João Nogueira - Imperator (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 16 de janeiro de 2013
Cotação: * * * 1/2

 Embora radicada em São Paulo (SP), em mudança de rota sinalizada pelo revigorante álbum de inéditas Clímax (2011), Marina Lima tem alma carioca, mesmo tendo nascido no Piauí. A alma de (grande parte) de sua obra também é carioca e, à moda de Marina, traduz o espírito e a vivência de Ipanema e Leblon, bairros cartões-postais da cidade do Rio de Janeiro (RJ) - ainda que o corpo dessa obra tenha face cosmopolita que ignora fronteiras geográficas, até pelo fato de a artista ter vivido parte de sua pré-história musical nos Estados Unidos. Talvez por isso a volta da cantora aos palcos do Rio de Janeiro (RJ), na noite de 16 de janeiro de 2013, tenha sido tão feliz. Sob a direção de Marcio Debellian, Marina apresentou no Imperator - a reaberta casa de shows do Centro Cultural João Nogueira, situado na periférica Zona Norte da cidade - um show novo, concebido para a estrada e para promover a abertura da exposição Maneira de ser, que perfila a carreira da artista e inaugura no Imperator a série Permanências, projeto (desenvolvido sob a curadoria de Debellian e Miguel Jost) que vai promover a interação entre música e artes plásticas. Aliás, o show de Marina já foi feito sob tal ótica, integrando músicas, poesia e artes visuais - e esse diferencial deu caráter único à apresentação. Irmão e principal parceiro de Marina, Antonio Cícero abriu o show recitando em vídeo o poema Inocentes do Leblon, de Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987) e preparando o clima para Virgem (Marina Lima e Antonio Cícero, 1987), música que deu a partida em roteiro que priorizou os hits do auge comercial da discografia da artista, mas que incluiu surpresas como Pseudo-blues (Nico Rezende e Jorge Salomão), tema que Marina nunca havia cantado ao vivo - como a própria artista ressaltou em cena na primeira das muitas vezes em que se dirigiu ao público, este eletrificado pela oportunidade de (re)ver a artista no palco em que, em 1991, a cantora estreou o show inspirado no (grande) disco Marina Lima. Pseudo-blues foi número ilustrado pela exibição em vídeo de Deserto e chuva, tela de Killian Glasner, pernambucano radicado em Berlim. Quatro números depois, a balada Me chama (Lobão, 1984) - acompanhada em coro espontâneo pelo público - foi sincronizada com a exibição de Chuva, vídeo de Paulo Mendel, artista carioca radicado em São Paulo. A interação entre vídeos e músicas remeteu de imediato à refinada estética do show Verdade uma ilusão - estreado por Marisa Monte em junho de 2012 - mas, justiça seja feita, o diretor Marcio Debellian já vinha desenvolvendo tal integração no projeto Palavras cruzadas, realizado em 2012, mas concebido em 2011. De todo modo, a música de Marina Lima é personalíssima e sua individualidade se impôs logo em cena. De início, a voz - irremediavelmente prejudicada em 1996 por erro médico, como agora já se sabe - estava frágil, sem vida. Virgem chegou a constranger por conta dessa fragilidade. Contudo, aos poucos, a voz foi aquecendo e ganhando vida ao longo do show. No bis, feito com Como 2 e 2 (Caetano Veloso, 1971), Ainda é cedo (Dado Villa-Lobos, Ico Ouro Preto, Renato Russo, Marcelo Bonfá, 1985) e Uma noite e 1/2 (Renato Rockett, 1987), a questão da voz já era insignificante. Não, nada do que foi será do que jeito que já foi um dia. Só que os arranjos também não procuram emular o passado de Marina. Ao contrário, todos soam atuais, moldados para os dias de hoje, com natural dose de eletrônica. Estreado pela cantora em apresentação feita em 12 de janeiro no Sesc da cidade de Osasco, em São Paulo, o show reconecta Marina ao tecladista William Magalhães, integrante de banda que inclui Alex Fonseca (bateria e programações) e Edu Martins (guitarra) - produtores do infelizmente pouco ouvido CD Clímax -  além da vocalista Jennifer, estreante no palco de Marina. Com sua (meia) voz adequada aos tons possíveis, Marina estava em casa no Imperator. Leve e descontraída, a cantora fez Charme do mundo (Marina Lima e Antonio Cícero, 1981), ficou febril em Não me venha mais com o amor (Marina Lima e Adriana Calcanhotto, 2011) e recebeu Letuce - dupla carioca formada pelo casal Letícia Novaes (voz) e Lucas Vasconcelos (guitarra) - para azeitada participação em Acontecimentos (Marina Lima e Antonio Cícero, 1991), desconstruindo e reacendendo a canção, para usar termos ditos por Marina em cena. Entre lados B como À meia voz (Marina Lima e Antonio Cícero, 1993) e hits inevitáveis como Fullgás (Marina Lima e Antonio Cícero, 1984), Marina Lima reiterou sua jovialidade aos 57 anos, deixando a impressão de que, entre alegrias e tristezas, segue apenas porque gosta de cantar. O tempo de Marina Lima é hoje...

4 comentários:

  1. Adorei o repertório desse show, cada canção melhor do que a outra. Porém também concordo com o fato de que Marina não está tendo mais tanto fôlego para cantar quanto antes.

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  2. O show foi bacana mesmo. Vi esse show em Sorocaba, a semana passada, pois não consegui ingresso para Osasco.Ela estava ótima. A voz interessante. Pois Marina sabe como resolver musicalmente suas canções. É um show para ser visto. Fiquei muito comovido e o público que lotou o ginásio tb. Ela está ótima. Marina é uma artista única na MPB. Sofisticada e popular, medida difícil para suas seguidoras. Os arranjos são lindos. Não são modernos, são atemporais, ricos. Também acho que o "tempo dela é hoje",como diz Mauro Ferreira.

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  3. O show foi bacana mesmo. Vi esse show em Sorocaba, a semana passada, pois não consegui ingresso para Osasco.Ela estava ótima. A voz interessante. Pois Marina sabe como resolver musicalmente suas canções. É um show para ser visto. Fiquei muito comovido e o público que lotou o ginásio tb. Ela está ótima. Marina é uma artista única na MPB. Sofisticada e popular, medida difícil para suas seguidoras. Os arranjos são lindos. Não são modernos, são atemporais, ricos. Também acho que o "tempo dela é hoje",como diz Mauro Ferreira.

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