sábado, 26 de janeiro de 2013

Com animação oscilante, baile de Roberta Sá renova repertório do salão

Resenha de show
Título: Baile da Rosa
Artista: Roberta Sá (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Miranda (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 19 de janeiro de 2013
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz aos sábados na Miranda, no Rio de Janeiro (RJ), até 2 de fevereiro de 2013
Também em cartaz na casa HSBC Brasil, em São Paulo (SP), em 1º de fevereiro de 2013

Se depender do (ótimo) repertório selecionado por Roberta Sá para o Baile da Rosa, show carnavalizante idealizado pela cantora para a temporada pré-folia de 2013, a trilha sonora do próximo Carnaval não vai ser igual à daquele que passou. Em vez de se escorar somente nos sambas, marchas e frevos que animam habitualmente os salões, a cantora potiguar aplica algumas doses de renovação nesse repertório. E é justamente por conta dessa renovação que a animação do Baile da Rosa resulta oscilante. No primeiro dos dois sets do baile, intercalados com a apresentação do DJ Marcelo Janot, Roberta põe no salão sambas pouco conhecidos como A visita oficial do samba (Zé Paulo Becker e Paulo César Pinheiro) e Feiúra não é nada (Billy Blanco) - tema lançado por Dolores Duran (1930 - 1959) em LP de 1957 - que surtem pouco efeito entre o público. Dividido entre os fãs animados da cantora e os frequentadores senhoris da casa Miranda, mais apegados aos seus uísques do que ao show propriamente dito, o público da estreia nacional do Baile da Rosa nem sempre entrou na onda de Roberta. Mas o show em si é muito bom e vai crescer em empolgação quando for para casas mais joviais como a voz graciosa da cantora. Em sintonia com os arranjos de Edu Neves e Rodrigo Campello, que por vezes enfatizam os metais e criam clima de gafieira para números como Sambou, sambou (João Donato e João Mello), a cantora está à vontade na condução do baile. "É uma festa, gente!...", caracterizou Roberta antes de pôr na rua o desalentado bloco de Tristeza pé no chão (Armando Fernandes Mamão), grande samba do repertório de Clara Nunes (1942 - 1983). Para habituais frequentadores dos shows de Roberta Sá, a maior novidade do Baile da Rosa reside no repertório até então inédito na voz da cantora. Com a leveza que caracteriza seu canto, Roberta transita com desenvoltura pelos repertórios de Miltinho - Samba da cor (Marly de Oliveira e Castrinho), pérola de álbum dividido pelo cantor carioca com Elza Soares em 1969 - e do Cacique de Ramos, Água na boca, samba com o qual o bloco carioca desfilou no Carnaval de 1962. No roteiro do Baile da Rosa, Água na boca está linkado no fim do primeiro set com Chinelo novo (João Nogueira e Niltinho Tristeza), outro sucesso carnavalesco do Cacique de Ramos. No segundo set, aberto com a modernidade baiana de Um passo à frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro), Roberta Sá dá voz a um repertório de tom por vezes mais contemporâneo. Se ainda finca um pé no passado ao cantar as marchas Máscara negra (Zé Kétti) e Primeiro Clarim (Rutinaldo e Klécius Caldas), sucessos nas vozes das cantoras Dalva de Oliveira (1917 -1972) e Dircinha Batista (1922 - 199), Robertá dá um passo à frente e prova que dá pé irmanar temas dos repertórios de Silvia Machete (Meu Carnaval, parceria com Márcio Pombo, de 2010) e de Los Hermanos (Deixa o verão, de Rodrigo Amarante) em suíte finalizada com o carnavalizante pop de Rita Lee, lembrada com Banho de espuma (1981), parceria da fase áurea da obra de Rita com Roberto de Carvalho. É também com um pé no passado e outro no presente que Roberta veste Sebastiana (Rosil Cavalcanti) com roupagem eletrônica. Embora marchas infalíveis como Chiquita Bacana (João de Alberto e Alberto Ribeiro) e A filha de Chiquita Bacana (Caetano Veloso) garantam real animação, o fim do segundo set é dominado pelos frevos, encadeados em bloco acalorado que termina com Chuva, suor e cerveja (Caetano Veloso), outro título irresistível até num salão senhoril como o da casa Miranda. Mesmo com animação oscilante, o Baile da Rosa justifica o Carnaval de Roberta Sá.

8 comentários:

  1. Se depender do (ótimo) repertório selecionado por Roberta Sá para o Baile da Rosa, show carnavalizante idealizado pela cantora para a temporada pré-folia de 2013, a trilha sonora do próximo Carnaval não vai ser igual à daquele que passou. Em vez de se escorar somente nos sambas, marchas e frevos que animam habitualmente os salões, a cantora potiguar aplica algumas doses de renovação nesse repertório. E é justamente por conta dessa renovação que a animação do Baile da Rosa resulta oscilante. No primeiro dos dois sets do baile, intercalados com a apresentação do DJ Marcelo Janot, Roberta põe no salão sambas pouco conhecidos como A visita oficial do samba (Zé Paulo Becker e Paulo César Pinheiro) e Feiúra não é nada (Billy Blanco) - tema lançado por Dolores Duran (1930 - 1959) em LP de 1957 - que surtem pouco efeito entre o público. Dividido entre os fãs animados da cantora e os frequentadores senhoris da casa Miranda, mais apegados aos seus uísques do que ao show propriamente dito, o público da estreia nacional do Baile da Rosa nem sempre entrou na onda de Roberta. Mas o show em si é muito bom e vai crescer em empolgação quando for para casas mais joviais como a voz graciosa da cantora. Em sintonia com os arranjos de Edu Neves e Rodrigo Campello, que por vezes enfatizam os metais e criam clima de gafieira para números como Sambou, sambou (João Donato e João Mello), a cantora está à vontade na condução do baile. "É uma festa, gente!...", caracterizou Roberta antes de pôr na rua o desalentado bloco de Tristeza pé no chão (Armando Fernandes Mamão), grande samba do repertório de Clara Nunes (1942 - 1983). Para habituais frequentadores dos shows de Roberta Sá, a maior novidade do Baile da Rosa reside no repertório até então inédito na voz da cantora. Com a leveza que caracteriza seu canto, Roberta transita com desenvoltura pelos repertórios de Miltinho - Samba da cor (Marly de Oliveira e Castrinho), pérola de álbum dividido pelo cantor carioca com Elza Soares em 1969 - e do Cacique de Ramos, Água na boca, samba com o qual o bloco carioca desfilou no Carnaval de 1962. No roteiro do Baile da Rosa, Água na boca está linkado no fim do primeiro set com Chinelo novo (João Nogueira e Niltinho Tristeza), outro sucesso carnavalesco do Cacique de Ramos. No segundo set, aberto com a modernidade baiana de Um passo à frente (Moreno Veloso e Quito Ribeiro), Roberta Sá dá voz a um repertório de tom por vezes mais contemporâneo. Se ainda finca um pé no passado ao cantar as marchas Máscara negra (Zé Kétti) e Primeiro Clarim (Rutinaldo e Klécius Caldas), sucessos nas vozes das cantoras Dalva de Oliveira (1917 -1972) e Dircinha Batista (1922 - 199), Robertá dá um passo à frente e prova que dá pé irmanar temas dos repertórios de Silvia Machete (Meu Carnaval, parceria com Márcio Pombo, de 2010) e de Los Hermanos (Deixa o verão, de Rodrigo Amarante) em suíte finalizada com o carnavalizante pop de Rita Lee, lembrada com Banho de espuma (1981), parceria da fase áurea da obra de Rita com Roberto de Carvalho. É também com um pé no passado e outro no presente que Roberta veste Sebastiana (Rosil Cavalcanti) com roupagem eletrônica. Embora marchas infalíveis como Chiquita Bacana (João de Alberto e Alberto Ribeiro) e A filha de Chiquita Bacana (Caetano Veloso) garantam real animação, o fim do segundo set é dominado pelos frevos, encadeados em bloco acalorado que termina com Chuva, suor e cerveja (Caetano Veloso), outro título irresistível até num salão senhoril como o da casa Miranda. Mesmo com animação oscilante, o Baile da Rosa justifica o Carnaval de Roberta Sá.

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  2. para tudo: se o Mauro que baba ovo pra tudo que sua protegida Roberta faz deu só três estrelas e meia é por que esse baile deve ser um porre

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  3. Luca,

    O Mauro não deve ser chegado a carnaval. rs

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  4. Amei ver ela cantar Chuva, Suor e Cerveja de Caetano sonho realizado.

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  5. Belíssimo show, belíssimo repertório. Tomara que saia em CD e DVD.

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  6. eu adorei. Em especial o início com "A visita oficial do samba" onde a voz dela alcança notas que ela nunca fez em show/disco. Muito do repertório do show Segunda Pele tb está ali em medleys.


    Ficou tudo muito bom, mas o Miranda é o erro.
    O carnaval morre ali com aquele lugar cafona, aquelas pessoas cafonas, aquele Leblon blase. Tudo muito over.

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  7. Sim, Pedro, tem razão. O erro do show está na escolha equivocada da casa. E essa escolha acaba interferindo no resultado final do show. Fosse no Circo Voador, o baile 'bombaria'. Abs, MauroF

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  8. Acredito que o melhor de Roberta é a ousadia a que ela se permite, sempre com muita classe e sabedoria na escolha de seu repertorio. Um espelho a ser seguido por outras cantoras de sua geraçao.

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