Título: Vambora lá dançar
Artista: Elba Ramalho
Gravadora: Sala de Som Records
Cotação: * * *
Vambora lá dançar - o disco que Elba Ramalho lança esta semana e que chega efetivamente às lojas no início de fevereiro de 2013 - concentra duas produções distintas. Oito de suas 14 faixas foram produzidas e arranjadas por Cézar Thomáz - o sanfoneiro Cezinha - para um disco que originalmente iria se chamar Forró brasileiro. As outras seis foram pilotadas, em momento posterior, por Zé Américo Bastos, que retocou as gravações formatadas por Cezinha. Há evidente desequilíbrio entre as duas produções. A de Cezinha é mais orgânica. Mais eletrônica, a de Zé Américo recorre a programações de bateria e percussão com resultado nem sempre adequado ao (ótimo) repertório selecionado por Elba para seu 31º disco. Só que a cantora é paraibana valente. Aos 61 anos, ainda em boa forma vocal, a intérprete dribla essa irregularidade da produção e apresenta bom álbum. Vambora lá dançar não alça o alto voo artístico do moderno Qual o assunto que mais lhe interessa? (2007) - o melhor disco de Elba na fase independente da artista - mas se situa no mesmo bom nível de Balaio do amor (2009), o anterior álbum de estúdio da cantora. Dedicado aos xotes românticos, Balaio de amor foi produzido com mais uniformidade, mas sem a salutar diversidade rítmica de Vambora lá dançar. O atual disco tem xote que segue a toada romântica recorrente na discografia da artista - Minha vida é te amar, pérola de 1993 pescada por Elba no baú dos compositores Dominguinhos e Nando Cordel - e tem aqueles sexualizados forrós típicos do repertório da cantora, casos de Não chora, não chora não (Petrúcio Amorim) e de Na rede (Nando Cordel). Mas também transita por ritmos bissextos na obra da artista como maracatu - representado por Fibra de cristal (Sérgio Sá), faixa de sons sintetizados, repleta de programações e teclados que abafam a batida percussiva do gênero - e bumba-meu-boi, explicitado já no título da faixa Amor de bumba-meu-boi (Rogério Rangel). A rigor, o tempero de samba baiano posto em dois forrós da dupla Antonio Barros e Cecéu - Tu de lá, eu de cá e Deitar e rolar - são ousadias estilísticas mais arretadas do que as incursões do disco pelo modernoso terreno eletrônico. A introdução de Deitar e rolar evoca até a levada do samba-rock. Música lançada em 2003 pela cantora Maíra Barros, em CD produzido por Zé Américo Bastos, Embolar na areia é envolvente tema nordestino da obra do compositor Herbert Azul que abre Vambora lá dançar com os timbres eletrônicos que pontuam o álbum - no caso, em bom contraponto com a guitarra de Pedro Braga. Essa alta dose de eletrônica é reutilizada na regravação de Frevo meio envergonhado, xote da cantora e compositora carioca Monique Kessous, lançado pelo autora em disco de 2008. Música de cuja letra Elba extraiu o título Vambora lá dançar, Frevo meio envergonhado deu o pontapé inicial na promoção do disco em novembro de 2012, mas a atual música de trabalho é Por que tem que ser assim? (Chico Pessoa e Cezinha), balada de coração partido temperada com o sabor suave do xote romântico. Gênero cada vez mais recorrente na discografia de Elba, o xote é o ritmo usado pela cantora para embalar uma das mais belas canções do compositor mineiro Vander Lee, Onde Deus possa me ouvir, lançada por Gal Costa no álbum Bossa Tropical (2002) e recriada por Leila Pinheiro em gravação exemplar de 2005 que respeitou o tom triste da canção, diluído no registro de Elba. E por falar em Bossa Tropical, Elba também dá voz em Vambora lá dançar à outra música deste (subestimado) CD de Gal. Trata-se de Quando eu fecho os olhos, uma das mais lindas baladas do cancioneiro de Chico César, escrita com letra de Carlos Rennó. A boa gravação de Elba é a faixa com maior potencial comercial fora do eixo nordestino. Já a abordagem de Mucuripe (Fagner e Belchior) - o clássico lançado por Elis Regina (1945 - 1982) - se ressente da falta de uma emoção mais genuína, mais interiorizada. Soa até dispensável em disco que termina em clima arretado com Forró brasileiro (Cezinha e Fábio Simões). Mesmo com essa desigualdade na produção (e, justiça seja feita, as oito faixas feitas por Cezinha têm mais vivacidade), Vambora lá dançar deixa boa impressão e soa coerente com a obra de Elba.
16 comentários:
Vambora lá dançar - o disco que Elba Ramalho lança esta semana e que chega efetivamente às lojas no início de fevereiro de 2013 - concentra duas produções distintas. Oito de suas 14 faixas foram produzidas e arranjadas por Cézar Thomáz - o sanfoneiro Cezinha - para um disco que originalmente iria se chamar Forró brasileiro. As outras seis foram pilotadas, em momento posterior, por Zé Américo Bastos, que retocou as gravações formatadas por Cezinha. Há evidente desequilíbrio entre as duas produções. A de Cezinha é mais orgânica. Mais eletrônica, a de Zé Américo recorre a programações de bateria e percussão com resultado nem sempre adequado ao (ótimo) repertório selecionado por Elba para seu 31º disco. Só que a cantora é paraibana valente. Aos 61 anos, ainda em boa forma vocal, a intérprete dribla essa irregularidade da produção e apresenta bom álbum. Vambora lá dançar não alça o alto voo artístico do moderno Qual o assunto que mais lhe interessa? (2007) - o melhor disco de Elba na fase independente da artista - mas se situa no mesmo bom nível de Balaio do amor (2009), o anterior álbum de estúdio da cantora. Dedicado aos xotes românticos, Balaio de amor foi produzido com mais uniformidade, mas sem a salutar diversidade rítmica de Vambora lá dançar. O atual disco tem xote que segue a toada romântica recorrente na discografia da artista - Minha vida é te amar, pérola de 1993 pescada por Elba no baú dos compositores Dominguinhos e Nando Cordel - e tem aqueles sexualizados forrós típicos do repertório da cantora, casos de Não chora, não chora não (Petrúcio Amorim) e de Na rede (Nando Cordel). Mas também transita por ritmos bissextos na obra da artista como maracatu - representado por Fibra de cristal (Sérgio Sá), faixa de sons sintetizados, repleta de programações e teclados que abafam a batida percussiva do gênero - e bumba-meu-boi, explicitado já no título da faixa Amor de bumba-meu-boi (Rogério Rangel). A rigor, o tempero de samba baiano posto em dois forrós da dupla Antonio Barros e Cecéu - Tu de lá, eu de cá e Deitar e rolar - são ousadias estilísticas mais arretadas do que as incursões do disco pelo modernoso terreno eletrônico. A introdução de Deitar e rolar evoca até a levada do samba-rock. Música lançada em 2003 pela cantora Maíra Barros, em CD produzido por Zé Américo Bastos, Embolar na areia é envolvente tema nordestino da obra do compositor Herbert Azul que abre Vambora lá dançar com os timbres eletrônicos que pontuam o álbum - no caso, em bom contraponto com a guitarra de Pedro Braga. Essa alta dose de eletrônica é reutilizada na regravação de Frevo meio envergonhado, xote da cantora e compositora carioca Monique Kessous, lançado pelo autora em disco de 2008.
Música de cuja letra Elba extraiu o título Vambora lá dançar, Frevo meio envergonhado deu o pontapé inicial na promoção do disco em novembro de 2012, mas a atual música de trabalho é Por que tem que ser assim? (Chico Pessoa e Cezinha), balada de coração partido temperada com o sabor suave do xote romântico. Gênero cada vez mais recorrente na discografia de Elba, o xote é o ritmo usado pela cantora para embalar uma das mais belas canções do compositor mineiro Vander Lee, Onde Deus possa me ouvir, lançada por Gal Costa no álbum Bossa Tropical (2002) e recriada por Leila Pinheiro em gravação exemplar de 2005 que respeitou o tom triste da canção, diluído no registro de Elba. E por falar em Bossa Tropical, Elba também dá voz em Vambora lá dançar à outra música deste (subestimado) CD de Gal. Trata-se de Quando eu fecho os olhos, uma das mais lindas baladas do cancioneiro de Chico César, escrita com letra de Carlos Rennó. A boa gravação de Elba é a faixa com maior potencial comercial fora do eixo nordestino. Já a abordagem de Mucuripe (Fagner e Belchior) - o clássico lançado por Elis Regina (1945 - 1982) - se ressente da falta de uma emoção mais genuína, mais interiorizada. Soa até dispensável em disco que termina em clima arretado com Forró brasileiro (Cezinha e Fábio Simões). Mesmo com essa desigualdade na produção (e, justiça seja feita, as oito faixas feitas por Cezinha têm mais vivacidade), Vambora lá dançar deixa boa impressão e soa coerente com a obra de Elba.
Essa capa tá bem melhor do que aquela horrorosa para o single de "Frevo Meio Envergonhado". Resta saber se o disco está bom ou não.
Gosto da Elba, mas às vezes acho que ela peca nesses contrapontos: xotes açucarados, recursos eletrônicos desnecessários, arranjos meio fora da sintonia (Frevo meio envergonhado, que nem frevo é! rs); mas quando ela acerta em cheio é de dançar de alegria como foi Leão do Norte e Qual o assunto.., onde ela se religou ao seu passado mais vigoroso.
Zé Américo, quem diria que viesse dar esse tom modernoso ao disco, quando ele era justamente figura capital na produção dos discos de canto agreste inicial da carreira de Elba.
Aguardando pra ouvir.
Se o disco for ruim como a versão dela para o "Frevo Meio Envergonhado", que acabou causando vergonha alheia, daí estamos perdidos.
dificil acreditar que esse Cézinha fez um trabalho melhor que do Zé Américo, só ouvindo pra crer... quanto a esse disco de Gal é ruim mesmo, não tem nada de subestimado como o Mauro diz
Emanuel Andrade
Mucuripe tem gravação definitiva de Elis e de Nelson Gonçalves. Da lavra do repertório antigo de Fagner essas cantoras podam pescar Conflito, com certeza Elba arrebentaria. Bem, quanto ao repertório de Bossa Nova Tropical é regular, os arranjos é que mataram o disco e algumas gravações dispensáveis como Mulher e Ovekha Negra. Gal mostro-se ali preguiçosa. A mesma coisa inversa dizer que o projeto Caetano-Gil-Ivete só se superou graças a banda e ao maestro que tava no centro da roda senão seria o mais do mesmo. E então, nesse trio os arranjos é que deram viva muita vida as canções. Antes de encerrar a carreira Elba precisa rever algo como o Ave de Prata.
"Antes de encerrar a carreira"??????!!!!! Eu hein...rsrsrrs.
A voz de Elba está mais grave, e ela emite as notas agudas tentando suavizar demais...adoro quando ela mete a nota rasgada quando canta ao vivo ... no CD , nos 2 últimos, pelo menos ta tudo polido demais. Vamos ver nesse ...de qualquer forma eu vou lá dançar sim ! rsrs
Acho interessante pensar em como estas cantoras tão experientes, tão conhecedoras de música, aceitam arranjos que destroem as musicas. Não é só a Elba, várias outras.
Também não entendi essa tendência de alguns comentaristas a forcar os artistas a uma aposentadoria precoce. Outro dia foi com Marina, agora é a Elba. Como escreveu o Fabio: "Eu hein...rsrsrrs"
Alceu Valença ha uns 2 anos, fez um show de um dos seus primeiros albuns... achei a idéia muito legal. Ja pensou Elba fazendo um show com repertório dos 3 primeiros Albuns pra gravar em DVD ?
Pedrão Mooca
Ora, ora, esses artistas dessa geração não são sementes. Estão se avançando sem grandes novidades. O Emanuel deve pontuar que estão mais perto do que longe. Com certeza vão parar antes da batida final. Agora, em termos de bons discos já estão quase mortos. E as vozes, são poquisssiiiimmmooosss que mantem a vivacidade. Eu prefiro a voz de Elba de fato nos três primeiros discos.
precisam criar o prêmio Fotografia de Celular Infantil Piorada no Photoshop. O Primeiro lugar vai para essa aqui. Ou seja: será que ainda pagaram alguém para fazerem isso?
Acabei de ouvir o CD ... e as que eu gostei mais foram todas que Cezinha fez os arranjos. Mesmo assim ainda faltou mais peso na percussão. Mas é um cd legal.
oi Mauro fiz 2 remix desse cd da Elba, ve no youtube se vc gosta. Digita Elba Ramalho 2013 remix. Abs. Eduardo.
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