Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Musicalidade de Ângelo sustenta abordagem de Antonio Maria por Redig

Resenha de CD
Título: Antonio Maria Menino grande
Artista: Clara Redig
Gravadora: Sem indicação
Cotação: * * 

Criada à flor da pele, a obra do pernambucano Antonio Maria Araújo de Morais (1921 - 1964) expõe arrebatamentos, solidões, amores e desilusões em doses fartas. Pede geralmente cantoras arrebatadas, de voz e emoção à flor da pele. A carioca Clara Redig é do time oposto, formado pelas intérpretes de canto mais delicado, íntimo, quase cool. Mesmo assim, a cantora se arrisca e dá sua voz pequena, mas afinada e bem colocada, ao cancioneiro de Maria neste Menino grande. Lançado de forma independente ao fim de 2012, o disco foi produzido por Redig sob a direção musical de Nelson Ângelo. São os arranjos refinados de Ângelo que valorizam o disco. A marca do arranjador está perceptível no toque jazzy de O amor e a rosa (Pernambuco e Antonio Maria) - tema ambientado em clima íntimo que evoca o aconchego de uma boate - e na renovada harmonia de Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria). Por mais que seu canto esteja ajustado ao tom dos arranjos, ou talvez por isso mesmo, Redig dilui toda a sensação de tristeza e abandono que dá sentido ao samba-canção Ninguém me ama (Fernando Lobo e Antonio Maria). Preconceito - outro samba-canção composto por Maria em parceria com o conterrâneo Fernando Lobo (1915 - 1996) - também exige intérprete mais enfática. Inadequações à parte, o repertório de Menino grande - CD aberto e fechado com acalanto que lhe dá título - surpreende nas poucas vezes em que sai do óbvio. Parceria de Maria com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), Dobrado de amor a São Paulo é frevo apaixonado que celebra a maior cidade do Brasil com certa ironia e citação na letra da Avenida São João - a rua que, anos depois, faria bater o coração de Caetano Veloso em versos lapidares de Sampa, a ode do compositor baiano à sua São Paulo. Outra surpresa é Meu contrabaixo, samba em tom menor assinado por Maria com o compositor carioca Zé da Zilda (1908 - 1954). Enfim, sem sair do seu tom, Clara Redig canta Antonio Maria à sua moda, guiada pela firme direção musical de Nelson Ângelo, cujos arranjos impedem que Menino grande se apequene no player.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Criada à flor da pele, a obra do pernambucano Antonio Maria Araújo de Morais (1921 - 1964) expõe arrebatamentos, solidões, amores e desilusões em doses fartas. Pede geralmente cantoras arrebatadas, de voz e emoção à flor da pele. A carioca Clara Redig é do time oposto, formado pelas intérpretes de canto mais delicado, íntimo, quase cool. Mesmo assim, a cantora se arrisca e dá sua voz pequena, mas afinada e bem colocada, ao cancioneiro de Maria neste Menino grande. Lançado de forma independente ao fim de 2012, o disco foi produzido por Redig sob a direção musical de Nelson Ângelo. São os arranjos refinados de Ângelo que valorizam o disco. A marca do arranjador está perceptível no toque jazzy de O amor e a rosa (Pernambuco e Antonio Maria) - tema ambientado em clima íntimo que evoca o aconchego de uma boate - e na renovada harmonia de Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria). Por mais que seu canto esteja ajustado ao tom dos arranjos, ou talvez por isso mesmo, Redig dilui toda a sensação de tristeza e abandono que dá sentido ao samba-canção Ninguém me ama (Fernando Lobo e Antonio Maria). Preconceito - outro samba-canção composto por Maria em parceria com o conterrâneo Fernando Lobo (1915 - 1996) - também exige intérprete mais enfática. Inadequações à parte, o repertório de Menino grande - CD aberto e fechado com acalanto que lhe dá título - surpreende nas poucas vezes em que sai do óbvio. Parceria de Maria com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), Dobrado de amor a São Paulo é frevo apaixonado que celebra a maior cidade do Brasil com certa ironia e citação na letra da Avenida São João - a rua que, anos depois, faria bater o coração de Caetano Veloso em versos lapidares de Sampa, a ode do compositor baiano à sua São Paulo. Outra surpresa é Meu contrabaixo, samba em tom menor assinado por Maria com o compositor carioca Zé da Zilda (1908 - 1954). Enfim, sem sair do seu tom, Clara Redig canta Antonio Maria à sua moda, guiada pela firme direção musical de Nelson Ângelo, cujos arranjos impedem que Menino grande se apequene no player.

lurian disse...

Já vale a busca dessas pérolas pouco conhecidas como Dobrado de amor a SP e Meu contrabaixo.

Rafael disse...

Antônio Maria era um excelente letrista e músico. A obra dele é uma das mais ricas e vastas da MPB. É interessante verem os cantores atuais resgatarem também as pérolas desconhecidas do cancioneiro dele e trazê-las a público.

Denilson Santos disse...

O repertório impecável, os arranjos belíssimos, os excelentes músicos e a voz bela e delicada da Clara Redig fazem esse um dos melhores discos do ano, na minha opinião.

abração,
Denilson

Luca disse...

nunca ouvi falar nessa cantora, agora de Nelson Ângelo já e gosto muito

Unknown disse...

Uma boa leitura sobre este CD é a apresentação no encarte, uma outra visão deste trabalho. Abraços,