Resenha de caixa de CDs
Título: Pery Ribeiro Anos 60
Artista: Pery Ribeiro
Gravadora: Discobertas
Cotação: * * * *
Pery Ribeiro (27 de outubro de 1937 - 24 de fevereiro de 2012) morreu subestimado. Em seus últimos anos de vida, o cantor carioca esteve mais associado às histórias lendárias sobre seus pais - a cantora Dalva de Oliveira (1917 - 1972) e o compositor Herivelto Martins (1912 - 1992), célebre e ruidoso casal que viveu entre tapas e beijos - do que à sua própria história como intérprete refinado. Lançada neste mês de fevereiro de 2013, para lembrar o primeiro ano da morte do artista, a caixa Pery Ribeiro Anos 60 - produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para seu selo Discobertas - é boa oportunidade de recolocar Pery Oliveira Martins em seu devido lugar, o de grande cantor da música brasileira dos anos 60 e 70. A caixa embala os sete álbuns gravados pelo cantor na década de 60, quase todos com valiosas faixas-bônus extraídas de raros compactos da época. É fato que, a partir da década de 80, Pery passou a gravar - por contingências mercadológicas - discos insípidos que requentavam os sucessos do tempo áureo do artista. Entretanto, nas décadas de 60 e 70, Pery Ribeiro - assim batizado artisticamente no fim dos anos 50 por sugestão do radialista César de Alencar (1917 - 1990) - brilhou. E muito. A caixa flagra o cantor em álbuns gravados no seu apogeu vocal e artístico, mostrando como Pery soube refinar seu canto e seu repertório ao longo dos anos 60, década em que ganhou progressiva bossa. A evolução é nítida. A rigor, Pery Ribeiro sempre foi um cantor moderno. Seu fraseado macio já veio ao mundo em sintonia com as conquistas estéticas da Bossa Nova. Só que, nos dois primeiros álbuns da caixa, Eu gosto da vida (1961), Pery Ribeiro e seu mundo de canções românticas (1962), esse canto cheio de frescor foi posto a serviço de repertório criado na era folhetinesca do samba-canção. O segundo, em especial, foi pautado pela melancolia mais ou menos dramática do gênero, exposta já em títulos como Meu nome é ninguém (Luiz Reis e Haroldo Barbosa) e Até o amargo fim (Newton Teixeira e David Nasser). Foi a partir de seu arejado terceiro álbum, Pery é todo bossa (1963), que o cantor encontrou sua turma, seu estilo. Trata-se do disco que trouxe a antológica gravação original de Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), o clássico (quase) instantâneo lançado em shows no ano de 1962. Neste Pery é todo bossa, o repertório do cantor desanuviou e ficou ensolarado. Rio (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) foi um dos destaques do carioquíssimo cancioneiro. Como o título Pery muito mais bossa (1964) já deixava entrever, o álbum seguinte seguiu os padrões de seu bem-sucedido antecessor, mas, ao mesmo tempo em que cantou a Moça da praia (Roberto Menescal e Lula Freire), Pery deu voz ao afro-samba Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes) e à vertente mais social da bossa que se engajava, gravando Feio não é bonito (Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri). Na sequência, Pery (1965) mexeu no time vitorioso. Sob os arranjos e regências do maestro Lyrio Panicalli (1906 - 1984), o cantor deu voz a quatro músicas de Marcos Valle - que tocou piano em Preciso aprender a ser só, um dos clássicos que compôs com seu irmão Paulo Sérgio Valle - enquanto gravou Carlos Lyra e olhou o passado da música brasileira através de abordagens de Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) e João Valentão (Dorival Caymmi). De certa forma, Pery (1965) já aproximou o cantor da MPB que começava a germinar na efervescente era dos festivais. Só que, naquela época, Pery já era todo bossa e, por isso, lançou naquele mesmo ano de 1965 Gemini V - Show da boite Porão 73, álbum ao vivo que registra o show feito por Pery com Leny Andrade (então a sensação feminina da Bossa Nova) e o conjunto Bossa 3, sob a direção musical do pianista carioca Luiz Carlos Vinhas (1940 - 2001). O mesmo trio Bossa 3 divide com Pery os créditos de Encontro (1966), álbum posterior, gerado a partir do sucesso do show Gemini V. Encontro é grande disco orquestral, pautado pelo suingue do Bossa 3. No balanço da bossa, Pery Ribeiro encerrou magistralmente sua discografia brasileira da década de 60. Nos anos 70, mesmo já sem a exposição da década anterior, o cantor ainda faria ótimos discos antes de embarcar na onda kitsch da nostalgia, dando continuidade à sua carreira fonográfica de forma melancólica - o que contribuiu para que as flores não lhe tivessem sido dadas em vida. Daí a importância da caixa de Discobertas...
Pery Ribeiro (27 de outubro de 1937 - 24 de fevereiro de 2012) morreu subestimado. Em seus últimos anos de vida, o cantor carioca esteve mais associado às histórias lendárias sobre seus pais - a cantora Dalva de Oliveira (1917 - 1972) e o compositor Herivelto Martins (1912 - 1992), célebre e ruidoso casal que viveu entre tapas e beijos - do que à sua própria história como intérprete refinado. Lançada neste mês de fevereiro de 2013, para lembrar o primeiro ano da morte do artista, a caixa Pery Ribeiro Anos 60 - produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes para seu selo Discobertas - é boa oportunidade de recolocar Pery Oliveira Martins em seu devido lugar, o de grande cantor da música brasileira dos anos 60 e 70. A caixa embala os sete álbuns gravados pelo cantor na década de 60, quase todos com valiosas faixas-bônus extraídas de raros compactos da época. É fato que, a partir da década de 80, Pery passou a gravar - por contingências mercadológicas - discos insípidos que requentavam os sucessos do tempo áureo do artista. Entretanto, nas décadas de 60 e 70, Pery Ribeiro - assim batizado artisticamente no fim dos anos 50 por sugestão do radialista César de Alencar (1917 - 1990) - brilhou. E muito. A caixa flagra o cantor em álbuns gravados no seu apogeu vocal e artístico, mostrando como Pery soube refinar seu canto e seu repertório ao longo dos anos 60, década em que ganhou progressiva bossa. A evolução é nítida. A rigor, Pery Ribeiro sempre foi um cantor moderno. Seu fraseado macio já veio ao mundo em sintonia com as conquistas estéticas da Bossa Nova. Só que, nos dois primeiros álbuns da caixa, Eu gosto da vida (1961), Pery Ribeiro e seu mundo de canções românticas (1962), esse canto cheio de frescor foi posto a serviço de repertório criado na era folhetinesca do samba-canção. O segundo, em especial, foi pautado pela melancolia mais ou menos dramática do gênero, exposta já em títulos como Meu nome é ninguém (Luiz Reis e Haroldo Barbosa) e Até o amargo fim (Newton Teixeira e David Nasser).
ResponderExcluirFoi a partir de seu arejado terceiro álbum, Pery é todo bossa (1963), que o cantor encontrou sua turma, seu estilo. Trata-se do disco que trouxe a antológica gravação original de Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), o clássico (quase) instantâneo lançado em shows no ano de 1962. Neste Pery é todo bossa, o repertório do cantor desanuviou e ficou ensolarado. Rio (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli) foi um dos destaques do carioquíssimo cancioneiro. Como o título Pery muito mais bossa (1964) já deixava entrever, o álbum seguinte seguiu os padrões de seu bem-sucedido antecessor, mas, ao mesmo tempo em que cantou a Moça da praia (Roberto Menescal e Lula Freire), Pery deu voz ao afro-samba Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes) e à vertente mais social da bossa que se engajava, gravando Feio não é bonito (Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri). Na sequência, Pery (1965) mexeu no time vitorioso. Sob os arranjos e regências do maestro Lyrio Panicalli (1906 - 1984), o cantor deu voz a quatro músicas de Marcos Valle - que tocou piano em Preciso aprender a ser só, um dos clássicos que compôs com seu irmão Paulo Sérgio Valle - enquanto gravou Carlos Lyra e olhou o passado da música brasileira através de abordagens de Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) e João Valentão (Dorival Caymmi). De certa forma, Pery (1965) já aproximou o cantor da MPB que começava a germinar na efervescente era dos festivais. Só que, naquela época, Pery já era todo bossa e, por isso, lançou naquele mesmo ano de 1965 Gemini V - Show da boite Porão 73, álbum ao vivo que registra o show feito por Pery com Leny Andrade (então a sensação feminina da Bossa Nova) e o conjunto Bossa 3, sob a direção musical do pianista carioca Luiz Carlos Vinhas (1940 - 2001). O mesmo trio Bossa 3 divide com Pery os créditos de Encontro (1966), álbum posterior, gerado a partir do sucesso do show Gemini V. Encontro é grande disco orquestral, pautado pelo suingue do Bossa 3. No balanço da bossa, Pery Ribeiro encerrou magistralmente sua discografia brasileira da década de 60. Nos anos 70, mesmo já sem a exposição da década anterior, o cantor ainda faria ótimos discos antes de embarcar na onda kitsch da nostalgia, dando continuidade à sua carreira fonográfica de forma melancólica - o que contribuiu para que as flores não lhe tivessem sido dadas em vida. Daí a importância da caixa de Discobertas...
ResponderExcluirO PERY PRA MIM É O MELHOR CANTOR BRASILEIRO. BEM VINDA ESSA CAIXA, PENA NÃO ESTAR OS PRIMEIROS DISCOS DOS ANOS 70.
ResponderExcluirÓtima notícia! vou atrás!
ResponderExcluirvale lembrar que, nos anos 1970, ele fez carreira internacional, participando dos grupos Bossa Rio (com Sergio Mendes e Manfredo Fest), Nos Estados Unidos, e ao lado de Leny Andrade (com o quarteto de Breno Sauer) no México. Essa discografia internacional inclui até mesmo um álbum gravado ao vivo no Japão. Nem precisaria dizer que são todos excelentes. Então, que venha o box II da Discobertas, com a fase 70 na Odeon e nos outros selos. São tão bons quanto esses e, em certos aspectos, até melhores pois incorporam a soul psicodélica sem abandonar a bossa. Nota 11.
ResponderExcluirMauro,
ResponderExcluirGostaria de saber se a caixa já saiu ou só em março, até agora não vi em site algum,chegou a aparecer um tempo na Livraria Cultura mas depois foi retirado do site.