Mauro Ferreira no G1

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sábado, 16 de março de 2013

Afetivo e pessoal, Clapton oscila na realização dos 'covers' de 'Old sock'

Resenha de CD
Título: Old sock
Artista: Eric Clapton
Gravadora: Bushbransh / Surfdog
Cotação: * * *

Disco de covers lançado esta semana por Eric Clapton, Old sock flagra Deus em momento mais afetivo, pessoal. E é justamente por esse viés mais íntimo que o 21º álbum de estúdio do cantor, compositor e guitarrista inglês resulta interessante, ainda que Clapton oscile na realização dos dez covers alinhados entre duas inéditas autorais, Every little thing (balada positivista) e Gotta get over (tema em que sobressai o toque bluesy da guitarra do músico). Em essência, Old sock transita por baladas, reggaes e blues com sotaque retrô, ou vintage, em abordagens respeitosas como as do country Born to lose (1942) - clássico do cancioneiro do compositor norte-americano Ted Daffan (1912 - 1996), propagado em vozes como a de Ray Charles (1930-2004) - e de Goodnight Irene (Huddie William Ledbetter, 1933), feita com reverência ao legado de seu compositor Lead Belly (1888 - 1949), um dos pioneiros do blues e do folk norte-americanos. A oscilação vem do fato de alguns covers soarem pálidos. Nem o baixo e o vocal postos por Paul McCartney em All of me (Gerald Marks e Seymour Simons, 1931) amenizam a sensação de que o standard já foi gravado com muito mais classe e brilho. O mesmo vale para Our love is here to stay (George Gershwin e Ira Gershin, 1938). Em contrapartida, Clapton acerta ao abordar Still got the blues (Gary Moore), 1990), se afastando do registro original de Gary Moore (1952 - 2011), mas rivalizando com o guitarrista irlandês - ícone do blues-rock - em pegada e emoção. Em tom mais light, o registro melodioso de The folks who live on the hill (Jerome Kern e Oscar Hammerstein II, 1937) exemplifica a serenidade que pauta boa parte de Old sock. Aparentemente mais em paz consigo mesmo, Clapton banha Further on down the road (Don Robey e Joey Medvick, 1957) na praia do reggae, mas com os toques de blues e de folk, inseridos pela gaita do bluesman Taj Mahal, convidado da faixa. Ainda nessa onda, Till your well runs dry (Peter Tosh e Bunny Livingston, 1975) - lembrança do legado do cantor e compositor jamaicano Peter Tosh (1944 - 1987) - ganha registro que se alterna entre o reggae e a balada. Ousado, Clapton também joga na praia do reggae um tema do cantor e compositor de soul Otis Redding (1941 - 1967), Your one and only man (1965). Contudo, Old sock é essencialmente reverente. É relicário delicado de músicas que moldaram o universo musical de Eric Clapton. Deus revolve sua memória afetiva em disco que, com perdão dos adjetivos-clichês, soa íntimo e pessoal. Mas, sim, interessante...

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Disco de covers lançado esta semana por Eric Clapton, Old sock flagra Deus em momento mais afetivo, pessoal. E é justamente por esse viés mais íntimo que o 21º álbum de estúdio do cantor, compositor e guitarrista inglês resulta interessante, ainda que Clapton oscile na realização dos dez covers alinhados entre duas inéditas autorais, Every little thing (balada positivista) e Gotta get over (tema em que sobressai o toque bluesy da guitarra do músico). Em essência, Old sock transita por baladas, reggaes e blues com sotaque retrô, ou vintage, em abordagens respeitosas como as do country Born to lose - clássico do cancioneiro do compositor norte-americano Ted Daffan (1912 - 1996), propagado em vozes como a de Ray Charles (1930 - 2004) - e de Goodnight Irene (Huddie William Ledbetter, 1933), feita com reverência ao legado de seu compositor Lead Belly (1888 - 1949), um dos pioneiros do blues e do folk norte-americanos. A oscilação vem do fato de alguns covers soarem pálidos. Nem o baixo e o vocal postos por Paul McCartney em All of me (Gerald Marks e Seymour Simons, 1931) amenizam a sensação de que o standard já foi gravado com muito mais classe e brilho. O mesmo vale para Our love is here to stay (George Gershwin e Ira Gershin, 1938). Em contrapartida, Clapton acerta ao abordar Still got the blues (Gary Moore), 1990), se afastando do registro original de Gary Moore (1952 - 2011), mas rivalizando com o guitarrista irlandês - ícone do blues-rock - em pegada e emoção. Em tom mais light, o registro melodioso de The folks who live on the hill (Jerome Kern e Oscar Hammerstein II, 1937) exemplifica a serenidade que pauta boa parte de Old sock. Aparentemente mais em paz consigo mesmo, Clapton banha Further on down the road (Don Robey e Joey Medvick, 1957) na praia do reggae, mas com os toques de blues e de folk, inseridos pela gaita do bluesman Taj Mahal, convidado da faixa. Ainda nessa onda, Till your well runs dry (Peter Tosh e Bunny Livingston, 1975) - lembrança do legado do cantor e compositor jamaicano Peter Tosh (1944 - 1987) - ganha registro que se alterna entre o reggae e a balada. Ousado, Clapton também joga na praia do reggae um tema do cantor e compositor de soul Otis Redding (1941 - 1967), Your one and only man (1965). Contudo, Old sock é essencialmente reverente. É relicário delicado de músicas que moldaram o universo musical de Eric Clapton. Deus revolve sua memória afetiva em disco que, com perdão dos adjetivos-clichês, soa íntimo e pessoal. Mas, sim, interessante...

Luca disse...

neguinho quando parte pra disco de cover é que não tem mais o que dizer