Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 15 de março de 2013

Com 'Fé no batuque', Marcelinho Moreira mira altar dos bambas do samba

Resenha de CD
Título: no batuque
Artista: Marcelinho Moreira
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * *

Projetado como percussionista, Marcelinho Moreira esboçou carreira solo como cantor com o lançamento em 2006 de Marcelinho pão e vinho, CD produzido para a gravadora Mza Music por seu padrinho artístico Martinho da Vila, parceiro do artista e de Fred Camacho em Filosofia de vida, belo samba que já ganhou até a voz da cantora mineira Ana Carolina. Decorridos sete anos, Moreira mira com mais precisão o altar dos bambas do samba em Fé no batuque, seu segundo álbum, produzido por Arlindo Cruz com Rogê. Martinho renova sua fé no afilhado artístico e põe sua voz no Samba sem letra, outra parceria sua com Moreira e Camacho, de alta carga erótica. Contudo, o tema nem se destaca no álbum. O nível do repertório - tanto o autoral como o alheio - é geralmente alto como os partidos que povoam o disco lançado neste mês de março de 2013 pela gravadora Sony Music. Mesmo com arquitetura trivial, Provar teu mel (Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira) é partido que seduz ao mapear paixão vivida entre pontos do bairro carioca de Vila Isabel, terra de Noel Rosa (1910 - 1937) e celeiro de muitos bambas. De outra Vila, a da Penha, vem a poesia otimista de Luiz Carlos da Vila (1949 -2008), parceiro de Moacyr Luz em Benza Deus. O saudoso Luiz Carlos da Vila é coautor também de Finas iguarias, parceria póstuma do bamba com Moreira e Camacho. Sem chegar a sair de seu nobre quintal carioca, o sambista acena para o pagode romântico em Faço fé no amor da gente (Marcelinho Moreira, Fred Camacho e Rogê), faixa dona da letra mais trivial do disco. Em contrapartida, a regravação de O dia se zangou (Mauro Diniz e Ratinho) - homenagem do artista à partideira carioca Jovelina Pérola Negra (1944 - 1998), prestada com Seu Jorge -  eleva o partido às alturas. O dia se zangou é o samba que abriu o primeiro disco solo de Jovelina, Pérola Negra (RGE, 1986). Já a inédita Deixa de dar defeito (Marcelinho Moreira e Rogê) põe na roda o coro de partideiros do Pagode do Arlindo, formado por Arlindo Neto, Jaime, Mosquito e Juninho Thybau. Aparentemente um estranho no ninho do samba, Lenine se valeu de sua vivência nos pagodes do Cacique de Ramos - frequentado pelo artista pernambucano no início dos anos 80 - para compor com Arlindo Cruz Pra bom enté meia pala bá, bom samba - gravado por Moreira com a adesão de Cruz - que recicla ideia já tida por Pedro Luís, Roberta Sá e Carlos Rennó, autores de Tá?, música lançada por Mariana Aydar no CD Peixes pássaros pessoas (2009). Na sequência, Marcelinho relaciona amor perdido com a paixão pelo time do Botafogo em samba cantado com Beth Carvalho, Hélio de la Peña, Regina Casé e Zeca Pagodinho, convidados de Nosso amor é preto e branco. Poeira do caminho (Marinho da Muda) e Chora viola, chora (Carlito Cavalcante e Santa Branca) - sambas unidos em ótimo medley - mostram que Marcelinho Moreira sabe colher frutos no quintal carioca. Cantor eficiente, o artista também dá voz a dois sambas que margeiam a praia baiana e, por isso mesmo, também estão agregados em medley. Parceria de Moreira com Carlinhos Brown e Mart'nália, Na forma da lua cruza o partido alto com a cadência do samba baiano, preparando o ambiente para o empolgante Alerta geral (Arlindo Cruz e Maurição). Fé no batuque - samba da lavra solitária de Marcelinho - mantém o alto nível dessa metade final do disco, que termina com Recriando a criação, samba de Martinho da Vila  e Zé Catimba que inspirou o título do LP lançado por Martinho em 1985, Criações e recriações (RCA, 1985). É fecho coerente para disco em que Marcelinho Moreira recria à sua moda a criação de bambas de tempos idos que desbravaram o quintal aonde o sambista pisa com força em Fé no batuque.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Projetado como percussionista, Marcelinho Moreira esboçou carreira solo como cantor com o lançamento em 2006 de Marcelinho pão e vinho, CD produzido para a gravadora Mza Music por seu padrinho artístico Martinho da Vila, parceiro do artista e de Fred Camacho em Filosofia de vida, belo samba que já ganhou até a voz da cantora mineira Ana Carolina. Decorridos sete anos, Moreira mira com mais precisão o altar dos bambas do samba em Fé no batuque, seu segundo álbum, produzido por Arlindo Cruz com Rogê. Martinho renova sua fé no afilhado artístico e põe sua voz no Samba sem letra, outra parceria sua com Moreira e Camacho, de alta carga erótica. Contudo, o tema nem se destaca no álbum. O nível do repertório - tanto o autoral como o alheio - é geralmente alto como os partidos que povoam o disco lançado neste mês de março de 2013 pela gravadora Sony Music. Mesmo com arquitetura trivial, Provar teu mel (Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira) é partido que seduz ao mapear paixão vivida entre pontos do bairro carioca de Vila Isabel, terra de Noel Rosa (1910 - 1937) e celeiro de muitos bambas. De outra Vila, a da Penha, vem a poesia otimista de Luiz Carlos da Vila (1949 -2008), parceiro de Moacyr Luz em Benza Deus. O saudoso Luiz Carlos da Vila é coautor também de Finas iguarias, parceria póstuma do bamba com Moreira e Camacho. Sem chegar a sair de seu nobre quintal carioca, o sambista acena para o pagode romântico em Faço fé no amor da gente (Marcelinho Moreira, Fred Camacho e Rogê), faixa dona da letra mais trivial do disco. Em contrapartida, a regravação de O dia se zangou (Mauro Diniz e Ratinho) - homenagem do artista à partideira carioca Jovelina Pérola Negra (1944 - 1998), prestada com Seu Jorge - eleva o partido às alturas. O dia se zangou é o samba que abriu o primeiro disco solo de Jovelina, Pérola Negra (RGE, 1986). Já a inédita Deixa de dar defeito (Marcelinho Moreira e Rogê) põe na roda o coro de partideiros do Pagode do Arlindo, formado por Arlindo Neto, Jaime, Mosquito e Juninho Thybau. Aparentemente um estranho no ninho do samba, Lenine se valeu de sua vivência nos pagodes do Cacique de Ramos - frequentado pelo artista pernambucano no início dos anos 80 - para compor com Arlindo Cruz Pra bom enté meia pala bá, bom samba - gravado por Moreira com a adesão de Cruz - que recicla ideia já tida por Pedro Luís, Roberta Sá e Carlos Rennó, autores de Tá?, música lançada por Mariana Aydar no CD Peixes pássaros pessoas (2009). Na sequência, Marcelinho relaciona amor perdido com a paixão pelo time do Botafogo em samba cantado com Beth Carvalho, Hélio de la Peña, Regina Casé e Zeca Pagodinho, convidados de Nosso amor é preto e branco. Poeira do caminho (Marinho da Muda) e Chora viola, chora (Carlito Cavalcante e Santa Branca) - sambas unidos em ótimo medley - mostram que Marcelinho Moreira sabe colher frutos no quintal carioca. Cantor eficiente, o artista também dá voz a dois sambas que margeiam a praia baiana e, por isso mesmo, também estão agregados em medley. Parceria de Moreira com Carlinhos Brown e Mart'nália, Na forma da lua cruza o partido alto com a cadência do samba baiano, preparando o ambiente para o empolgante Alerta geral (Arlindo Cruz e Maurição). Fé no batuque - samba da lavra solitária de Marcelinho - mantém o alto nível dessa metade final do disco, que termina com Recriando a criação, samba de Martinho da Vila e Zé Catimba que inspirou o título do LP lançado por Martinho em 1985, Criações e recriações (RCA, 1985). É fecho coerente para disco em que Marcelinho Moreira recria à sua moda a criação de bambas de tempos idos que desbravaram o quintal aonde o sambista pisa com força em Fé no batuque.

Jean da Cruz Rodrigues disse...

Estava ouvindo o Cd e achando-o muito bom. Procurei no blog para ver se tinha a crítica do Cd. Acabei achando e concordo com tudo. Esse disco vai ficar e será ouvido daqui uns anos com todo a certeza.