Título: Ser de luz - Uma homenagem a Clara Nunes
Artista: Mariene de Castro
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *
Diz Mariene de Castro, em texto escrito para o encarte do CD e DVD Ser de luz - Uma homenagem a Clara Nunes, que se sente feliz por cantar os Brasis, os sons e os credos da cantora mineira, morta há 30 anos, em 2 de abril de 2013. A bem da verdade, a cantora baiana sempre cantou os sons e os credos afro-brasileiros propagados na voz emblemática de Clara Nunes (1942 - 1983) entre 1971 e 1982, período áureo da discografia da artista. Por isso, o repertório da Guerreira caiu tão bem na voz de Mariene. A conexão soa totalmente natural em temas como Ijexá (Edil Pacheco, 1982). Mesmo assim, Ser de luz resulta menos caloroso no DVD do que no palco do Espaço Tom Jobim, o teatro do Rio de Janeiro (RJ) em que o show em tributo a Clara foi gravado em 9 de outubro de 2012. Mariene de Castro é intérprete calorosa, domina o palco com radiante presença cênica, mas parte desse calor se dissipou na captação ruim de áudio e imagem. Ainda assim, o tributo soa sincero, honesto, como sinaliza o incontido choro da artista em Um ser de luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1983), faixa exclusiva do DVD (assim como as demais músicas do show Tabaroinha). O toque do acordeom de Cicinho Assis põe leve tempero nordestino em sambas como Coisa da antiga (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1977) - gravado em dueto com um protocolar Zeca Pagodinho - e Menino Deus (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1974) sem diluir a reverência da produção musical de Alceu Maia aos (imbatíveis) registros originais de Clara Nunes. Mesmo assim, por ter luz própria, Mariene escapa da armadilha de ser mero clone da artista que celebra com sua verdade. Sua personalidade está perceptível nas saudações pessoais que embute no discurso de Guerreira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1978), para citar somente um exemplo. Há total identificação com o universo do repertório - vale repetir. Com exceção do samba-enredo Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981), todas as músicas do cancioneiro de Clara cantadas por Mariene transitam pelo universo do repertório da cantora baiana, voltado para os sambas de temática afro-brasileira e com alguns temas forrozeiros que encontram eco em Feira de mangaio (Sivuca e Glória Gadelha, 1977), sucesso de Clara em 1979. Por isso mesmo, a seleção das 16 músicas soa bem preguiçosa. Por prováveis razões comerciais, o CD/DVD Ser de luz - Uma homenagem a Clara Nunes prioriza somente os hits da Guerreira. Há joias escondidas na discografia de Clara que poderiam resultar mais impactantes do que os registros de músicas como A deusa dos orixás (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1975) e O mar serenou (Candeia, 1975). Tanto que, no quesito interpretação, o único número realmente surpreendente do DVD é Coração leviano (Paulinho da Viola, 1977) porque, nele, Mariene se dissocia por completo da luminosa matriz. O majestoso samba bate em compasso cadenciado num tom seco e levemente interiorizado que condiz com a melancolia dos versos de Paulinho. Enfim, Mariene de Castro é das melhores cantoras projetadas nos anos 2000. Seus shows são incandescentes. Por isso mesmo, o DVD resultante da calorosa gravação do show em tributo a Clara Nunes não irradia toda a luz dessa baiana boa que gosta de samba e da roda. Baiana hábil ao recontar o conto de areia de Clara.
6 comentários:
Diz Mariene de Castro, em texto escrito para o encarte do CD e DVD Ser de luz - Uma homenagem a Clara Nunes, que se sente feliz por cantar os Brasis, os sons e os credos da cantora mineira, morta há 30 anos, em 2 de abril de 2013. A bem da verdade, a cantora baiana sempre cantou os sons e os credos afro-brasileiros propagados na voz emblemática de Clara Nunes (1942 - 1983) entre 1971 e 1982, período áureo da discografia da artista. Por isso, o repertório da Guerreira caiu tão bem na voz de Mariene. A conexão soa totalmente natural em temas como Ijexá (Edil Pacheco, 1982). Mesmo assim, Ser de luz resulta menos caloroso no DVD do que no palco do Espaço Tom Jobim, o teatro do Rio de Janeiro (RJ) em que o show em tributo a Clara foi gravado em 9 de outubro de 2012. Mariene de Castro é intérprete calorosa, domina o palco com radiante presença cênica, mas parte desse calor se dissipou na captação (convencional) das imagens. Ainda assim, o tributo soa sincero, honesto, como sinaliza o incontido choro da artista em Um ser de luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1983), faixa exclusiva do DVD (assim como as demais músicas do show Tabaroinha). O toque do acordeom de Cicinho Assis põe leve tempero nordestino em sambas como Coisa da antiga (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1977) - gravado em dueto com um protocolar Zeca Pagodinho - e Menino Deus (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1974) sem diluir a reverência da produção musical de Alceu Maia aos (imbatíveis) registros originais de Clara Nunes. Mesmo assim, por ter luz própria, Mariene escapa da armadilha de ser mero clone da artista que celebra com sua verdade. Sua personalidade está perceptível nas saudações pessoais que embute no discurso de Guerreira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1978), para citar somente um exemplo. Há total identificação com o universo do repertório - vale repetir. Com exceção do samba-enredo Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981), todas as músicas do cancioneiro de Clara cantadas por Mariene transitam pelo universo do repertório da cantora baiana, voltado para os sambas de temática afro-brasileira e com alguns temas forrozeiros que encontram eco em Feira de mangaio (Sivuca e Glória Gadelha, 1977), sucesso de Clara em 1979. Por isso mesmo, a seleção das 16 músicas soa bem preguiçosa. Por prováveis razões comerciais, Ser de luz - Uma homenagem a Clara Nunes prioriza somente os hits da Guerreira. Há joias escondidas na discografia de Clara que poderiam resultar mais impactantes do que os registros de músicas como A deusa dos orixás (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1975) e O mar serenou (Candeia, 1975). Tanto que, no quesito interpretação, o único número realmente surpreendente é Coração leviano (Paulinho da Viola, 1977) porque, nele, Mariene se dissocia por completo da luminosa matriz. O majestoso samba bate em compasso cadenciado num tom seco e levemente interiorizado que condiz com a melancolia dos versos de Paulinho. Enfim, Mariene de Castro é das melhores cantoras projetadas nos anos 2000. Seus shows são incandescentes. Por isso mesmo, o DVD resultante da calorosa gravação do show em tributo a Clara Nunes não irradia toda a luz dessa baiana boa que gosta de samba e da roda. Baiana hábil ao recontar o conto de areia de Clara.
Mariene é maravilhosa mas Clara Nunes só na voz de Clara Nunes
Adoro mariene, já comprei o meu e assisti 2 vezes. O show começa sem graça, muito lento, depois vai tomando corpo, mas senti falta de uma percussão mais Baiana, mais quente. Tanto que o público participa muito de Ê BAIANA, onde a percussão cresceu. Mas é um bom DVD, Mariene tem presença, carisma, e veste sua personagem com alegria e amor.O figurino é lindo, e o palco bem diferente com tantas telas. Mariene leva um show com emoção,coisa que falta hoje em dia ... eu, particularmente, não curto essa coisa de ir pro palco de calça jeans e camisetinha.... enfim, eu curti o DVD, tirando o primeiro numero ... mesmo que a letra passe a mensagem de que ela canta para viver, o arranjo não funcionou ( para mim ) !!!
Sou fã dessa baiana, da mineira ... nem tanto. Vou comprar o DVD.
mas parte desse calor se dissipou na captação (convencional) das imagens... Obrigado Mauro, agora sei porque não gostei.
"mas senti falta de uma percussão mais Baiana, mais quente." Também senti muita falta.
Realmente "Coração Leviano" foi surpreendente; bela canção que, com Mariene, pra mim, superou todas as gravações existentes da música. Quanto ao samba de Mariene, parece mesmo que ele gira em torno da música, sem uma marcação definida.
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