Resenha de CD
Título: Se me chamar, ô sorte
Artista: Wilson das Neves
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * * 1/2
Talvez hoje mais conhecido pelo público como o baterista da Orquestra Imperial e dos shows de Chico Buarque, Wilson das Neves vem seguindo carreira de cantor desde 1996, ano em que lançou o CD O som sagrado de Wilson das Neves. Entretanto, a rigor, o artista carioca - que atua como músico desde os anos 50 e chegou a dividir (estupendo) álbum com Elza Soares na função de (exímio) baterista - já se arriscou como cantor e compositor em faixas de discos que gravou nos anos 70. Contudo, foi a partir de O som sagrado de Wilson das Neves que o baterista - atualmente com 76 anos - se assumiu cantor de forma definitiva. De lá para cá, ele já gravou os discos Brasão de Orfeu (2004) e Pra gente fazer mais um samba (2010). Álbum lançado neste mês de março de 2013, Se me chamar, ô sorte é seu quarto título como intérprete. Como os três antecessores, Se me chamar, ô sorte apresenta repertório autoral composto por Neves com parceiros como Paulo César Pinheiro (letrista de seis dos 14 sambas do disco), Cláudio Jorge, Luiz Carlos da Vila (1949-2008) e Chico Buarque, afiado letrista do belo Samba para João, recado de Das Neves para o neto João. Chico valoriza o samba com versos como "A mão que afaga o tambor / Tem um dom qualquer / É como saber tocar / Pele de mulher". A diversidade do leque de parceiros - já experimentada no anterior Pra gente fazer mais um samba - ajuda o compositor a manter acesa a chama da criatividade. Contudo, a maior novidade de Se me chamar, ô sorte é a conexão de Das Neves com o produtor Berna Ceppas. Da linhagem de Kassin, com quem já assinou diversas produções, Ceppas pilotou o disco ao lado de Paulo César Pinheiro e do próprio Das Neves. Pode soar estranho, mas não houve choque entre a modernidade de Ceppas e a tradição de Pinheiro. Talvez porque o time de arranjadores - Bia Paes Leme, Jorge Helder, Luiz Cláudio Ramos, Vittor Santos e Zé Luiz Maia - tenha servido bem ao repertório. Ambientado fora dos quintais, Se me chamar, ô sorte corteja o clima mais íntimo de uma boate em sambas como Limites (Wilson das Neves e Toninho Nascimento) e Feito siameses (Wilson das Neves e Vitor Bezerra). A atmosfera mais interiorizasa do disco é preservada até pelo metais orquestrados por Vittor Santos - cujo trombone sublinha com certa malandragem a reconciliação conjugal narrada em Trato (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) - para sambas como O dono da razão (Wilson das Neves e Tuninho Gerais) e Máscara de cera (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro). No todo, Se me chamar, ô sorte esbanja requinte e harmonia. Se Licor, sereno e mágoas (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) destila ressentimentos no toque do piano de João Rebouças e dos metais orquestrados por Vittor Santos, Ao nosso amor maior expõe o lirismo poético de Luiz Carlos da Vila, autor dos versos divididos por Das Neves com Áurea Martins, grande cantora diplomada nessa atmosfera noturna das boates. Em repertório que destaca o samba-título Se me chamar, ô sorte, composto e cantado por Das Neves com Cláudio Jorge, Peão de obra (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) se diferencia por transitar pela trilha do baião. Na letra, Pinheiro refaz a rota triste do nordestino que vira operário ao migrar para o eixo Rio-São Paulo, reciclando ideia de Cidadão (1979), música do compositor baiano Lúcio Barbosa já propagada nas vozes de Zé Geraldo e Zé Ramalho. Enfim, Se me chamar, ô sorte expõe a verve de Wilson das Neves como sambista de fino trato. O samba é seu dom.
Talvez hoje mais conhecido pelo público como o baterista da Orquestra Imperial e dos shows de Chico Buarque, Wilson das Neves vem seguindo carreira de cantor desde 1996, ano em que lançou o CD O som sagrado de Wilson das Neves. Entretanto, a rigor, o artista carioca - que atua como músico desde os anos 50 e chegou a dividir (estupendo) álbum com Elza Soares na função de (exímio) baterista - já se arriscou como cantor e compositor em faixas de discos que gravou nos anos 70. Contudo, foi a partir de O som sagrado de Wilson das Neves que o baterista - atualmente com 76 anos - se assumiu cantor de forma definitiva. De lá para cá, ele já gravou os discos Brasão de Orfeu (2004) e Pra gente fazer mais um samba (2010). Álbum lançado neste mês de março de 2013, Se me chamar, ô sorte é seu quarto título como intérprete. Como os três antecessores, Se me chamar, ô sorte apresenta repertório autoral composto por Neves com parceiros como Paulo César Pinheiro (letrista de seis dos 14 sambas do disco), Cláudio Jorge, Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008) e Chico Buarque, letrista do belo Samba para João, recado de Das Neves para o neto João. Chico valoriza o samba com versos como "A mão que afaga o tambor / Tem um dom qualquer / É como saber tocar / Pele de mulher". A diversidade do leque de parceiros - já experimentada no anterior Pra gente fazer mais um samba - ajuda o compositor a manter acesa a chama da criatividade. Contudo, a maior novidade de Se me chamar, ô sorte é a conexão de Das Neves com o produtor Berna Ceppas. Da linhagem de Kassin, com quem já assinou diversas produções, Ceppas pilotou o disco ao lado de Paulo César Pinheiro e do próprio Das Neves. Pode soar estranho, mas não houve choque entre a modernidade de Ceppas e a tradição de Pinheiro. Talvez porque o time de arranjadores - Bia Paes Leme, Jorge Helder, Luiz Cláudio Ramos, Vittor Santos e Zé Luiz Maia - tenha servido bem ao repertório. Ambientado fora dos quintais, Se me chamar, ô sorte corteja o clima mais íntimo de uma boate em sambas como Limites (Wilson das Neves e Toninho Nascimento) e Feito siameses (Wilson das Neves e Vitor Bezerra). A atmosfera mais interiorizasa do disco é preservada até pelo metais orquestrados por Vittor Santos - cujo trombone sublinha com certa malandragem a reconciliação conjugal narrada em Trato (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) - para sambas como O dono da razão (Wilson das Neves e Tuninho Gerais) e Máscara de cera (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro). No todo, Se me chamar, ô sorte esbanja requinte e harmonia. Se Licor, sereno e mágoas (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) destila ressentimentos no toque do piano de João Rebouças e dos metais orquestrados por Vittor Santos, Ao nosso amor maior expõe o lirismo poético de Luiz Carlos da Vila, autor dos versos divididos por Das Neves com Áurea Martins, grande cantora diplomada nessa atmosfera noturna das boates. Em repertório que destaca o samba-título Se me chamar, ô sorte, composto e cantado por Das Neves com Cláudio Jorge, Peão de obra (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) se diferencia por transitar pela trilha do baião. Na letra, Pinheiro refaz a rota triste do nordestino que vira operário ao migrar para o eixo Rio-São Paulo, reciclando ideia de Cidadão (1979), música do compositor baiano Lúcio Barbosa já propagada nas vozes de Zé Geraldo e Zé Ramalho. Enfim, Se me chamar, ô sorte expõe a verve de Wilson das Neves como sambista de fino trato. O samba é seu dom.
ResponderExcluirTenho O Som Sagrado de Wilson das Neves.
ResponderExcluirDisco bem bom, quase todo letrado por Paulo Cesar Pinheiro.
"Das Neves vc tem muito tempo
Quem pensa no tempo tb perde tempo..."