Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 16 de março de 2013

Documentário foca contradições do 'marginal conservador' Julio Barroso

Resenha de documentário
Título: Julio Barroso - Marginal conservador
Direção e roteiro: Ricardo Alexandre
Produção: Tudo Certo Conteúdo Editorial, Diretório de Filmes e Canal Bis
Cotação: * * * 1/2
Filme com estreia programada pelo Canal Bis para 18 de março de 2013, às 19h30m, na faixa Bis Docs
Reprises:
19 de março de 2013, às 4h e às 8h30m
20 de março de 2013, às 16h30m
21 de março de 2013, às 9h
23 de março de 2013, às 19h30m
24 de março de 2013, às 3h30m
25 de março de 2013, às 15h30m

Ao cair (ou saltar) para a morte, em queda da janela de seu apartamento em São Paulo (SP) que pode ter sido acidental ou o último voluntário ato de uma vida vivida à margem, o cantor e compositor carioca Julio Barroso (18  de novembro de 1953 - 6 de junho de 1984) virou lenda do pop rock brasileiro dos anos 80 justamente no momento em que tentava adotar estilo de vida mais saudável. Dirigido e roteirizado pelo jornalista Ricardo Alexandre (autor de Dias de luta, o melhor livro sobre a trajetória da geração pop da década de 80, lançado em 2002 e reeditado neste ano de 2013), o documentário Julio Barroso Marginal conservador foca as contradições do artista - mentor da banda paulista Gang 90 & As Absurdetes, pioneira ao trazer a onda da New Wave para o Brasil - ao longo de 49 minutos preenchidos por entrevistas, fotos do perfilado, algumas imagens raras e o áudio inédito de Rosas e tigres (Júlio Barroso, Roberto Firmino e Taciana Barros), música ouvida no filme em versão embrionária de 1984, registrada com a voz de Barroso, mas que o cantor não teve não tempo de gravar oficialmente para o LP homônimo lançado pela Gang 90 em 1985, um ano após sua morte.  É do álbum Rosas & tigres, aliás, a música que batiza o bom documentário, Marginal conservador (Julio Barroso e Roberto Firmino), retrato da dicotomia que regeu a vida do artista, pioneiro na adoção de uma atitude pop em mercado então dominado pela MPB. "O primeiro grito de rock'n'roll (dos anos 80) foi o da Gang 90", ressalta Lobão, que compara, algumas falas depois, o impacto de ver a Gang 90 defender Perdidos na selva (Julio Barroso) no festival MPB-Shell 81, produzido e exibido pela TV Globo, com o "escândalo" provocado pela aparição do grupo paulista Os Mutantes em festival de 1967. De fato, guardadas as devidas proporções, o aparecimento da Gang 90 em rede nacional contrariava o establishment musical da época. Só que o sistema logo deglutiu a novidade da banda de Julio - e o filme de Ricardo Alexandre expõe tal contradição ao lembrar que, em 1983, apenas dois anos depois do surgimento da Gang, era do grupo a música, Nosso louco amor (Julio Barroso e Herman Torres), que abria e dava título à novela das oito da vez. Reforçando o paradoxismo que regeu a vida de Barroso, a boa entrevista do jornalista carioca Antonio Carlos Miguel - amigo do artista - elucida mais contradições ao lembrar que o rapaz de visual nerd (com cabelo curto, camisa social e óculos fundo de garrafa) que conheceu no início dos anos 70 foi o que surpreendeu o grupo de amigos - em tese, mais descolados - a se oferecer para subir sozinho o Morro de Mangueira para comprar maconha para a turma. "Fumamos ali os nossos cachimbos da paz e não nos desgrudamos mais", lembra Miguel, contando também que o amigo falsamente mauricinho chegou a ser internado em clínicas por seus pais para se livrar da dependência do álcool e das drogas. Mas Barroso era livre o suficiente para querer permanecer banguela porque o dente da frente perdido numa queda no bar - na noite em que, embriagado, chorou a dor da morte de John Lennon (1940 - 1980) - simbolizava de certa forma seu inconformismo pela perda do Beatle. Enfim, cada entrevistado - o jornalista Okky de Souza (cunhado de Barroso) e a cantora, compositora e tecladista Taciana Barros (namorada de Barroso), entre outros - dá seu depoimento afetivo sobre o marginal conservador. Ao fim, quando rolam os créditos ao som da emotiva Do fundo do coração (Julio Barroso e Barros, 1985), música do álbum Rosas & tigres, fica a sensação incômoda de que Julio Barroso saiu de cena cedo demais, justo quando buscava equilibrar sua loucura com um pouco de lucidez.  Mais uma das muitas contradições do artista.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Ao cair (ou saltar) para a morte, em queda da janela de seu apartamento em São Paulo (SP) que pode ter sido acidental ou o último voluntário ato de uma vida vivida à margem, o cantor e compositor carioca Julio Barroso (18 de novembro de 1953 - 6 de junho de 1984) virou lenda do pop rock brasileiro dos anos 80 justamente no momento em que tentava adotar estilo de vida mais saudável. Dirigido e roteirizado pelo jornalista Ricardo Alexandre (autor de Dias de luta, o melhor livro sobre a trajetória da geração pop da década de 80, lançado em 2002 e reeditado neste ano de 2013), o documentário Julio Barroso - Marginal conservador foca as contradições do artista - mentor da banda paulista Gang 90 & As Absurdetes, pioneira ao trazer a onda da New Wave para o Brasil - ao longo de 49 minutos preenchidos por entrevistas, fotos do perfilado, algumas imagens raras e o áudio inédito de Rosas e tigres (Júlio Barroso, Roberto Firmino e Taciana Barros), música ouvida no filme em versão embrionária de 1984, registrada com a voz de Barroso, mas que o cantor não teve não tempo de gravar oficialmente para o LP homônimo lançado pela Gang 90 em 1985, um ano após sua morte. É do álbum Rosas & tigres, aliás, a música que batiza o bom documentário, Marginal conservador (Julio Barroso e Roberto Firmino), retrato da dicotomia que regeu a vida do artista, pioneiro na adoção de uma atitude pop em mercado então dominado pela MPB. "O primeiro grito de rock'n'roll (dos anos 80) foi o da Gang 90", ressalta Lobão, que compara, algumas falas depois, o impacto de ver a Gang 90 defender Perdidos na selva (Julio Barroso) no festival MPB-Shell 81, produzido e exibido pela TV Globo, com o "escândalo" provocado pela aparição do grupo paulista Os Mutantes em festival de 1967. De fato, guardadas as devidas proporções, o aparecimento da Gang 90 em rede nacional contrariava o establishment musical da época. Só que o sistema logo deglutiu a novidade da banda de Julio - e o filme de Ricardo Alexandre expõe tal contradição ao lembrar que, em 1983, apenas dois anos depois do surgimento da Gang, era do grupo a música, Nosso louco amor (Julio Barroso e Herman Torres), que abria e dava título à novela das oito da vez. Reforçando o paradoxismo que regeu a vida de Barroso, a entrevista do jornalista carioca Antonio Carlos Miguel - amigo do artista - elucida mais contradições ao lembrar que o rapaz de visual nerd (com cabelo curto, camisa social e óculos fundo de guitarra) que conheceu no início dos anos 70 foi o que surpreendeu o grupo de amigos - em tese, mais descolados - a se oferecer para subir sozinho o Morro de Mangueira para comprar maconha para a turma. "Fumamos ali os nossos cachimbos da paz e não nos desgrudamos mais", lembra Miguel, contando também que o amigo falsamente mauricinho chegou a ser internado em clínicas por seus pais para se livrar da dependência do álcool e das drogas. Enfim, cada entrevistado - o jornalista Okky de Souza (cunhado de Barroso) e a cantora, compositora e tecladista Taciana Barros (namorada de Barroso), entre outros - dá seu depoimento afetivo sobre o marginal conservador. Ao fim, quando rolam os créditos ao som da emotiva Do fundo do coração (Julio Barroso e Barros, 1985), música do álbum Rosas & tigres, fica a sensação incômoda de que Julio Barroso saiu de cena cedo demais, justo quando buscava equilibrar sua loucura com um pouco de lucidez. Mais uma das muitas contradições do artista.

Luca disse...

esse cara é valorizado demais só por que apareceu primeiro. quem veio depois, Barão, Legião, Titãs, tinha mais talento

Felipe dos Santos disse...

Bom documentário, sobre uma figura ainda não tão valorizada.

Luca, de fato, musicalmente Júlio não era bem dotado (não tocava nem campainha). Mas a cabeça do camarada fervilhava. Sacava muito de cultura pop. Muito mesmo.

Acho que unia o caráter simpático de Cazuza, daquele cara que adora festa e tudo o mais, à vitalidade de Lobão.

Ah, sim: ótimo saber do relançamento do primoroso "Dias de luta". Livro indispensável. Já se sabe por qual editora, Mauro?

Felipe dos Santos Souza

Mauro Ferreira disse...

Oi, Felipe, o livro volta ao catálogo pela Arquipélago Editorial. Abs, MauroF

Unknown disse...

Vai estudar um pouquinho que você, talvez, entenda quando crescer!