Resenha de musical
Título: Como vencer na vida sem fazer força
Texto: Abe Burrows, Jack Weinstock & Willie Gilbert
Música e letras: Frank Loesser
Versão brasileira: Claudio Botelho
Direção: Charles Möeller
Direção musical: Paulo Nogueira
Elenco: Gregório Duvivier, Luiz Fernando Guimarães, Letícia Colin, Adriana Garambone,
Andre Loddi, Gottsha e Ada Chaseliov, entre outros
Foto: Marcos Mesquita
Cotação: * * * *
Musical em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), até 16 de junho
É sintomático que os protagonistas da remontagem brasileira de Como vencer na vida sem fazer força - musical de 1961 que inovou ao levar para a Broadway as artimanhas e picuinhas recorrentes no mundo competitivo das grandes empresas - sejam dois atores identificados com o rótulo de comediante no imaginário nacional. Dois atores sem dotes vocais que os credenciem a protagonizar um musical. É sintomático porque é justamente no humor preciso de Gregório Duvivier (Finch, o empregado que quer ascender na World Rebimboca Company sem galgar todos os degraus) e de Luiz Fernando Guimarães (J. B. Biggley, o grande chefe da corporação) que se sustenta a encenação dirigida por Charles Möeller. Duvivier usa bem a (aparente) fragilidade de J. Finch como arma de sedução numa minuciosa construção de personagem. Guimarães jamais abandona sua persona artística em cena, mas seu fraseado peculiar serve bem ao espetáculo e está em fina sintonia com o tom de seu colega. Por seu caráter satírico, quase farsesco, o texto de Abe Burrows, Jack Weinstock & Willie Gilbert pede mesmo atores com timing perfeito de comédia. Até porque Como vencer na vida sem fazer força não é um musical de grandes músicas. Um dos poucos destaques do cancioneiro de Frank Loesser é Brotherhood of man - Clube dos irmãos, na tradução de Claudio Botelho, autor das sempre fluentes versões. No segundo ato, o tema é alvo de vibrante número musical comandado por Gottsha, intérprete da secretária Smitty, no tom caloroso das cantoras negras norte-americanas de soul e gospel. Gottsha é o nome do elenco com maior recurso vocal e aproveita bem suas intervenções musicais. Contudo, o maior destaque no elenco feminino é Adriana Garambone, iluminada no papel da secretária-amante burra Hedy La Rue. Com modulação vocal específica para a personagem, que cria tom anasalado para as falas de Hedy, Garambone extrai humor de cada aparição de sua personagem e se garante como cantora, diluindo involuntariamente a presença no espetáculo da figura romântica de Rosemary (Letícia Colin, eficiente), a secretária apaixonada pelo amoral Finch (papel que foi de Marília Pêra na primeira montagem brasileira do musical, em 1964). Também merece menção honrosa a atuação de Andre Loddi como o patético Bud Frump, rival de Finch na escalada empresarial. Com coreografias de Alonso Barros (inspiradas no estilo emblemático de Bob Fosse), a atual encenação de Como vencer na vida sem fazer força resulta sempre fluente, leve, o que ameniza a sensação de que a trilha sonora não chega a ser memorável. Hábil na orquestração dos elementos cênicos, a direção de Möeller tem boas sacadas. Uma delas é congelar e realçar a expressão de Finch - com a ajuda da bela luz de Paulo César Medeiros - nos momentos em que o rapaz acredita estar tendo ideia sagaz. Como versionista, Claudio Botelho ratifica sua habilidade ao impedir que o público se lembre de que texto e músicas foram traduzidos para o português. Diálogos e letras soam perfeitamente naturais, sem perda da musicalidade original. Enfim, Como vencer na vida sem fazer força é mais um acerto da afinada dupla Charles Möeller & Claudio Botelho, única responsável pela revitalização do mercado carioca de musicais.
É sintomático que os protagonistas da remontagem brasileira de Como vencer na vida sem fazer força - musical de 1961 que inovou ao levar para a Broadway as artimanhas e picuinhas recorrentes no mundo competitivo das grandes empresas - sejam dois atores identificados com o rótulo de comediante no imaginário nacional. Dois atores sem dotes vocais que os credenciem a protagonizar um musical. É sintomático porque é justamente no humor preciso de Gregório Duvivier (Finch, o empregado que quer ascender na World Rebimboca Company sem galgar todos os degraus) e de Luiz Fernando Guimarães (J. B. Biggley, o grande chefe da corporação) que se sustenta a encenação dirigida por Charles Möeller. Duvivier usa bem a (aparente) fragilidade de J. Finch como arma de sedução numa minuciosa construção de personagem. Guimarães jamais abandona sua persona artística em cena, mas seu fraseado peculiar serve bem ao espetáculo e está em fina sintonia com o tom de seu colega. Por seu caráter satírico, quase farsesco, o texto de Abe Burrows, Jack Weinstock & Willie Gilbert pede mesmo atores com timing perfeito de comédia. Até porque Como vencer na vida sem fazer força não é um musical de grandes músicas. Um dos poucos destaques do cancioneiro de Frank Loesser é Brotherhood of man - Clube dos irmãos, na tradução de Claudio Botelho, autor das sempre fluentes versões. No segundo ato, o tema é alvo de vibrante número musical comandado por Gottsha, intérprete da secretária Smitty, no tom caloroso das cantoras negras norte-americanas de soul e gospel. Gottsha é o nome do elenco com maior recurso vocal e aproveita bem suas intervenções musicais. Contudo, o maior destaque no elenco feminino é Adriana Garambone, iluminada no papel da secretária-amante burra Hedy La Rue. Com modulação vocal específica para a personagem, que cria tom anasalado para as falas de Hedy, Garambone extrai humor de cada aparição de sua personagem e se garante como cantora, diluindo involuntariamente a presença no espetáculo da figura romântica de Rosemary (Letícia Colin, eficiente), a secretária apaixonada pelo amoral Finch (papel que foi de Marília Pêra na primeira montagem brasileira do musical, em 1964). Também merece menção honrosa a atuação de Andre Loddi como o patético Bud Frump, rival de Finch na escalada empresarial. Com coreografias de Alonso Barros (inspiradas no estilo emblemático de Bob Fosse), a atual encenação de Como vencer na vida sem fazer força resulta sempre fluente, leve, o que ameniza a sensação de que a trilha sonora não chega a ser memorável. Hábil na orquestração dos elementos cênicos, a direção de Möeller tem boas sacadas. Uma delas é congelar e realçar a expressão de Finch - com a ajuda da bela luz de Paulo César Medeiros - nos momentos em que o rapaz acredita estar tendo ideia sagaz. Como versionista, Claudio Botelho ratifica sua habilidade ao impedir que o público se lembre de que texto e músicas foram traduzidos para o português. Diálogos e letras soam perfeitamente naturais, sem perda da musicalidade original. Enfim, Como vencer na vida sem fazer força é mais um acerto da afinada dupla Charles Möeller & Claudio Botelho, única responsável pela revitalização do mercado carioca de musicais.
ResponderExcluiragora é moda elogiar Gregório Duvivier, crítico é um bando de maria vai com as outras
ResponderExcluirMas tem que elogiar mesmo. O Gregório é uma grande revelação. Timing perfeito pra comédia. O musical é ótimo e o elenco não poderia ser melhor escolhido..
ResponderExcluirMusical divertidíssimo, e o Gregório e a Adriana Garambone são mesmo o grande destaque. Também escrevi minha crítica sobre ele, se quiser conferir! http://candriariviera.blogspot.com.br/
ResponderExcluir=)