Se o Brasil é um país de cantoras, Emilio Santiago (6 de dezembro de 1946 - 20 de março de 2013) se impôs a partir dos anos 70 como voz emblemática do magro time masculino. Uma voz de barítono - de tom aveludado e de emissão e afinação perfeitas - que catapultou instantaneamente o cantor carioca ao posto de um dos maiores crooners nativos de todos os tempos. Um aplicado discípulo da escola moderna do também carioca Dick Farney (1921 - 1987) que tinha bossa no canto - e não por acaso celebrou o legado de Farney nos anos 90 com a edição do álbum Perdido de amor (Som Livre, 1995) - e um senso rítmico apurado que lhe permitiu cantar sambas dos mais variados quintais. Diplomada na escola noturna das boates do Rio de Janeiro (RJ) do início da década de 70, a voz de Emílio Santiago - imortal cantor que sai de cena aos 66 anos nesta quarta-feira, 20 de março de 2013, vítima de complicações decorrentes de AVC sofrido no início do mês - extrapolou rótulos e se habituou a
transitar por todos os tons da aquarela rítmica brasileira. O talento vocal foi atestado a partir de 1970 nos festivais e nos programas de calouros como A grande chance, comandado pelo ranzinza apresentador Flávio Cavalcanti (1923 - 1986). Mas o sucesso no mercado fonográfico - no qual Emílio deu seus primeiros passos em 1973 com a gravação de compacto com as músicas Transa de amor (Sebastião Tapajós e Marilena Amaral) e Saravá Nega (Odibar) - não veio rápido. O primeiro LP, Emílio Santiago, foi lançado pela CID em 1975 sem repercussão. No ano seguinte, o cantor inicia na gravadora Philips a fase artisticamente mais expressiva de sua discografia, gravando série de álbuns que evidenciaram toda a maestria de seu canto, posto a serviço de ótimo repertório. O samba Nega (Vevé Calazans), gravado por Emílio no LP Comigo é assim (1977), foi o primeiro hit do artista, tendo sido propagado na trilha sonora da novela O astro (TV Globo, 1977 / 1978). São dessa fase inspirada álbuns como Feito para ouvir (1977) - relançado em 2009 pela gravadora Dubas em edição criteriosa, avalizada pelo próprio Emílio - Emilio (1978) e O canto crescente de Emílio Santiago (1979). Nenhum deles aconteceu nas paradas. Emílio teria somente um segundo sucesso popular em 1982, quando defendeu o samba Pelo amor de Deus (Paulo Debétio e Paulinho Resende) no festival MPB-Shell 82, exibido na TV Globo. O samba entrou no nono álbum do cantor, Ensaios de amor (1982), lançado pela Philips, gravadora na qual Emílio permaneceu até 1984. Fora da companhia, o cantor amargou quatro anos longe dos estúdios. Mas a volta ao disco seria recompensadora. Contratado pela gravadora Som Livre, Emílio Santiago iniciou em 1988 - a convite de Roberto Menescal e Heleno de Oliveira - a série de álbuns Aquarela brasileira, na qual regravava sucessos da música brasileira de várias épocas e estilos (geralmente em medleys) entre uma ou duas inéditas. Mesmo seguindo fórmula preguiçosa, a série deu a Santiago um sucesso de massa que ele, até então, nunca havia obtido. Foi quando o cantor passou a fazer shows em grandes casas, sempre lotadas. A série durou até 1994 e rendeu vários hits a Emílio, caso do samba Verdade chinesa (Gilson e Carlos Colla, 1990), sucesso do terceiro dos sete volumes da série Aquarela brasileira. Encerrada a série, Emílio voltou a fazer discos de maior expressão artística. Bossa Nova (2000), De um jeito diferente (2007) e Só danço samba (2010) - irretocável tributo ao rei dos bailes Ed Lincoln (1932 - 2012) - reiteraram a maestria vocal do cantor, grande canário que desafiou a supremacia do canto feminino no Brasil. Já deixa saudade!
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16 comentários:
Se o Brasil é um país de cantoras, Emílio Santiago (6 de dezembro de 1946 - 20 de março de 2013) se impôs a partir dos anos 70 como voz emblemática do magro time masculino. Uma voz de barítono - de tom aveludado e de emissão e afinação perfeitas - que catapultou instantaneamente o cantor carioca ao posto de um dos maiores crooners nativos de todos os tempos. Um aplicado discípulo da escola moderna do também carioca Dick Farney (1921 - 1987) que tinha bossa no canto - e não por acaso celebrou o legado de Farney nos anos 90 com a edição do álbum Perdido de amor (Som Livre, 1995) - e um senso rítmico apurado que lhe permitiu cantar sambas dos mais variados quintais. Diplomada na escola noturna das boates do Rio de Janeiro (RJ) do início da década de 70, a voz de Emílio Santiago - imortal cantor que sai de cena aos 66 anos nesta quarta-feira, 20 de março de 2013, vítima de complicações decorrentes de AVC sofrido no início do mês - extrapolou rótulos e se habituou a transitar por todos os tons da aquarela rítmica brasileira. O talento vocal foi atestado a partir de 1970 nos festivais e nos programas de calouros como A grande chance, comandado pelo ranzinza apresentador Flávio Cavalcanti (1923 - 1986). Mas o sucesso no mercado fonográfico - no qual Emílio deu seus primeiros passos em 1973 com a gravação de compacto com as músicas Transa de amor (Sebastião Tapajós e Marilena Amaral) e Saravá Nega (Odibar) - não veio rápido. O primeiro LP, Emílio Santiago, foi lançado pela CID em 1975 sem repercussão. No ano seguinte, o cantor inicia na gravadora Philips a fase artisticamente mais expressiva de sua discografia, gravando série de álbuns que evidenciaram toda a maestria de seu canto, posto a serviço de ótimo repertório. O samba Nega (Vevé Calazans), gravado por Emílio no LP Comigo é assim (1977), foi o primeiro hit do artista, tendo sido propagado na trilha sonora da novela O astro (TV Globo, 1977 / 1978). São dessa fase inspirada álbuns como Feito para ouvir (1977) - relançado em 2009 pela gravadora Dubas em edição criteriosa, avalizada pelo próprio Emílio - Emilio (1978) e O canto crescente de Emílio Santiago (1979). Nenhum deles aconteceu nas paradas. Emílio teria somente um segundo sucesso popular em 1982, quando defendeu o samba Pelo amor de Deus (Paulo Debétio e Paulinho Resende) no festival MPB-Shell 82, exibido na TV Globo. O samba entrou no nono álbum do cantor, Ensaios de amor (1982), lançado pela Philips, gravadora na qual Emílio permaneceu até 1984. Fora da companhia, o cantor amargou quatro anos longe dos estúdios. Mas a volta ao disco seria recompensadora. Contratado pela gravadora Som Livre, Emílio Santiago iniciou em 1988 - a convite de Roberto Menescal e Heleno de Oliveira - a série de álbuns Aquarela brasileira, na qual regravava sucessos da música brasileira de várias épocas e estilos (geralmente em medleys) entre uma ou duas inéditas. Mesmo seguindo fórmula preguiçosa, a série deu a Santiago um sucesso de massa que ele, até então, nunca havia obtido. Foi quando o cantor passou a fazer shows em grandes casas, sempre lotadas. A série durou até 1994 e rendeu vários hits a Emílio, caso do samba Verdade chinesa (Gilson e Carlos Colla, 1990), sucesso do terceiro dos sete volumes da série Aquarela brasileira. Encerrada a série, Emílio voltou a fazer discos de maior expressão artística. Bossa Nova (2000), De um jeito diferente (2007) e Só danço samba (2010) - irretocável tributo ao rei dos bailes Ed Lincoln (1932 - 2012) - reiteraram a maestria vocal do cantor, grande canário que desafiou a supremacia do canto feminino no Brasil. Já deixa saudade!
A melhor voz que o Brasil já teve. Obrigado Emílio Santiago!
Pra mim, a melhor voz que o Brasil já teve! Obrigado Emílio Santiago!
Realmente bela voz que só ganhou reconhecimento de público e mídia quando lançou o projeto Aquarela Brasileira regravando em pout-pourri inúmeros sambas-enredos. Fora isso tornou Saigon, que foi gravado primeiramente por Beth Carvalho, o seu carro chefe. Grande cantor, pena que se foi logo.
Descanse em paz, Emílio! Já deixa saudades mesmo.
Também acho que foi a melhor voz que o Brasil teve. O CD "De um Jeito Diferente" para mim é o melhor dele. Realmente vai deixar saudade.
É muito estranho... Vi Emilio no carnaval, cantou tão bonito, fez duo com Fafá de Belém, parecia estar bem, e agora ele não está mais entre nos... Já que não mais o teremos em shows e com novos projetos, Que sua voz continue sendo ouvida e reconhecida como deve aos que ficam.
Sensação estranha de estar ficando só.
E o antigo compositor Cearense nos dizia: O novo sempre vem.
Acho que venderei meus ouvidos.
Valeu Emílio!
É como bem você frisou Mauro... Emílio já deixa saudades. Foi-se talvez a maior voz da música brasileira surgida nas últimas décadas.
Triste...
Sim Emílio tinha uma voz única e linda, um grande carisma, saudades!
Mais um que vai sem deixar herdeiros musicais - conhecidos, pelo menos. Descanse em paz, Emílio. Sua voz maravilhosa vai ficar sempre conosco!
Mauro, permita-me parabenizá-lo pelo presente artigo. Coisa de quem sabe muito. Por mais que sejamos fãs, são raros os que tem conhecimento mais amplo de um determinado artista. É como me sentia em relação ao Emilio Santiago, um conhecedor pontual de algumas de suas obras. Agora, com subsídios para revisitá-lo. Abraços, Rogerio Santos (de São Paulo)
PS: Emilio fará muita falta, mas deixa uma semente rica, que temos a obrigação de cultivar.
DESCANSE EM PAZ JUNTO DE ELIS, ELIZETH, DALVA,ISAURINHA E TANTOS OUTROS.
Morte triste, como a maioria das mortes, de famosos ou não. Não era acompanhante próximo da carreira de Emílio, mas é inegável que tinha voz marcante. Será lembrado por ela.
Só resta lembrar o que Lulu Santos disse em seu perfil no Twitter, hoje: "Mês dramático para a MPB de todas as cores. Continuemos torcendo por nosso Dominguinhos".
Felipe dos Santos Souza
Uma grande voz, um tremendo cantor. Seu timbre, com o passar dos anos, ficou mais encorpado, com uma textura mais aveludada, ainda mais bonito que no início de sua carreira. Meu aparelho de som não dá descanso para o primeiro dos seus discos, datado de 1975, que traz um repertório caprichado e músicos de primeira.
Alguns passaram a torcer o nariz para ele depois das “Aquarelas”, com uma certa dose de razão, já que foi um projeto que se estendeu demais, perdeu fôlego e acabou redundando numa certa mesmice. Quem sabe agora, após a sua morte, sua discografia seja relançada (espero que de forma caprichada), para comprovar a qualidade de muitos dos seus trabalhos, e que ele podia ir muito além desses discos que o tornaram popular.
Fica aqui meu pesar pela despedida de uma voz repleta de swing, que deslizava macia sobre um fraseado elegante e uma divisão rítmica invejável.
Uma grande perda, tantos projetos que o Emílio poderia ainda fazer. O disco com a Marrom, por exemplo, não saiu, queria ver o Emílio cantando com uns 80 anos, assim como o Cauby. Enfim, muito triste.
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