Evento: Pensar - Quintas notáveis
Título: Olho de Peixe 20 anos
Artistas: Lenine e Marcos Suzano (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Miranda (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 18 de abril de 2013
Cotação: * * * *
Show em cartaz na casa Miranda, no Rio de Janeiro (RJ), até 20 de abril de 2013
Como num passe de mágica, mas sem qualquer truque, Lenine e Marcos Suzano reeditaram o entrosamento de 1993 assim que o jornalista carioca Leonardo Lichote encerrou a entrevista sobre a arquitetura revolucionária do disco Olho de peixe (1993) e pediu ao cantor e ao percussionista que mostrassem ao público da casa Miranda o som que impactara a música brasileira há 20 anos e que ainda reverbera em mentes e corações daquela geração e de ouvintes que se depararam com o disco ao longo dessas três décadas. Bastou então a dupla iniciar Acredite ou não (Lenine e Bráulio Tavares, 1993) para que a dinâmica do som de 1993 ecoasse nos ouvidos dos convidados da estreia do show comemorativo dos 20 anos do CD Olho de peixe, na noite festiva de 18 de abril de 2013. Suzano, elétrico, no pandeiro. Lenine, na guitarra eletroacústica, o violão dos tempos modernos. E a magia se (re)fez. Os músicos tocaram as 13 composições de Olho de peixe na ordem quase exata do CD (as posições de Leão do Norte e Lá e lô ficaram invertidas no roteiro), ora reeditado em tiragem limitada dentro da série de comemorações dos 30 anos de carreira de Lenine. Em alguns números, como a música-título Olho de peixe (Lenine, 1993), o suingue surge da interação entre o pandeiro de Suzano e as cordas eletroacústicas de Lenine. Em outros, como O último pôr-do-sol (Lenine e Lula Queiroga, 1993), Suzano pilota seu arsenal percussivo e ainda faz vocais. Analisado em perspectiva três décadas após sua edição, a partir do show, Olho de peixe foi o disco que - sonoridade à parte - captou o ponto de maturação da obra de Lenine, até então dispersa em faixas de álbuns de Elba Ramalho. Sem deixar de criar nos dez anos que separam Baque solto (1983) - o álbum da estreia, dividido com o conterrâneo pernambucano Lula Queiroga, parceiro da vida toda - e Olho de peixe (1993), o compositor azeitou cancioneiro em que filtra influências nordestinas e cariocas por ótica contemporânea, universal. Embalado em Olho de peixe com as percussões de Suzano e o violão do próprio Lenine, de sonoridade percussiva, esse cancioneiro estava pronto para ganhar o mundo em 1993. E ganhou - no embalo da repercussão na Europa e no Japão do disco mixado pelo engenheiro de som Denilson Campos, profissional fundamental na formatação técnica do CD e, por isso mesmo, convidado a assumir o som do show. Mesmo quando a música em si tem menor poder de sedução, caso de Escrúpulo (Lenine, 1993), o groove captura a atenção do ouvinte / espectador. Com múltiplas sonoridades, a percussão de Suzano é capaz até de evocar o batuque dos séculos guardados na memória ancestral remexida no medley Caribenha nação (Lenine e Bráulio Tavares, 1993) / Tuaregue e nagô (Lenine e Bráulio Tavares, 1993). Sem falar que, em cena, a dupla vai além do repertório de Olho de peixe, adaptando para a sonoridade do disco / show músicas de álbuns posteriores de Lenine. Chão (Lenine e Lula Queiroga, 2012), música-título de disco pautado por silêncios e ruídos cotidianos, se ajusta bem a essa sonoridade sem excessos. No bis, A ponte (Lenine e Lula Queiroga, 1997) cruza em harmonia momentos distintos de Lenine que, afinal, se irmanam no trilho que conduz com coerência obra que já soma 30 anos e cuja originalidade começou a ser (entre)vista justamente com Olho de peixe.
7 comentários:
Como num passe de mágica, mas sem qualquer truque, Lenine e Marcos Suzano reeditaram o entrosamento de 1993 assim que o jornalista carioca Leonardo Lichote encerrou a entrevista sobre a arquitetura revolucionária do disco Olho de peixe (1993) e pediu ao cantor e ao percussionista que mostrassem ao público da casa Miranda o som que impactara a música brasileira há 30 anos e que ainda reverbera em mentes e corações daquela geração e de ouvintes que se depararam com o disco ao longo dessas três décadas. Bastou então a dupla iniciar Acredite ou não (Lenine e Bráulio Tavares, 1993) para que a dinâmica do som de 1993 ecoasse nos ouvidos dos convidados da estreia do show comemorativo dos 30 anos do CD Olho de peixe, na noite festiva de 18 de abril de 2013. Suzano, elétrico, no pandeiro. Lenine, na guitarra eletroacústica, o violão dos tempos modernos. E a magia se (re)fez. Os músicos tocaram as 13 composições de Olho de peixe na ordem quase exata do CD (as posições de Leão do Norte e Lá e lô ficaram invertidas no roteiro), ora reeditado em tiragem limitada dentro da série de comemorações dos 30 anos de carreira de Lenine. Em alguns números, como a música-título Olho de peixe (Lenine, 1993), o suingue surge da interação entre o pandeiro de Suzano e as cordas eletroacústicas de Lenine. Em outros, como O último pôr-do-sol (Lenine e Lula Queiroga, 1993), Suzano pilota seu arsenal percussivo e ainda faz vocais. Analisado em perspectiva três décadas após sua edição, a partir do show, Olho de peixe foi o disco que - sonoridade à parte - captou o ponto de maturação da obra de Lenine, até então dispersa em faixas de álbuns de Elba Ramalho. Sem deixar de criar nos dez anos que separam Baque solto (1983) - o álbum da estreia, dividido com o conterrâneo pernambucano Lula Queiroga, parceiro da vida toda - e Olho de peixe (1993), o compositor azeitou cancioneiro em que filtra influências nordestinas e cariocas por ótica contemporânea, universal. Embalado em Olho de peixe com as percussões de Suzano e o violão do próprio Lenine, de sonoridade percussiva, esse cancioneiro estava pronto para ganhar o mundo em 1993. E ganhou - no embalo da repercussão na Europa e no Japão do disco mixado pelo engenheiro de som Denilson Campos, profissional fundamental na formatação técnica do CD e, por isso mesmo, convidado a assumir o som do show. Mesmo quando a música em si tem menor poder de sedução, caso de Escrúpulo (Lenine, 1993), o groove captura a atenção do ouvinte / espectador. Com múltiplas sonoridades, a percussão de Suzano é capaz até de evocar o batuque dos séculos guardados na memória ancestral remexida no medley Caribenha nação (Lenine e Bráulio Tavares, 1993) / Tuaregue e nagô (Lenine e Bráulio Tavares, 1993). Sem falar que, em cena, a dupla vai além do repertório de Olho de peixe, adaptando para a sonoridade do disco / show músicas de álbuns posteriores de Lenine. Chão (Lenine e Lula Queiroga, 2012), música-título de disco pautado por silêncios e ruídos cotidianos, se ajusta bem a essa sonoridade sem excessos. No bis, A ponte (Lenine e Lula Queiroga, 1997) cruza em harmonia momentos distintos de Lenine que, afinal, se irmanam no trilho que conduz com coerência obra que já soma 30 anos e cuja originalidade começou a ser (entre)vista justamente com Olho de peixe.
Mauro, não seriam 20 anos?
Claro, RCVSiqueira. Grato pelo toque. abs, mauroF
Grande Lenine!
O cara mais criterioso e talentoso de sua geração.
Mais que Chico Science, Zé Henrique?
São de gerações diferentes, Baiano Márcio.
Aliás, a carreira, a princípio, errática de Lenine cria realmente certa dificuldade em enquadrá-lo nessa ou naquela geração.
O considero uma gerção antes de Science.
PS: Chico Science é do tamanho de Gonzagão! Se não na quantidade, na qualidade e na importância além da música para sua cidade/estado.
Chico Science do Tamanho de Gonzagão, Zé Henrique??!! Pegue leve aí, meu rei! Sou fã do trabalho do caranguejo man, mas faltou muito, até por conta de sua partida cedo demais, pra ele chegar perto do que Gonzagão fez, unindo qualidade com popularidade em todo o país. São pouquíssimos os que conseguem isso. De cabeça citaria, além de Gonzagão, apenas Dorival Caymmi.
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