Título: Eu canto samba
Artista: Leila Pinheiro (com Pretinho da Serrinha na foto de Mauro Ferreira)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 16 de abril de 2013
Cotação: * * * 1/2
Quando Leila Pinheiro cantou Verde (Eduardo Gudin e Costa Netto, 1985) no palco do Theatro Net Rio, nos mesmos tons radiantes com que defendeu no Festival dos Festivais este samba que lhe deu projeção nacional em 1985, uma onda de emoção tomou conta do público que assistia à estreia nacional do show Eu canto samba no Rio de Janeiro (RJ) na noite de 16 de abril de 2013. Tudo então pareceu fazer sentido neste show em que Leila tira um país de seu coração paraense e expõe em cena esse país musicalmente multifacetado em que o samba reverbera tanto na cadência popular de pagodeiros como Thiaguinho e Pezinho - autores do bonito pagode Minha razão (2012), pretexto para a entrada em cena de seu intérprete, Péricles, um dos convidados da cantora na estreia do show - quanto no tom lírico de um bamba imortal como Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), parceiro de Sombra e Sombrinha no sublime samba Além da razão (1988). Com canto luminoso, Leila Pinheiro surpreendeu positivamente em seu primeiro trabalho inteiramente dedicado ao samba. Inteligente e bem amarrado, o roteiro - assinado pela artista com Marcus Fernando - colaborou para o êxito do show em que a cantora se revigora ao dividir o palco com cinco jovens músicos oriundos da Serrinha, celeiro carioca de bambas desde os tempos do Império. Aliás, a entrada em cena do convidado Pretinho da Serrinha - em Conselho (Adilson Bispo e Zé Roberto, 1986) e Mas quem disse que eu te esqueço (Ivone Lara e Hermínio Bello de Carvalho, 1981) - reforçou a injeção de ânimo. O percussionista e vocalista do Trio Preto + 1 tem carisma. Mas a força do show reside mesmo no roteiro que alinha repertório longe do óbvio. Na estreia, Eu canto samba surpreendeu já na abertura quando, após a marcação de um surdo e do ronco de uma cuíca, as cortinas se abriram e Leila deu voz a Prece ao samba (Ivan Lins e Nei Lopes, 2006). Se o samba é ritmo sagrado no país que a cantora guarda em seu coração, a lembrança de Se é pecado sambar (Manoel Santana, 1950) - sucesso de Marlene na era do rádio - pareceu estar ali, na sequência do roteiro, para absolver Leila Pinheiro de qualquer eventual heresia no canto desse samba - para alguns - imaculado. Sem culpa por estar pisando em terreno já demarcado, Leila soube colher frutos nobres no vasto quintal carioca. Joia gravada por Alcione em disco de 1987, Raio de luar (Dauro do Salgueiro e Nei Lopes, 1985) ilumina o canto de Leila, mais expansivo neste show. Feliz, com um sorriso no canto, a intérprete soube seguir a receita alto astral de Entra no clima (Acyr Marques, Arlindo Cruz e Rogê, 2007) - número contagiante alocado quase ao fim do show - e reavivpu Esperanças perdidas (Adeilton Alves e Délcio Carvalho, 1972) com arranjo que cria clima de terreiro na introdução e no fim do número. Com menor poder de sedução, o bloco que agrega três sambas gravados por Paulinho da Viola na primeira metade da década de 80 - Prisma luminoso (Paulinho da Viola e José Carlos Capinam, 1983), Rumo dos ventos (Paulinho da Viola, 1982) e Onde a dor não tem razão (Paulinho da Viola e Elton Medeiros, 1981) - se ressentiu de ambientação inadequada. Ora mais extrovertido, o canto de Leila soou sem a densidade pedida por esses sambas filosóficos do compositor - geralmente o melhor intérprete de sua obra. A bossa de Leila Pinheiro é outra. Escorada em sua técnica vocal, a cantora sentou no banquinho e, com seu tamborim, celebrou à sua moda o legado de João Gilberto ao samba com set mais íntimo que encadeia quatro sambas dos anos 40 em que compositores da era pré-Bossa Nova exaltam mulheres de diversas cadências. Entram em cena Doralice (Dorival Caymmi e Antonio Almeida, 1945), Morena Boca de ouro (Ary Barroso, 1941), Rosa Morena (Dorival Caymmi, 1942) e Izaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti, 1945). Seguiram-se exaltações a Nara Leão (1942 - 1989) e à escola de samba Estação Primeira de Mangueira antes de Leila pegar seu cavaquinho para refazer sua prece ao samba através de Eu canto samba (Paulinho da Viola, 1989), encerrando show de linha bem traçada pelo roteiro primoroso que se desvia do trilho oportunista. No bis, Por um dia de graça (Luiz Carlos da Vila, 1984) reitera a celebração à vida e à Arte em versos esperançosos que sonham com mais harmonia e mais felicidade no país multifacetado guardado por Leila Pinheiro em seu coração.
8 comentários:
Quando Leila Pinheiro cantou Verde (Eduardo Gudin e Costa Netto, 1985) no palco do Theatro Net Rio, nos mesmos tons radiantes com que defendeu no Festival dos Festivais este samba que lhe deu projeção nacional em 1985, uma onda de emoção tomou conta do público que assistia à estreia nacional do show Eu canto samba no Rio de Janeiro (RJ) na noite de 16 de abril de 2013. Tudo então pareceu fazer sentido neste show em que Leila tira um país de seu coração paraense e expõe em cena esse país musicalmente multifacetado em que o samba reverbera tanto na cadência popular de pagodeiros como Thiaguinho e Pezinho - autores do bonito pagode Minha razão (2012), pretexto para a entrada em cena de seu intérprete, Péricles, um dos convidados da cantora na estreia do show - quanto no tom lírico de um bamba imortal como Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), parceiro de Sombra e Sombrinha no sublime samba Além da razão (1988). Com canto luminoso, Leila Pinheiro surpreendeu positivamente em seu primeiro trabalho inteiramente dedicado ao samba. Inteligente e bem amarrado, o roteiro - assinado pela artista com Marcus Fernando - colaborou para o êxito do show em que a cantora se revigora ao dividir o palco com cinco jovens músicos oriundos da Serrinha, celeiro carioca de bambas desde os tempos do Império. Aliás, a entrada em cena do convidado Pretinho da Serrinha - em Conselho (Adilson Bispo e Zé Roberto, 1986) e Mas quem disse que eu te esqueço (Ivone Lara e Hermínio Bello de Carvalho, 1981) - reforçou a injeção de ânimo. O percussionista e vocalista do Trio Preto + 1 tem carisma. Mas a força do show reside mesmo no roteiro que alinha repertório longe do óbvio. Na estreia, Eu canto samba surpreendeu já na abertura quando, após a marcação de um surdo e do ronco de uma cuíca, as cortinas se abriram e Leila deu voz a Prece ao samba (Ivan Lins e Nei Lopes, 2006). Se o samba é ritmo sagrado no país que a cantora guarda em seu coração, a lembrança de Se é pecado sambar (Manoel Santana, 1950) - sucesso de Marlene na era do rádio - pareceu estar ali, na sequência do roteiro, para absolver Leila Pinheiro de qualquer eventual heresia no canto desse samba - para alguns - imaculado. Sem culpa por estar pisando em terreno já demarcado, Leila soube colher frutos nobres no vasto quintal carioca. Joia gravada por Alcione em disco de 1987, Raio de luar (Dauro do Salgueiro e Nei Lopes, 1985) ilumina o canto de Leila, mais expansivo neste show. Feliz, com um sorriso no canto, a intérprete soube seguir a receita alto astral de Entra no clima (Acyr Marques, Arlindo Cruz e Rogê, 2007) - número contagiante alocado quase ao fim do show - e reavivpu Esperanças perdidas (Adeilton Alves e Délcio Carvalho, 1972) com arranjo que cria clima de terreiro na introdução e no fim do número.
Com menor poder de sedução, o bloco que agrega três sambas gravados por Paulinho da Viola na primeira metade da década de 80 - Prisma luminoso (Paulinho da Viola e José Carlos Capinam, 1983), Rumo dos ventos (Paulinho da Viola, 1982) e Onde a dor não tem razão (Paulinho da Viola e Elton Medeiros, 1981) - se ressentiu de ambientação inadequada. Ora mais extrovertido, o canto de Leila soou sem a densidade pedida por esses sambas filosóficos do compositor - geralmente o melhor intérprete de sua obra. A bossa de Leila Pinheiro é outra. Escorada em sua técnica vocal, a cantora sentou no banquinho e, com seu tamborim, celebrou à sua moda o legado de João Gilberto ao samba com set mais íntimo que encadeia quatro sambas dos anos 40 em que compositores da era pré-Bossa Nova exaltam mulheres de diversas cadências. Entram em cena Doralice (Dorival Caymmi e Antonio Almeida, 1945), Morena Boca de ouro (Ary Barroso, 1941), Rosa Morena (Dorival Caymmi, 1942) e Izaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti, 1945). Seguiram-se exaltações a Nara Leão (1942 - 1989) e à escola de samba Estação Primeira de Mangueira antes de Leila pegar seu cavaquinho para refazer sua prece ao samba através de Eu canto samba (Paulinho da Viola, 1989), encerrando show de linha bem traçada pelo roteiro primoroso que se desvia do trilho oportunista. No bis, Por um dia de graça (Luiz Carlos da Vila, 1984) reitera a celebração à vida e à Arte em versos esperançosos que sonham com mais harmonia e mais felicidade no país multifacetado guardado por Leila Pinheiro em seu coração.
Leila é nota mil! Uma das maiores intérpretes de toda a história do cancioneiro nacional. E, além disso, um ser humano único de beleza ímpar.
Leila arrasou nesse show. Artista completa e feliz com sua arte!! Espero q possa ser eternizado em cd ou dvd.
Está virando moda no Brasil... Quando uma cantora faz um trabalho bem ruim, esculhambado pela crítica, desprestigiado pelo público, ou mesmo um trabalho mais "conceitual", daqueles que passam batido, ela depois ressurge das cinzas com um disco ou um show só de samba e pensa que está tudo certo! Maria Rita, Marisa Monte, Luciana Mello, várias já se valeram dessa estratégia! Daí o povo aclama, a crítica afaga e vem a redenção! A popularidade cresce instantaneamente! É o samba, como sempre, pondo as coisas no lugar!
Não gosto da Leila como cantora, mas gosto MUITO de samba.
Sendo assim, digo que não se mistura Thiaguinho com Paulinho da Viola.
PS: O disco de samba, de segunda divisão, da Maria Rita foi um tiro no pé. Dito pela própria.
Gostar MUITO de samba nunca justificou preconceitos. Coisa mais démodé.
Certa vez vendo um filme sobre o Noel Rosa o personagem do Noel disse para o Wilson Batista:
"Não confunda malandragem com pilantragem"
Pois então, cara, não é bem preconceito.´
É só uma questão de parâmetro.
Um pós conceito.
Manjou?
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