"O samba de Jorge Ben - da batida de seu violão à linha melódica e letra de suas composições - revela um novo caminho nos horizontes da nossa música popular". Sagaz, o aval entusiasmado do produtor musical paulista Armando Pittigliani ao som de Jorge Duílio Lima Meneses foi dado em texto publicado na contracapa do primeiro álbum do cantor e compositor carioca, Samba esquema novo, lançado em 1963 pela gravadora Philips. Relido 50 anos depois da edição do disco, o aval de Pittigliani se constitui profético. Samba esquema novo completa cinco décadas de vida neste ano de 2013 como um dos álbuns mais marcantes da música brasileira, tão revolucionário quanto o compacto de 1958 em que João Gilberto revelou ao mundo a batida diferente de seu violão ao gravar Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Mores, 1958) - ainda que seu impacto tenha sido percebido de forma menos imediata. Sim, a batida do violão de Jorge Ben também era diferente. Tinha um suingue singular, um balanço negro que religava a África ao Brasil, uma marcação original, um desenho rítmico todo próprio que deu ao seu samba um caráter novo, sem esquemas pré-determinados. Produto da musicalidade intuitiva do artista, Samba esquema novo chega aos 50 anos como um clássico entre os clássicos da discografia brasileira. Ben fez sua revolução estética nos meros 28 minutos e 50 segundos em que cantou as 12 músicas do disco, sendo onze de sua lavra original. Músicas que, em sua maioria, versavam sobre o próprio samba numa metalinguagem de tom coloquial que facilitou a adesão imediata do público ao som de Ben. Um dos sucessos do disco, música que seria alavanca para a explosão do pianista fluminense Sergio Mendes nos Estados Unidos, Mas que nada tentou em vão definir o suingue do samba de preto tu. Rótulos à parte, o balanço de Samba esquema novo reverberou - e ainda ecoa - em grande parte da música preta brasileira produzida neste país tropical a partir de 1963, do rap da periferia paulista à lama revolvida no Recife pela geração Mangue Beat. O cancioneiro do disco ganhou vozes de cantoras de todas as cores. Balança pema entrou no tom de Marisa Monte no álbum Verde anil amarelo cor-de-rosa e carvão (1994). Rosa, menina Rosa foi facho de luz entre as densas camadas de Vagarosa (2009), segundo álbum de Céu. Outras músicas do disco - em especial Chove chuva - passaram com louvor na dura prova do tempo. Incompreendido pelos críticos da época, Samba esquema novo é o primeiro atestado perene da genialidade do Zé Pretinho. Outros discos vieram, alguns tão ou até mais inspirados do que o álbum já cinquentenário de 1963. Mas ali, em Samba esquema novo, está uma das pedras fundamentais da música popular do Brasil. Uma bossa negra que ainda soa muito nova.
10 comentários:
"O samba de Jorge Ben - da batida de seu violão à linha melódica e letra de suas composições - revela um novo caminho nos horizontes da nossa música popular". Sagaz, o aval entusiasmado do produtor musical paulista Armando Pittigliani ao som de Jorge Duílio Lima Meneses foi dado em texto publicado na contracapa do primeiro álbum do cantor e compositor carioca, Samba esquema novo, lançado em 1963 pela gravadora Philips. Relido 50 anos depois da edição do disco, o aval de Pittigliani se constitui profético. Samba esquema novo completa cinco décadas de vida neste ano de 2013 como um dos álbuns mais marcantes da música brasileira, tão revolucionário quanto o compacto de 1958 em que João Gilberto revelou ao mundo a batida diferente de seu violão ao gravar Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Mores, 1958) - ainda que seu impacto tenha sido percebido de forma menos imediata. Sim, a batida do violão de Jorge Ben também era diferente. Tinha um suingue singular, um balanço negro que religava a África ao Brasil, uma marcação original, um desenho rítmico todo próprio que deu ao seu samba um caráter novo, sem esquemas pré-determinados. Produto da musicalidade intuitiva do artista, Samba esquema novo chega aos 50 anos como um clássico entre os clássicos da discografia brasileira. Ben fez sua revolução estética nos meros 28 minutos e 50 segundos em que cantou as 12 músicas do disco, sendo onze de sua lavra original. Músicas que, em sua maioria, versavam sobre o próprio samba numa metalinguagem de tom coloquial que facilitou a adesão imediata do público ao som de Ben. Um dos sucessos do disco, música que seria alavanca para a explosão do pianista fluminense Sergio Mendes nos Estados Unidos, Mas que nada tentou em vão definir o suingue do samba de preto tu. Rótulos à parte, o balanço de Samba esquema novo reverberou - e ainda ecoa - em grande parte da música preta brasileira produzida neste país tropical a partir de 1963, do rap da periferia paulista à lama revolvida no Recife pela geração Mangue Beat. O cancioneiro do disco ganhou vozes de cantoras de todas as cores. Balança pema entrou no tom de Marisa Monte no álbum Verde anil amarelo cor-de-rosa e carvão (1994). Rosa, menina Rosa foi facho de luz entre as densas camadas de Vagarosa (2009), segundo álbum de Céu. Outras músicas do disco - em especial Chove chuva - passaram com louvor na dura prova do tempo. Incompreendido pelos críticos da época, Samba esquema novo é o primeiro atestado perene da genialidade do Zé Pretinho. Outros discos vieram, alguns tão ou até mais inspirados do que o álbum já cinquentenário de 1963. Mas ali, em Samba esquema novo, está uma das pedras fundamentais da música popular do Brasil. Uma bossa negra que ainda soa muito nova.
Top 5 da história da música brasileira, fácil.
Destaques pessoais para "Menina bonita não chora" e "Tin don don".
Felipe dos Santos Souza
P.S.: Acho que sou o único ser da face da Terra a achar que a mudança de Ben (Jor) para a guitarra foi MUITO mais adequada ao estilo cheio de ritmo dele. Se houver mais alguém pensando assim, manifeste-se, por favor.
Belo disco de Jorge Ben!juntamente com África Brasil e A Tábua de Esmeralda são antológicos.
Discos como esse não envelhecem nunca.
parabéns a Jorge Ben e, por extensão de justiça, a João Gilberto, o criador da moderna música popular brasileira (que uns chamam de e conhecem por Nossa Nova), sem o qual esse disco, por exemplo, não seria possível. Como não seria possível o primeiro de Nara Leão, o primeiro de Caetano, o de Gal, o de Gil, o de Chico Buarque, o primeiro de Edu Lobo, o de Sergio Ricardo, o de Carlos Lyra, o de Marcos Valle, o primeiro de Maria Bethânia - sim, o primeiro de Maria Bethânia também é bossa - e por aí vai.
Então, salve João-Jorge!
Comprei esse disco quando lançado em CD coisa de dez anos atrás. Não me recordo de edições anteriores nesse formato, mas pode ter havido alguma com capa diferente, como já aconteceu mais de uma vez no Brasil. Mas o que interessa agora é o seguinte: um trabalho dessa importância mereceria uma edição comemorativa de 50 anos caprichada, a exemplo das que foram lançadas para "Kind of Blue" e "Time Out". Tenho dúvidas, contudo, sobre a capacidade da Universal montar essa edição caprichada. Afinal, existirá ainda a fita master original, com possíveis "sobras de estúdio"? Material para DVD eu acho difícil encontrar, já que à época as emissoras de TV reutilizavam ad infinitum suas fitas de video tape. Melhor me consolar com um relançamento simples, já faz tempo que o CD voltou a sair de catálogo.
Marcio, ele foi relançado em 2009 na caixa 'Salve Jorge'. Foi uma reedição caprichada, remasterizada, mas sem bônus. Concordo com vc que o álbum merece uma edição de 50 anos à altura de sua importância. Abs, MauroF
Não sei se esse disco entra no meu Top 5, mas Jorge Ben com certeza entra nos meus cinco artistas brasileiros preferidos.
Eu tenho esse disco saido de uma série capitaneada pelo Charles Gavin chamada Samba & Soul.
Edição bem caprichadinha.
Felipe, o problema é que os discos mais inspirados, exceção ao África Brasil, são com o violão.
Aí a guitarra fica mal vista pelos fãs do Jorge. Tão mal vista quanto o acréscimo do nome.
E quem ouve o Tábua de Esmeraldas fica até com raiva do instrumento que deu fama a Hendrix. :-)
Ué, Maria, tá curtindo o Ben agora?
Antes tarde que nunca.
Ao lado de Big Ben(65),meu disco preferido da fase inicial do Babulina. Vale lembrar que vários discos clássicos da MPB completam 40 anos.Por exemplo:
Nervos de Aço-Paulinho da Viola;
Milagre dos Peixes-Milton Nascimento;
Matança de Porco-Som Imaginário;
Novos Baianos F.C.;
Terra-Sá,Rodrix & Guarabyra;
Quem é Quem - João Donato;
Secos & Molhados(estréia);
Edu Lobo(o que tem Viola Fora de Moda);
Tim Maia(o que tem Réu Confesso);
Francis Hime(Odeon - estréia);
Previsão do Tempo-Marcos Valle;
Fingers-Airto Moreira;
A Música Livre de Hermeto Pascoal;
Eduardo Gudin(Odeon - estréia);
Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua - Sérgio Sampaio;
Manera Fru Fru Manera - Fagner;
Krig-ha, Bandolo!-Raul Seixas;
Belchior(estréia);
Beto Guedes / Novelli / Danilo Caymmi / Toninho Horta(o álbum do banheiro);
Matita Perê-Tom Jobim;
Meu Corpo,Minha Embalagem,Todo Gasto na Viagem - Pessoal do Ceará;
Nelson Cavaquinho(Odeon-o que tem Juízo Final e Folhas Secas);
Zé Rodrix-I Acto.
Só Maravilhas!!!!!!!!
Esse negócio de disco ( ou música)fazer aniversário, soa com zombaria, para quem, como eu, vive ouvindo tudo a todo o tempo.
Talvez, por isso, Ben, desde o final os anos oitenta viva se repetindo. Sempre comemorando o aniversário de uma composição.
detalhe que me intriga: como é que o jorge ben se equilibrou nessa posição para fazer a foto? se fosse hoje em dia, diria que o banquinho foi apagado no photoshop. mas na época...
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