Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 10 de abril de 2013

Mata oscila nos tons de Jobim entre o embate (calado) de Eumir com Kassin

Resenha de show
Projeto: Nívea Viva Tom Jobim
Título: Vanessa da Mata canta Tom Jobim
Artista: Vanessa da Mata (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 9 de abril de 2013
Cotação: * * 1/2
Agenda da turnê do show do projeto Nívea Viva Tom Jobim:
21 de abril de 2013 - Farol da Barra - Salvador (BA)
28 de abril de 2013 - Parque Dona Lindu - Recife (PE)
5 de maio de 2013 - Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek - Brasília (DF)
19 de maio de 2013 - Anfiteatro Pôr do Sol - Porto Alegre (RS)
26 de maio de 2013 - Parque da Juventude - São Paulo (SP)

 Dentro do peito de Vanessa da Mata bate um coração destemido. A ponto de a cantora ter interpretado a capella a fatalista O que tinha de ser (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), número surpreendentemente bom do show em que a artista de Mato Grosso dá voz ao cancioneiro de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927 - 1994). A valentia vem do fato de o canto de Vanessa da Mata ser considerado - antes com razão, atualmente já com certa injustiça - desafinado quando a compositora vira somente cantora e dá voz a temas alheios. Entre altos e baixos, o show Vanessa da Mata canta Tom Jobim reitera a evolução da intérprete, ainda que Mata oscile nos tons soberanos de Jobim entre o embate silencioso travado entre Kassin - o diretor musical do show feito com banda que inclui músicos afinados com a linguagem moderna do músico, caso do guitarrista Gustavo Ruiz - e o pianista Eumir Deodato, autor dos refinados arranjos que embalam o cancioneiro de Jobim com cordas e um classicismo que se ajusta ao tom de músicas como Fotografia (Antonio Carlos Jobim, 1959), titubeante número inicial do show que vai percorrer seis Capitais do Brasil a partir de 28 de abril de 2013. O cruzamento entre universos musicais tão distintos tendeu a valorizar a maestria de Eumir na condução dos arranjos e do piano, embora tenha saltado aos ouvidos o frescor dos timbres que revestiram Este seu olhar (Antonio Carlos Jobim, 1959), Caminhos cruzados (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958) e, sobretudo, Só danço samba (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) - prováveis efeitos das intervenções de Kassin na banda formada por nomes como Dustan Gallas. De todo modo, também houve ousadias estilísticas nos arranjos de Eumir, que transformou Eu sei que vou te amar (Antonio Carlos Jobi e Vinicius de Moraes, 1959) em bolero. No todo, o tributo resultou  jovial porque jovial é a obra sempre nova de Jobim. Eclipsada pela magnética intervenção de Maria Bethânia, com quem armou feminino jogo de sedução ao fim do samba Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), Vanessa alcançou alguns bons momentos quando seu canto soou naturalmente integrado ao universo jobiniano. Música que evoca as matas e os matos que fertilizaram a inspiração de Jobim, sobretudo a partir da década de 70, a bucólica Chovendo na roseira (Antonio Carlos Jobim, 1971) e a interiorana Correnteza (Tom Jobim e Luiz Bonfá, 1973) se ajustaram bem ao canto da artista nascida em 1976 na ruralista cidade de Alto das Garças (MT). Artista que abriu os braços e expandiu o canto - contido, nos dois números iniciais do show - ao dar voz ao samba Só tinha de ser com você (Antonio Carlos Jobim, 1964).  Neste número, a cantora tentou orquestrar um coro de assovios, procurando se comunicar com a plateia de convidados que permaneceu fria na maior parte da apresentação, ficando acalorada somente ao longo dos três números individuais feitos por Bethânia sob a regência e o piano de seu maestro Wagner Tiso. Se a convidada roubou a cena ao interpretar Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959), a lacrimejante Modinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) e Se todos fossem iguais a você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1956), número em que a cantora baiana dirigiu seu olhar à foto de Jobim exposta no telão ao fundo do palco em homenagem arrebatadora, a anfitriã por vezes deixou pairar no ar a sensação de que não era a intérprete ideal para capitanear o tributo. Faltou coração para aguentar a carga emocional de Por causa de você (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1957). Faltou vivência para fazer Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) alçar voo com todo seu significado político. Faltou bossa para surfar na onda de Wave (Antonio Carlos Jobim, 1967). Faltou estofo para carregar Piano na Mangueira (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1992) na cadência do samba tão bonito. Em contrapartida, o Samba de uma nota só (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959) ganhou frescor. À vontade, Mata brincou com a letra metalinguística.  Assim como pôs certa ironia (talvez involuntária) no canto dos versos de Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958), tema apresentado com a introdução geralmente omitida nas interpretações deste clássico de Jobim. Os clássicos do compositor, aliás, predominaram no roteiro até certo ponto preguiçoso, já que a vasta obra de Jobim tem muitas joias guardadas em baú pouco vasculhado. No fim, as belas canções Falando de amor (Antonio Carlos Jobim, 1979) e Estrada do sol (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1958) - esta apresentada na abertura do bis - corroboraram a sensação de que, em que pese sua evolução como intérprete (já atestada em show anteriores como Lua cheia de baião, de 2012), Vanessa da Mata não era a cantora mais vocacionada para prestar essa (bem-vinda) homenagem a Tom Jobim.

19 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Dentro do peito de Vanessa da Mata bate um coração destemido. A ponto de a cantora ter interpretado a capella a fatalista O que tinha de ser (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), número surpreendentemente bom do show em que a artista de Mato Grosso dá voz ao cancioneiro de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927 - 1994). A valentia vem do fato de o canto de Vanessa da Mata ser considerado - antes com razão, atualmente já com certa injustiça - desafinado quando a compositora vira somente cantora e dá voz a temas alheios. Entre altos e baixos, o show Vanessa da Mata canta Tom Jobim reitera a evolução da intérprete, ainda que Mata oscile nos tons soberanos de Jobim entre o embate silencioso travado entre Kassin - o diretor musical do show feito com banda que inclui músicos afinados com a linguagem moderna do músico, caso do guitarrista Gustavo Ruiz - e o pianista Eumir Deodato, autor dos refinados arranjos que embalam o cancioneiro de Jobim com cordas e um classicismo que se ajusta ao tom de músicas como Fotografia (Antonio Carlos Jobim, 1959), titubeante número inicial do show que vai percorrer seis Capitais do Brasil a partir de 28 de abril de 2013. O cruzamento entre universos musicais tão distintos tendeu a valorizar a maestria de Eumir na condução dos arranjos e do piano, embora tenha saltado aos ouvidos o frescor dos timbres que revestiram Este seu olhar (Antonio Carlos Jobim, 1959), Caminhos cruzados (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958) e, sobretudo, Só danço samba (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) - prováveis efeitos das intervenções de Kassin na banda formada por nomes como Dustan Gallas. De todo modo, também houve ousadias estilísticas nos arranjos de Eumir, que transformou Eu sei que vou te amar (Antonio Carlos Jobi e Vinicius de Moraes, 1959) em bolero. No todo, o tributo resultou jovial porque jovial é a obra sempre nova de Jobim. Eclipsada pela magnética intervenção de Maria Bethânia, com quem armou feminino jogo de sedução ao fim do samba Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), Vanessa alcançou alguns bons momentos quando seu canto soou naturalmente integrado ao universo jobiniano. Música que evoca as matas e os matos que fertilizaram a inspiração de Jobim, sobretudo a partir da década de 70, a bucólica Chovendo na roseira (Antonio Carlos Jobim, 1971) e a interiorana Correnteza (Tom Jobim e Luiz Bonfá, 1973) se ajustaram bem ao canto da artista nascida em 1976 na ruralista cidade de Alto das Garças (MT). Artista que abriu os braços e expandiu o canto - contido, nos dois números iniciais do show - ao dar voz ao samba Só tinha de ser com você (Antonio Carlos Jobim, 1964).

Mauro Ferreira disse...

Neste número, a cantora tentou orquestrar um coro de assovios, procurando se comunicar com a plateia de convidados que permaneceu fria na maior parte da apresentação, ficando acalorada somente ao longo dos três números individuais feitos por Bethânia sob a regência e o piano de seu maestro Wagner Tiso. Se a convidada roubou a cena ao interpretar Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959), a lacrimejante Modinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) e Se todos fossem iguais a você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1956), número em que a cantora baiana dirigiu seu olhar à foto de Jobim exposta no telão ao fundo do palco em homenagem arrebatadora, a anfitriã por vezes deixou pairar no ar a sensação de que não era a intérprete ideal para capitanear o tributo. Faltou coração para aguentar a carga emocional de Por causa de você (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1957). Faltou vivência para fazer Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968) alçar voo com todo seu significado político. Faltou bossa para surfar na onda de Wave (Antonio Carlos Jobim, 1967). Faltou estofo para carregar Piano na Mangueira (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1992) na cadência do samba tão bonito. Em contrapartida, o Samba de uma nota só (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959) ganhou frescor. À vontade, Mata brincou com a letra metalinguística. Assim como pôs certa ironia (talvez involuntária) no canto dos versos de Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1958), tema apresentado com a introdução geralmente omitida nas interpretações deste clássico de Jobim. Os clássicos do compositor, aliás, predominaram no roteiro até certo ponto preguiçoso, já que a vasta obra de Jobim tem muitas joias guardadas em baú pouco vasculhado. No fim, as belas canções Falando de amor (Antonio Carlos Jobim, 1979) e Estrada do sol (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1958) - esta apresentada já na abertura do bis - corroboraram a sensação de que, em que pese toda sua evolução como intérprete, Vanessa da Mata não era a cantora mais vocacionada para prestar a bem-vinda homenagem a Tom Jobim.

Leco disse...

Não tenho vontade nem de ouvir o disco que dirá assistir a esse show. Concordo que a desafinação se foi, mas não creio que ela seja uma intérprete capaz de abraçar temas só de Tom Jobim. Depois de Miúcha, Gal e Elis, qualquer empreitada dessa natureza me soa dispensável.

Unknown disse...

Chega de saudade, Chovendo na roseira, Falando de amor, Estrada do sol, Por causa de você, Piano ma Mangueira, Wave, Desafinado... em suma é quase um "Vanessa da Mata Canta Gal Costa Canta Tom Jobim Ao Vivo".

Adoro Vanessa, e não vejo nada de mal no fato dela cantar músicas de Tom Jobim, menos ainda por eventualmente desafinar (como digo sempre, a própria Bethânia desafinou por décadas, nem por isso deixou de ser a artista que é).

O que me incomoda é Vanessa, uma ótima compositora, fazer um trabalho que, a bem da verdade, já foi feito por várias (os) outras artistas. Tom é o máximo, mas não há nada menos inventivo que cantor de MPB cantar suas canções.

priscilapsouza disse...

Não aguentei e procurei alguns vídeos do show para ver do que estão falando. De fato, alguma coisa não rolou...faltou vida para aquele lirismo, aquela poética tão bonita do Tom. Tem um monte de cantora atual perfeitamente capaz de fazer isso. A obra do cancionista tá aí pra ser deliciada. Quem sabe fica pra uma próxima pra ela, né?

Fabio disse...

Fui ao ultimo show da turnê Bicicletas....antes do término ela disse que seu próximo disco estava pronto, que sairia em março e que era o melhor disco dela até então, que o público ia adorar; se minha memória não falha ela disse que Liminha era o produtor. Será que esse disco é só Tom Jobim? Putz.....tomara que não!

Mauro Ferreira disse...

Fabio, o disco que Vanessa gravou em 2012 - com produção dividida entre Liminha e Kassin - é um álbum de inéditas, feito em estúdio. Vai ser lançado após o término do projeto do Tom Jobim. Abs, MauroF

Marcelo disse...

Foi jabá ou alguma indicação infeliz empurrando Vanessa pra esse projeto???? Com tanta gente mais qualificada...não dá pra entender!!!!

Estalactites hemorrágicas disse...

Curiosidade musical semelhante a do MArcelo no andar de cima: Qual o critério para escolher a cantora a, b, c, ou vm para participar dum projeto como esse? Em que se faz necessário escalar a Bethânia para segurar o espetáculo?

Ricardo Sérgio

Anônimo disse...

Concordo com tudo que o Leco disse. Faço questão de não ir ao show!

Anônimo disse...

O critério foi o de melhor colo!:-)
Jobim, com certeza!, aprovaria.
Brincadeira à parte.
Pô, o critério foi obviamente pegar alguém com destaque na mídia, com certo respaldo da crítica e ao mesmo tempo popular.
Como disse o Mauro ela foi corajosa e como diz o adágio:
"Deus não cobra sucesso. E sim coragem"

Vladimir disse...

Também não entendi esta escolha equivocada de Vanessa da Mata para este projeto!!

Lamentável!!!

Vladimir disse...

Também não entendi esta escolha equivocada de Vanessa da Mata para este projeto!!

Lamentável!!!

Roberto de Brito disse...

Deveriam ter convocado Olivia Byington, uma das favoritas de Tom Jobim, para dar uma força!

lurian disse...

Se engana quem pensa que cantar as músicas sobre "Natureza" de Jobim é fácil!!! Tom, tinha o dom. Não é pra qualquer um(a) cantar...

lurian disse...

Sobre a participação de Maria Bethânia, essa em nada mais me surpreende. É certo que em estúdio ela tem se esforçado para cantar melhor, mas ao vivo eu não consigo gostar do fato dela atrasar a letra em relação à melodia. Fica feio, fica estranho, perde muitas vezes a musicalidade. Deixo isso pra amadores que preferem o drama em detrimento da música.

anônimo disse...

Concordo com os colegas, Roberta Sá seria bem mais feliz.....

Carlos Marsh disse...

Sei não, Roberta Sá é muito boa, mas muito técnica acho que seria tudo muito previsível demais. Acho uma bela escolha a Vanessa com essa sonoridade mais moderna, arranjos ecléticos e doce voz que tem tudo haver com Bossa Nova, assim como Nara Leão e o próprio Tom que tinha pouquíssima voz, assim tb como João Gilberto, voz fraca. São todos gênios da música, mas Vanessa tem uma voz e interpretaçao muito superior se compararmos a nossos magníficos compositores mencionados. Escolha certíssima. Viva a suavidade e viva a modernidade!

Carlos Marsh disse...

Eu não arriscaria outra cantora popular. Marisa não tem vibração na voz...Roberta é muito técnica, presa e não tem interpretação apesar de cantar bem... Ana Carolina berra demais... Maria Rita só serve para imitar a mãe ou cantar pagode... Quem poderia ser? Paula Fernandes, Maria Gadu,???? bela escolha, Vanessão ficou linda.