É clichê se referir a Paulo Vanzolini (25 de abril de 1924 - 28 de abril de 2013) como um cronista musical da cidade de São Paulo (SP). Contudo, tal traço é mesmo marcante na arquitetura da obra deste compositor paulista que sai de cena na noite deste domingo, aos 89 anos, e fica na história da música popular do Brasil com seus sambas que retratam a alma e o cotidiano efervescente de Sampa. Para o grande público, Vanzolini - morto em consequência de pneumomia que o levou a ser internado no hospital Albert Einstein na última quinta-feira, 25 de abril, data em que completou 89 anos - vai ser sempre lembrado, se for lembrado, pela autoria do samba Volta por cima (lançado pelo cantor Noite Ilustrada em 1962 com sucesso que se estendeu pelo ano de 1963) e do samba-canção Ronda (composto em 1945, lançado sem repercussão em 1953 pela cantora Inezita Barroso e propagado com força a partir de 1967 nas vozes de cantoras como Cláudia Morena, Márcia e Maria Bethânia), as duas composições mais conhecidas deste mestre na música e na zoologia (ciência no qual se doutorou em Harvard). O samba teve o poder de incluir no dicionário a expressão volta por cima para designar um renascer das cinzas. Já o samba-canção ajudou a associar a obra de Vanzolini a São Paulo por conta dos versos cinematográficos que retratam a saga de mulher enciumada à caça do amante boêmio pelos bares de Sampa. Circuito boêmio também frequentado pelo compositor de Praça Clóvis, samba que ganhou a voz de Chico Buarque no registro feito para o primeiro disco de Vanzolini, Onze sambas e uma capoeira, editado em 1967 pela gravadora Marcus Pereira. Na ciência ou na música, Paulo Vanzolini não foi de homem fazer fita. Falou o que pensava, fiel aos seus princípios ideológicos e musicais - como ficou nítido nas cenas do documentário sobre sua vida e obra, Um homem de moral, dirigido por Ricardo Dias e exibido nos cinemas brasileiros em 2009. Tanto que o compositor criticou publicamente a gravação de Ronda feita por Maria Bethânia em 1978 para o álbum Álibi. Preferia a de Márcia. Como não se considerava um cantor, Vanzolini deixa discografia reduzida, cabendo destacar os álbuns A música de Paulo Vanzolini (Marcus Pereira, 1974) - em que Carmen Costa e Paulo Marquez cantam temas do compositor - e Paulo Vanzolini por ele mesmo (Eldorado, 1981). Em 2003, a boa caixa Acerto de contas (Biscoito Fino) resumiu em quatro CDs - com gravações inéditas - a obra singular deste artista sincero, um homem de moral no universo do samba de São Paulo.
Guia jornalístico do mercado fonográfico brasileiro com resenhas de discos, críticas de shows e notícias diárias sobre futuros lançamentos de CDs e DVDs. Do pop à MPB. Do rock ao funk. Do axé ao jazz. Passando por samba, choro, sertanejo, soul, rap, blues, baião, música eletrônica e música erudita. Atualizado diariamente. É proibida a reprodução de qualquer texto ou foto deste site em veículo impresso ou digital - inclusive em redes sociais - sem a prévia autorização do editor Mauro Ferreira.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
14 comentários:
É clichê se referir a Paulo Vanzolini (25 de abril de 1924 - 28 de abril de 2013) como um cronista musical da cidade de São Paulo (SP). Contudo, tal traço é mesmo marcante na arquitetura da obra deste compositor paulista que sai de cena na noite deste domingo, aos 89 anos, e fica na história da música popular do Brasil com seus sambas que retratam a alma e o cotidiano efervescente de Sampa. Para o grande público, Vanzolini - morto em consequência de pneumomia que o levou a ser internado no hospital Albert Einstein na última quinta-feira, 25 de abril, data em que completou 89 anos - vai ser sempre lembrado, se for lembrado, pela autoria do samba Volta por cima (lançado pelo cantor Noite Ilustrada em 1962 com sucesso que se estendeu pelo ano de 1963) e do samba-canção Ronda (composto em 1945, lançado sem repercussão em 1953 pela cantora Inezita Barroso e propagado com força a partir de 1967 nas vozes de cantoras como Cláudia Morena, Márcia e Maria Bethânia), as duas composições mais conhecidas deste mestre na música e na zoologia (ciência no qual se doutorou em Harvard). O samba teve o poder de incluir no dicionário a expressão volta por cima para designar um renascer das cinzas. Já o samba-canção ajudou a associar a obra de Vanzolini a São Paulo por conta dos versos cinematográficos que retratam a saga de mulher enciumada à caça do amante boêmio pelos bares de Sampa. Circuito boêmio também frequentado pelo compositor de Praça Clóvis, samba que ganhou a voz de Chico Buarque no registro feito para o primeiro disco de Vanzolini, Onze sambas e uma capoeira, editado em 1967 pela gravadora Marcus Pereira. Na ciência ou na música, Paulo Vanzolini não foi de homem fazer fita. Falou o que pensava, fiel aos seus princípios ideológicos e musicais - como ficou nítido nas cenas do documentário sobre sua vida e obra, Um homem de moral, dirigido por Ricardo Dias e exibido nos cinemas brasileiros em 2009. Tanto que o compositor criticou publicamente a gravação de Ronda feita por Maria Bethânia em 1978 para o álbum Álibi. Preferia a de Márcia. Como não se considerava um cantor, Vanzolini deixa discografia reduzida, cabendo destacar os álbuns A música de Paulo Vanzolini (Marcus Pereira, 1974) - em que vários cantores dão vozes ao cancioneiro do compositor - e Paulo Vanzolini por ele mesmo (Eldorado, 1981). Em 2003, a bela caixa Acerto de contas (Biscoito Fino) resumiu em quatro CDs - com gravações inéditas - a obra singular deste artista sincero, um homem de moral no universo do samba de São Paulo.
Aviso aos navegantes: o post sobre a morte de Paulo Vanzolini entrou no ar às 12h06m de segunda-feira, 29 de abril de 2013. Mas com a data retroativa de 28 de abril, dia da morte do compositor. Abs, MauroF
Como falar mal da gravação da abelha rainha? me poupa heim
bem q eu achei que a abelha iria cantar ronda no bis do show carta de amor em Sp como ela fazia, deve ser esse o motivo rss
Originalíssimo compositor!
http://www.esquinamusical.com.br/paulo-vanzolini-cria-o-samba-erudito-e-abstrato/
Uma pena que excelentes compositores como o Vanzolini, são lembrados somente quando morrem. Ficam anos no anonimato, até o dia em que morrem e e os meios de comunicação informam o local do velório e sepultamento. E piora quando começam as homenagens póstumas, show de cá e de lá. Quando vivos mau se falava, depois que morrem fazem falta. Não falo do nosso amigo Mauro Ferreira, que pelo contrário, tenta manter viva a memória da música e deixar todos os amantes dela bem informados!
Irmão, se me permite assim chamá-lo... em que mundo estou? Não ouvi nada a respeito dessa grande perda em nenhuma mídia... erro meu? Ou seria simplesmente o descaso que nossos vários seguimentos de comunicação dão para aqueles que merecem toda a atenção, mas não dão? Infelizmente a resposta vai ficar no vácuo, pois este compositor que tanto significou e por muito ainda significará, se foi. E aqui eu me sinto só, de noite a procurar, sem encontrar...
Triste país que não guarda seus ídolos.
Abraços, irmão gostei do blog... pena que não haja aquele mecanismo onde possamos te seguir. Postei essa matéria em meu blog www.logospopulis.blogspot.com.br, com todos os créditos e direitos direcionados a você.
Tudo bem Mauro? O disco em que vários cantores interpretam canções de Paulo Vanzolini - incluindo Chico Buarque - é o LP "Onze sambas e uma capoeira" lançado em 1967 como brinde da Marcus Pereira Publicidade e que serviu como semente para o nascimento da gravadora Marcus Pereira. O LP "A Música de Paulo Vanzolini", lançado pela Marcus Pereira em 1974, reúne apenas interpretações de Carmen Costa e Paulo Marquez. Abs
Grato, Edu M. Já alterei o texto. Abs, MauroF
Bethânia pediu a benção a Paulo Vanzolini no DVD Tempo Tempo Tempo Tempo, anos depois da crítica dele à gravação de Ronda. Por que iria deixar então de cantar a música no seu último show? Flávio.
Ela devia não cantar mais já que ele reprovou a gravação original
Ele não gostou da gravação de Bethânia dizendo que ela não era cantora,e sim declamadora.A gravação da Márcia só é superior no arranjo,em matéria de interpretação quem deu o recado definitivo foi a filha de D.Canô.
A MELHOR GRAVAÇÃO DE RONDA SEM DUVIDA NENHUMA É A DA MARCIA. VANZOLINI TINHA RAZÃO, BETHANIA E MAIS UMA ATRIZ DO QUE CANTORA.
Márcia é grande cantora, mas na minha opinião a gravação de Bethânia é bem melhor, mais vibrante. O erro, porém, é "Sampa" não incluir o nome dele na autoria da canção já que traz um trecho com mais de sete compassos da melodia de "Ronda", o que configuraria plágio. Mesmo que justifiquem dizendo que foi intencional, que é homenagem etc, não procede. É uma citação, e toda citação - diz inclusive o manual da ABNT - deve ser creditada.
Postar um comentário