Mauro Ferreira no G1

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domingo, 19 de maio de 2013

Após 40 anos, Fagner evoca em SP o 'sentimento antigo' do primeiro LP

Resenha de show 
Evento: Virada Cultural 2013
Título: Manera Fru Fru, manera - 40 anos depois
Artista: Fagner (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Theatro Municipal de São Paulo (São Paulo, SP)
Cotação: * * * *

"Passei esse tempo todo andando comigo / E só devo lhe dizer que tenho esse sentimento antigo", ressaltou Fagner por meio dos versos de Tambores (Raimundo Fagner e Ronaldo Bastos, 1973), uma das onze músicas da edição original do álbum Manera fru fru, manera - "O último pau-de-arara" (Philips, 1973) revividas pelo cantor e compositor cearense no show da Virada Cultural 2013 em que revisitou o repertório de seu primeiro disco. No show, produzido por Thiago Marques Luiz e gravado ao vivo pelo Canal Brasil para exibição na TV e edição de DVD, Fagner tentou reavivar um sentimento antigo de 40 anos atrás - tempo em que, ainda iniciante, buscava seu lugar ao sol na corrente migratória que deslocou artistas do Nordeste para o eixo Rio-São Paulo. Por mais que seja impossível voltar 40 anos no tempo com o mesmo frescor e o mesmo sentimento, Fagner fez - sob a direção musical do baixista Fernando Nunes - bonito show que mostrou a qualidade perene de repertório selecionado e gravado sem fórmulas de sucesso. Cruzando a geografia de sua melancolia através de músicas como Moto 1 (Raimundo Fagner e Belchior, 1973), o cantor expôs a força de álbum impregnado de poesia e de eventual toque ruralista, mote de Sina (Raimundo Fagner, Ricardo Bezerra e Patativa do Assaré, 1973) e de Como se fosse (Raimundo Fagner e Capinam, 1973). Nem mesmos as tensões da plateia - motivadas por brigas e disputas de lugar no lotado Theatro Municipal de São Paulo - dissiparam a beleza das músicas. Uma delas - Você (Hekel Tavares e Nair Mesquita, 1928), apresentada por Fagner no disco como tema folclórico intitulado Penas do tiê - teria a participação da cantora Zélia Duncan, mas, por questões de produção, acabou sendo cantada somente por Fagner, com o artista à frente da projeção de foto que o mostrava ao lado de Nara Leão (1942 - 1989), cantora capixaba que dividiu a faixa com o cantor. Ao entrar em cena para fazer harmonioso dueto com o colega em Serenou na madrugada (tema folclórico adaptado por Fagner), o outro convidado do show, Zeca Baleiro, declarou que Manera fru fru, manera foi um dos discos responsáveis por ter se tornado músico profissional. À vontade com o repertório, Baleiro permaneceu no palco para cantar com Fagner a supra-citada Tambores (Fagner e Ronaldo Bastos, 1979) e, no bis, ajudou a remontar Cavalo ferro (Fagner e Ricardo Bezerra, 1972), música que não fazia parte do repertório original do LP, mas que entrou a partir de edição de 1979 para substituir Canteiros (Fagner sobre poema de Cecília Meirelles), faixa então já motivo de pendenga judicial entre o artista e os herdeiros da poeta carioca Cecília Meirelles (1901-1964) - longa batalha que somente se encerraria em 1999. Canteiros obviamente figurou no roteiro do show Manera Fru Fru, manera - 40 anos depois, assim como Mucuripe (Raimundo Fagner e Belchior, 1972), a música que projetou o cearense Fagner em escala nacional na voz soberana de Elis Regina (1945 - 1982). Enfim, mesmo que tenha inserido sucessos de outros discos ao fim do show para acalmar os ânimos da afoita plateia, Fagner conseguiu ao menos evocar o sentimento que pautou um disco já antigo, mas de valor eterno. Quarenta anos depois, Fru Fru continua bem.

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