Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 8 de maio de 2013

D2 roça perfeição da batida e do discurso na volta ao rap em vigoroso álbum

Resenha de CD
Título: Nada pode me parar
Artista: Marcelo D2
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *

 Pensou que Marcelo D2 não vinha mais para o rap, pensou? Acenda um cigarro e apure a rima. O artista carioca está de volta ao hip hop após anos de apego ao samba que rendeu até disco com releitura do repertório do cantor Bezerra da Silva (1927 - 2005). Sétimo álbum solo de Marcelo Maldonado Peixoto,  rapper projetado no grupo carioca Planet Hemp a partir de 1995, Nada pode me parar revigora a discografia de D2 e roça a perfeição da batida do gênero em raps como Danger Zone (Marcelo D2, Aloe Blacc, Jackson e Beni) - tema impregnado de soul na batida inebriante de Beni & Jackson - e Eu já sabia (Marcelo D2, Sain, Faruk Baren e Nave). O discurso também soa mais apurado, mais consequente. Basta checar as rimas de A cara do povo (Marcelo D2, Akira Presidente e Renam Saman), rap com toque de samba - olha ele aí, de novo - em que o homem-fumaça volta a falar de maconha sem cair no discurso panfletário dos tempos em que se limitava a fazer apologia das drogas. Produzido por Mario Caldato Jr. para a EMI Music, o CD Nada pode me parar reacende a chama de D2 entre conexões com o universo hip hop dos EUA como as feitas com a rapper norte-americana Joya Bravo - convidada do romântico rap Feeling good (Marcelo D2, Joya Bravo, Nave e Eugene MC Daniels) - e com o trio norte-americano Pac Div, que marca presença em Livre (Marcelo D2, Nave e DJ Nuts). Fora da seara autoral, o carioca D2 celebra sua cidade natal ao dar voz ao sambalanço Na veia (Arlindo Cruz, Rogê e Marcelinho Carioca), cujos versos mapeiam a rota bamba do Rio de Janeiro (RJ). Tal celebração ecoa nos versos de Rio (Puro suco) (Marcelo D2, Sain, Nave), rap que alonga o mapa chapa quente da cidade. Contudo, o rap de D2 acena cada vez mais para o mundo na batida cosmopolita de Nada pode me parar. Vou por aí (Marcelo D2 e DJ Nuts) traça o mapa-múndi sem fronteiras e limites geográficos para a conquista do universo pelo rapper. Nessa escalada, a rua é o único limite. "A gente sempre quis o topo, mas a essência é street / Muito mais que umas minas, snapbacks / Skinny jeans, tênis caro e dinheiro pro beck", delimita o próprio D2 em MD2 (A sigla no tag) (Marcelo D2, Akira Presidente, Jackson, Sain e Cookin' Soul), rap que, ao abrir Nada pode me parar, funciona como carta de intenções do artista. Que ainda encontra pontos inexplorados na caminhada entre o rap old school e o rap da atualidade. Nesse sentido, Fella (Marcelo D2, Shock, Batoré, Sain e Akira Presidente) - rap de moderna batida minimalista que conecta D2 a nomes da nova cena carioca de hip hop como Akira Presidente, Batoré (do grupo Conce Crew) e Shock (da banda Start) - é o grande destaque do disco com pulsação que evoca o funk carioca. Por mais que em essência D2 continue tirando onda em alguns versos do disco, por mais que o sample da obra de Ivan Lins & Vitor Martins em Está chegando a hora (Abre alas) (Marcelo D2, Akira Presidente e Papatinho) soe dèjá vu e por mais que Nada pode me parar perca ligeiramente o pique em Eu tenho o poder (Marcelo D2 e Lúcio Machado), rap de batida criada pelo coletivo espanhol Cookin' Soul, o álbum resulta vigoroso no todo. De volta ao rap, Marcelo D2 mostra - aos que pensavam que ele não vinha mais para o hip hop - que ainda domina bem a arte do bagulho ...ops... do barulho.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Pensou que Marcelo D2 não vinha mais para o rap, pensou? Acenda um cigarro e apure a rima. O artista carioca está de volta ao hip hop após anos de apego ao samba que rendeu até disco com releitura do repertório do sambista Bezerra da Silva (1927 - 2005). Sétimo álbum solo de Marcelo Maldonado Peixoto, rapper projetado no grupo carioca Planet Hemp, Nada pode me parar revigora a discografia de D2 e roça a perfeição da batida do gênero em raps como Danger Zone (Marcelo D2, Aloe Blacc, Jackson e Beni) - tema impregnado de soul na batida inebriante de Beni & Jackson - e Eu já sábia (Marcelo D2, Sain, Faruk Baren e Nave). O discurso também soa mais apurado, mais consequente. Basta checar as rimas de A cara do povo (Marcelo D2, Akira Presidente e Renam Saman), rap com toque de samba - olha ele aí, de novo - em que o homem-fumaça volta a falar de maconha sem cair no discurso panfletário dos tempos em que se limitava a fazer apologia das drogas. Produzido por Mario Caldato Jr. para a EMI Music, o CD Nada pode me parar reacende a chama de D2 entre conexões com o universo hip hop dos EUA como as feitas com a rapper norte-americana Joya Bravo - convidada do romântico rap Feeling good (Marcelo D2, Joya Bravo, Nave e Eugene MC Daniels) - e com o trio norte-americano Pac Div, que marca presença em Livre (Marcelo D2, Nave e DJ Nuts). Fora da seara autoral, o carioca D2 celebra sua cidade natal ao dar voz ao sambalanço Na veia (Arlindo Cruz, Rogê e Marcelinho Carioca), cujos versos mapeiam a rota bamba do Rio de Janeiro (RJ). Tal celebração ecoa nos versos de Rio (Puro suco) (Marcelo D2, Sain, Nave), rap que alonga o mapa chapa quente da cidade. Contudo, o rap de D2 acena cada vez mais para o mundo na batida cosmopolita de Nada pode me parar. Vou por aí (Marcelo D2 e DJ Nuts) traça o mapa-múndi sem fronteiras e limites geográficos para a conquista do universo pelo rapper. Nessa escalada, a rua é o único limite. "A gente sempre quis o topo, mas a essência é street / Muito mais que umas minas, snapbacks / Skinny jeans, tênis caro e dinheiro pro beck", delimita o próprio D2 em MD2 (A sigla no tag) (Marcelo D2, Akira Presidente, Jackson, Sain e Cookin' Soul), rap que, ao abrir Nada pode me parar, acaba funcionando como carta de intenções do artista. Que ainda encontra pontos inexplorados na caminhada entre o rap old school e o rap da atualidade. Nesse sentido, Fella (Marcelo D2, Shock, Batoré, Sain e Akira Presidente) - rap de moderna batida minimalista que conecta D2 a nomes da nova cena carioca de hip hop como Akira Presidente, Batoré (do grupo Conce Crew) e Shock (da banda Start) - é o grande destaque do disco com pulsação que evoca o funk carioca. Por mais que em essência D2 continue tirando onda em alguns versos do disco, por mais que o sample da obra de Ivan Lins & Vitor Martins em Está chegando a hora (Abre alas) (Marcelo D2, Akira Presidente e Papatinho) soe dèjá vu e por mais que Nada pode me parar perca ligeiramente o pique em Eu tenho o poder (Marcelo D2 e Lúcio Machado), rap de batida criada pelo coletivo espanhol Cookin' Soul, o álbum resulta vigoroso no todo. De volta ao rap, Marcelo D2 mostra - aos que pensavam que ele não vinha mais... - que ainda domina a arte do bagulho ...ops... do barulho.