Título: Vambora lá dançar
Artista: Elba Ramalho (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de maio de 2013
Cotação: * * *
Show em cartaz no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), até 28 de maio de 2013
"Alguém quer ouvir alguma coisa?", perguntou Elba Ramalho ao público que foi ao Theatro Net Rio na noite de segunda-feira, 27 de maio de 2013, assistir a Vambora lá dançar, show inspirado no homônimo álbum de inéditas lançado pela cantora em janeiro. Uma espectadora então pediu Esqueça (Forget him) (Mark Anthony em versão em português de Roberto Corte Real) - música gravada pela cantora no projeto Emoções sertanejas (2010), de Roberto Carlos - e Elba improvisou interpretação da canção popularizada no Brasil em 1966 na voz do Rei. Na sequência, vários espectadores quiseram ouvir De volta pro aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel, 1985) e a cantora antecipou a canção, até então reservada para o bis. O momento de interatividade da artista com seu público aconteceu no meio da apresentação - antes de a cantora sair de cena e voltar com o segundo dos dois figurinos do show - e sinalizou a intenção de Elba de pôr a satisfação de seus fãs à frente de um conceito que norteasse o roteiro. Estrela que tem no currículo memoráveis espetáculos de arquitetura teatral, Elba caracterizou o show Vambora lá dançar como "uma nova viagem" ao se dirigir pela primeira vez ao público no início da apresentação. No entanto, a rigor, Elba montou o roteiro de sua viagem musical com trilhas já conhecidas dos frequentadores das apresentações que tem feito nos últimos anos. Sim, há músicas de seu 31º disco no roteiro - ao abrir o show, a cantora já enfileira Embolar na areia (Herbert Azul, 2013), Deitar e rolar (Antonio Barros e Cecéu, 2013) e Frevo meio envergonhado (Monique Kessous, 2008) - mas tais músicas não chegam a moldar um conceito realmente novo de show. De todo modo, com sua habitual energia e com a voz em boa forma, Elba é intérprete segura que enfrenta e domina o palco com sua força de Leoa do Nordeste. Todas essas qualidades da artista estão intactas na cena armada em Vambora lá dançar. A voz valente de Elba ainda é capaz de alçar às alturas a dramaticidade contida em Ave de prata (Zé Ramalho, 1979), música que batizou seu primeiro disco e que volta a ser cantada pela artista paraibana - no toque do charango de Lui Coimbra - no embalo do dueto feito recentemente em São Paulo (SP) por Elba com Filipe Catto, cantor gaúcho que deu voz a Ave de prata em seu primeiro álbum, Fôlego (2011), em elogiado registro. Sob a direção musical do violonista Marcos Arcanjo, Elba se afina com ótima banda que destaca o sanfoneiro Mestrinho e o zabumbeiro Durval - fundamentais no número em que Elba arma arretada forró session, encadeando temas animados como Derramaro o gai (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) e Na base da chinela (Jackson do Pandeiro e Rosil Cavalcanti, 1962). Nessa trilha nordestina, Elba continua imbatível, fazendo com emoção Súplica cearense (Gordurinha e Nelinho, 1967). Neste número, a sanfona de Mestrinho parece chorar pela continuidade da seca no Nordeste, alvo de discurso politizado da artista em cena. Súplica cearense é momento sagrado que ecoa mais tarde em Conceição dos coqueiros (Lula Queiroga, Lulu Oliveira e Alexandre Bicudo 2007), outro número pungente. Conceição dos coqueiros é lembrança de um dos mais fortes e menos conhecidos álbuns da discografia de Elba, Qual o assunto que mais lhe interessa? (Ramax / Brazilmúsica!, 2007), CD do qual a cantora também lembra Noite severina (Pedro Luís e Lula Queiroga, 2001), bela surpresa de roteiro que bem poderia ter novidades na voz de Elba. Ou pelo menos músicas já pouco visitadas pela artista, caso de Nordeste independente (Imagine o Brasil) (Bráulio Tavares e Ivanildo Vila Nova, 1984), com cuja (longa) letra Elba se atrapalhou ao tentar cantar a música a capella. Afinal, após Noite severina, a intérprete passa a cantar músicas e a contar histórias já recorrentes em seus shows. Por mais que Elba arrase elevando a dramática Palavra de mulher (Chico Buarque, 1985) às alturas, toda essa parte final do show já soa déjà vu para seu fiel público. Faltou um fecho original para um espetáculo baseado em disco de inéditas. Enfim, a viagem musical proposta por Elba no show Vambora lá dançar não é nova. Contudo, se a viagem resulta agradável e sedutora em vários momentos, é por conta da energia, voz e presença cênica dessa valente cantora. Vambora lá??
8 comentários:
"Alguém quer ouvir alguma coisa?", perguntou Elba Ramalho ao público que foi ao Theatro Net Rio na noite de segunda-feira, 27 de maio de 2013, assistir a Vambora lá dançar, show inspirado no homônimo álbum de inéditas lançado pela cantora em janeiro. Uma espectadora então pediu Esqueça (Forget him) (Mark Anthony em versão em português de Roberto Corte Real) - música gravada pela cantora no projeto Emoções sertanejas (2010), de Roberto Carlos - e Elba improvisou interpretação da canção popularizada no Brasil em 1966 na voz do Rei. Na sequência, vários espectadores quiseram ouvir De volta pro aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel, 1985) e a cantora antecipou a canção, até então reservada para o bis. O momento de interatividade da artista com seu público aconteceu no meio da apresentação - antes de a cantora sair de cena e voltar com o segundo dos dois figurinos do show - e sinalizou a intenção de Elba de pôr a satisfação de seus fãs à frente de um conceito que norteasse o roteiro. Estrela que tem no currículo memoráveis espetáculos de arquitetura teatral, Elba caracterizou o show Vambora lá dançar como "uma nova viagem" ao se dirigir pela primeira vez ao público no início da apresentação. No entanto, a rigor, Elba montou o roteiro de sua viagem musical com trilhas já conhecidas dos frequentadores das apresentações que tem feito nos últimos anos. Sim, há músicas de seu 31º disco no roteiro - ao abrir o show, a cantora já enfileira Embolar na areia (Herbert Azul, 2013), Deitar e rolar (Antonio Barros e Cecéu, 2013) e Frevo meio envergonhado (Monique Kessous, 2008) - mas tais músicas não chegam a moldar um conceito realmente novo de show. De todo modo, com sua habitual energia e com a voz em boa forma, Elba é intérprete segura que enfrenta e domina o palco com sua força de Leoa do Nordeste. Todas essas qualidades da artista estão intactas na cena armada em Vambora lá dançar. A voz valente de Elba ainda é capaz de alçar às alturas a dramaticidade contida em Ave de prata (Zé Ramalho, 1979), música que batizou seu primeiro disco e que volta a ser cantada pela artista paraibana - no toque do charango de Lui Coimbra - no embalo do dueto feito recentemente em São Paulo (SP) por Elba com Filipe Catto, cantor gaúcho que deu voz a Ave de prata em seu primeiro álbum, Fôlego (2011), em elogiado registro. Sob a direção musical do violonista Marcos Arcanjo, Elba se afina com ótima banda que destaca o sanfoneiro Mestrinho e o zabumbeiro Durval - fundamentais no número em que Elba arma arretada forró session, encadeando temas animados como Derramaro o gai (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) e Na base da chinela (Jackson do Pandeiro e Rosil Cavalcanti, 1962). Nessa trilha nordestina, Elba continua imbatível, fazendo com emoção Súplica cearense (Gordurinha e Nelinho, 1967).
Neste número, a sanfona de Mestrinho parece chorar pela continuidade da seca no Nordeste, alvo de discurso politizado da artista em cena. Súplica cearense é momento sagrado que ecoa mais tarde em Conceição dos coqueiros (Lula Queiroga, Lulu Oliveira e Alexandre Bicudo 2007), outro número pungente. Conceição dos coqueiros é lembrança de um dos mais fortes e menos conhecidos álbuns da discografia de Elba, Qual o assunto que mais lhe interessa? (Ramax / Brazilmúsica!, 2007), CD do qual a cantora também lembra Noite severina (Pedro Luís e Lula Queiroga, 2004), bela surpresa de roteiro que bem poderia ter novidades na voz de Elba. Ou pelo menos músicas já pouco visitadas pela artista, caso de Nordeste independente (Imagine o Brasil) (Bráulio Tavares e Ivanildo Vila Nova, 1984), com cuja (longa) letra Elba se atrapalhou ao tentar cantar a música a capella. Afinal, após Noite severina, a intérprete passa a cantar músicas e a contar histórias já recorrentes em seus shows. Por mais que Elba arrase elevando a dramática Palavra de mulher (Chico Buarque, 1985) às alturas, toda essa parte final do show já soa déjà vu para seu fiel público. Faltou um fecho original para um espetáculo baseado em disco de inéditas. Enfim, a viagem musical proposta por Elba no show Vambora lá dançar não é nova. Contudo, se a viagem resulta agradável e sedutora em vários momentos, é por conta da energia, voz e presença cênica dessa valente cantora. Vambora lá??
Elba para mim é única, uma força da natureza. Como compositor, sou apaixonado por essa intérprete arrebatadora que vive como ninguém as músicas que escolhe para cantar!
E agora ela se faz acompanhada de Mestrinho, sergipano como eu, um orgulho da nossa terra.
Salve Elba!
Adoro Elba, e sinto falta dos shows fantásticos que já assisti. Leão do Norte, Felicidade urgente, Encanto , e Devora-me que tinha uma parafernália de luzes que não devia nada pra Madonna, dirigida por Miguel Falabela. Depois que ela fez o show Elba Canta Luiz ...achei que os shows ficaram com cara de concertos. Os cenários , figurinos foram ficando mais de lado, e ela deixou o canto mais em primeiro plano. Talvez porque seja caro demais montar um espetáculo como antigamente, mas o Brasil, com tantos empresários e políticos milionários, bem poderiam investir numa superprodução para Elba brilhar novamente. Elba, Ney e Bethânia, os únicos que fizeram espetáculos gigantescos e inesquecíveis. Volta Elba !
Boa crítica, Mauro! E que foto linda!
Parabéns pelas palavras sensatas a respeito da Elba, e concordo plenamente no que diz respeito a este ar de déjà vu que permeia os últimos shows da Elba, eu que a acompanho desde 1982, onde assisti ao memorável show "Alegria", que muito me impactou na abertura quando ela cantava Notícias do Brasil (Milton Nascimento), sinto muito a falta de novidades. Ja tivemos grandiosos shows como "Popular brasileira", "Coração Brasileiro", "Leão do Norte", Qual assunto que mais lhe interessa?", "A luz do solo", entre outros, e que sempre traziam um frescor que nos levava a querer assistir mais de uma vez o mesmo show. É como se ela tivesse uma "obrigação" de ter sempre as mesma músicas de diversidades rítmicas, mas que acabam por ser tornar iguais. Há de se concordar quanto a voz, cada vez mais segura. Acho que chegou o momento de Elba romper com a segurança e partir para novas viagens, tal qual Zizi fez explendidamente com o " Sobre todas as coisas". Não basta apenas romper com as gravadoras, é preciso primeiramente, romper com seus proprios conceitos e ousar, como já fez em "Qual assunto..." Voz, carisma e energia é que não faltam. Continuo com a minha opinião que Elba é uma das maiores cantoras do Brasil!!!!
Sei que muita gente já fez, mas Elba cantando Chico seria maravilhoso. E único também.... Elba daria nova vida a muitas canções de Chico!!
Elba vive fazendo novas viagens, acho precipitado dizer que a cantora vem fazendo mais do mesmo, gostei e muito desse roteiro.
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