Mauro Ferreira no G1

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domingo, 19 de maio de 2013

Odair remonta na Virada ópera-rock de 'disco incompreendido' de 1977

Resenha de show
Evento: Virada cultural 2013
Título: O filho de José e Maria
Artista: Odair José (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Theatro Municipal de São Paulo (São Paulo, SP)
Data: 19 de maio de 2013
Cotação: * * *

Em 1977, Odair José virou a mesa. Ao migrar da gravadora Philips para a RCA, o cantor e compositor goiano - então no auge do sucesso popular por conta de hits como Uma vida só (Pare de tomar a pílula) (Odair José, 1973) e A noite mais linda do mundo (Donizetti, 1974) - exigiu como condição para a transferência que a RCA bancasse sua ideia de gravar disco conceitual de temática religiosa, idealizado no formato de ópera-rock tupiniquim. Lançado em 1977, o álbum O filho de José e Maria quebrou a sequência de LPs bem-sucedidos gravados pelo artista ao longo dos anos 70, encalhando nas lojas, em parte por causa do boicote dos meios de comunicação, assustados com as críticas da Igreja ao teor contestatório da faixa O casamento (Odair José), canção estruturada em forma de diálogo na qual o cantor sustentava que Jesus tinha sido concebido antes de José e Maria se unirem de acordo com as leis de Deus. Quarta faixa do álbum, O casamento provocou tanta polêmica que um padre até quis excomungar o cantor. Talvez por isso mesmo, Odair José tenha aberto com O casamento o show em que reviveu seu "disco incompreendido" em apresentação feita no Theatro Municipal de São Paulo, aos primeiros minutos de 19 de maio de 2013, dentro da série da Virada cultural 2013 em que artistas revisitam álbuns emblemáticos de suas discografias em seleção feita pelo jornalista Marcus Preto, um dos curadores do evento. Gravado pelo Canal Brasil para exibição na TV e edição em DVD, o show mostrou Odair José imerso no universo do rock, à frente da banda que priorizava as guitarras. Às nove músicas do álbum, o artista acrescentou mais quatro - A viagem, Agora eu sei, Forma de sentir e Que loucura - que julga estarem dentro do conceito de seu trabalho mais controvertido. Mesmo sem o viço vocal dos tempos áureos, Odair reafirmou no show o caráter questionador de sua obra autoral - corretamente redimensionada pelo escritor Paulo César de Araújo  no essencial livro Eu não sou cachorro, não - Música popular cafona e ditadura militar (Record, 2002) - ao reviver músicas como Não me venda grilos (Por direito). A música-título da ópera-rock O filho de José e Maria, por exemplo, discutia a dissolução do casamento numa época em que a aprovação do divórcio mobilizava e dividia a sociedade. Ousado para os padrões repressores dos anos 70, Odair tocou na questão com o argumento de que o menino Jesus - o filho de José e Maria - sofria com as brigas dos pais. Entre rocks como Nunca mais O sonho terminou e canções como Só pra mim, pra mais ninguém, Odair mostrou uma ou outra música que poderia até ter sido um hit radiofônico caso o álbum não tivesse sido alvo de tanto preconceito. É o caso do pop rock De volta às verdadeiras origens, de refrão grudento. Feito no número, o confuso discurso do artista sobre religião e transcendência soou até dispensável, pois a música de Odair José já fala pelo compositor. No bis, feliz por reviver seu disco incompreendido, o cantor celebrou o momento com interpretação de A noite mais linda do mundo, apresentada na eficaz pegada roqueira da banda. Para Odair José e para o público que lhe aplaudiu com entusiasmo, o show O filho de José e Maria foi mesmo o mais lindo da longa noite de revival de álbuns clássicos.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Em 1977, Odair José virou a mesa. Ao migrar da gravadora Philips para a RCA, o cantor e compositor goiano - então no auge do sucesso popular por conta de hits como Uma vida só (Pare de tomar a pílula) (Odair José, 1973) e A noite mais linda do mundo (Donizetti, 1974) - exigiu como condição para a transferência que a RCA bancasse sua ideia de gravar disco conceitual de temática religiosa, idealizado no formato de ópera-rock tupiniquim. Lançado em 1977, o álbum O filho de José e Maria quebrou a sequência de LPs bem-sucedidos gravados pelo artista ao longo dos anos 70, encalhando nas lojas, em parte por causa do boicote dos meios de comunicação, assustados com as críticas da Igreja ao teor contestatório da faixa O casamento (Odair José), canção estruturada em forma de diálogo na qual o cantor sustentava que Jesus tinha sido concebido antes de José e Maria se unirem de acordo com as leis de Deus. Quarta faixa do álbum, O casamento provocou tanta polêmica que um padre até quis excomungar o cantor. Talvez por isso mesmo, Odair José tenha aberto com O casamento o show em que reviveu seu "disco incompreendido" em apresentação feita no Theatro Municipal de São Paulo, aos primeiros minutos de 19 de maio de 2013, dentro da série da Virada cultural 2013 em que artistas revisitam álbuns emblemáticos de suas discografias em seleção feita pelo jornalista Marcus Preto, um dos curadores do evento. Gravado pelo Canal Brasil para exibição na TV e edição em DVD, o show mostrou Odair José imerso no universo do rock, à frente da banda que priorizava as guitarras. Às nove músicas do álbum, o artista acrescentou mais quatro - A viagem, Agora eu sei, Forma de sentir e Que loucura - que julga estarem dentro do conceito de seu trabalho mais controvertido. Mesmo sem o viço vocal dos tempos áureos, Odair reafirmou no show o caráter questionador de sua obra autoral - corretamente redimensionada pelo escritor Paulo César de Araújo no essencial livro Eu não sou cachorro, não - Música popular cafona e ditadura militar (Record, 2002) - ao reviver músicas como Não me venda grilos (Por direito). A música-título da ópera-rock O filho de José e Maria, por exemplo, discutia a dissolução do casamento numa época em que a aprovação do divórcio mobilizava e dividia a sociedade. Ousado para os padrões repressores dos anos 70, Odair tocou na questão com o argumento de que o menino Jesus - o filho de José e Maria - sofria com as brigas dos pais. Entre rocks como Nunca mais e O sonho terminou e canções como Só pra mim, pra mais ninguém, Odair mostrou uma ou outra música que poderia até ter sido um hit radiofônico caso o álbum não tivesse sido alvo de tanto preconceito. É o caso do pop rock De volta às verdadeiras origens, de refrão grudento. Feito no número, o confuso discurso do artista sobre religião e transcendência soou até dispensável, pois a música de Odair José já fala pelo compositor. No bis, feliz por reviver seu disco incompreendido, o cantor celebrou o momento com interpretação de A noite mais linda do mundo, apresentada na eficaz pegada roqueira da banda. Para Odair José e para o público que lhe aplaudiu com entusiasmo, o show O filho de José e Maria foi mesmo o mais lindo da longa noite de revival de álbuns clássicos.

Anônimo disse...

O Odair virou cult e passou a ser superestimado, penso eu.
"No hall da fama nem todos são e nem todos estão."
Alguns chegam lá que nem a história do jabuti em cima da árvore
Só com uma ajudinha marota.

ADEMAR AMANCIO disse...

Show no Theatro municipal de São paulo pra quem ficou tanto tempo no sereno,está ótimo.Ele merece.

Anônimo disse...

Excelente! Odair on rocks! E agora.. quando sai o DVD?

Anônimo disse...

Excelente! Odair on rocks! E agora... quando sai o DVD?