segunda-feira, 6 de maio de 2013

Paralamas celebra revolução cultural da molecada no afiado show dos 30

Resenha de show
Título: Os Paralamas do Sucesso 30 anos
Artista: Os Paralamas do Sucesso (em foto de Patrick Magalhães)
Local: Fundição Progresso (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 5 de maio de 2013
Cotação: * * * * 1/2

Antes de Os Paralamas do Sucesso começarem a tocar no palco da Fundição Progresso Patrulha noturna (Herbert Vianna, 1983), um dos sucessos de seu seminal álbum Cinema mudo (1983), Herbert Vianna se dirigiu ao público para lembrar o que chamou de "revolução cultural da molecada". O cantor e guitarrista do grupo se referia  à revolução por minuto armada no início dos anos 80 quando bandas cariocas e de outras cidades do Brasil se apresentavam no então recém-nascido Circo Voador, palco do Rio de Janeiro (RJ) que ajudou a impulsionar a geração 80 do pop rock brasileiro. Mais do que festejar os 30 anos de vida do grupo, que soube driblar as adversidades da vida ao longo do caminho, o show Os Paralamas do Sucesso 30 anos - apresentado aos cariocas já aos primeiros minutos do domingo, 5 de maio de 2013 - celebra a revolução coletiva que deu identidade e mercado ao pop rock produzido no Brasil naqueles anos jovens. É por isso que faz sentido o encerramento do bis ser feito com Que país é este? (Renato Russo, 1987) - música da banda-irmã Legião Urbana (1982 - 1996), já registrada pelos Paralamas em seu vigoroso Acústico MTV (1999) - e também por essa razão fazem todo o sentido a lembrança do bolero hawaiano Como uma onda (Lulu Santos e Nelson Motta, 1983), sucesso retumbante do amigo Lulu Santos no ano em que o Paralamas lançou seu primeiro LP, e a citação da titânica Polícia (Tony Belloto, 1987) em Selvagem (Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, 1986). São homenagens que reiteram a força de uma geração pop. Vigor que, no caso dos Paralamas, se manteve intacto no palco nesses 30 anos. Ao enfileirar sucessos no roteiro de 34 números, enquanto as imagens do telão informam a data e o disco de cada música (com eventuais exibições de clipes e outras cenas emblemáticas das três décadas), Bi Ribeiro (baixo), Herbert Vianna (voz e guitarra) e João Barone (bateria) reeditam a pegada e o entrosamento do trio, pioneiro no Brasil ao embutir sons da Jamaica e da América Latina em seu pop rock numa mistura de sotaque brasileiro. Carro velho (Herbert Vianna, 1991) - ótima lembrança de roteiro que privilegia essencialmente hits radiofônicos e da MTV - anda nessa linha, com o combustível dos metais de Bidu Cordeiro (trombone) e Monteiro Jr. (saxofone), presenças destacadas na banda de apoio reforçada pelo tecladista João Fera. Mais perto do fim, o reggae dita o ritmo do bloco que agrega Ela disse adeus (Herbert Vianna, 1998), a releitura de Você (Tim Maia, 1971) - aditivada com outro sucesso de Tim Maia (1942 - 1998), Gostava tanto de você (Edson Trindade, 1973), em número que  serve para o grupo expiar a saudade de pessoas que já se retiraram de cena, como a lendária Vovó Ondina - e A novidade (Herbert Vianna, Bi Ribeiro, João Barone, Gilberto Gil). Na inspirada seara das baladas, gênero em que Herbert Vianna consegue ser romântico sem ser piegas, há canções tocadas na pressão - Mensagem de amor (Herbert Vianna, 1984) soa como power balada - e outras que esboçam atmosfera mais íntima na medida em que é possível criar intimidade em show feito para multidões. A obra-prima Quase um segundo (Herbert Vianna, 1998) - momento em que o vocalista fica a sós com o tecladista João Fera - é um desses instantes mais interiorizados de show habitualmente incandescente. Por mais que uma ou outra música amenize a temperatura da apresentação, caso da recente Meu sonho (Herbert Vianna, 2009), há muitas outras em que o termômetro explode. O beco (Herbert Vianna e Bi Barone, 1988) é uma delas. No todo, o que se viu e ouviu - sem muito blá blá blá, como enfatizou Herbert nas vezes em que se dirigiu sucintamente ao público que unia jovens e cinquentões - foi banda em estado de graça, com a (mesma) energia dos tempos em que ajudou a fazer a revolução cultural da molecada

8 comentários:

  1. Antes de Os Paralamas do Sucesso começarem a tocar no palco da Fundição Progresso Patrulha noturna (Herbert Vianna, 1983), um dos sucessos de seu seminal álbum Cinema mudo (1983), Herbert Vianna se dirigiu ao público para lembrar o que chamou de "revolução cultural da molecada". O cantor e guitarrista do grupo se referia à revolução por minuto armada no início dos anos 80 quando bandas cariocas e de outras cidades do Brasil se apresentavam no então recém-nascido Circo Voador, palco do Rio de Janeiro (RJ) que ajudou a impulsionar a geração 80 do pop rock brasileiro. Mais do que festejar os 30 anos de vida do grupo, que soube driblar as adversidades da vida ao longo do caminho, o show Os Paralamas do Sucesso 30 anos - apresentado aos cariocas já aos primeiros minutos do domingo, 5 de maio de 2013 - celebra a revolução coletiva que deu identidade e mercado ao pop rock produzido no Brasil naqueles anos jovens. É por isso que faz sentido o encerramento do bis ser feito com Que país é este? (Renato Russo, 1987) - música da banda-irmã Legião Urbana (1982 - 1996), já registrada pelos Paralamas em seu vigoroso Acústico MTV (1999) - e também por essa razão fazem todo o sentido a lembrança do bolero hawaiano Como uma onda (Lulu Santos e Nelson Motta, 1983), sucesso retumbante do amigo Lulu Santos no ano em que o Paralamas lançou seu primeiro LP, e a citação da titânica Polícia (Tony Belloto, 1987) em Selvagem (Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, 1986). São homenagens que reiteram a força de uma geração pop. Vigor que, no caso dos Paralamas, se manteve intacto no palco nesses 30 anos. Ao enfileirar sucessos no roteiro de 34 números, enquanto as imagens do telão informam a data e o disco de cada música (com eventuais exibições de clipes e outras cenas emblemáticas das três décadas), Bi Ribeiro (baixo), Herbert Vianna (voz e guitarra) e João Barone (bateria) reeditam a pegada e o entrosamento do trio, pioneiro no Brasil ao embutir sons da Jamaica e da América Latina em seu pop rock numa mistura de sotaque brasileiro. Carro velho (Herbert Vianna, 1991) - ótima lembrança de roteiro que privilegia essencialmente hits radiofônicos e da MTV - anda nessa linha, com o combustível dos metais de Bidu Cordeiro (trombone) e Monteiro Jr. (saxofone), presenças destacadas na banda de apoio reforçada pelo tecladista João Fera. Mais perto do fim, o reggae dita o ritmo do bloco que agrega Ela disse adeus (Herbert Vianna, 1998), a releitura de Você (Tim Maia, 1971) - aditivada com outro sucesso de Tim Maia (1942 - 1998), Gostava tanto de você (Edson Trindade, 1973), em número que serve para o grupo expiar a saudade de pessoas que já se retiraram de cena, como a lendária Vovó Ondina - e A novidade (Herbert Vianna, Bi Ribeiro, João Barone, Gilberto Gil). Na inspirada seara das baladas, gênero em que Herbert Vianna consegue ser romântico sem ser piegas, há canções tocadas na pressão - Mensagem de amor (Herbert Vianna, 1984) soa como power balada - e outras que esboçam atmosfera mais íntima na medida em que é possível criar intimidade em show feito para multidões. A obra-prima Quase um segundo (Herbert Vianna, 1998) - momento em que o vocalista fica a sós com o tecladista João Fera - é um desses instantes mais interiorizados de show habitualmente incandescente. Por mais que uma ou outra música amenize a temperatura da apresentação, caso da recente Meu sonho (Herbert Vianna, 2009), há muitas outras em que o termômetro explode. O beco (Herbert Vianna e Bi Barone, 1988) é uma delas. No todo, o que se viu e ouviu - sem muito blá blá blá, como enfatizou Herbert nas vezes em que se dirigiu sucintamente ao público que unia jovens e cinquentões - foi banda em estado de graça, com a mesma energia dos tempos em que ajudou a fazer a revolução cultural da molecada.

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  2. Como fã juramentado, selado, registrado, carimbado, vi o show na estreia, aqui em São Paulo.

    Bacana e tudo, algumas fusões deram certo ("Whole lotta love" abrindo "O calibre" ficou ótima!) banda continua tocando afiada como sempre, Barone é O GRANDE instrumentista da geração '80 (com perdão a Scandurra) etc.

    Porém - ai, porém -, é o que eu estava comentando com José Henrique, blogueiro aqui (e com um colega que conhece algo das internas dos PdS): ainda que seja, talvez, a banda de trajetória mais regular entre seus pares, ela não consegue esconder certa falta de criatividade. Também anda virando "cover de si mesma".

    Basta notar o próprio repertório do show: o grosso veio dos anos 1980 e 1990. Pouco da lavra de Herbert pós-acidente - e a queda na qualidade das letras já foi algo apontado por Mauro na resenha a "Brasil afora", há quatro anos.

    "Ah, mas teve o acidente". Sim, é preciso considerar isso. Agora, já faz 12 anos que aconteceu! Já dava para ter havido uma evolução maior - embora ela se note na diminuição progressiva das (perdoáveis) "viagens" de Herbert ao falar.

    Enfim, merecem todas as comemorações, todos os elogios e até mais. Mas espero por coisas novas dos PdS no "segundo ciclo de 30 anos", como Herbert e Barone falam.

    Felipe dos Santos Souza

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  3. Oi, Felipe, sua linha de raciocínio é pertinente. Mas, sim, o acidente há sempre de ser levado em conta daqui por diante. Não há como fingir que nada aconteceu. Abs, MauroF

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  4. gostei do set list. Certamente a banda tem mtos lados-b q os fãs gostariam de ouvir, mas ficou democrático.
    Se comparar com os 30 anos de Kid Abelha que foi (que foi tão preguiçoso...), tá um luxo!

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  5. Eu acho que crítica e o acidente não devem ser misturados.
    Tem que agir, e não fingir, como se nada tivesse acontecido.
    Um artista talentoso como o Hebert não precisa de benevolências.

    PS: Meu chapa Felipe tá certo. Cover de si mesmo, como 99% das bandas de 30 anos ou mais.
    Mas o Kid Abelha, que o Pedro citou, pega pesado nesse quesito.


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  6. Zé, eu não sou benevolente - tanto que o último álbum de estúdio, Brasil afora (2009), ganhou apenas três estrelas - mas é preciso contextualizar. Quem conhece os pormenores do acidente sabe que é um milagre o Herbert estar vivo, que dirá cantando e tocando. Abs, MauroF

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  7. Tá bom, Maurão.
    Confio na sua imparcialidade.
    Sim, contextualizar é obrigatório.
    Tanto quanto eu acho que seria não se deixar influenciar pelo acorrido.
    Há benevolências pelo que aconteceu, vc sabe disso.

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  8. Ahhh, realmente um milagre o Herbert ter as condições que tem.
    Vi o documentário Herbert de Perto, muito tocante, bonito.
    O cara merece, é sangue bom.

    PS: Admiro demais a integridade com que o Paralamas se manteve, em contraponto total nesse quesito com os Titãs, mas o tempo não perdoa uma banda de rock/pop.
    Só os Stones.
    Afinal, eles cantaram que têm o tempo ao seu lado.

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