Resenha de filme
Título: Somos tão jovens
Direção: Antonio Carlos Fontoura
Roteiro: Marcos Bernstein
Elenco: Thiago Mendonça, Laila Zaid, Daniel Passi, Bianca Comparato, Marcos Breda,
Sandra Corveloni, Bruno Torres e Sérgio Dalcin, entre outros
Cotação: * *
Filme em cartaz nos cinemas brasileiros desde 3 de maio de 2013
É significativo que o público ria numa das cenas mais densas de Somos tão jovens, filme em que o cineasta Antonio Carlos Fontoura foca a revolução íntima que transformou Renato Manfredini Jr. (1960 - 1996) em Renato Russo, ídolo de sua geração. Na tal cena, Petrus (Sérgio Dalcin) - nome dado no filme a Andre Petrorius (1961 - 1988), guitarrista da formação original do grupo Aborto Elétrico, um rebelde com causa na Brasília de 1980 - chora a mágoa e o inconformismo de, forçado pelo pai embaixador, ser obrigado a abandonar a banda para voltar para a África do Sul para trabalhar no exército daquele país então odiado no mundo pela política do Apartheid. A alta carga emocional dessa cena não impede que risos discretos sejam ouvidos na sala de cinema. Mas a culpa não é do ator. Somos tão jovens cai várias vezes na caricatura, na superficialidade e no maniqueísmo, sobretudo quando aborda a relação de Renato com os estereotipados pais vividos por Marcos Breda e Sandra Corveloni. Embora o roteiro de Marcos Bernstein seja fluente, várias questões relevantes naquele universo punk de Brasília (DF) são tratadas de forma rasa. O que impede o espectador de abraçar realmente a causa daqueles jovens que fizeram sua revolução particular entre 1976 e 1982, período abordado pela narrativa de Somos tão jovens. O grande trunfo do filme é a interpretação meticulosa de Thiago Mendonça. O ator convence na pele de Renato Russo, reproduzindo na tela os maneirismos, trejeitos e modulações vocais do artista. A relação afetuosa de Renato com Ana Claudia - a Aninha, musa inspiradora de Ainda é cedo (Renato Russo, 1985), papel defendido com sensibilidade por Lala Zaid - é outro ponto positivo do longa-metragem, pois há sempre emoção real na exposição desse relacionamento. Contudo, o Renato Russo retratado em Somos tão jovens dá a impressão de ser menos complexo e menos atormentado do que o artista da vida real, dono de personalidade controversa, movida a paixões nem sempre correspondidas. A propósito, o amor platônico de Russo por Flávio Lemos (Daniel Passi) é explicitado no filme sem que o roteiro dê peso à homossexualidade do mentor da Legião Urbana (1982 - 1996). Aliás, nesse sentido, Somos tão jovens é filme até light. Parece que a intenção foi esboçar um retrato em tons pastéis da Turma da Colina. Sexo e drogas são meros coadjuvantes neste filme que provoca risos não intencionais ao reincidir na caricatura nas cenas em que aparece o jovem Herbert Vianna (Edu Moraes, com óculos além das medidas). Mas o rock - cantado de forma convincente pelo elenco - tem seu papel relevado à altura. Sob esse prisma musical, o filme é até interessante por mostrar às novas gerações como surgiram influentes bandas de Brasília (DF) como Capital Inicial, Legião Urbana e Plede Rude. Pena que o tom de Somos tão jovens resulte por vezes tão artificial, sobretudo nos diálogos que citam nomes de músicas famosas. O erro maior talvez resida na direção, na forma como a história é contada. O que explica os risos em cenas que, em tese, foram escritas sem humor. A julgar pelos livros sobre o principal nome dessa história, Russo foi bem mais complexo do que o filme.
É significativo que o público ria numa das cenas mais densas de Somos tão jovens, filme em que o cineasta Antonio Carlos Fontoura foca a revolução íntima que transformou Renato Manfredini Jr. (1960 - 1996) em Renato Russo, ídolo de sua geração. Na tal cena, Petrus (Sérgio Dalcin) - nome dado no filme a Andre Petrorius (1961 - 1988), guitarrista da formação original do grupo Aborto Elétrico, um rebelde com causa na Brasília de 1980 - chora a mágoa e o inconformismo de, forçado pelo pai embaixador, ser obrigado a abandonar a banda para voltar para a África do Sul para trabalhar no exército daquele país então odiado no mundo pela política do Apartheid. A alta carga emocional dessa cena não impede que risos discretos sejam ouvidos na sala de cinema. Mas a culpa não é do ator. Somos tão jovens cai várias vezes na caricatura, na superficialidade e no maniqueísmo, sobretudo quando aborda a relação de Renato com os estereotipados pais vividos por Marcos Breda e Sandra Corveloni. Embora o roteiro de Marcos Bernstein seja fluente, várias questões relevantes naquele universo punk de Brasília (DF) são tratadas de forma rasa. O que impede o espectador de abraçar realmente a causa daqueles jovens que fizeram sua revolução particular entre 1976 e 1982, período abordado pela narrativa de Somos tão jovens. O grande trunfo do filme é a interpretação meticulosa de Thiago Mendonça. O ator convence na pele de Renato Russo, reproduzindo na tela os maneirismos, trejeitos e modulações vocais do artista. A relação afetuosa de Renato com Ana Claudia - a Aninha, musa inspiradora de Ainda é cedo (Renato Russo, 1985), papel defendido com sensibilidade por Lala Zaid - é outro ponto positivo do longa-metragem, pois há sempre emoção real na exposição desse relacionamento. Contudo, o Renato Russo retratado em Somos tão jovens dá a impressão de ser menos complexo e menos atormentado do que o artista da vida real, dono de personalidade controversa, movida a paixões nem sempre correspondidas. A propósito, o amor platônico de Russo por Flávio Lemos (Daniel Passi) é explicitado no filme sem que o roteiro dê peso à homossexualidade do mentor da Legião Urbana (1982 - 1996). Aliás, nesse sentido, Somos tão jovens é filme até light. Parece que a intenção foi esboçar um retrato em tons pastéis da Turma da Colina. Sexo e drogas são meros coadjuvantes neste filme que provoca risos não intencionais ao reincidir na caricatura nas cenas em que aparece o jovem Herbert Vianna (Edu Moraes, com óculos além das medidas). Mas o rock - cantado de forma convincente pelo elenco - tem seu papel relevado à altura. Sob esse prisma musical, o filme é até interessante por mostrar às novas gerações como surgiram influentes bandas de Brasília (DF) como Capital Inicial, Legião Urbana e Plede Rude. Pena que o tom de Somos tão jovens resulte por vezes tão artificial, sobretudo nos diálogos que citam nomes de músicas famosas. O erro maior talvez resida na direção, na forma como a história é contada. O que explica os risos em cenas que, em tese, foram escritas sem humor. A julgar pelos livros sobre o principal nome dessa história, Russo foi bem mais complexo do que o filme.
ResponderExcluirMauro, qual a cotação do filme? Não consta na ficha...
ResponderExcluirAbraços,
Felipe dos Santos Souza
Assisti e fiquei com a impressão de que ficou faltando algo na composição dos personagens. Tenho a ideia de que o Renato era um sujeito mais atormentado e com mais impulsividade e urgência para as novidades que o Punk exigia. Uma criação de uma identidade própria para pode "existir" mesmo sob a pressão do conformismo sem soar caricato.
ResponderExcluirO crítico de cinema Marcelo Janot também tem uma visão muito parecida. Para ele faltou ousadia à direção para abordar as questões daquela juventude de Brasília.
Eis um trecho de sua crítica em O Globo:
"Por vezes a impressão é a de que estamos diante de um episódio de Malhação, onde as aventuras juvenis são intercaladas com lições de moral e pinceladas educacionais. ... Diretor de obras-primas do cinema nacional dos anos 60 e 70 como "Rainha Diaba" e "Copacabana me engana", Fontoura deixou a opção pela ousadia no passado. "Somos tão jovens" não questiona, apenas ancora no porto seguro das biografias, sem correr risco de arranhar a idolatria dos fãs juvenis."
É duas estrelas, Felipe. Grato pelo toque. Abs, MauroF
ResponderExcluirO filme tem um pouco de rock e nenhum sexo ou drogas, na medida para a família-brasileira-tela-quente. O constrangimento maior é o texto, com citações de canções aqui e ali, imbecilidades do calibre de "Festa estranha!", "É, gente esquisita". Caricatural, para ficar no eufemismo.
ResponderExcluirTambém achei uó.
ResponderExcluirEu gostei das interpretações do Thiago e da Laila, mas o filme peca por ter mostrado um Renato Russo muito puritano. Como o Mauro escreveu ficou tudo muito em tons pastéis.
ResponderExcluirTalvez o filme tenha ficado tão parcial por influência da mãe de Renato russo,que dizia que um filme sobre seu filho teria que abordar apenas o lado intelectual e musical do artista.
ResponderExcluirComo diria o Cazuza:
ResponderExcluirSó as mães são felizes.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMauro, lendo sua critica e a da clarisse Mello, reforçou minha imprenssao de que o filme, não reproduz a realidade da banda. Prefiro entao esperar por faroeste Caboclo que nao terao como fugir do que os fas esperam pelo filme.Perdi a vontade de assistir o filme quando vi uma de suas cenas, no treiller a banda festejando o primeiro LP e dizendo que agora eles irao conquistar o mundo. Conheci Renato Russo e acho que a ultima coisa que ele sonhou ser é famoso. Ele fazia musica por prazer e nao por sucesso, tanto que nunca vi Legião em programas de TV e so lançava disco de 4 em 4 anos. Não gosto de historias falsas ou que tendam ser apenas jogo de marketing como percebo em Somos tão jovens.
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