Evento: Virada Cultural 2013
Título: Wanderléa ...Maravilhosa
Artista: Wanderléa (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Theatro Municipal de São Paulo (São Paulo, SP)
Data: 19 de maio de 2013
Cotação: * * * * 1/2
Vértice feminino do principal triângulo pop da Jovem Guarda, Wanderléa aproveitou a virada dos anos 60 para os 70 e virou o jogo de cartas marcadas da indústria fonográfica, expandindo seu horizonte musical e mostrando que podia ser bem mais do que a Ternurinha das jovens tardes dominicais. O álbum que consolidou a virada da cantora - ensaiada em compactos lançados em 1970 e 1971 - foi Wanderléa ...Maravilhosa (1972), antológico disco de espírito desbundado que expôs no repertório a mistura pop brasileira de tom carnavalizante que marcaria a discografia da artista mineira na primeira metade da década de 70. É essa mistura pop brasileira que Wanderléa refez com jovialidade, brilho e vivacidade na manhã deste domingo, 19 de maio de 2013, em show apresentado no Theatro Municipal de São Paulo (SP) dentro da programação da 9ª edição da Virada Cultural de São Paulo. A festa somente não foi perfeita porque, nos primeiros números do inebriante show, o som da voz da cantora estava baixo. À frente de big-band capitaneada pelo guitarrista Lalo Califórnia, diretor musical do show, Wanderléa cantou nove das 12 músicas de ...Maravilhosa, ignorando faixas impostas pela diretoria da gravadora Polydor - caso da Valsa antiga (Roberto Menescal e Paulinho Tapajós) - e acrescentando dois frevos gravados em compacto anterior e duas músicas de seu álbum posterior, Feito gente (1975), pautado pelo mesmo espírito desencanado e libertário de ...Maravilhosa. Com repertório que mixou samba-rock, choro, frevo e balada abolerada, Wanderléa fez show - com perdão do óbvio e inevitável trocadilho - maravilhoso. Desde o primeiro (veloz) número, Vida maneira (Hyldon), ficou evidente que a cantora revisitaria seu álbum com frescor, vitalidade e suingue. Mesmo que pairasse no ar uma certa nostalgia da modernidade da artista naqueles tempos, o show - produzido por Thiago Marques Luiz e gravado pelo Canal Brasil para exibição na TV e edição em DVD - jamais soou requentado, passadista. Guitarras e metais em brasa aqueceram Back in Bahia (Gilberto Gil) - samba-rock revivido com a habitual citação de Banho de lua (Tintarella di luna) (Francesco Migliacci e Bruno de Fillipini em versão em português de Fred Jorge) - e deram o tom elétrico da apresentação. Deixa (Hyldon) ratificou a eletricidade da cantora em cena. Com coreografias e gestos que traduziam visualmente o sentido de alguns versos (sobretudo em Quero ser locomotiva, música de Jorge Mautner), Wanderléa jamais perdeu o pique ou caiu do balanço. Em Telegrama (Cacao e José Renato), a cantora interagiu com as vocalistas Ivani Venâncio e Tatá Martinelli, evocando o arranjo vocal da gravação de 1972. Canção abolerada que ganhou interpretação sedutora, Mate-me depressa foi pretexto para terna saudação ao compositor e produtor capixaba Rossini Pinto (1937 - 1985), autor do tema e figura-chave na composição do repertório da Jovem Guarda. Um número antes, Badalação (Bahia vol. 2) (Nonato Buzar e Tom & Dito) explicitou o tom carnavalizante que seria acentuado no bloco final do show com a lembrança dos frevos Chuva, suor e cerveja (Caetano Veloso) e Pula, pula (Salto de sapato) (Jards Macalé e Capinam), gravados pela artista em compacto de 1971. Antes de acertar o passo do frevo, Wanderléa armou roda de choro para desfiar Casaquinho de tricot (Paulo dos Santos Barbosa). Com tal formação da banda, momentaneamente reduzida a um quarteto cujo som remetia aos conjuntos regionais da fase pré-Bossa Nova, a cantora manteve o clima de choro para cair no samba Uva de caminhão (Assis Valente), sucesso de Carmen Miranda (1909 - 1955) nos anos 30. A propósito, até Chica chica boom chic - samba-rumba de Harry Warren e Mack Gordon gravado pela Brazilian Bombshell em 1941 para o filme Uma noite no Rio - entrou na folia de Wanderléa e se tornou um dos pontos mais altos do show, com direito a repeteco no bis. A sagaz inclusão de duas músicas do disco Feito gente (1975) - Ginga de mandinga (Jorge Mautner e Rodolpho Grani Jr.) e Que besteira (João Donato e Gilberto Gil) - contribuiu para acentuar o brilho de um show maravilhoso, momento mágico da virada paulista.
5 comentários:
Vértice feminino do principal triângulo pop da Jovem Guarda, Wanderléa aproveitou a virada dos anos 60 para os 70 e virou o jogo de cartas marcadas da indústria fonográfica, expandindo seu horizonte musical e mostrando que podia ser bem mais do que a Ternurinha das jovens tardes dominicais. O álbum que consolidou a virada da cantora - ensaiada em compactos lançados em 1970 e 1971 - foi Wanderléa ...Maravilhosa (1972), antológico disco de espírito desbundado que expôs no repertório a mistura pop brasileira de tom carnavalizante que marcaria a discografia da artista mineira na primeira metade da década de 70. É essa mistura pop brasileira que Wanderléa refez com jovialidade, brilho e vivacidade na manhã deste domingo, 19 de maio de 2013, em show apresentado no Teatro Municipal de São Paulo (SP) dentro da programação da 8ª edição da Virada Cultural de São Paulo. A festa somente não foi perfeita porque, nos primeiros números do inebriante show, o som da voz da cantora estava baixo. À frente de big-band capitaneada pelo guitarrista Lalo Califórnia, diretor musical do show, Wanderléa cantou nove das 12 músicas de ...Maravilhosa, ignorando faixas impostas pela diretoria da gravadora Polydor - caso da Valsa antiga (Roberto Menescal e Paulinho Tapajós) - e acrescentando dois frevos gravados em compacto anterior e duas músicas de seu álbum posterior, Feito gente (1975), pautado pelo mesmo espírito desencanado e libertário de ...Maravilhosa. Com repertório que mixou samba-rock, choro, frevo e balada abolerada, Wanderléa fez show - com perdão do óbvio e inevitável trocadilho - maravilhoso. Desde o primeiro (veloz) número, Vida maneira (Hyldon), ficou evidente que a cantora revisitaria seu álbum com frescor, vitalidade e suingue. Mesmo que pairasse no ar uma certa nostalgia da modernidade da artista naqueles tempos, o show - produzido por Thiago Marques Luiz e gravado pelo Canal Brasil para exibição na TV e edição em DVD - jamais soou requentado, passadista. Guitarras e metais em brasa aqueceram Back in Bahia (Gilberto Gil) - samba-rock revivido com a habitual citação de Banho de lua (Tintarella di luna) (Francesco Migliacci e Bruno de Fillipini em versão em português de Fred Jorge) - e deram o tom elétrico da apresentação. Deixa (Hyldon) ratificou a eletricidade da cantora em cena. Com coreografias e gestos que traduziam visualmente o sentido de alguns versos (sobretudo em Quero ser locomotiva, música de Jorge Mautner), Wanderléa jamais perdeu o pique ou caiu do balanço. Em Telegrama (Cacao e José Renato), a cantora interagiu com as vocalistas Ivani Venâncio e Tatá Martinelli, evocando o arranjo vocal da gravação de 1972. Canção abolerada que ganhou interpretação sedutora, Mate-me depressa foi pretexto para terna saudação ao compositor e produtor capixaba Rossini Pinto (1937 - 1985), autor do tema e figura-chave na composição do repertório da Jovem Guarda. Um número antes, Badalação (Bahia vol. 2) (Nonato Buzar e Tom & Dito) explicitou o tom carnavalizante que seria acentuado no bloco final do show com a lembrança dos frevos Chuva, suor e cerveja (Caetano Veloso) e Pula, pula (Salto de sapato) (Jards Macalé e Capinam), gravados pela artista em compacto de 1971.
Antes de acertar o passo do frevo, Wanderléa armou roda de choro para desfiar Casaquinho de tricot (Paulo dos Santos Barbosa). Com tal formação da banda, momentaneamente reduzida a um quarteto cujo som remetia aos conjuntos regionais da fase pré-Bossa Nova, a cantora manteve o clima de choro para cair no samba Uva de caminhão (Assis Valente), sucesso de Carmen Miranda (1909 - 1955) nos anos 30. A propósito, até Chica chica boom chic - samba-rumba de Harry Warren e Mack Gordon gravado pela Brazilian Bombshell em 1941 para o filme Uma noite no Rio - entrou na folia de Wanderléa e se tornou um dos pontos mais altos do show, com direito a repeteco no bis. A sagaz inclusão de duas músicas do disco Feito gente (1975) - Ginga de mandinga (Jorge Mautner e Rodolpho Grani Jr.) e Que besteira (João Donato e Gilberto Gil) - contribuiu para acentuar o brilho de um show maravilhoso, momento mágico da virada paulista.
Feito gente e Maravilhosa são momentos lendários da carreira de Wanderléa em seu desbunde Tropicalista, ponte entre as influências de Ademilde Fonseca e sua aproximação com os 'malditos' Mautner, Melodia, Franco; e Caetano e Gil, um luxo só! Deve mesmo ser um show imperdível.
Foi um momento único na Virada Cultural. Wanderléa cantou, dançou, provocou e mostrou a quem quizesse ver que ela ainda é maior cantora de rock/pop do Brasil, sem precisar a recorrer aos seus mega-hits da Jovem Guarda. Levou o público na mão e caiu na farra com a dignidade única de uma artista que aos 66 anos de idade e que cresceu sob os olhos do país,poderia alcançar.
Espero que este seja o primeiro show de uma série, pois tudo foi perfeito: os músicos, o figurino, a luz, o repertório, o público...
Uma pena que o Rock in Rio continue fingindo que Wanderléa não existe e não faz o que ele deveria fazer que é dar a honra das pessoas assistirem a um show da maior roqueira que o Brasil já teve. Daqui a muitos anos, no dia que infelizmente a Wandeca não estiver entre nós, vão se apressar em querer fazer homenagens e faturar em cima.
Preferem ficar perdendo tempo com as baianas de sempre esquecendo que Wanderléa tem várias coisinhas a ensinar a estas meninas que são mais deslumbradas pela fama do que pela arte.
Wanderléa no Rock in Rio, Já!
O show foi um acontecimento ! Uma estranha energia conectava Wanderléa, o publico e as pouco conhecidas canções do lendário álbum . Eu estava lá, nem por isso entendi aquela alquimia. Só me deixei contaminar por aquela banda afiada, afinada e precisa! Realmente, o que concluo é que todos já sabem: ...maravilhosa!!!
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