domingo, 16 de junho de 2013

Álbum 'Tudo' flagra Joyce Moreno em estado de graça como compositora

Resenha de CD
Título: Tudo
Artista: Joyce Moreno
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

Tudo - álbum gravado por Joyce Moreno para o Japão em março de 2012 - ganha edição no Brasil quase um ano após ter sido editado no país que o encomendou. Somente por ser o primeiro álbum de inéditas autorais da compositora carioca desde Just a little bit crazy (2004) - CD lançado no Brasil com o título de Banda Maluca - Tudo já merece atenção do público que admira essa cantora projetada em escala nacional na virada dos anos 70 para os 80. De todo modo, trata-se de um dos melhores discos da artista. Em estado de graça como compositora, Joyce apresenta inspirada safra de inéditas compostas com certa diversidade rítmica, ainda que o samba seja o ritmo predominante no repertório. A agalopada Boiou (Joyce Moreno) é a obra-prima de Tudo, levando Joyce para a terra nordestina com um toque jazzy. Ambientada na praia carioca frequentada por Joyce desde o início de sua trajetória musical, Estado de graça (Joyce Moreno e Nelson Motta) cria um clima de bossa para a cantora dar voz aos versos que citam Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro, 1937) e que, ao fim, incorporam improvisada alusão a Só tinha de ser com você (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1964). Em outro ponto carioca, mais para o Centro do Rio de Janeiro (RJ), o samba Puro ouro (Joyce Moreno) convida a mocidade para sambar e embute no chamado os apropriados vocais do coletivo Segunda Lapa - formado por Alfredo Del Penho, João Cavalcanti, Moyseis Marques e Pedro Miranda, cantores que foram à luta quando o samba mandou lhes chamar. "Toda sexta-feira / A moçada quer sambar", reitera Joyce nos versos iniciais de Quero ouvir João (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro), samba que traça, com a visão crítica do poeta, o mapa dos atuais sons do Rio de Janeiro, cidade partida até na música que abriga tanto o pancadão do funk quanto a levada cadenciada do reggae. "É tanta barulheira / Música de réveillon / Ninguém ouve nada, não / Ninguém ouve, não / É pau na moleira / Tudo feito pra dançar / De tanta besteira / O que é que ainda vai ficar?", questiona Joyce através dos versos nacionalistas do conservador Pinheiro, para quem basta um violão e uma voz. A de João, claro. João Gilberto, a quem Joyce de certa forma reverencia na atmosfera de bossa que aclimata Aquelas canções em mim (Joyce Moreno), bela música de amor que embute algum saudosismo. Sim, já temos um passado e, por isso, a impressionista Claude et Maurice (Joyce Moreno) tem arranjo vocal (de Maurício Maestro) que remete ao legado de grupos como Os Cariocas. Mais agitada, Tringuelingue é tema instrumental formatado com sons ambientes de uma praia e com vocalises que reiteram o senso rítmico de Joyce, cujo suingue propiciou sua descoberta pelos DJs europeus que a projetaram ao longo dos anos 90 na Inglaterra (país, aliás, onde Tudo está sendo lançado pelo selo britânico Far Out Recording neste mês de junho de 2013). De tom ensolarado, o samba Domingo de manhã (Joyce Moreno) reitera a carioquice entranhada no disco e perceptível também no Choro do anjo (Joyce Moreno), choro de toque jazzy e temática espiritualista. Samba dolente que abre a parceria de Joyce com Teresa Cristina, Sem poder dançar expõe feminilidade também embutida no cancioneiro da compositora que obteve sucesso popular justamente com um álbum intitulado Feminina (1980). Parceiro de Joyce em Pra você gostar de mim, samba cuja introdução remete à obra de Baden Powell (1937 - 2000), Zé Renato também figura em Tudo como cantor, dividindo com a anfitriã os versos de outro samba, Dor de amor é água (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro). No fim, a música-título Tudo (Joyce Moreno) restaura o clima de bossa e reitera a inspiração da safra autoral registrada pela cantora e compositora neste disco produzido pela própria Joyce com o baterista Tutty Moreno, integrante com o pianista Hélio Alves e o baixista Rodolfo Stroeter da banda que construiu a sonoridade precisa deste grande álbum em que, como diz a bonita faixa-título, tudo é poesia, melodia e harmonia. Enfim, tudo é uma canção.

9 comentários:

  1. Tudo - álbum gravado por Joyce Moreno para o Japão em março de 2012 - ganha edição no Brasil quase um ano após ter sido editado no país que o encomendou. Somente por ser o primeiro álbum de inéditas autorais da compositora carioca desde Just a little bit crazy (2004) - CD lançado no Brasil com o título de Banda Maluca - Tudo já merece atenção do público que admira essa cantora projetada em escala nacional na virada dos anos 70 para os 80. De todo modo, trata-se de um dos melhores discos da artista. Em estado de graça como compositora, Joyce apresenta inspirada safra de inéditas compostas com certa diversidade rítmica, ainda que o samba seja o ritmo predominante no repertório. A agalopada Boiou (Joyce Moreno) é a obra-prima de Tudo, levando Joyce para a terra nordestina com um toque jazzy. Ambientada na praia carioca frequentada por Joyce desde o início de sua trajetória musical, Estado de graça (Joyce Moreno e Nelson Motta) cria um clima de bossa para a cantora dar voz aos versos que citam Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro, 1937) e que, ao fim, incorporam improvisada alusão a Só tinha de ser com você (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1964). Em outro ponto carioca, mais para o Centro do Rio de Janeiro (RJ), o samba Puro ouro (Joyce Moreno) convida a mocidade para sambar e embute no chamado os apropriados vocais do coletivo Segunda Lapa - formado por Alfredo Del Penho, João Cavalcanti, Moyseis Marques e Pedro Miranda, cantores que foram à luta quando o samba mandou lhes chamar. "Toda sexta-feira / A moçada quer sambar", reitera Joyce nos versos iniciais de Quero ouvir João (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro), samba que traça, com a visão crítica do poeta, o mapa dos atuais sons do Rio de Janeiro, cidade partida até na música que abriga tanto o pancadão do funk quanto a levada cadenciada do reggae. "É tanta barulheira / Música de réveillon / Ninguém ouve nada, não / Ninguém ouve, não / É pau na moleira / Tudo feito pra dançar / De tanta besteira / O que é que ainda vai ficar?", questiona Joyce através dos versos nacionalistas do conservador Pinheiro, para quem basta um violão e uma voz. A de João, claro. João Gilberto, a quem Joyce de certa forma reverencia na atmosfera de bossa que aclimata Aquelas canções em mim (Joyce Moreno), bela música de amor que embute algum saudosismo. Sim, já temos um passado e, por isso, a impressionista Claude et Maurice (Joyce Moreno) tem arranjo vocal (de Maurício Maestro) que remete ao legado de grupos como Os Cariocas. Mais agitada, Tringuelingue é tema instrumental formatado com sons ambientes de uma praia e com vocalises que reiteram o senso rítmico de Joyce, cujo suingue propiciou sua descoberta pelos DJs europeus que a projetaram ao longo dos anos 90 na Inglaterra (país, aliás, onde Tudo está sendo lançado pelo selo britânico Far Out Recording neste mês de junho de 2013). De tom ensolarado, o samba Domingo de manhã (Joyce Moreno) reitera a carioquice entranhada no disco e perceptível também no Choro do anjo (Joyce Moreno), choro de toque jazzy e temática espiritualista. Samba dolente que abre a parceria de Joyce com Teresa Cristina, Sem poder dançar expõe feminilidade também embutida no cancioneiro da compositora que obteve sucesso popular justamente com um álbum intitulado Feminina (1980). Parceiro de Joyce em Pra você gostar de mim, samba cuja introdução remete à obra de Baden Powell (1937 - 2000), Zé Renato também figura em Tudo como cantor, dividindo com a anfitriã os versos de outro samba, Dor de amor é água (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro). No fim, a música-título Tudo (Joyce Moreno) restaura o clima de bossa e reitera a inspiração da safra autoral registrada pela cantora e compositora neste disco produzido pela própria Joyce com o baterista Tutty Moreno, integrante com o pianista Hélio Alves e o baixista Rodolfo Stroeter da banda que construiu a sonoridade precisa deste grande álbum em que, como diz a bonita faixa-título, tudo é poesia, melodia e harmonia. Enfim, tudo é uma canção.

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  2. Taí uma cantora que eu aplaudo. Refinada, voz bonita, criteriosa e escolhe muito bem seu repertório. Ela e Zé Renato são para as melhores horas.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. É um absurdo que um álbum novo de uma cantora como ela chegar com 1 ano de atraso aqui no Brasil. E é mais triste saber que "Rio de Janeiro" nem tem previsão de ser lançado por aqui. Esse disco de inéditas é ótimo, vale a pena a compra, pois mostra Joyce cada vez mais afiada como compositora, juntamente com as participações de Zé Renato e Teresa Cristina.

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  5. Um abraço pros amigos japoneses ... se dependesse somente de nossas gravadoras, talvez a música de Joyce estaria "escondida" assim como Fátima Guedes, Sueli Costa e tantas outras compositoras.

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  6. O estado de graça de Joyce é antigo. Desde Ilha Brasil é um disco bom atrás do outro. Difícil escolher o melhor, é nessa hora que precisamos agradecer aos 'gringos' sua descoberta porque os discos dela normalmente levam realmente um ano pra serem lançados no Brasil, o que é uma pena, mas ela continua ai brasileiríssima, pra quem gosta de uma música superior.

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  7. O canto e as cancoes de Joyce sao.....chatos, chatos, chatos.

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  8. O canto e as canções de Joyce são .... maravilhosos, maravilhosos, maravilhosos.

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  9. Que ótima noticia saber que esse disco chega agora no Brasil. Estou louco para ouvir mais uma pérola de uma de nossas maiores cantoras e compositoras. Esperamos que outros discos da Joyce também cheguem ao Brasil, por que não pela própria Biscoito Fino?

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