Mauro Ferreira no G1

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sábado, 8 de junho de 2013

Arantes expõe vigor de 'Condição humana' em cena entre hits e inéditas

Resenha de show
Título: Condição humana
Artista: Guilherme Arantes (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 7 de junho de 2013
Cotação: * * * * 1/2
Show em cartaz no Theatro Polytheama, em Jundiaí (SP), em 8 de junho de 2013

Alinhadas no roteiro dividido entre três grandes blocos, as 36 músicas autorais cantadas por Guilherme Arantes na estreia nacional do show Condição humana são mais do que suficientes para atestar a genialidade do compositor paulista na criação de cancioneiro que atravessa gerações e que já se impõe como uma das obras mais perenes e luminosas do pop nativo. Como Lulu Santos, Arantes é capaz de ficar mais de duas horas no palco cantando somente hits de dimensão nacional. Isso nem é novidade. O que diferencia Condição humana dos shows anteriores de Arantes - e faz do espetáculo um ponto culminante na trajetória do cantor nos palcos - é a aura que cerca o artista. Arantes revigorou sua discografia com o lançamento, em abril deste ano de 2013, de Condição humana (Sobre o tempo), álbum de inéditas que figura entre os melhores de sua obra. A saudação unânime ao CD deu impulso a Arantes para reproduzir no palco o vigor do disco. E ele consegue, escorado na pegada firme de banda que destaca as guitarras de Luiz Sérgio Carlini (ícone do rock brasileiro) e Alexandre Blanc. A presença destacada das guitarras nos arranjos dá peso ao show e impede a supremacia absoluta dos teclados pilotados por Arantes, mantendo em níveis aceitáveis o teor natural de glicose de algumas canções despudoradamente românticas do compositor. O único defeito do show foi a má equalização do som nas duas músicas iniciais do primeiro bloco, Condição humana (Guilherme Arantes, 2013) e Moldura do quadro roubado (Guilherme Arantes, 2013). Nesses números, a voz de Arantes soou abafada pelo som alto dos instrumentos, prejudicando o entendimentos dos versos. Erro corrigido, nada mais saiu dos trilhos. Com projeções bonitas e eficazes que serviram de moldura para as músicas, o show se revelou um dos mais completos da trajetória de Arantes em cena, merecendo registro em DVD pela pegada dos arranjos e pela abrangência do roteiro. Além de cantar todas as dez músicas do CD Condição humana (Sobre o tempo), reiterando a especial inspiração pop de Onde estava você? (Guilherme Arantes, 2013), o cantor revisitou as músicas mais relevantes da fase mais produtiva de sua carreira fonográfica. De textura progressiva, o primeiro bloco expôs a intimidade do artista com o gênero em músicas como Raça de heróis (Guilherme Arantes, 1989) - idealizada para ser tema da novela Que rei sou eu? (TV Globo, 1989) - e Amanhã (Guilherme Arantes, 1977). Revelado no grupo de rock Moto Perpétuo, na primeira metade dos anos 70, Guilherme Arantes fez parte do time de compositores que se "dedica à arte da música", para usar o termo dito em cena pelo próprio artista ao saudar os adeptos do rock progressivo. Basta lembrar que Arantes é o criador de pérolas como Êxtase (Guilherme Arantes, 1979), tema que dialoga com sons espaciais, criado durante a gestação de sua filha Marietta Vital, uma das vocalistas do show. A ida de Arantes para o piano para cantar a seminal Meu mundo e nada mais (Guilherme Arantes, 1976), ao fim do set progressivo, preparou o clima para o momento em que, a sós com seu piano, o compositor prioriza canções de amor explícito. Uma das mais belas de todas as safras, Muito diferente (Guilherme Arantes, 1989) abriu esse bloco solo em que saltou aos ouvidos a inspiração melódica do compositor. Inspiração que dera sinais de cansaço no álbum anterior Lótus (2007), lembrado com Blue moon para sempre (Guilherme Arantes, 2007) no roteiro de Condição humana, mas que ganhou injeção de ânimo, a julgar pelas atuais Oceano de amor (Guilherme Arantes, 2013) - entoada com a adição do violão de nylon de Alexandre Blanc - e Castelo do reino (Guilherme Arantes, 2013), balada de aura clássica. Nesse set individual, de roteiro mais flexível, Arantes ainda reavivou lado B de sua discografia - Baile de máscaras, música do álbum Ronda noturna (Som Livre, 1977) - e interpretou canções do quilate de Sob o efeito de um olhar (Guilherme Arantes, 1992), seu último grande sucesso popular, lançado no início da década em que a indústria da música passou a priorizar gêneros populares como pagode, axé e sertanejo. Ao encerrar o bloco com Um dia, um adeus (Guilherme Arantes), outra de suas memoráveis baladas, Arantes voltou a pilotar os dois teclados situados ao centro do palco. É a preparação de ambiente para a explosão pop do terceiro e último bloco do show. É quando o artista pôs o público no bolso ao dar voz a músicas como Lance legal (Guilherme Arantes, 1982) e  Planeta água (Guilherme Arantes, 1981), sucesso do MPB Shell 81, festival no qual Arantes também compareceu (na surdina) com Perdidos na selva, não creditada parceria com Júlio Barroso (1953 - 1984), também revivida no show Condição humana. Se Olhar estrangeiro (Guilherme Arantes, 2013) teve reproduzida no palco a levada folk do CD, com os violões de Carlini e Blanc, Cuide-se bem (Guilherme Arantes, 1976) ficou heavy no arranjo dominado por guitarras. Já Aprendendo a jogar (Guilherme Arantes, 1980) ganhou batida funkeada enquanto Coisas do Brasil (Guilherme Arantes e Nelson Motta, 1986) - encadeada em medley com outro tema de inspiração bossa-novista, Marina no ar (1987), também letrado por Nelson Motta - foi lembrada com emoção e com pegada à moda dos Doobie Brothers. Em tempo de contagiar o público que foi à casa Vivo Rio em 7 de junho de 2013, Loucas horas (Guilherme Arantes, 1986) reiterou o clima apoteótico desse final de show, turbinado com a entrada em cena do saxofonista George Israel para enfatizar o já irresistível toque pop de Cheia de charme (Guilherme Arantes), hit da fase tecnopop do artista. No fim, Deixa chover (Guilherme Arantes, 1981) provocou mais calor nesse fim de festa. Por isso mesmo, a balada O que se leva (Temor do tempo) (Guilherme Arantes, 2013) soou inadequada no início do bis. À espera de Lindo balão azul (Guilherme Arantes, 1982), o hit infantil amado por adultos de todas as idades que veio na sequência, o público nem ouviu direito essa canção transcendental em que Arantes ressalta a perenidade do amor que, em maior ou menor grau, pontua seu imortal cancioneiro pop. Como o amor, a obra de Guilherme Arantes está imune aos efeitos do tempo.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Alinhadas no roteiro dividido entre três grandes blocos, as 36 músicas autorais cantadas por Guilherme Arantes na estreia nacional do show Condição humana são mais do que suficientes para atestar a genialidade do compositor paulista na criação de cancioneiro que atravessa gerações e que já se impõe como uma das obras mais perenes e luminosas do pop nativo. Como Lulu Santos, Arantes é capaz de ficar mais de duas horas no palco cantando somente hits de dimensão nacional. Isso nem é novidade. O que diferencia Condição humana dos shows anteriores de Arantes - e faz do espetáculo um ponto culminante na trajetória do cantor nos palcos - é a aura que cerca o artista. Arantes revigorou sua discografia com o lançamento, em abril deste ano de 2013, de Condição humana (Sobre o tempo), álbum de inéditas que figura entre os melhores de sua obra. A saudação unânime ao CD deu impulso a Arantes para reproduzir no palco o vigor do disco. E ele consegue, escorado na pegada firme de banda que destaca as guitarras de Luiz Sérgio Carlini (ícone do rock brasileiro) e Alexandre Blanc. A presença destacada das guitarras nos arranjos dá peso ao show e impede a supremacia absoluta dos teclados pilotados por Arantes, mantendo em níveis aceitáveis o teor natural de glicose de algumas canções despudoradamente românticas do compositor. O único defeito do show foi a má equalização do som nas duas músicas iniciais do primeiro bloco, Condição humana (Guilherme Arantes, 2013) e Moldura do quadro roubado (Guilherme Arantes, 2013). Nesses números, a voz de Arantes soou abafada pelo som alto dos instrumentos, prejudicando o entendimentos dos versos. Erro corrigido, nada mais saiu dos trilhos. Com projeções bonitas e eficazes que serviram de moldura para as músicas, o show se revelou um dos mais completos da trajetória de Arantes em cena, merecendo registro em DVD pela pegada dos arranjos e pela abrangência do roteiro. Além de cantar todas as dez músicas do CD Condição humana (Sobre o tempo), reiterando a especial inspiração pop de Onde estava você? (Guilherme Arantes, 2013), o cantor revisitou as músicas mais relevantes da fase mais produtiva de sua carreira fonográfica. De textura progressiva, o primeiro bloco expôs a intimidade do artista com o gênero em músicas como Raça de heróis (Guilherme Arantes, 1989) - idealizada para ser tema da novela Que rei sou eu? (TV Globo, 1989) - e Amanhã (Guilherme Arantes, 1977). Revelado no grupo de rock Moto Perpétuo, na primeira metade dos anos 70, Guilherme Arantes fez parte do time de compositores que se "dedica à arte da música", para usar o termo dito em cena pelo próprio artista ao saudar os adeptos do rock progressivo. Basta lembrar que Arantes é o criador de pérolas como Êxtase (Guilherme Arantes, 1979), tema que dialoga com sons espaciais, criado durante a gestação de sua filha Marietta Vital, uma das vocalistas do show. A ida de Arantes para o piano para cantar a seminal Meu mundo e nada mais (Guilherme Arantes, 1976), ao fim do set progressivo, preparou o clima para o momento em que, a sós com seu piano, o compositor prioriza canções de amor explícito.

Mauro Ferreira disse...

Uma das mais belas de todas as safras, Muito diferente (Guilherme Arantes, 1989) abriu esse bloco solo em que saltou aos ouvidos a inspiração melódica do compositor. Inspiração que dera sinais de cansaço no álbum anterior Lótus (2007), lembrado com Blue moon para sempre (Guilherme Arantes, 2007) no roteiro de Condição humana, mas que ganhou injeção de ânimo, a julgar pelas atuais Oceano de amor (Guilherme Arantes, 2013) - entoada com a adição do violão de nylon de Alexandre Blanc - e Castelo do reino (Guilherme Arantes, 2013), balada de aura clássica. Nesse set individual, de roteiro mais flexível, Arantes ainda reavivou lado B de sua discografia - Baile de máscaras, música do álbum Ronda noturna (Som Livre, 1977) - e interpretou canções do quilate de Sob o efeito de um olhar (Guilherme Arantes, 1992), seu último grande sucesso popular, lançado no início da década em que a indústria da música passou a priorizar gêneros populares como pagode, axé e sertanejo. Ao encerrar o bloco com Um dia, um adeus (Guilherme Arantes), outra de suas memoráveis baladas, Arantes voltou a pilotar os dois teclados situados ao centro do palco. É a preparação de ambiente para a explosão pop do terceiro e último bloco do show. É quando o artista pôs o público no bolso ao dar voz a músicas como Lance legal (Guilherme Arantes, 1982) e Planeta água (Guilherme Arantes, 1981), sucesso do MPB Shell 81, festival no qual Arantes também compareceu (na surdina) com Perdidos na selva, não creditada parceria com Júlio Barroso (1953 - 1984), também revivida no show Condição humana. Se Olhar estrangeiro (Guilherme Arantes, 2013) teve reproduzida no palco a levada folk do CD, com os violões de Carlini e Blanc, Cuide-se bem (Guilherme Arantes, 1976) ficou heavy no arranjo dominado por guitarras. Já Aprendendo a jogar (Guilherme Arantes, 1980) ganhou batida funkeada enquanto Coisas do Brasil (Guilherme Arantes e Nelson Motta, 1986) - encadeada em medley com outro tema de inspiração bossa-novista, Marina no ar (1987), também letrado por Nelson Motta - foi lembrada com emoção e com pegada à moda dos Doobie Brothers. Em tempo de contagiar o público que foi à casa Vivo Rio em 7 de junho de 2013, Loucas horas (Guilherme Arantes, 1986) reiterou o clima apoteótico desse final de show, turbinado com a entrada em cena do saxofonista George Israel para enfatizar o já irresistível toque pop de Cheia de charme (Guilherme Arantes), hit da fase tecnopop do artista. No fim, Deixa chover (Guilherme Arantes, 1981) provocou mais calor nesse fim de festa. Por isso mesmo, a balada O que se leva (Temor do tempo) (Guilherme Arantes, 2013) soou inadequada no início do bis. À espera de Lindo balão azul (Guilherme Arantes, 1982), o hit infantil amado por adultos de todas as idades que veio na sequência, o público nem ouviu direito essa canção transcendental em que Arantes ressalta a perenidade do amor que, em maior ou menor grau, pontua seu imortal cancioneiro pop. Como o amor, a obra de Guilherme Arantes está imune aos efeitos do tempo.

Silvio Atanes disse...

Tem toda a razão. Foi isso mesmo, eu estava lá, sentei perto de você. Abs. Silvio Atanes.