Título: Piano e voz
Artista: Zeca Baleiro (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Bradesco (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 14 de junho de 2013
Cotação: * * * *
Piano e voz - o recital que Zeca Baleiro está apresentando pelo Brasil e que já planeja registrar em DVD - remete a Líricas, disco e show de caráter mais introspectivo feitos pelo cantor e compositor maranhense em 2000. Intérprete sagaz de obras alheias, como Esotérico (Gilberto Gil, 1976) e o choro Espinha de bacalhau (Severino Araújo, 1937), Baleiro funciona bem nesse tipo de show mais interiorizado. De todo modo, se quisesse, o cantor nem precisaria recorrer a cancioneiros alheios. Seu já vasto repertório autoral tem várias canções que se adequam a esse formato mais introspectivo. Fiz esta canção (Zeca Baleiro e Mathilda Kovak, 2002) e Flores no asfalto (Zeca Baleiro, 2005) - revivida de forma sedutora com citação de Você (1971), pungente balada soul do cantor e compositor carioca Tim Maia (1942 - 1998) - são dois lados Z de Baleiro que ganham nuances e vida em Piano e voz. A propósito, o título Piano e voz é enganador. Companheiro de Baleiro em cena, Adriano Magoo se reveza entre piano, sintetizadores, samplers e até o acordeom que dá o tom de números como Disritmia (Martinho da Vila, 1974). O próprio Baleiro lança mão de violões eletroacústicos ao longo do roteiro no qual apresenta duas inéditas autorais, Tarde de chuva e Tomie Othake, com destaque para a lírica Tarde de chuva, canção que abre o recital e na qual Baleiro se acompanha bissextamente ao piano. O "pianista de verdade" - como Baleiro saúda Adriano Magoo - entra em cena a partir de Não adianta (Sérgio Sampaio, 1972), música que reitera a compreensão precisa que o artista maranhense tem da obra do capixaba Sérgio Sampaio (1947 - 1994), um dos cantores e compositores jogados na vala dos malditos da MPB dos anos 70 por desafinar o coro da indústria do disco. Outro número que aponta o brilho luminoso de Baleiro como intérprete, a canção Dia branco (Geraldo Azevedo e Renato Rocha, 1981) é linkada no roteiro com Paralelas (Belchior, 1975). Turbinada com efeitos e beatbox, Me deixa em paz (Monsueto e Airton Amorim, 1951) eleva o show às alturas pela riqueza de timbres. O tom cavernoso adotado pelo cantor em Uma canção no rádio (Filme antigo) (Zeca Baleiro e Fagner, 2009) é outro elemento inusitado do show. A sonoridade inventiva extraída da junção dos teclados com as cordas e com a voz impede que Piano e voz se torne recital banal. Nessa refinada atmosfera camerística, Calma aí, coração (Zeca Baleiro e Hyldon) ganha vida ao ser jogada fora da praia do reggae, ritmo da gravação original do álbum O disco do ano (2012). Nem a lembrança de hits inevitáveis, como Babylon (Zeca Baleiro, 2000) e Telegrama (Zeca Baleiro, 2002), faz com que o show soe trivial, pois os arranjos são novos. O único ponto destoante de Piano e voz é a Suíte do quelemeu (temas folclóricos recolhidos por Tavinho Moura), número de linguagem chula inadequada para o ambiente. Que exige respeito por conta da riqueza das sonoridades e interpretações extraídas do piano, dos sintetizadores, dos violões, do acordeom e da voz por Baleiro e Magoo, o pianista de verdade que se junta a um cantor de verdade neste show surpreendente em sua aparente simplicidade. Merece virar DVD.
Um comentário:
Piano e voz - o recital que Zeca Baleiro está apresentando pelo Brasil e que já planeja registrar em DVD - remete a Líricas, disco e show de caráter mais introspectivo feitos pelo cantor e compositor maranhense em 2000. Intérprete sagaz de obras alheias, como Esotérico (Gilberto Gil, 1976) e o choro Espinha de bacalhau (Severino Araújo, 1937), Baleiro funciona bem nesse tipo de show mais interiorizado. De todo modo, se quisesse, o cantor nem precisaria recorrer a cancioneiros alheios. Seu já vasto repertório autoral tem várias canções que se adequam a esse formato mais introspectivo. Fiz esta canção (Zeca Baleiro e Mathilda Kovak, 2002) e Flores no asfalto (Zeca Baleiro, 2005) - revivida de forma sedutora com citação de Você (1971), pungente balada soul do cantor e compositor carioca Tim Maia (1942 - 1998) - são dois lados Z de Baleiro que ganham nuances e vida em Piano e voz. A propósito, o título Piano e voz é enganador. Companheiro de Baleiro em cena, Adriano Magoo se reveza entre piano, sintetizadores, samplers e até o acordeom que dá o tom de números como Disritmia (Martinho da Vila, 1974). O próprio Baleiro lança mão de violões eletroacústicos ao longo do roteiro no qual apresenta duas inéditas autorais, Tarde de chuva e Tomie Othake, com destaque para a lírica Tarde de chuva, canção que abre o recital e na qual Baleiro se acompanha bissextamente ao piano. O "pianista de verdade" - como Baleiro saúda Adriano Magoo - entra em cena a partir de Não adianta (Sérgio Sampaio, 1972), música que reitera a compreensão precisa que o artista maranhense tem da obra do capixaba Sérgio Sampaio (1947 - 1994), um dos cantores e compositores jogados na vala dos malditos da MPB dos anos 70 por desafinar o coro da indústria do disco. Outro número que aponta o brilho luminoso de Baleiro como intérprete, a canção Dia branco (Geraldo Azevedo e Renato Rocha, 1981) é linkada no roteiro com Paralelas (Belchior, 1975). Turbinada com efeitos e beatbox, Me deixa em paz (Monsueto e Airton Amorim, 1951) eleva o show às alturas pela riqueza de timbres. O tom cavernoso adotado pelo cantor em Uma canção no rádio (Filme antigo) (Zeca Baleiro e Fagner, 2009) é outro elemento inusitado do show. A sonoridade inventiva extraída da junção dos teclados com as cordas e com a voz impede que Piano e voz se torne recital banal. Nessa refinada atmosfera camerística, Calma aí, coração (Zeca Baleiro e Hyldon) ganha vida ao ser jogada fora da praia do reggae, ritmo da gravação original do álbum O disco do ano (2012). Nem a lembrança de hits inevitáveis, como Babylon (Zeca Baleiro, 2000) e Telegrama (Zeca Baleiro, 2002), faz com que o show soe trivial, pois os arranjos são novos. O único ponto destoante de Piano e voz é a Suíte do quelemeu (temas folclóricos recolhidos por Tavinho Moura), número de linguagem chula inadequada para o ambiente. Que exige respeito por conta da riqueza das sonoridades e interpretações extraídas do piano, dos sintetizadores, dos violões, do acordeom e da voz por Baleiro e Magoo, o pianista de verdade que se junta a um cantor de verdade neste show surpreendente em sua aparente simplicidade. Merece virar DVD.
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