sábado, 1 de junho de 2013

Com frescor, disco 'Lulu canta & toca Roberto e Erasmo' é manjar de reis

Resenha de CD
Título: Lulu canta & toca Roberto e Erasmo
Artista: Lulu Santos
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * * 1/2

Todas as 13 músicas dos repertórios de Roberto Carlos e Erasmo Carlos selecionadas por Lulu Santos para seu 24º álbum já têm gravações definitivas dos dois cantores e compositores que, nos anos 60, estiveram à frente do movimento pop rotulado como Jovem Guarda. Por isso mesmo, em tese era grande o risco de o CD Lulu canta & toca Roberto e Erasmo resultar em mero projeto de covers. Contudo, como Lulu já mostrara no show do Circuito Cultural Banco do Brasil que originou o disco, Lulu Santos interpreta Roberto Carlos e Erasmo Carlos (2011), a abordagem é feita com tanto frescor e com tanta personalidade que o álbum se impõe instantaneamente como um dos melhores da discografia do rei do pop nacional. A cargo do próprio Lulu, a direção musical e os arranjos do disco inserem outros elementos nas canções da dupla - em geral, toques de blues e de rhythm and blues, perceptíveis em Minha fama de mau (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965), Sou uma criança, não entendo nada (Erasmo Carlos e Ghiaroni, 1974) e Festa de arromba (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965) - sem jamais desmontar a estrutura melódica dessas composições de arquitetura perfeita. Rock e blues se misturam em Quando (Roberto Carlos, 1967) em conceito engenhoso, pois o rock é, grosso modo, produto da fusão da música country com o r & b. Ao abordar repertório perene que fala de carros, estradas e corações partidos, Lulu sabiamente também pega a rota do soul. É na direção do soul que caminha As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) ao abrir o disco em gravação pontuada por metais. Como o soul desembocou no funk, faz sentido também a levada funkeada de Não vou ficar (Tim Maia, 1969) - faixa gravada por Lulu com o cantor carioca Marquinho O Sócio, frequentador dos bailes blacks do Rio de Janeiro (RJ) projetado no programa The Voice Brasil - que ecoa em Você não serve pra mim (Renato Barros, 1967), tema pontuado pelos falsetes do convidado Jorge Aílton (baixista da banda que inclui o baterista Chocolate e o tecladista Hiroshi Mizutani). Diante de tanto frescor, detectado também no canto falado adotado por Lulu em algumas passagens de Se você pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968), a abordagem de Sentado à beira do caminho (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) resulta até trivial por vir sem a centelha de criatividade que há, por exemplo, em Eu te darei o céu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1966), canção jogada na praia do reggae. Como já sinalizara o suave single Como é grande o meu amor por você (Roberto Carlos, 1967), Lulu soube tratar o cancioneiro de Roberto e Erasmo com fineza. Pena que a seleção de repertório peque ao incluir duas músicas - É preciso saber viver (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) e o fox Emoções (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) - que destoam do universo jovial da fase em que os dois compositores eram os reis da juventude brasileira. Até porque, no roteiro original do show que inspirou o disco, havia músicas de maior sintonia com o espírito da festa de arromba, caso de Vem quente que eu estou fervendo (Carlos Imperial e Eduardo Araújo, 1967). Mas esse detalhe tão pequeno não macula a grandeza de um CD que é fina iguaria. Um manjar de reis!!

14 comentários:

  1. Todas as 13 músicas dos repertórios de Roberto Carlos e Erasmo Carlos selecionadas por Lulu Santos para seu 24º álbum já têm gravações definitivas dos dois cantores e compositores que, nos anos 60, estiveram à frente do movimento pop rotulado como Jovem Guarda. Por isso mesmo, em tese era grande o risco de o CD Lulu canta & toca Roberto e Erasmo resultar em mero projeto de covers. Contudo, como Lulu já mostrara no show do Circuito Cultural Banco do Brasil que originou o disco, Lulu Santos interpreta Roberto Carlos e Erasmo Carlos (2011), a abordagem é feita com tanto frescor e com tanta personalidade que o álbum se impõe instantaneamente como um dos melhores da discografia do rei do pop nacional. A cargo do próprio Lulu, a direção musical e os arranjos do disco inserem outros elementos nas canções da dupla - em geral, toques de blues e de rhythm and blues, perceptíveis em Minha fama de mau (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965), Sou uma criança, não entendo nada (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974) e Festa de arromba (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965) - sem jamais desmontar a estrutura melódica dessas composições de arquitetura perfeita. Rock e blues se misturam em Quando (Roberto Carlos, 1967) em conceito engenhoso, pois o rock é, grosso modo, produto da fusão da música country com o r & b. Ao abordar repertório perene que fala de carros, estradas e corações partidos, Lulu sabiamente também pega a rota do soul. É na direção do soul que caminha As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) ao abrir o disco em gravação pontuada por metais. Como o soul desembocou no funk, faz sentido também a levada funkeada de Não vou ficar (Tim Maia, 1969) - faixa gravada por Lulu com o cantor carioca Marquinho O Sócio, frequentador dos bailes blacks do Rio de Janeiro (RJ) projetado no programa The Voice Brasil - que ecoa em Você não serve pra mim (Renato Barros, 1967), tema pontuado pelos falsetes do convidado Jorge Aílton (baixista da banda que inclui o baterista Chocolate e o tecladista Hiroshi Mizutani). Diante de tanto frescor, detectado também no canto falado adotado por Lulu em algumas passagens de Se você pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968), a abordagem de Sentado à beira do caminho (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) resulta até trivial por vir sem a centelha de criatividade que há, por exemplo, em Eu te darei o céu (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1966), canção jogada na praia do reggae. Como já sinalizara o suave single Como é grande o meu amor por você (Roberto Carlos, 1967), Lulu soube tratar o cancioneiro de Roberto e Erasmo com fineza. Pena que a seleção de repertório peque ao incluir duas músicas - É preciso saber viver (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974) e o fox Emoções (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) - que destoam do universo jovial da fase em que os dois compositores eram os reis da juventude brasileira. Até porque, no roteiro original do show que inspirou o disco, havia músicas de maior sintonia com o espírito da festa de arromba, caso de Vem quente que eu estou fervendo (Carlos Imperial e Eduardo Araújo, 1967). Mas esse detalhe tão pequeno não macula a grandeza de um CD que é fina iguaria. Um manjar de reis!!

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  2. Algumas observações:

    - Sou uma Criança... não é de Roberto e Erasmo, e sim melodia de Erasmo sobre poema de Ghiaroni.

    - É Preciso Saber Viver foi cantada pelo trio Roberto, Erasmo e Wanderléa no filme 'Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa', de 1969, logo não é uma composição de 1974

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  3. Tem razão, Fábio. Grato pelos toques. Já consertei o crédito da faixa do Ghiaroni. Abs, MauroF

    p.s.: o ano da música se refere ao ano em que ela foi gravada pela primeira vez em disco.

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  4. OK Mauro, de fato, em 1969 a canção não saiu em disco porque Roberto e Wanderléa eram da CBS, e Erasmo da RGE, e não houve acordo então entre as companhias.

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  5. O fim desse aí agora é fugir do pop, buscar trabalhos alternativos; natural até porque está velho.

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  6. A primeira gravação de É Preciso Saber Viver,com a letra integral, foi realizada em 1968 pela dupla Os Vips, lançada na série "As 14 Mais" Vol.22.

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  7. Taí: não sei dizer o que achei do disco.

    Gostei exatamente do fato de Lulu ter ido por um caminho diferente do já traçado nas versões originais. A versão de "Como é grande o meu amor por você" ficou bem desencanada - afinal, seria difícil alcançar a inigualável meiguice da versão original.

    (Parêntese: "Como é grande..." talvez seja a grande mostra da maior qualidade da dupla Roberto & Erasmo: dizer coisas indizíveis do modo mais simples possível)

    Voltando a Lulu: "Sou uma criança, não entendo nada" (introduzida por "Influência do blues", boa vinheta) até ficou bacaninha, mas... meio estranha, distante do tom melancólico da letra.

    Enfim, entre marchas e contramarchas, um disco que mostra: Lulu tem bala na agulha. Quem diria, a essas alturas do campeonato, que o homem estaria por cima da carne seca, hein?

    Felipe dos Santos Souza

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  8. Tem razão, André. Desconhecia essa gravação, mas fui pesquisar e - sim - ela existe. Abs, MauroF

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  9. Nunca consegui ouvir esse rapaz cantar uma música inteira. Achava impossível que conseguiria ser pior.

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  10. Pra você ver: o que pra uns é manjar de reis, pra outros ( eu, inclusive) é um festival de mais do mesmo. Achei ultraprevisível, do começo ao fim. E não tenho antipatia alguma por Lulu, muito pelo contrário: eu apenas esperava mais... quem mandou eu criar expectativa com tanto bicho pra criar, quem mandou?? rsrsrs

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  11. Creio que a idade é o que menos importa nesse projeto.
    Gal e Caetano fizeram ótimos trabalhos e, também, já estão na terceira idade, assim como, o próprio RC, que deu uma guinada em sua carreira, o ano passado.

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  12. Mauro;

    Concordo contigo sobre "resumo final" do CD. Os arranjos ficaram 'bacanas" pra que gosta e aprecia o trabalho de Lulu.

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  13. Mauro,

    Concordo contigo sobre o "resumo final" do CD. Os arranjos ficaram bons...para que gosta e acompanha o trabalho Lulu.

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  14. Até hoje, ninguém conseguiu cantar Roberto Carlos de forma convincente nesses projetos conceituais, nem mesmo a encantadora Nara Leão ou a dramática Maria Bethânia. De vez em quando, surge uma gravação interessante do repertório dele, por exemplo "Olha", com Gal Costa, "As canções que você fez pra mim", com Evinha, ou "Mané João", com Wanderléa. Mas disco-tributo é, quase sempre, missão difícil ou impossível. Uma exceção que fugiu à regra é Chet Baker no chapante álbum "Baker´s Holiday", dedicado a Billie.

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