domingo, 23 de junho de 2013

'Passo Elétrico' levanta poeira e angústias de Sampa com crueza do rock

Resenha de CD
Título: Passo elétrico
Artista: Passo Torto
Gravadora: YB Music
Cotação: * * * 1/2

"Helena, os prédios tem micose / Helena, os prédios tem varizes / .../ E a cidade é um rádio por dentro", diagnosticam versos de Helena (Rodrigo Campos e Kiko Dinucci), destaque entre as 12 músicas autorais de Passo elétrico, o segundo disco do Passo Torto, o quarteto paulistano formado por Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos e Romulo Fróes. A cidade, claro, é São Paulo (SP), metrópole que inspira as letras do grupo, tal como no primeiro CD, Passo Torto (YB Music / Phonobase, 2011). Não é à toa que as capas dos dois discos dialogam pela estética, sinalizando que o som do quarteto se desenvolve em moto contínuo. No caso, a energia atualmente gerada pelo movimento é a do rock. Peça-chave na formatação de músicas como Símbolo sexual (Romulo Fróes e Kiko Dinucci) e Passarinho esquisito (Romulo Fróes e Rodrigo Campos), a crueza do rock de Passo elétrico contrasta com os climas acústicos de Passo Torto - disco que gravitava em torno do universo do samba - e põe em inevitável primeiro plano as guitarras de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos (cujo cavaquinho é sintomaticamente turbinado com efeitos). Contudo, a eletricidade de Sampa é o elo forte entre os dois discos. Nas letras tensas de Passo Elétrico, o quarteto levanta a poeira da vida angustiada da cinzenta São Paulo, retratada como um buraco negro existencial. "Avistei / A cidade te engolir / Eh! Eh! / Devorar / O que você tem", relatam versos de O Buraco (Marcelo Cabral e Kiko Dinucci). "Demoliram até meu coração", lamenta o cantor de A cidade cai (Kiko Dinucci e Romulo Fróes). Contudo, pode haver poesia e até beleza na solidão, como sinaliza Homem só (Romulo Fróes e Rodrigo Campos). Curiosamente, ao fim do disco, após temas crus como A não ser que me ame (Romulo Fróes e Rodrigo Campos) e Adeus (Rodrigo Campos e Romulo Fróes), entra um samba, Rarárá (Kiko Dunucci e Rodrigo Campos), que destila certa ironia e humor negro como defesa face à demolição do Homem na selva das cidades. "Desculpe a dignidade / De lhe dizer certas atrocidades / Mas essa é a minha maior qualidade", argumentam versos do samba que poderia figurar no álbum Passo Torto, evidenciando que, em sua tortuosidade melódica, o quarteto já vem acertando o passo de seu som, ora elétrico.

2 comentários:

  1. "Helena, os prédios tem micose / Helena, os prédios tem varizes / .../ E a cidade é um rádio por dentro", diagnosticam versos de Helena (Rodrigo Campos e Kiko Dinucci), destaque entre as 12 músicas autorais de Passo elétrico, o segundo disco do Passo Torto, o quarteto paulistano formado por Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos e Romulo Fróes. A cidade, claro, é São Paulo (SP), metrópole que inspira as letras do grupo, tal como no primeiro CD, Passo Torto (YB Music / Phonobase, 2011). Não é à toa que as capas dos dois discos dialogam pela estética, sinalizando que o som do quarteto se desenvolve em moto contínuo. No caso, a energia atualmente gerada pelo movimento é a do rock. Peça-chave na formatação de músicas como Símbolo sexual (Romulo Fróes e Kiko Dinucci) e Passarinho esquisito (Romulo Fróes e Rodrigo Campos), a crueza do rock de Passo elétrico contrasta com os climas acústicos de Passo Torto - disco que gravitava em torno do universo do samba - e põe em inevitável primeiro plano as guitarras de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos (cujo cavaquinho é sintomaticamente turbinado com efeitos). Contudo, a eletricidade de Sampa é o elo forte entre os dois discos. Nas letras tensas de Passo Elétrico, o quarteto levanta a poeira da vida angustiada da cinzenta São Paulo, retratada como um buraco negro existencial. "Avistei / A cidade te engolir / Eh! Eh! / Devorar / O que você tem", relatam versos de O Buraco (Marcelo Cabral e Kiko Dinucci). "Demoliram até meu coração", lamenta o cantor de A cidade cai (Kiko Dinucci e Romulo Fróes). Contudo, pode haver poesia e até beleza na solidão, como sinaliza Homem só (Romulo Fróes e Rodrigo Campos). Curiosamente, ao fim do disco, após temas crus como A não ser que me ame (Romulo Fróes e Rodrigo Campos) e Adeus (Rodrigo Campos e Romulo Fróes), entra um samba, Rarárá (Kiko Dunucci e Rodrigo Campos), que destila certa ironia e humor negro como defesa face à demolição do Homem na selva das cidades. "Desculpe a dignidade / De lhe dizer certas atrocidades / Mas essa é a minha maior qualidade", argumentam versos do samba que poderia figurar no álbum Passo Torto, evidenciando que, em sua tortuosidade melódica, o quarteto já vem acertando o passo de seu som, ora elétrico.

    ResponderExcluir
  2. Passo elétrico é melhor que o Passo torto,

    ResponderExcluir

Este é um espaço democrático para a emissão de opiniões, sobretudo as divergentes. Contudo, qualquer comentário feito com agressividade ou ofensas - dirigidas a mim, aos artistas ou aos leitores do blog - será recusado. Grato pela participação, Mauro Ferreira

P.S.: Para comentar, é preciso ter um gmail ou qualquer outra conta do google.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.