Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 12 de julho de 2013

De volta em CD e vinil, 'Carlos, Erasmo...' continua um tremendo álbum

Resenha de reedições em CD e vinil
Título: Carlos, Erasmo...
Artista: Erasmo Carlos
Gravadora: Universal Music (CD) e Polysom (vinil)
Cotação: * * * * *

Por saborosa coincidência fonográfica, um dos títulos clássicos da discografia de Erasmo Carlos, Carlos, Erasmo... (1971), ganha simultâneas reedições em CD e em vinil, postas recentemente nas lojas. Menos atrativa para colecionadores de discos pelo fato de o álbum já ter sido relançado com capricho em formato digital na caixa Mesmo que seja eu (2002), a reedição em CD está embalada no box Três tons de Erasmo Carlos, produzida pelo jornalista pernambucano Cleodon Coelho para a gravadora Universal Music com reedições de outros dois álbuns do artista carioca, Sonhos e memórias (1941 - 1972) (1972) e Banda dos contentes (1976). Já a reedição em vinil de 180 gramas - fabricada pela Polysom na série Clássicos em vinil - vai deliciar os amantes dos velhos LPs por conta do som espetacular obtido com a alta qualidade da prensagem e pelo fato de a remasterização ter sido feita a partir das fitas originais. Em qualquer formato, Carlos, Erasmo... ainda é um tremendo álbum que resiste bem ao tempo. Trata-se do disco que apontou um caminho para o Tremendão após o término da Jovem Guarda. Até então, Erasmo estava sentado à beira desse caminho, sem rumo na vida profissional. A rigor, a levantada fora em 1970 com a gravação do samba-rock Coqueiro verde, lançado em compacto e incluído no sexto álbum do artista, Erasmo Carlos e os Tremendões (1970). Carlos, Erasmo... sedimentou a virada com repertório inspirado que combinou doses exatas de samba-rock (De noite na cama, presente de Caetano Veloso, mandado do exílio em Londres), soul (Ciça, Cecília, parceria de Erasmo com Roberto Carlos propagada na trilha sonora da novela A próxima atração e ouvida no disco em majestoso arranjo orquestrado por Arthur Verocai), funk (Mundo deserto, outra parceria de Roberto e Erasmo, arranjada com exuberância pelo maestro Chiquinho de Moraes), rock (Dois perdidos na selva suja da rua, da lavra inspirada de Taiguara) e baladas como Gente aberta (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), Não te quero santa (Sérgio Fayne, Vitor Martins e Saulo Nunes) e Masculino, feminino (Homero Moutinho Filho) - esta gravada com Marisa Fossa, cantora revelada como vocalista do psicodélico grupo gaúcho O Bando. A propósito, há também em Carlos, Erasmo ecos da psicodelia da década de 60 em letras e sons de faixas como Sodoma e GomorraMaria Joana - dois exemplos de como o cancioneiro de Roberto e Erasmo na época soava moderno, antenado e até ousado como neste segundo tema que aludia à maconha em versos de duplo sentido que tornaram cult a faixa arranjada pelo maestro carioca Rogério Duprat (1932 - 2006) - e Agora ninguém mais chora (Jorge Ben Jor), regravação da música de 1965 que encerra o quarto álbum do Zé Pretinho, Big ben (Philips, 1965). Decorridos 42 anos de seu lançamento original, Carlos, Erasmo... é um disco que soa cada vez mais clássico porque também captou o espírito de sua época. Havia uma perplexidade no ar do Brasil naqueles anos de chumbo. Uma certa impotência diante de fatos inexoráveis imobilizava o cidadão mais consciente. E esse grito parado no ar ressoa, de certa forma, em versos das músicas 26 anos de vida normal (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) - faixa orquestrada por Rogério Duprat com sua habitual inventividade - e É preciso dar um jeito, meu amigo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos). Enfim, Carlos, Erasmo acordou o Brasil para o fato de que o gigante gentil Erasmo Carlos tinha muito a dizer naquela fase pós-Jovem Guarda e deu rumo definitivo para o artista, que então seguiu a sua própria trilha. E nunca mais sentou à beira do caminho.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Por saborosa coincidência fonográfica, um dos títulos clássicos da discografia de Erasmo Carlos, Carlos, Erasmo... (1971), ganha simultâneas reedições em CD e em vinil, postas recentemente nas lojas. Menos atrativa para colecionadores de discos pelo fato de o álbum já ter sido relançado com capricho em formato digital na caixa Mesmo que seja eu (2002), a reedição em CD está embalada no box Três tons de Erasmo Carlos, produzida pelo jornalista pernambucano Cleodon Coelho para a gravadora Universal Music com reedições de outros dois álbuns do artista carioca, Sonhos e memórias (1941 - 1972) (1972) e Banda dos contentes (1976). Já a reedição em vinil de 180 gramas - fabricada pela Polysom na série Clássicos em vinil - vai deliciar os amantes dos velhos LPs por conta do som espetacular obtido com a alta qualidade da prensagem e pelo fato de a remasterização ter sido feita a partir das fitas originais. Em qualquer formato, Carlos, Erasmo... ainda é um tremendo álbum que resiste bem ao tempo. Trata-se do disco que apontou um caminho para o Tremendão após o término da Jovem Guarda. Até então, Erasmo estava sentado à beira desse caminho, sem rumo na vida profissional. A rigor, a levantada fora em 1970 com a gravação do samba-rock Coqueiro verde, lançado em compacto e incluído no sexto álbum do artista, Erasmo Carlos e os Tremendões (1970). Carlos, Erasmo... sedimentou a virada com repertório inspirado que combinou doses exatas de samba-rock (De noite da cama, presente de Caetano Veloso, mandado do exílio em Londres), soul (Ciça, Cecília, parceria de Erasmo com Roberto Carlos propagada na trilha sonora da novela A próxima atração e ouvida no disco em majestoso arranjo orquestrado por Arthur Verocai), funk (Mundo deserto, outra parceria de Roberto e Erasmo, arranjada com exuberância pelo maestro Chiquinho de Moraes), rock (Dois perdidos na selva suja da rua, da lavra inspirada de Taiguara) e baladas como Gente aberta (Roberto Carlos e Erasmo Carlos), Não te quero santa (Sérgio Fayne, Vitor Martins e Saulo Nunes) e Masculino, feminino (Homero Moutinho Filho) - esta gravada com Marisa Fossa, cantora revelada como vocalista do psicodélico grupo gaúcho O Bando. A propósito, há também em Carlos, Erasmo ecos da psicodelia da década de 60 em letras e sons de faixas como Sodoma e Gomorra, Maria Joana - dois exemplos de como o cancioneiro de Roberto e Erasmo na época soava moderno, antenado e até ousado como neste segundo tema que aludia à maconha em versos de duplo sentido que tornaram cult a faixa arranjada pelo maestro carioca Rogério Duprat (1932 - 2006) - e Agora ninguém mais chora (Jorge Ben Jor), regravação da música de 1965 que encerra o quarto álbum do Zé Pretinho, Big ben (Philips, 1965). Decorridos 42 anos de seu lançamento original, Carlos, Erasmo... é um disco que soa cada vez mais clássico porque também captou o espírito de sua época. Havia uma perplexidade no ar do Brasil naqueles anos de chumbo. Uma certa impotência diante de fatos inexoráveis imobilizava o cidadão mais consciente. E esse grito parado no ar ressoa, de certa forma, em versos das músicas 26 anos de vida normal (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) - faixa orquestrada por Rogério Duprat com sua habitual inventividade - e É preciso dar um jeito, meu amigo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos). Enfim, Carlos, Erasmo acordou o Brasil para o fato de que o gigante gentil Erasmo Carlos tinha muito a dizer naquela fase pós-Jovem Guarda e deu rumo definitivo para o artista, que então seguiu a sua própria trilha. E nunca mais sentou à beira do caminho.

Maria disse...

Erasmo é legal. Me simpatizo bem mais por ele do que pelo seu amigo e parceiro Roberto Carlos.

Anônimo disse...

Ouça o Robertão do final dos anos sessenta e começo dos setenta, Maria.
É o filé dele.
Assim como esses discos do Erasmo dos anos 70 são o seu filé.
Por isso não acho que o Box seja menos atrativo, não mesmo!, que o vinil.
No box tem o excelente "Sonhos e Memórias" e o ótimo "A Banda dos Contentes".
No mais, lamento o Tremendão não dá mais ênfase a essa fase de sua carreira.
Fica sempre marcando presença com as baboseiras dos anos 80 - Pega na Mentira, Dá um Close Nela...
Porém, tem o mérito de não deitar em berço esplêndido, como seu parceiro mais famoso.

Unknown disse...

Erasmo Carlos sempre procurou se superar e fez discos memoráveis. Esse "Carlos, Erasmo..." é bárbaro, isso sem contar nos arranjos potentes e bem construídos pelo grande Chiquinho de Moraes, que hoje em dia está sumido, nem sequer aprece notícias dele. Uma pena pra quem pôs a mão em inúmeros clássicos da música brasileira. E Erasmo, sempre que pode faz coisas novas e diferentes.

Maria disse...

Zé, em relação a Roberto Carlos é aquele negócio: O santo não bate entende? pois bem.

Eduardo disse...

Os trabalhos em que o jornalista Cleodon Coelho está envolvido são sempre sinônimo da pesquisa mais apurada e refinada.

KL disse...

Sem uma boa melodia, é difícil emplacar uma boa letra, mas, ainda assim, acontece, e o exemplo maior é Caetano Veloso. Mas, sem uma boa letra, é muito raro haver uma boa canção. Por isso, sem Erasmo, podemos dizer - sem medo de errar - que não haveria Roberto Carlos. E isso não é pouco.

maroca disse...

Augusto Flávio (Petrolina-Pe/Juazeiro-Ba)

De noite na cama, e não De noite da cama.

Mauro Ferreira disse...

Grato, Augusto. Já consertei o nome da música. Abs, MauroF

ADEMAR AMANCIO disse...

Algumas pessoas diziam que as músicas mais inteligentes ficavam pro Erasmo gravar,e as...

ADEMAR AMANCIO disse...

KL,pra mim, música é a massa sonora,a voz aliada ao arranjo.A letra é só um complemento. É claro que é só uma opinião.Me parece que no caso do Roberto e Erasmo,os dois compõem música e letra.