Título: Mais amor
Artista: Diogo Nogueira
Gravadora: EMI Music
Cotação: * *
Discos anteriores de Diogo Nogueira puseram o cantor e compositor carioca na corda bamba, se equilibrando (mal) entre o pagode romântico e o samba de boa estirpe, gênero no qual seu pai João Nogueira (1941-2000) foi rei. Em Mais amor, quinto título da discografia de Diogo, o sambista-galã cai de vez no pagode romântico, dando voz - cada vez mais desenvolta, segura e bem colocada - a um repertório de nível rasteiro que desvaloriza este seu segundo álbum de estúdio e de inéditas. Faixa já enviada às rádios pela EMI Music, gravadora que põe Mais amor nas lojas neste mês neste mês de julho de 2013, Desejo me chama (André Renato e Leandro Fab) mostra com clareza a trilha mercadológica seguida por Diogo neste disco concebido para atiçar a libido de seu público feminino. Opção reiterada por outros temas de pegada similar como Cada dia mais amor (André Renato e Leandro Fab) e Muito mais além (Diogo Nogueira, Inácio Rios e Rafael Richaid), exemplo do tom romântico sensual que pauta o repertório aquém do cantor. A carga de erotismo é mais alta em sambas mais agitados como Beijo na boca (Serginho Meriti e Rodrigo Leite) e Partido agarradinho (André Renato e Leandro Fab), nivelando o repertório de Mais amor por essa necessidade de reforçar a imagem de amante latino de Diogo, ressaltada inclusive no olhar e nas poses do cantor nas fotos promocionais do CD. Até Arlindo Cruz entra na onda erótica com Fazer amor é... (Arlindo Cruz, Baby e Arlindo Neto), samba (muito) aquém do histórico da produção autoral do bamba. O time de músicos arregimentados para a gravação do álbum pelo produtor Leandro Sapucahy inclui virtuoses como o cavaquinista Mauro Diniz, o percussionista Gordinho (requisitado no mundo do samba carioca pelo toque preciso de seu surdo) e o flautista Dirceu Leite. Contudo, essa turma nada pode fazer por repertório já em si bastante irregular, desvalorizado inclusive pela produção de Sapucahy. Destaque da trivial safra de inéditas, o samba sincopado No sapato (Jorge Aragão, Xande de Pilares e Leandro Fab) desliza mais macio no show que estreou neste fim de semana no Rio de Janeiro (RJ) do que no disco. Da mesma forma, a julgar pela boa performance do cantor no show, o samba Quem vai chorar sou eu (Serginho Meriti e Rodrigo Leite) - gravado por Diogo no CD com Zeca Pagodinho - poderia ter sido registrado no disco com mais suingue. De todo modo, seria injusto culpar Sapucahy pelo fato de Mais amor ser um disco fraco. Moldado mais para um grupo de pagode do que para um cantor que descende da linhagem nobre de João Nogueira, o repertório em si impede um voo artístico mais alto. A ladainha afetiva desfiada ao longo do disco resulta cansativa, repetitiva, ainda que Pra valorizar (Flavinho Silva e Marcelo Xingu) expanda o conceito afetivo, celebrando o amor de amigo e o da família. Mais redutora, Altos e baixos (André Renato, Bira Silva e Alessandro Dida), por exemplo, enumera dissonâncias conjugais que afetam o cotidiano de uma vida a dois. Embora situada no mesmo trilho, Carinho não pode faltar (Flavinho Silva, Almir de Araújo e Carlinhos da Ceasa) injeta humor mordaz na discussão da relação, dando duplo sentido à palavra carinho. Humor que, no caso de Não fica de caô (Miguel BD, Rômulo Doutor e Felipe Cavaco), nem ao menos consegue ser engraçado. Samba presente nos repertórios de Reinaldo (cantor paulista rotulado como O Príncipe do Pagode) e do extinto grupo de pagode Sensação, Sonhos (Santaninha, Baby, Charlinho e Jair Cândido) ganha regravação que nada acrescenta ao disco. Entre doses calculadas de sensualidade e romantismo, Primeiro samba (Serginho Meriti, Fátima Lima, Mi Barros e Rodrigo Leite) parece ter alguma emoção real, apontando o samba como o caminho da salvação, com direito à citação de verso de O poder da criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1980. Mesmo assim, fica difícil absolver Diogo Nogueira por ter feito um disco menor que desconsidera as lições de seu pai-mestre.
Um comentário:
Discos anteriores de Diogo Nogueira puseram o cantor e compositor na corda bamba, se equilibrando (mal) entre o pagode romântico e o samba de nobre estirpe, gênero no qual seu pai João Nogueira (1941 - 2000) foi rei. Em Mais amor, quinto título da discografia de Diogo, o sambista-galã cai de vez no pagode romântico, dando voz - cada vez mais desenvolta, segura e bem colocada - a um repertório de nível rasteiro que desvaloriza este seu segundo álbum de estúdio e de inéditas. Faixa já enviada às rádios pela EMI Music, gravadora que põe Mais amor nas lojas neste mês neste mês de julho de 2013, Desejo me chama (André Renato e Leandro Fab) mostra com clareza a trilha mercadológica seguida por Diogo neste disco concebido para atiçar a libido de seu público feminino. Opção reiterada por outros temas de pegada similar como Cada dia mais amor (André Renato e Leandro Fab) e Muito mais além (Diogo Nogueira, Inácio Rios e Rafael Richaid), exemplo do tom romântico sensual que pauta o repertório aquém do cantor. A carga de erotismo é mais alta em sambas mais agitados como Beijo na boca (Serginho Meriti e Rodrigo Leite) e Partido agarradinho (André Renato e Leandro Fab), nivelando o repertório de Mais amor por essa necessidade de reforçar a imagem de amante latino de Diogo, ressaltada inclusive no olhar e nas poses do cantor nas fotos promocionais do CD. Até Arlindo Cruz entra na onda erótica com Fazer amor é... (Arlindo Cruz, Baby e Arlindo Neto), samba (muito) aquém do histórico da produção autoral do bamba. O time de músicos arregimentados para a gravação do álbum pelo produtor Leandro Sapucahy inclui virtuoses como o cavaquinista Mauro Diniz, o percussionista Gordinho (requisitado no mundo do samba carioca pelo toque preciso de seu surdo) e o flautista Dirceu Leite. Contudo, essa turma nada pode fazer por um repertório bastante irregular, desvalorizado inclusive pela produção de Sapucahy. Destaque da rala safra de inéditas, o samba sincopado Só no sapato (Jorge Aragão, Xande de Pilares e Leandro Fab) desliza mais macio no show que estreou neste fim de semana no Rio de Janeiro (RJ) do que no disco. Da mesma forma, a julgar pela boa performance do cantor no show, o samba Quem vai chorar sou eu (Serginho Meriti e Rodrigo Leite) - gravado por Diogo no CD com Zeca Pagodinho - poderia ter sido registrado no disco com mais suingue. De todo modo, seria injusto culpar Sapucahy pelo fato de Mais amor ser um disco fraco. Moldado mais para um grupo de pagode do que para um cantor que descende da linhagem nobre de João Nogueira, o repertório em si impede um voo artístico mais alto. A ladainha afetiva desfiada ao longo do disco resulta cansativa, repetitiva, ainda que Pra valorizar (Flavinho Silva e Marcelo Xingu) expanda o conceito afetivo, celebrando o amor de amigo e o da família. Mais redutora, Altos e baixos (André Renato, Bira Silva e Alessandro Dida), por exemplo, enumera dissonâncias conjugais que afetam o cotidiano de uma vida a dois. Embora situada no mesmo trilho, Carinho não pode faltar (Flavinho Silva, Almir de Araújo e Carlinhos da Ceasa) injeta humor mordaz na discussão da relação, dando duplo sentido à palavra carinho. Humor que, no caso de Não fica de caô (Miguel BD, Rômulo Doutor e Felipe Cavaco), nem ao menos consegue ser engraçado. Samba presente nos repertórios de Reinaldo (cantor paulista rotulado como O Príncipe do Pagode) e do extinto grupo de pagode Sensação, Sonhos (Santaninha, Baby, Charlinho e Jair Cândido) ganha regravação que nada acrescenta ao disco. Entre doses calculadas de sensualidade e romantismo, Primeiro samba (Serginho Meriti, Fátima Lima, Mi Barros e Rodrigo Leite) parece ter alguma emoção real, apontando o samba como o caminho da salvação, com direito à citação de verso de O poder da criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1980. Mesmo assim, fica difícil absolver Diogo Nogueira por ter feito um disco menor que desconsidera as lições de seu pai-mestre e o põe em um caminho já sem volta.
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