Resenha de CD
Título: Pery Ribeiro abraça Simonal - Dueto com amigos
Artista: Pery Ribeiro
Gravadora: Atração Fonográfica
Cotação: * *
Tivesse sido gravado nos anos 60 ou 70, no auge da forma vocal de Pery Ribeiro (27 de outubro de 1937 - 24 de fevereiro de 2012), o CD Pery Ribeiro abraça Simonal - Dueto com amigos poderia ter resultado antológico, talvez até mesmo histórico. Afinal, trata-se de tributo de grande cantor de sua época a outro grande cantor da mesma geração, Wilson Simonal (23 de fevereiro de 1938 - 25 de junho de 2000). Dois senhores cantores cariocas que se fizeram ouvir ao longo dos anos 60 neste país de cantoras, ambos com sua bossa particular. Disco idealizado e produzido por João Santana, empresário do Rio Grande Norte associado à carreira de Simonal, Pery Ribeiro abraça Simonal - Dueto com amigos começou a tomar forma, no entanto, a partir de 2010, quando Pery já vivia fase crepuscular como intérprete e quando o brilho de Simonal já era vaga lembrança na mente de quem viveu os anos 60 - lembrança reavivada, é fato, pelo essencial documentário Simonal - Ninguém sabe o duro que dei (Micael Langer, Calvito Leral e Cláudio Manoel, 2009) e pelos esforços coletivos de seus filhos, Max de Castro e Wilson Simominha, para reabilitar a memória e a música de seu pai. Simoninha, a propósito, abre o tributo duplo, batendo bola com Pery em Aqui é o país do futebol (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1970). Simoninha é um dos amigos - como quer o título deste disco que se tornou póstumo na discografia de Pery porque o cantor saiu de cena antes de sua finalização - que se juntaram ao anfitrião em abraço coletivo em Simonal cuja força varia de acordo com a qualidade do arranjo e da interpretação de cada convidado. Se Zélia Duncan está leve e solta no Balanço Zona Sul (Tito Madi, 1963), sucesso do primeiro álbum de Simonal, Agnaldo Timóteo faz Sá Marina (Tibério Gaspar e Antonio Adolfo, 1968) descer a ladeira sem suingue - qualidade inexistente no canto asséptico de Marina Elali, convidada do samba País tropical (Jorge Ben Jor, 1969). E por falar em molho (o champignon no dicionário de Simonal), Fagner exercita suingue atípico em sua discografia ao reviver Noves fora (Fagner e Belchior, 1972) com Pery em registro que evoca o universo do samba-jazz. Contudo, brilhos individuais à parte, falta pressão aos arranjos - assim como falta um colorido à maioria das interpretações. A voz de Ângela Maria poderia ter sido mais bem colocada no samba-canção Aos pés da cruz (Marino Pinto e Zé da Zilda, 1942). Alcione baixa o tom para entrar no clima de Minha namorada (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1962). Wanderléa encara Lobo bobo (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, 1959) em faixa introduzida por história contada na voz do próprio Simonal no auge da Pilantragem. Também introduzida por fala de Simonal, Velho arvoredo (Hélio Delmiro e Paulo César Pinheiro, 1976) enverga no encontro de Pery com Altay Veloso, mas não chega a cair. Já Caetano Veloso está à vontade no seu Remelexo (Caetano Veloso, 1967). Toni Garrido também marca boa presença em música menos óbvia, De como um garoto apaixonado perdoou por causa de um dos mandamentos (Nonato Buzar, Chico Anísio e Wilson Simonal, 1968). Outra lembrança rara do cancioneiro de Simonal é Silêncio (Eduardo Souto e Sergio Bittencourt, 1969), defendida por Pery em dueto com Chico César. Na linha mais do mesmo, Elza Soares reitera a ginga da raça em Tributo a Martin Luther King (Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli, 1967), samba de espírito soul que exala orgulho negro e que foi gravado pela própria Elza em 1970, três anos após a gravação original de Simonal. Sambista identificada com causas sociais, Leci Brandão ecoa outro tema de tom politizado, Mais valia não chorar (Ronaldo Bôscoli e Normando Soares, 1970), em dueto com Pery. Já Geraldo Azevedo pousa sua voz macia no Samba do avião (Antonio Carlos Jobim, 1962). Sem a habitual vivacidade das avenidas, Neguinho da Beija-Flor esmaece Vesti azul (Nonato Buzar, 1967). Enfim, o abraço coletivo em Simonal - comandado por Pery - podia ser mais forte. De todo modo, o disco duplo - gravado entre Natal (RN), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Campina Grande (PB) e João Pessoa (PB) - tem seu valor por cruzar, mesmo postumamente, os caminhos de dois grandes cantores que mereciam abraços mais apertados.
Tivesse sido gravado nos anos 60 ou 70, no auge da forma vocal de Pery Ribeiro (27 de outubro de 1937 - 24 de fevereiro de 2012), o CD Pery Ribeiro abraça Simonal - Dueto com amigos poderia ter resultado antológico, talvez até mesmo histórico. Afinal, trata-se de tributo de grande cantor de sua época a outro grande cantor da mesma geração, Wilson Simonal (23 de fevereiro de 1938 - 25 de junho de 2000). Dois senhores cantores cariocas que se fizeram ouvir ao longo dos anos 60 neste país de cantoras, ambos com sua bossa particular. Disco idealizado e produzido por João Santana, empresário do Rio Grande Norte associado à carreira de Simonal, Pery Ribeiro abraça Simonal - Dueto com amigos começou a tomar forma, no entanto, a partir de 2010, quando Pery já vivia fase crepuscular como intérprete e quando o brilho de Simonal já era vaga lembrança na mente de quem viveu os anos 60 - lembrança reavivada, é fato, pelo essencial documentário Simonal - Ninguém sabe o duro que dei (Micael Langer, Calvito Leral e Cláudio Manoel, 2009) e pelos esforços coletivos de seus filhos, Max de Castro e Wilson Simominha, para reabilitar a memória e a música de seu pai. Simoninha, a propósito, abre o tributo duplo, batendo bola com Pery em Aqui é o país do futebol (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1970). Simoninha é um dos amigos - como quer o título deste disco que se tornou póstumo na discografia de Pery porque o cantor saiu de cena antes de sua finalização - que se juntaram ao anfitrião em abraço coletivo em Simonal cuja força varia de acordo com a qualidade do arranjo e da interpretação de cada convidado. Se Zélia Duncan está leve e solta no Balanço Zona Sul (Tito Madi, 1963), sucesso do primeiro álbum de Simonal, Agnaldo Timóteo faz Sá Marina (Tibério Gaspar e Antonio Adolfo, 1968) descer a ladeira sem suingue - qualidade inexistente no canto asséptico de Marina Elali, convidada do samba País tropical (Jorge Ben Jor, 1969). E por falar em molho (o champignon no dicionário de Simonal), Fagner exercita suingue atípico em sua discografia ao reviver Noves fora (Fagner e Belchior, 1972) com Pery em registro que evoca o universo do samba-jazz. Contudo, brilhos individuais à parte, falta pressão aos arranjos - assim como falta um colorido à maioria das interpretações. A voz de Ângela Maria poderia ter sido mais bem colocada no samba-canção Aos pés da cruz (Marino Pinto e Zé da Zilda, 1942). Alcione baixa o tom para entrar no clima de Minha namorada (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1962). Wanderléa encara Lobo bobo (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, 1959) em faixa introduzida por história contada na voz do próprio Simonal no auge da Pilantragem. Também introduzida por fala de Simonal, Velho arvoredo (Hélio Delmiro e Paulo César Pinheiro, 1976) enverga no encontro de Pery com Altay Veloso, mas não chega a cair.
ResponderExcluirJá Caetano Veloso está à vontade no seu Remelexo (Caetano Veloso, 1967). Toni Garrido também marca boa presença em música menos óbvia, De como um garoto apaixonado perdoou por causa de um dos mandamentos (Nonato Buzar, Chico Anísio e Wilson Simonal, 1968). Outra lembrança rara do cancioneiro de Simonal é Silêncio (Eduardo Souto e Sergio Bittencourt, 1969), defendida por Pery em dueto com Chico César. Na linha mais do mesmo, Elza Soares reitera a ginga da raça em Tributo a Martin Luther King (Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli, 1967), samba de espírito soul que exala orgulho negro e que foi gravado pela própria Elza em 1970, três anos após a gravação original de Simonal. Sambista identificada com causas sociais, Leci Brandão ecoa outro tema de tom politizado, Mais valia não chorar (Ronaldo Bôscoli e Normando Soares, 1970), em dueto com Pery. Já Geraldo Azevedo pousa sua voz macia no Samba do avião (Antonio Carlos Jobim, 1962). Sem a habitual vivacidade das avenidas, Neguinho da Beija-Flor esmaece Vesti azul (Nonato Buzar, 1967). Enfim, o abraço coletivo em Simonal - comandado por Pery - podia ser mais forte. De todo modo, o disco duplo - gravado entre Natal (RN), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Campina Grande (PB) e João Pessoa (PB) - tem seu valor por cruzar, mesmo postumamente, os caminhos de dois grandes cantores que mereciam abraços mais apertados.
ResponderExcluir