Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Nana, Dori e Danilo expõem profundezas do mar de Dorival em 'Caymmi'

Resenha de CD
Título: Caymmi
Artistas: Nana Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * * *

Disco que abre as comemorações fonográficas pelo centenário de nascimento de Dorival Caymmi (1914 - 2008), a ser festejado em 30 de abril de 2014, o CD Caymmi é a mais bela e importante homenagem que Nana Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi poderiam prestar ao patriarca da família. Por conta de criteriosa pesquisa que teve como ponto de partida consulta ao Cancioneiro da Bahia, livro publicado por Dorival em 1947 com as músicas que compusera até então, os filhos conseguem a proeza de (re)apresentar músicas que vão soar como inéditas para sucessivas gerações. É o caso da belíssima Sereia (Dorival Caymmi), canção praieira então desconhecida até por Danilo. O canto lindo de Sereia se faz ouvir em Caymmi nas vozes dos três filhos de Dorival em medley que entremeia a música com o samba Rainha do mar (1939). Outra raridade é o buliçoso samba Quando eu durmo, outro tema também desconhecido que abre este disco que sublinha o elo entre as obras de Caymmi e do escritor baiano Jorge Amado (1912 - 2001), letrista da pouco ouvida Cantiga de cego (gravada por Dorival em 1981 para a trilha sonora da novela Terras do sem fim e entoada neste tributo por Nana em registro que abarca as vozes de Danilo e Dori ao fim da faixa), da Modinha para Teresa Batista (também interpretada por Nana e unida no CD com a conhecida Vamos falar de Teresa, parceria de Dorival com Danilo propagada em 1992 na trilha sonora da minissérie Teresa Batista, exibida pela TV Globo) e de Retirantes (música lançada em 1975 na abertura da novela Escrava Isaura). O CD Caymmi reconstitui a imagem mítica e folclórica da Bahia cristalizada no cancioneiro de Dorival. Símbolo religioso desse universo afro-brasileiro habitado pela nega-personagem do samba Balaio grande (Dorival Caymmi e Oswaldo Santiago, 1941), Yemanjá é entidade evocada repetidas vezes em repertório que reapresenta Itapoã (1972), outro tema pouco ouvido deste cancioneiro magistral. Em estado de graça como intérprete, Nana brilha soberana em Caymmi ao dar a já ignorada receita de Acaçá (1997) e, sobretudo, ao transformar Francisco Santos das Flores (1972) em fado com direito a um sotaque português que concentra toda a pungência e melancolia do gênero lusitano. Na faixa sublime, o bandolim de Pedro Amorim cumpre o papel reservado no fado à guitarra portuguesa. Produtor do álbum, Dori Caymmi brilha como arranjador ao orquestrar a obra de Dorival com reverência - e com direito a flautas em seis das 13 faixas do CD lançado pela gravadora Som Livre - mas sem ranços nostálgicos. Moderno em sua atemporalidade, o cancioneiro de Caymmi soa atual e leve somente com uso de instrumentos tradicionais. Com destreza para cantar os sambas do pai, Danilo segue seguro pelo roteiro rítmico e melódico de Fiz uma viagem (1957) - outro exemplo da habilidade do trio para apresentar músicas que soam como novas - e se une ao mano Dori para circular Roda pião (1939), samba de gente grande que alude melancolica e metaforicamente ao giro inexorável do tempo em versos de tom lúdico. No fim do álbum, em mais um instante sublime de sua carreira, Nana mergulha na poesia da canção A mãe d'água e a menina (1985), fecho pungente de disco que expõe a profundeza do mar de canções de Dorival Caymmi, fazendo emergir joias valiosas que reiteram a genialidade do ourives baiano.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Disco que abre as comemorações fonográficas pelo centenário de nascimento de Dorival Caymmi (1914 - 2008), a ser festejado em 30 de abril de 2014, o CD Caymmi é a mais bela e importante homenagem que Nana Caymmi, Dori Caymmi e Danilo Caymmi poderiam prestar ao patriarca da família. Por conta de criteriosa pesquisa que teve como ponto de partida consulta ao Cancioneiro da Bahia, livro publicado por Dorival em 1947 com músicas que compusera até então, os filhos conseguem a proeza de (re)apresentar músicas que vão soar como inéditas para sucessivas gerações. É o caso da belíssima Sereia (Dorival Caymmi), canção praieira então desconhecida até por Danilo. O canto lindo de Sereia se faz ouvir em Caymmi nas vozes dos três filhos de Dorival em medley que entremeia a música com o samba Rainha do mar (1939). Outra raridade é o buliçoso samba Quando eu durmo, tema também desconhecido que abre este disco que sublinha o elo entre as obras de Caymmi e do escrito baiano Jorge Amado (1912 - 2001), letrista da pouco ouvida Cantiga de cego (entoada por Nana em registro que abarca as vozes de Danilo e Dori ao fim da faixa), da Modinha para Teresa Batista (também interpretada por Nana e unida no CD com a conhecida Vamos falar de Teresa, parceria de Dorival com Danilo propagada em 1992 na trilha sonora da minissérie Teresa Batista, exibida pela TV Globo) e de Retirantes (música lançada em 1975 na abertura da novela Escrava Isaura). Caymmi, o disco, reconstitui a imagem mítica da Bahia cristalizada no cancioneiro de Dorival. Símbolo religioso desse universo afro-brasileiro, habitado pela nega-personagem do samba Balaio grande (Dorival Caymmi e Oswaldo Santiago, 1941), Yemanjá é entidade evocada repetidas vezes em repertório que reapresenta Itapoã (1972), outro tema pouco ouvido deste cancioneiro magistral. Em estado de graça como intérprete, Nana brilha soberana em Caymmi ao dar a ignorada receita de Acaçá (1997) e, sobretudo, ao transformar Francisco Santos das Flores (1972) em fado com direito a um sotaque português que concentra toda a pungência e melancolia do gênero lusitano. Na faixa sublime, o bandolim de Pedro Amorim cumpre o papel reservado no fado à guitarra portuguesa. Produtor do álbum, Dori Caymmi brilha como arranjador ao orquestrar a obra de Dorival com reverência - e com direito a flautas em seis das 13 faixas do CD lançado pela gravadora Som Livre - mas sem ranços nostálgicos. Moderno em sua atemporalidade, o cancioneiro de Caymmi soa atual e leve somente com uso de instrumentos tradicionais. Com destreza para cantar os sambas do pai, Danilo segue seguro pela rota rítmica e melódica do samba Fiz uma viagem (1957) - outro exemplo da habilidade do trio para apresentar músicas que soam como novas - e se une ao mano Dori para fazer girar Roda pião (1939), samba que alude melancolica e metaforicamente ao girar inexorável do tempo em meio ao seus versos de tom lúdico. No fim do álbum, em mais um instante sublime de sua carreira, Nana mergulha na poesia da canção A mãe d'água e a menina (1985), fecho pungente de disco que expõe a profundeza do mar de canções de Dorival Caymmi, fazendo emergir joias valiosas que reiteram a genialidade do ourives baiano.

noca disse...

Esse disco é uma verdadeira joia.Uma sucessão de magia e encantamento.Dori é o grande produtor e arranjador brasileiro hoje.Danilo e sua energia contagiante,fundamental.Nana,vamos combinar,a maior sereia da nossa música.Cada palavra,cada nota das frases elaboradas por ela,além das sutilezas das variações nos matizes e atmosferas de suas interpretações numa mesma música é absolutamente envolvente.É a sereia magnetizante.Faz de "Acaça" obra prima imediata.

Anônimo disse...

Caymmi foi tão grande que engrandeceu até o mar.
No dia que morreu, choveu.
E as gotas da chuva tinham gosto de sal, como as águas do mar.
Bem, isso é o que povo diz.
E eu acredito! :-)))

PS: Caymmi e seu violão, o disco, é top 10 de todos os tempos.
Comprarei essa belezura, a capa é ótima.

Pele Preta Produções Artísticas disse...

Já vou correndo comprar esse cd pois a minha vontade ficou mais aguçada, após essa crítica harmoniosa e qualitativa.

Unknown disse...

Este tributo a Caymmi é muito bonito. Nana está cantando lindamente. Os arranjos de Dori estão muito bem feitos. Salve Caymmi e os seus três filhos!!!

Bernardo Barroso Neto disse...

Mais um cd que não perco por nada, comprarei com certeza. Tudo que vem da família Caymmi é maravilhoso, ainda mais com músicas menos conhecidas do mestre Dorival.

Carlos Cardoso disse...

O meu CD já está furando de tanto repetir kkkkkkk. Salve nosso mestre Caymmi!

Marcelo disse...

Ouvindo a voz de Nana nesse cd a gente percebe que essa mulher pode fazer ainda muito mais... É um pecado ela parar de gravar. Tantas canções que necessitam de sua voz e emoção...