Resenha de espetáculo
Título: Palavras cruzadas
Artistas: Alessandra Colasanti, Aline Brune, Karina Buhr e Jarbas Jácome
Local: Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 14 de julho de 2013
Foto de Karina Buhr: Tomás Rangel
Cotação: * * * *
De certa forma, foi um show, pois Karina Buhr ficou o tempo todo em cena, protagonizando os 12 números musicais. No entanto, o espetáculo multimídia da segunda edição do Palavras cruzadas foi pontuado pela interação entre outras formas de arte - notadamente o teatro, o vídeo e as artes plásticas - para seguir o conceito do projeto criado por Marcio Debellian. A beleza plástica da cena orquestrada por Debellian - diretor do espetáculo concebido de forma coletiva na cidade interiorana de Cachoeira (BA) - saltou aos olhos com as projeções dos desenhos e fractais dos artistas plásticos baianos Aline Brune e Jarbas Jácome. A iluminação de Alessandro Boschinni também contribuiu decisivamente para realçar os climas do espetáculo e realçar o requinte da cena construída no palco do teatro do Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ), onde o espetáculo ficou em cartaz de 12 a 14 de julho de 2013. Escritos pela atriz e roteirista carioca Alessandra Colasanti, o prológo e os cinco textos inseridos entre os números de Karina pontuaram o espetáculo com humor embebido em fina e mordaz ironia. Colasanti criou narrativa futurista que englobou as manifestações que mobilizam o Brasil desde junho. A interação resultou especialmente eficaz quando o texto abordou a violência dos protestos enquanto os músicos da banda - o tecladista André Lima, o baterista Clayton Martin e o baixista MAU - evocaram no toque de seus instrumentos os sons furiosos produzidos por esses atos violentos. Contudo, a personalidade forte de Karina Buhr - baiana criada em Pernambuco que tem se revelado uma das cantoras mais interessantes da geração 2010 - pairou sobre todas as formas de arte. Já no primeiro número, quando cantou Ponto do guerreiro branco a sós com seu tambor, Burh se mostrou senhora da cena multimídia. Extrapolando sua obra autoral, mas sem deixar de expor sua identidade, Buhr deu voz a dois reggaes - Pureza de menino (Marcelo Santana, 2000) e Árvore (Edson Gomes, 1991) - e a um tema kitsch da lavra autoral do cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi, Desterro (1972), veículo para a criação de ambientação com signos associados ao termo brega. Dentro de seu território, Buhr pegou novamente seu tambor para fazer florescer Rosa alvarinha (Karina Buhr, 2009) - música do álbum Vou voltar andando (2009), terceiro e último título da discografia da Comadre Fulozinha, a banda de Pernambuco liderada pela cantora nos anos 2000 - e apresentou seu inédito funk Homem Elefante Mulher Melancia (Karina Burh, 2013). Feito à moda carioca para o espetáculo, o batidão interagiu com os vídeos do VJ Notívago. Com alma punk na concretista Cara palavra (Karina Buhr, 2011) e na explosiva Nassíria e Najaf (Karina Buhr, 2010), a cantora magnetizou a plateia com sua obra de palavras tão fortes quanto sua personalidade. "Não tenho medo de nada / Só tenho medo do nada", poetizou no jogo de palavras de Rosa alvarinha. Sem medo, a cantora encarou Negro amor (It's all over now, baby blue) (Bob Dylan em versão de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti, 1977) - música a que deu voz no álbum Mulheres de Péricles (2012), tributo a Péricles Cavalcanti idealizado pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora Joia Moderna - a seu modo roqueiro, sem clonar a antológica gravação feita por Gal Costa no álbum Caras e bocas (1977). No fim, ao evocar vida e morte com niilismo em Bem vindas (Karina Buhr, 2010), a artista arrematou com brilho sua participação em espetáculo que cruzou bem as palavras de sua música com outras formas de arte sem anular a força dessas palavras. Buhr é multimídia!!
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ResponderExcluir"Multimidia" até demais. Ela soa tão coreografada quanto um musical juvenil da Disney e tão rebelde quanto uma banda méxicana adolescente.
ResponderExcluirAinda não encontrei nada de interessante no trabalho dessa artista, fora do Cumadre.
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