Mauro Ferreira no G1

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sábado, 20 de julho de 2013

Repertório e produção atenuam falta de identidade de Lu no CD 'Sou eu'

Resenha de CD
Título: Sou eu
Artista: Lu Oliveira
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2

Lu Oliveira decidiu batizar seu primeiro álbum, Sou eu, com o nome de grande samba do compositor, saxofonista e maestro pernambucano Moacir Santos (1926 - 2006). Letrado pelo compositor carioca Nei Lopes para ser gravado no álbum Ouro negro (Biscoito Fino, 2001), o samba Sou eu (Luanne) intitula e abre, com arranjo de Arthur Verocai, o disco desta boa cantora nascida em Niterói (RJ) em agosto de 1980, mas criada no Rio de Janeiro (RJ). É um belo cartão de visitas para a ex-publicitária que se assumiu cantora em 2010, mas o título Sou eu resulta inadequado para o disco de cantora cuja voz se ressente justamente de um traço de originalidade. Falta personalidade ao timbre e às interpretações de Lu Oliveira. Contudo, nem por isso Sou eu deixa de ser CD interessante. A sagaz seleção de repertório, a excelência da produção (capitaneada pelo cantor e compositor carioca Zé Renato) e os arranjos (confiados a músicos do primeiro time como o violoncelista Jaques Morelenbaum e os pianistas João Carlos Coutinho e Leandro Braga) valorizam o CD e atenuam essa ausência de personalidade que impede por ora a identificação de Lu Oliveira neste populoso país de cantoras. Feita essa ressalva, é justo dizer que Sou eu impressiona pela formatação requintada das 10 faixas, que gravitam em torno do samba. Afinada e segura, a cantora mostra como Delírio dos mortais é um dos melhores sambas de Djavan. Exaltação ao Rio de Janeiro (RJ), o samba passou despercebido ao ser lançado pelo compositor alagoano no álbum Matizes (2007), mas reluz novamente no registro de Lu. Antenada com a produção recente dos compositores brasileiros, a cantora acertou na seleção de repertório que foge dos hits. Tanto que o samba mais conhecido de Sou eu talvez seja Tenha pena de mim (Ai, ai, meu Deus) (Babaú e Cyro de Souza), lançado em 1938 pela cantora carioca Aracy de Almeida (1914 - 1988). Samba onírico que evoca a mãe África ao sonhar com a plena igualdade racial, Dia de graça (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) vai soar inédito porque foi lançado em grande, mas pouco ouvido (até pela distribuição irregular), álbum de Dori Caymmi, Mundo de dentro (2009). Em Sou eu, Dia de graça está alocado ao lado de outro samba em que o poeta Paulo César Pinheiro revolve a raiz africana do gênero, Baticum de samba, gravado por seu parceiro no tema, o compositor baiano Roque Ferreira, no CD Tem samba no mar (2004). A faixa pedia mais percussão, mais baticum, para evocar a força africana do samba. Pescadora de pérolas, Lu Oliveira também dá voz a bom samba de João Donato e Lysias Enio, Amor na estrelas, gravado em Aquarius (2009), disco dividido por Donato com Joyce Moreno. Parceria inédita do produtor Zé Renato com Pedro Luís, Paixão pelos ares se insere no universo do samba-canção em tom ligeiramente mais denso. Mais para o fim do álbum, Na ilha de Lia, no barco de Rosa (Meio-dia, meia-lua) - tema da trilha sonora do balé A dança da meia-lua (1988), composta por Edu Lobo com Chico Buarque - ganha lindo e sofisticado registro que reitera a real vocação de Lu Oliveira para o canto. Por mais que soe sem personalidade vocal neste álbum de estreia, Lu Oliveira é boa cantora que sabe garimpar repertório. Se souber delinear em futuros CDs traço mais marcante em suas interpretações, pode até vir a fazer diferença neste país de cantoras. 

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Lu Oliveira decidiu batizar seu primeiro álbum, Sou eu, com o nome de grande samba do compositor, saxofonista e maestro pernambucano Moacir Santos (1926 - 2006). Letrado pelo compositor carioca Nei Lopes para ser gravado no álbum Ouro negro (Biscoito Fino, 2001), o samba Sou eu (Luanne) intitula e abre, com arranjo de Arthur Verocai, o disco desta boa cantora nascida em Niterói (RJ) em agosto de 1980, mas criada no Rio de Janeiro (RJ). É um belo cartão de visitas para a ex-publicitária que se assumiu cantora em 2010, mas o título Sou eu resulta inadequado para o disco de cantora cuja voz se ressente justamente de um traço de originalidade. Falta personalidade ao timbre e às interpretações de Lu Oliveira. Contudo, nem por isso Sou eu deixa de ser CD interessante. A sagaz seleção de repertório, a excelência da produção (capitaneada pelo cantor e compositor carioca Zé Renato) e os arranjos (confiados a músicos do primeiro time como o violoncelista Jaques Morelenbaum e os pianistas João Carlos Coutinho e Leandro Braga) valorizam o CD e atenuam essa ausência de personalidade que impede por ora a identificação de Lu Oliveira neste populoso país de cantoras. Feita essa ressalva, é justo dizer que Sou eu impressiona pela formatação requintada das 10 faixas, que gravitam em torno do samba. Afinada e segura, a cantora mostra como Delírio dos mortais é um dos melhores sambas de Djavan. Exaltação ao Rio de Janeiro (RJ), o samba passou despercebido ao ser lançado pelo compositor alagoano no álbum Matizes (2007), mas reluz novamente no registro de Lu. Antenada com a produção recente dos compositores brasileiros, a cantora acertou na seleção de repertório que foge dos hits. Tanto que o samba mais conhecido de Sou eu talvez seja Tenha pena de mim (Ai, ai, meu Deus) (Babaú e Cyro de Souza), lançado em 1938 pela cantora carioca Aracy de Almeida (1914 - 1988). Samba onírico que evoca a mãe África ao sonhar com a plena igualdade racial, Dia de graça (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) vai soar inédito porque foi lançado em grande, mas pouco ouvido (até pela distribuição irregular), álbum de Dori Caymmi, Mundo de dentro (2009). Em Sou eu, Dia de graça está alocado ao lado de outro samba em que o poeta Paulo César Pinheiro revolve a raiz africana do gênero, Baticum de samba, gravado por seu parceiro no tema, o compositor baiano Roque Ferreira, no CD Tem samba no mar (2004). A faixa pedia mais percussão, mais baticum, para evocar a força africana do samba. Pescadora de pérolas, Lu Oliveira também dá voz a bom samba de João Donato e Lysias Enio, Amor na estrelas, gravado em Aquarius (2009), disco dividido por Donato com Joyce Moreno. Parceria inédita do produtor Zé Renato com Pedro Luís, Paixão pelos ares se insere no universo do samba-canção em tom ligeiramente mais denso. Mais para o fim do álbum, Na ilha de Lia, no barco de Rosa (Meio-dia, meia-lua) - tema da trilha sonora do balé A dança da meia-lua (1988), composta por Edu Lobo com Chico Buarque - ganha lindo e sofisticado registro que reitera a real vocação de Lu Oliveira para o canto. Por mais que soe sem personalidade vocal neste álbum de estreia, Lu Oliveira é boa cantora que sabe garimpar repertório. Se souber delinear em futuros CDs traço mais marcante em suas interpretações, pode até vir a fazer diferença neste país de cantoras.

Insensato Mundo disse...

Mauro, não conheço o trabalho de Lu Oliveira, mas o título do álbum em questão (Sou Eu), para além do que você pontuou em sua resenha, soa muito batido. basta lembrar que trabalhos mais recentes foram batizados com o "Sou Eu", a exemplo dos álbuns de Diogo Nogueira e Fiuk. Este nome também batizou trabalhos de Simone e Hebe Camargo, sem contar com outros semelhantes: Leonardo (Esse Alguém Sou Eu) e Rosana (Essa Sou Eu). Acho que os artistas devem se esforçar mais para sair ao máximo do lugar comum. Um título de álbum pode parecer um mero detalhe, mas não é. De qualquer modo quero escutar esta cantora, que espero ter apresentado um bom trabalho e a quem desejo sucessos.