sábado, 3 de agosto de 2013

Canto de Gulin valoriza espetáculo em que música e texto se estranham

Resenha de espetáculo
Título: Palavras Cruzadas
Artistas: Arthur Tuoto, Jô Bilac e Thaís Gulin (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 2 de agosto de 2013
Cotação: * * 1/2
Em cartaz até 4 de agosto de 2013 no teatro do Oi Futuro Ipanema no Rio de Janeiro (RJ)

A mistura de linguagens do quinto espetáculo da série Palavras cruzadas - projeto idealizado por Marcio Debellian para promover a interação entre diversas formas de artes - resulta menos azeitada do que a do anterior show multimídia que juntou, em julho de 2013, a cantora Karina Buhr, a atriz e roteirista Alessandra Colasanti e artistas plásticos Aline Brune e Jarbas Jácome. No espetáculo em cartaz até 4 de agosto de 2013, no teatro do Oi Futuro Ipanema, a cantora curitibana Thaís Gulin divide a cena com projeções do artista visual (também curitibano) Arthur Tuoto e com o dramaturgo carioca (de ascendência espanhola) Jô Bilac. Contudo, os textos de Bilac - vários sobre o ato de escrever, lidos pelo dramaturgo no palco - parecem corpos estranhos na cena valorizada sobretudo pelo canto de Gulin. Palavra, som e imagem nem sempre se harmonizam e tampouco geram um todo orgânico como no (belo) espetáculo anterior. Contudo, a música já justifica, por si só, o espetáculo. No toque underground do trio afinado formado por Marcos Moletta (violão e guitarra), Mauro Berman (baixo, teclados e programações) e Thiago Silva (bateria), Gulin transita por vias alternativas ao dar voz a músicas como Me deixe mudo (Walter Franco, 1973) - em interpretação precisa que recorre a modulações vocais e a cortes intencionais de palavras para expressar toda a angústia contida na letra poética do compositor paulistano - e a Walk on the wild side (Lou Reed, 1972), cuja letra é lida pela cantora em providencial jogo de cena. Se os textos de Bilac criam teatralidade confusa, o canto cada vez mais desenvolto de Gulin consegue manter armado esse jogo de cena. Seja externando os sentimentos contraditórios que vêm à tona no Hotel das estrelas (Jards Macalé e Duda, 1970), seja acentuando o tom lúdico imprimido à valsa Horas cariocas (Thaís Gulin, 2009) - música que a cantora interpreta sentada num canto do palco - seja indo fundo nas experimentações que pontuam Ali, sim, Alice (Tom Zé, 2009) e A vida da outra (Thaís Gulin e Rogerio Guimarães, 2006). Mesmo que acentue o desalinho da cena, também (des)articulada com conversa entre as manequins expostas no palco e com vídeo em que o ator e diretor e teatro Antonio Abujamra diz um de seus textos provocadores, a versão em falso russo de Ave Maria no morro (Herivelto Martins, 1942) - cantada por Gulin a capella - reitera a supremacia da música sobre os textos e sobre as projeções neste quinto espetáculo do projeto Palavras cruzadas. Com dois ótimos álbuns no currículo, Thaís Gulin (Rob Digital, 2006) e ôÔÔôôÔôÔ, (Furgulixx / Slap / Som Livre, 2011), Thaís Gulin sabe cruzar palavras de compositores que transitam à margem, a ponto de carregar o espetáculo ora em cartaz no Rio.

Um comentário:

  1. A mistura de linguagens do quinto espetáculo da série Palavras cruzadas - projeto idealizado por Marcio Debellian para promover a interação entre diversas formas de artes - resulta menos azeitada do que a do anterior show multimídia que juntou, em julho de 2013, a cantora Karina Buhr, a atriz e roteirista Alessandra Colasanti e artistas plásticos Aline Brune e Jarbas Jácome. No espetáculo em cartaz até 4 de agosto de 2013, no teatro do Oi Futuro Ipanema, a cantora curitibana Thaís Gulin divide a cena com projeções do artista visual (também curitibano) Arthur Tuoto e com o dramaturgo carioca (de ascendência espanhola) Jô Bilac. Contudo, os textos de Bilac - vários sobre o ato de escrever, lidos pelo dramaturgo no palco - parecem corpos estranhos na cena valorizada sobretudo pelo canto de Gulin. Palavra, som e imagem nem sempre se harmonizam e tampouco geram um todo orgânico como no (belo) espetáculo anterior. Contudo, a música já justifica, por si só, o espetáculo. No toque underground do trio afinado formado por Marcos Moletta (violão e guitarra), Mauro Berman (baixo, teclados e programações) e Thiago Silva (bateria), Gulin transita por vias alternativas ao dar voz a músicas como Me deixe mudo (Walter Franco, 1973) - em interpretação precisa que recorre a modulações vocais e a cortes intencionais de palavras para expressar toda a angústia contida na letra poética do compositor paulistano - e a Walk on the wild side (Lou Reed, 1972), cuja letra é lida pela cantora em providencial jogo de cena. Se os textos de Bilac criam teatralidade confusa, o canto cada vez mais desenvolto de Gulin consegue manter armado esse jogo de cena. Seja externando os sentimentos contraditórios que vêm à tona no Hotel das estrelas (Jards Macalé e Duda, 1970), seja acentuando o tom lúdico imprimido à valsa Horas cariocas (Thaís Gulin, 2009) - música que a cantora interpreta sentada num canto do palco - seja indo fundo nas experimentações que pontuam Ali, sim, Alice (Tom Zé, 2009) e A vida da outra (Thaís Gulin e Rogerio Guimarães, 2006). Mesmo que acentue o desalinho da cena, também (des)articulada com conversa entre as manequins expostas no palco e com vídeo em que o ator e diretor e teatro Antonio Abujamra diz um de seus textos provocadores, a versão em falso russo de Ave Maria no morro (Herivelto Martins, 1942) - cantada por Gulin a capella - reitera a supremacia da música sobre os textos e sobre as projeções neste quinto espetáculo do projeto Palavras cruzadas. Com dois ótimos álbuns no currículo, Thaís Gulin (Rob Digital, 2006) e ôÔÔôôÔôÔ, (Furgulixx / Slap / Som Livre, 2011), Thaís Gulin sabe cruzar palavras de compositores que transitam à margem, a ponto de carregar o espetáculo ora em cartaz no Rio.

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