Mauro Ferreira no G1

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sábado, 31 de agosto de 2013

Conjunto da obra de Edu Lobo engrandece registro do show de seus 70 anos

Resenha de show - Gravação ao vivo
Título: Edu Lobo 70 anos
Artista: Edu Lobo
Convidados: Bena Lobo, Chico Buarque, Maria Bethânia e Mônica Salmaso
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 29 de agosto de 2013
Foto: Rodrigo Amaral
Cotação: * * * *

"Não dá para lembrar de tudo, principalmente na minha idade", gracejou Edu Lobo no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro ao esquecer que Beatriz (1983) - uma das obras-primas de sua parceria com Chico Buarque - era a próxima música do roteiro estruturado em ordem quase cronológica pelo jornalista carioca Hugo Sukman, diretor do show apresentado no Rio de Janeiro (RJ) em 29 de agosto de 2013. A data não foi aleatória. Era o dia do 70º aniversário deste compositor carioca que sempre explicitou em sua obra a influência da música nordestina apr(e)endida no convívio com o pai recifense, o também compositor Fernando Lobo (1915 - 1996), e que soube integrar a rítmica vivaz da Nação Nordestina com o universo mais suave da Bossa Nova. A festa foi feita no palco com a gravação ao vivo - para posterior edição em CD duplo e DVD pela gravadora Biscoito Fino - do show Edu Lobo 70 anos. O conjunto da obra - uma das mais refinadas da música brasileira, a ponto de Edu ter dividido em 1981, de igual para igual, um disco com o soberano Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) -  engrandeceu o registro desse espetáculo majestoso, orquestrado sob a direção musical do pianista Cristóvão Bastos (com quem Lobo cantou a citada Beatriz em momento voz-e-piano) e aditivado com cordas regidas por Iura Ranevsky em números como Chegança (Edu Lobo e Oduvaldo Viana Filho, 1963), ponto de partida do roteiro e da obra monumental de Edu, cuja discografia - iniciada com compacto gravado em 1963 - completa 50 coerentes anos neste festivo 2013. No show, o lirismo de temas como a Canção do amanhecer - composta por Lobo naquele seminal 1963 em parceria com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), o poeta maior da canção brasileira - se contrapôs à efervescência rítmica dos frevos que sempre pontuaram o cancioneiro do compositor. Com todo o vigor vocal permitido por seus 70 anos, Lobo passou em revista obra já em si tão grandiosa - inclusive em quantidade - que o longo roteiro de 28 músicas ignorou sucessos como Lero-lero (Edu Lobo e Cacaso, 1978). Seu completo domínio do idioma musical saltou aos ouvidos no diálogo entre os vocalises de Edu com a flauta soprada por Carlos Malta - destaque absoluto da banda em vários momentos - no tema sem letra Zanzibar (Edu Lobo, 1970). A participação dos convidados também contribuiu para a magia da noite de gala. Maria Bethânia - com quem o anfitrião dividiu o álbum Edu & Bethânia (Elenco, 1967) quando ambos ainda iniciavam suas caminhadas profissionais - errou a letra de Cirandeiro (Edu Lobo e José Carlos Capinam, 1967) sem prejuízo de sua interpretação e confirmou a habitual majestade cênica ao reviver Pra dizer adeus (Edu Lobo e Torquato Neto, 1967) em pungente dueto com Edu. Presença afetiva no time de convidados por ser o filho do homem, Bena Lobo entrou direito no Cordão da saideira (Edu Lobo, 1967), frevo-canção alocado no roteiro ao lado do sucesso Ponteio (Edu Lobo e José Carlos Capinam, 1967), reminiscência da era dos festivais que também contou com a presença de Bena. Parceiro de Edu em 43 músicas (a grande maioria composta sob encomenda para espetáculos de dança e teatro), Chico Buarque reviveu três delas com o amigo. Chico recontou A história de Lily Braun (1983) em dueto elegante com Edu, mas não soube fazer com o parceiro todo o jogo de cena de Lábia (2001), música já interpretada em toda sua plenitude por Zizi Possi, ausência sentida no time de convidados. Choro bandido (1988) arrematou a participação de Chico em grande estilo. Contudo, foi Mônica Salmaso quem teve o melhor rendimento vocal em cena dentre todos os convidados. Seu dueto com Edu em A mulher de cada porto (Edu Lobo e Chico Buarque, 1985) rivalizou em beleza com a gravação feita por Gal Costa com Chico Buarque para o álbum com a trilha sonora do musical O corsário do rei (Som Livre, 1985) - trilha, aliás, inexplicavelmente nunca reeditada em CD. Na sequência, o solo de Salmaso em Coração cigano (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, 2010) - uma das obras-primas recentes do cancioneiro de Lobo - beirou o sublime, assim como sua interpretação da Valsa brasileira (Edu Lobo e Chico Buarque, 1988). Sozinho, Edu se bastou ao (re)apresentar músicas de sua parceria com Chico Buarque que permanecem pouco ouvidas. Opereta do casamento (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) e Noite de verão (Edu Lobo e Chico Buarque, 2001) - único número interrompido (por Edu) e repetido na ágil gravação ao vivo - ganham nova chance de popularidade em roteiro que teve apropriadas homenagens a Tom Jobim - prestada com O boto (Antonio Carlos Jobim e Jararaca, 1975) - e a Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), lembrado com a versão cantada d'O trenzinho do caipira (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar), lançada por Edu em disco de 1978. Entre frevo-canção (Angu de caroço, parceria com o poeta Cacaso, lançada em disco de 1980) e frevo-ventania (o instrumental Pé de vento, criação mais recente de 2010), Lobo se afinou com a big-band em total harmonia. Era tanta sintonia que pouco importou o fato de o arranjo de Vento bravo (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, 1973)  ter soado menos impactante na comparação com o arranjo antológico perpetuado no disco gravado por Lobo em 2011 com a holandesa Metropole Orkest. No bis, a lembrança anti-climática de Canto triste (Edu Lobo e Vinicius de Moraes, 1966) - grande canção alocada entre os vivazes números coletivos Na carreira (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) e Corrida de jangada (Edu Lobo e José Carlos Capinam, 1967) - reiterou para o público que ali, no palco nobre do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, estava um compositor brilhante, hábil na criação de melodias sublimes, originais. Um compositor de personalidade inabalável. A obra de Edu Lobo é tão grandiosa que parece não caber em seus 70 anos de vida e em 50 anos de carreira.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Não dá para lembrar de tudo, principalmente na minha idade", gracejou Edu Lobo no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro ao esquecer que Beatriz (1983) - uma das obras-primas de sua parceria com Chico Buarque - era a próxima música do roteiro estruturado em ordem quase cronológica pelo jornalista carioca Hugo Sukman, diretor do show apresentado no Rio de Janeiro (RJ) em 29 de agosto de 2013. A data não foi aleatória. Era o dia do 70º aniversário deste compositor carioca que sempre explicitou em sua obra a influência da música nordestina apr(e)endida no convívio com o pai recifense, o também compositor Fernando Lobo (1915 - 1996), e que soube integrar a rítmica vivaz da Nação Nordestina com o universo mais suave da Bossa Nova. A festa foi feita no palco com a gravação ao vivo - para posterior edição em CD duplo e DVD pela gravadora Biscoito Fino - do show Edu Lobo 70 anos. O conjunto da obra - uma das mais refinadas da música brasileira, a ponto de Edu ter dividido em 1981, de igual para igual, um disco com o soberano Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) - engrandeceu o registro desse espetáculo majestoso, orquestrado sob a direção musical do pianista Cristóvão Bastos (com quem Lobo cantou a citada Beatriz em momento voz-e-piano) e aditivado com cordas regidas por Iura Ranevsky em números como Chegança (Edu Lobo e Oduvaldo Viana Filho, 1963), ponto de partida do roteiro e da obra monumental de Edu, cuja discografia - iniciada com compacto gravado em 1963 - completa 50 coerentes anos neste festivo 2013. No show, o lirismo de temas como a Canção do amanhecer - composta por Lobo naquele seminal 1963 em parceria com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), o poeta maior da canção brasileira - se contrapôs à efervescência rítmica dos frevos que sempre pontuaram o cancioneiro do compositor. Com todo o vigor vocal permitido por seus 70 anos, Lobo passou em revista obra já em si tão grandiosa - inclusive em quantidade - que o longo roteiro de 28 músicas ignorou sucessos como Lero-lero (Edu Lobo e Cacaso, 1978). Seu completo domínio do idioma musical saltou aos ouvidos no diálogo entre os vocalises de Edu com a flauta soprada por Carlos Malta - destaque absoluto da banda em vários momentos - no tema sem letra Zanzibar (Edu Lobo, 1970). A participação dos convidados também contribuiu para a magia da noite de gala. Maria Bethânia - com quem o anfitrião dividiu o álbum Edu & Bethânia (Elenco, 1967) quando ambos ainda iniciavam suas caminhadas profissionais - errou a letra de Cirandeiro (Edu Lobo e José Carlos Capinam, 1967) sem prejuízo de sua interpretação e confirmou a habitual majestade cênica ao reviver Pra dizer adeus (Edu Lobo e Torquato Neto, 1967) em pungente dueto com Edu. Presença afetiva no time de convidados por ser o filho do homem, Bena Lobo entrou direito no Cordão da saideira (Edu Lobo, 1967), frevo-canção alocado no roteiro ao lado do sucesso Ponteio (Edu Lobo e José Carlos Capinam, 1967), reminiscência da era dos festivais que também contou com a presença de Bena. Parceiro de Edu em 43 músicas (a grande maioria composta sob encomenda para espetáculos de dança e teatro), Chico Buarque reviveu três delas com o amigo. Chico recontou A história de Lily Braun (1983) em dueto elegante com Edu, mas não soube fazer com o parceiro todo o jogo de cena de Lábia (2001), música já interpretada em toda sua plenitude por Zizi Possi, ausência sentida no time de convidados. Choro bandido (1988) arrematou a participação de Chico em grande estilo.

Mauro Ferreira disse...

Contudo, foi Mônica Salmaso quem teve o melhor rendimento vocal em cena dentre todos os convidados. Seu dueto com Edu em A mulher de cada porto (Edu Lobo e Chico Buarque, 1985) rivalizou em beleza com a gravação feita por Gal Costa com Chico Buarque para o álbum com a trilha sonora do musical O corsário do rei (Som Livre, 1985) - trilha, aliás, inexplicavelmente nunca reeditada em CD. Na sequência, o solo de Salmaso em Coração cigano (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, 2010) - uma das obras-primas recentes do cancioneiro de Lobo - beirou o sublime, assim como sua interpretação da Valsa brasileira (Edu Lobo e Chico Buarque, 1988). Sozinho, Edu se bastou ao (re)apresentar músicas de sua parceria com Chico Buarque que permanecem pouco ouvidas. Opereta do casamento (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) e Noite de verão (Edu Lobo e Chico Buarque, 2001) - único número interrompido (por Edu) e repetido na ágil gravação ao vivo - ganham nova chance de popularidade em roteiro que teve apropriadas homenagens a Tom Jobim - prestada com O boto (Antonio Carlos Jobim e Jararaca, 1975) - e a Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), lembrado com a versão cantada d'O trenzinho do caipira (Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar), lançada por Edu em disco de 1978. Entre frevo-canção (Angu de caroço, parceria com o poeta Cacaso, lançada em disco de 1980) e frevo-ventania (o instrumental Pé de vento, criação mais recente de 2010), Lobo se afinou com a big-band em total harmonia. Era tanta sintonia que pouco importou o fato de o arranjo de Vento bravo (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, 1973) ter soado menos impactante na comparação com o arranjo antológico perpetuado no disco gravado por Lobo em 2011 com a holandesa Metropole Orkest. No bis, a lembrança anti-climática de Canto triste (Edu Lobo e Vinicius de Moraes, 1967) - grande canção alocada entre os vivazes números coletivos Na carreira (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) e Corrida de jangada (Edu Lobo e José Carlos Capinam, 1967) - reiterou para o público que ali, no palco nobre do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, estava um compositor brilhante, hábil na criação de melodias sublimes, originais. A obra de Edu Lobo é tão grande que parece não caber em seus 70 anos de vida e 50 de carreira.

Anônimo disse...

Engraçado ver como a cizânia(estética), ao querer juntar tudo e todos, causada pelo Tropicalismo ainda persiste.
Edu, Chico, Salmaso e Bethânia.
Se vivos estivessem Jobim e Vinícius também estariam nessa foto.
Se o show fosse de Caetano, só pra ilustrar, Céu estaria no lugar da Salmaso; Gal no lugar da mana...

Em homenagem ao grande Edu e pra provar que tudo/todos é/são divino(s) e maravilhoso(s).
A Salmaso, por exemplo, serve como um belo sonífero. :-)

https://www.youtube.com/watch?v=i3Z0dhgT8DM





Douglas Carvalho disse...

Se alguém dorme com a Salmaso provavelmente não está sabendo escutar música direito....

Unknown disse...

Já tentei ouvir três vezes um cd da Salmaso e dormi na metade,tentei gostar mas infelizmente não deu....se alguém precisar de tarja preta nem precisa comprar,compre o cd dela.

noca disse...

Salmaso é sonolenta para quem não esta com disposição para ouvir o tipo de trabalho que ela faz.Esse tipo de resistencia apenas impede que tenham contato com uma artista fabulosa.Junto com Nana,Zizi,Ná e Rosa Passos fazem os melhores shows de MPB na atualidade,onde musica,musicos e ouvidos de fino trato são respeitados e dignificados.Fora o prazer de mesmo fazendo música "difícil" para os que "não tem sofrimento",são absolutas domínio de cena,em musicalidade e extremamente agradaveis,bem humoradas e cativantes com o público.Monica é o maximo!

Unknown disse...

Mônica é o erro da Mpb