Título: Encontros
Artista: Jesuton (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 15 de agosto de 2013
Cotação: * * *
Alguma emoção real brotou no canto de Jesuton ao fim da interpretação de The blower's daughter (Damien Rice, 2001), um dos números mais aplaudidos do show feito pela cantora inglesa no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 15 de agosto de 2013. Foi bem ao fim, durante a repetição do verso I can't take my mind off you. Mas não é sempre que Jesuton consegue pôr a técnica de sua voz soberba no tom das músicas que canta. Seu show é bem melhor do que o disco que o originou, Encontros (Slap / Som Livre, 2012). Ainda assim, oscila porque, não raro, Jesuton peca pelo excesso. A voz é grande, mas a noção de interpretação ainda precisa ser aprimorada, como deixou claro a abordagem de Sodade, a morna composta nos anos 50 pelo compositor de Cabo Verde Armando Zeferino Soares (1920 - 2007) e popularizada em escala mundial a partir de 1992 na voz da cantora cabo-verdiana Cesaria Évora (1941 - 2011). Toda a melancolia do tema se dissipa na interpretação asséptica de Jesuton. Em contrapartida, a cantora acertou o tom mais emotivo de O mundo é um moinho (Cartola, 1976), única música em português do roteiro, entoada por Jesuton somente na companhia da guitarra eletroacústica de Marcos Falcão, componente de quarteto virtuoso que inclui o baixista André Rodrigues, o tecladista Humberto Barros e o baterista João Viana. Diplomada na escola das grandes cantoras norte-americanas de soul e r & b, Jesuton volta e meia comete o pecado dessas suas colegas: ganhar a plateia no grito. Essa forma gritada de cantar prejudica, por exemplo, sua interpretação de Wild horses (Mick Jagger e Keith Richards, 1971), a balada do repertório dos Rolling Stones que catapultou Jesuton a fama quando caiu na internet um vídeo em que ela cantava a música nas ruas do Rio de Janeiro (RJ) "com um amplificador, um microfone e um sonho", como poetizou em fala dirigida à embevecida plateia que lotou o Teatro Rival. Jesuton, aliás, é simpática em cena e tem charme. Já sabe ganhar seu público. Para estes fãs de primeira hora, pouco importam os exageros e floreios vocais que empalidecem a já inacreditável versão em português (escrita pela própria Jesuton) de Nós (Tião Carvalho, 1988), sucesso na voz de Cássia Eller (1962 - 2001). Para esse público conquistado pela potência da voz de Jesuton, pouco importa também que a interpretação de I'll never love this way again (Richard Kerr e Will Jennings, 1979) - o baladão que reanimou em 1979 a então estagnada carreira fonográfica de Dionne Warwick e que foi regravado por Jesuton para a trilha sonora da novela Salve Jorge (2012 / 2013) - tenha a obviedade de um cover. Assim como a (boa) abordagem de Someone like you (Adele e Dan Wilson, 2001), feita pela cantora somente com os teclados de Humberto Barros. De todo modo, verdade seja dita, Jesuton também acerta. A interpretação de Time is running out (Matthew James Bellamy, 2003), sucesso do grupo inglês Muse, é trabalhada na pressão roqueira e tem energia, além de um suingue na introdução que remete às levadas do Norte do Brasil. Destaque do disco, Time is running out é também um dos grandes momentos do show. Jesuton também surpreende na introdução estilosa de Roxanne (Sting, 1978) - sucesso do grupo inglês The Police que se ajusta bem a um roteiro dominado por músicas de artistas britânicos - e quando explora um registro mais suave ao cantar (bem) um sucesso do grupo inglês Radiohead, High and dry (Thom Yorke, Jonny Greenwood, Collin Greenwood, Phil Selway e Ed O'Brien, 1995), com o violão do convidado James Procópio, recrutado da plateia. Isso já no bis, fechado na pressão roqueira de Come together (John Lennon & Paul McCartney, 1969), um dos muitos clássicos dos Beatles. Enfim, Jesuton dá o seu show com muita voz e alguma (pouca...) noção de interpretação, qualidade fundamental para uma cantora se tornar grande.
3 comentários:
Alguma emoção real brotou no canto de Jesuton ao fim da interpretação de The blower's daughter (Damien Rice, 2001), um dos números mais aplaudidos do show feito pela cantora inglesa no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 15 de agosto de 2013. Foi bem ao fim, durante a repetição do verso I can't take my mind off you. Mas não é sempre que Jesuton consegue pôr a técnica de sua voz soberba no tom das músicas que canta. Seu show é bem melhor do que o disco que o originou, Encontros (Slap / Som Livre, 2012). Ainda assim, oscila porque, não raro, Jesuton peca pelo excesso. A voz é grande, mas a noção de interpretação ainda precisa ser aprimorada, como deixou claro a abordagem de Sodade, a morna composta nos anos 50 pelo compositor de Cabo Verde Armando Zeferino Soares (1920 - 2007) e popularizada em escala mundial a partir de 1992 na voz da cantora cabo-verdiana Cesaria Évora (1941 - 2011). Toda a melancolia do tema se dissipa na interpretação asséptica de Jesuton. Em contrapartida, a cantora acertou o tom mais emotivo de O mundo é um moinho (Cartola, 1976), única música em português do roteiro, entoada por Jesuton somente na companhia da guitarra eletroacústica de Marcos Falcão, componente de quarteto virtuoso que inclui o baixista André Rodrigues, o tecladista Humberto Barros e o baterista João Viana. Diplomada na escola das cantoras negras norte-americanas de soul e r & b, Jesuton volta e meia comete o pecado de suas colegas: ganhar a plateia no grito. Essa forma gritada de cantar prejudica, por exemplo, sua interpretação de Wild horses (Mick Jagger e Keith Richards, 1971), a balada do repertório dos Rolling Stones que catapultou Jesuton a fama quando caiu na internet um vídeo em que ela cantava a música nas ruas do Rio de Janeiro (RJ) "com um amplificador, um microfone e um sonho", como poetizou em fala dirigida à embevecida plateia que lotou o Teatro Rival. Jesuton, aliás, é simpática em cena e tem charme. Já sabe ganhar seu público. Para estes fãs de primeira hora, pouco importam os exageros e floreios vocais que empalidecem a já inacreditável versão em português (escrita pela própria Jesuton) de Nós (Tião Carvalho, 1996), sucesso na voz de Cássia Eller (1962 - 2001). Para esse público conquistado pela potência da voz de Jesuton, pouco importa também que a interpretação de I'll never love this way again (Richard Kerr e Will Jennings, 1979) - o baladão que reanimou em 1979 a então estagnada carreira fonográfica de Dionne Warwick e que foi regravado por Jesuton para a trilha sonora da novela Salve Jorge (2012 / 2013) - tenha a obviedade de um cover. Assim como a (boa) abordagem de Someone like you (Adele e Dan Wilson, 2001), feita pela cantora somente com os teclados de Humberto Barros. De todo modo, verdade seja dita, Jesuton também acerta. A interpretação de Time is running out (Matthew James Bellamy, 2003), sucesso do grupo inglês Muse, é trabalhada na pressão roqueira e tem energia, além de um suingue na introdução que remete às levadas do Norte do Brasil. Destaque do disco, Time is running out é também um dos grandes momentos do show. Jesuton também surpreende na introdução estilosa de Roxanne (Sting, 1978) - sucesso do grupo inglês The Police que se ajusta bem a um roteiro dominado por músicas de artistas britânicos - e quando explora um registro mais suave ao cantar (bem) um sucesso do grupo inglês Radiohead, High and dry (Thom Yorke, Jonny Greenwood, Collin Greenwood, Phil Selway e Ed O'Brien, 1995), com o violão do convidado James Procópio, recrutado da plateia. Isso já no bis, fechado na pressão roqueira de Come together (John Lennon & Paul McCartney, 1969), um dos muitos clássicos dos Beatles. Enfim, Jesuton dá o seu show com muita voz e alguma (pouca...) noção de interpretação, qualidade fundamental para uma cantora se tornar grande.
Augusto Flávio (Petrolina-Pe/Juazeiro-Ba)
Mauro, a música Nós de Tião Carvalho, é de 1988 e foi lançada por Ná Ozzetti. Depois, Cássia regravou e fez sucesso. Então a música é de 1988 e não 1996.
Grato pelo toque, Augusto, já corrigi a data. Abs, MauroF
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