Resenha de show
Título: Canto sagrado - 70 anos de Clara Nunes
Artista: Fabiana Cozza (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Sala Baden Powell (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 10 de agosto de 2013
Cotação: * * * *
Já no primeiro dos 21 números do show Canto sagrado - 70 anos de Clara Nunes - um trecho a capella de Senhora das Candeias (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1977) - Fabiana Cozza dá a pista de que vai saudar Clara Nunes (1942 - 1983) sem abrir mão de sua personalidade como intérprete. Tal pista era verdadeira - confirmação obtida já na sequência com a interpretação seca de Tristeza pé no chão (Armando Cavalcanti, 1973). Show idealizado para celebrar os 70 anos de nascimento da cantora mineira, festejados em 12 de agosto de 2012, Canto sagrado chegou ao Rio de Janeiro (RJ) um ano após ter iniciado rota que percorreu a capital e algumas cidades de São Paulo (SP). E o que se viu no palco da Sala Baden Powell, na noite de 10 de agosto de 2013, foi o melhor dentre os vários tributos prestados a Clara neste ano em que se completam 30 anos da precoce saída de cena da Guerreira. De todas as cantoras que decidiram saudar a mineira, a paulista Fabiana Cozza e a baiana Mariene de Castro são as únicas que têm ligação natural com a identidade afro-brasileira de boa parte do repertório de Clara. Mariene tem canto luminoso e incandescente presença cênica, mas se limitou a reviver os maiores sucessos de Clara com a habitual vivacidade no CD e DVD Ser de luz - Uma homenagem a Clara Nunes (Universal Music, 2013), geralmente sem se dissociar da matriz. Além de ter ido mais fundo na pesquisa da discografia de Clara, pondo em cena lados B com o descontraído samba Bafo de boca (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1975), Cozza imprime teatralidade ao repertório, recorrendo a elementos de dança afro e a entonações e divisões que trazem para o seu universo até os sucessos mais batidos de Clara. É o caso de O mar serenou (Candeia, 1975), samba coreografado por Cozza como se estivesse na areia, na beira do mar, e cantado de início somente sob a marcação das palmas dos músicos e da plateia. A recorrente teatralidade da intérprete realça cada verso da lição de moral dada em Lama (Mauro Duarte, 1976). Linkado no roteiro com Na linha do mar (Paulinho da Viola, 1973), por conta do alvorecer ser imagem presente nas letras dos dois sambas, Deixa clarear (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1981) é a prova de que os tributos a Clara ganham peso quando as cantoras vasculham a discografia da artista para não se restringir a cantar os hits mais óbvios. Nesse sentido, vale saudar também a inclusão no roteiro de Congada (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1981), número em que Cozza dança no passo do ritmo mineiro com o baterista Douglas Alonso. Um tema de domínio público que remete à ancestralidade africana costura Congada e valoriza ainda mais o número já abrilhantado pela dança da cantora com o músico. Na seara baiana, Ijexá (Edil Pacheco, 1982) reitera a personalidade de Cozza em cadência toda própria que foge da interpretação luminosa de Clara. Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) é a carta que tem suas intenções sublinhadas em cena pelo canto de Cozza em número em que sobressai o toque do bandolim de Henrique Araújo. Já Novo amor (Chico Buarque, 1982) é ambientado em clima seresteiro, criado a partir da sintonia da voz de Cozza com o violão de Lula Gama, acompanhante solitário da cantora no tema lançado por Clara em seu derradeiro álbum, Nação (Odeon, 1982). O mesmo violão faz com que, de início, o samba-enredo Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981) seja cantado em feitio de oração, em interpretação que se alinha com a visão - exposta pelo poeta Paulo César Pinheiro na letra - de que o desfile da escola é a procissão do samba. Encorpada pela trama dos tambores urdida pelo percussionista Leo Rodrigues com o baterista Douglas Alonso, A deusa dos orixás (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1975) é veículo para a pulsação da veia afro-brasileira de Cozza em momento forte que inclui número de dança. Conto de areia (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1974) também faz o santo baixar em cena. Em contrapartida, o Canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1976) ecoa sem toda sua força. Pequeno detalhe de grande show feito por Cozza sob a direção musical de André Santos com arranjos criados por Santos e Edinho Santana sem colar dos originais. Fabiana Cozza celebra Clara Nunes sem (jamais) deixar de ser Fabiana Cozza.
Já no primeiro dos 21 números do show Canto sagrado - 70 anos de Clara Nunes - um trecho a capella de Senhora das Candeias (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1977) - Fabiana Cozza dá a pista de que vai saudar Clara Nunes (1942 - 1983) sem abrir mão de sua personalidade como intérprete. Tal pista era verdadeira - confirmação obtida já na sequência com a interpretação seca de Tristeza pé no chão (Armando Cavalcanti, 1973). Show idealizado para celebrar os 70 anos de nascimento da cantora mineira, festejados em 12 de agosto de 2012, Canto sagrado chegou ao Rio de Janeiro (RJ) um ano após ter iniciado rota que percorreu a capital e algumas cidades de São Paulo (SP). E o que se viu no palco da Sala Baden Powell, na noite de 10 de agosto de 2013, foi o melhor dentre os vários tributos prestados a Clara neste ano em que se completam 30 anos da precoce saída de cena da Guerreira. De todas as cantoras que decidiram saudar a mineira, a paulista Fabiana Cozza e a baiana Mariene de Castro são as únicas que têm ligação natural com a identidade afro-brasileira de boa parte do repertório de Clara. Mariene tem canto luminoso e incandescente presença cênica, mas se limitou a reviver os maiores sucessos de Clara com a habitual vivacidade no CD e DVD Ser de luz - Uma homenagem a Clara Nunes (Universal Music, 2013), geralmente sem se dissociar da matriz. Além de ter ido mais fundo na pesquisa da discografia de Clara, pondo em cena lados B com o descontraído samba Bafo de boca (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1975), Cozza imprime teatralidade ao repertório, recorrendo a elementos de dança afro e a entonações e divisões que trazem para o seu universo até os sucessos mais batidos de Clara. É o caso de O mar serenou (Candeia, 1975), samba coreografado por Cozza como se estivesse na areia, na beira do mar, e cantado de início somente sob a marcação das palmas dos músicos e da plateia. A recorrente teatralidade da intérprete realça cada verso da lição de moral dada em Lama (Mauro Duarte, 1976). Linkado no roteiro com Na linha do mar (Paulinho da Viola, 1973), por conta do alvorecer ser imagem presente nas letras dos dois sambas, Deixa clarear (Wilson Moreira e Nei Lopes, 1981) é a prova de que os tributos a Clara ganham peso quando as cantoras vasculham a discografia da artista para não se restringir a cantar os hits mais óbvios. Nesse sentido, vale saudar também a inclusão no roteiro de Congada (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1981), número em que Cozza dança no compasso do ritmo mineiro com o baterista Douglas Alonso. Um tema que evoca a ancestralidade africana costura Congada e valoriza ainda mais o número já abrilhantado pela dança da cantora com o músico.
ResponderExcluirNa seara baiana, Ijexá (Edil Pacheco, 1982) reitera a personalidade de Cozza em cadência toda própria que foge da interpretação luminosa de Clara. Minha missão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1981) é a carta que tem suas intenções sublinhadas em cena pelo canto de Cozza em número em que sobressai o toque do bandolim de Henrique Araújo. Já Novo amor (Chico Buarque, 1982) é ambientado em clima seresteiro, criado a partir da sintonia da voz de Cozza com o violão de Lula Gama, acompanhante solitário da cantora no tema lançado por Clara em seu derradeiro álbum, Nação (Odeon, 1982). O mesmo violão faz com que, de início, o samba-enredo Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981) seja cantado em feitio de oração, em interpretação que se alinha com a visão - exposta pelo poeta Paulo César Pinheiro na letra - de que o desfile da escola é a procissão do samba. Encorpada pela trama dos tambores urdida pelo percussionista Leo Rodrigues com o baterista Douglas Alonso, A deusa dos orixás (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1975) é veículo para a pulsação da veia afro-brasileira de Cozza em momento forte que inclui número de dança. Conto de areia (Romildo Bastos e Toninho Nascimento, 1974) também faz o santo baixar em cena. Em contrapartida, o Canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1976) ecoa sem toda sua força. Pequeno detalhe de grande show feito por Cozza sob a direção musical de André Santos com arranjos criados por Santos e Edinho Santana. Fabiana Cozza celebra Clara Nunes sem (jamais) deixar de ser Fabiana Cozza.
ResponderExcluirCozza é dez!
ResponderExcluirFabi é uma força da natureza. Tem uma consciência absurda do que são a música, o samba e o palco para ela. Amo. É a minha preferida!!!
ResponderExcluirCozza está cada vez cantando melhor! Que seja assim, pois a boa Música feita no Brasil agradece e — principalmente — vive! Salve Clara! Salve Fabiana!
ResponderExcluirO que falar depois dessa resenha atenta e real?
ResponderExcluirPara mim, só tem ela: FABIANA COZZA.
O que falar depois dessa resenha?
ResponderExcluirPara mim, só tem ela: FABIANA COZZA.
Desde que assisti Fabiana cantando uma homenagem para D.Canô num festival em que o grande sucesso foi a música Classe média senti que ali surgia a maior cantora de sua geração.Desde então não perco nada do que ela faz.Adoro.Preciso assistir a esse show.
ResponderExcluirDesde que ouvi Fabiana Cozza cantando uma homenagem a D.Canô num festival em que a música mais badalada foi Classe Média senti que alí surgia a maior cantora de sua geração.Desde então acompanho tudo o que ela faz.Adoro.Não posso perder esse show.
ResponderExcluirAlcione, Mariene de Castro, Valéria Oliveira, Carla Visi, Eleny Galvan, Fabiana Cozza... Para mim, todos os tributos, independente das intenções e dos resultados, são válidos! O importante é que Clara Nunes seja lembrada e que o seu trabalho chegue às novas gerações! Fabiana Cozza, meus parabéns!
ResponderExcluirE quem não assistiu? Quando será o próximo show no Rio?...
ResponderExcluirE quem não assistiu? Quando será o próximo show no Rio?...
ResponderExcluirFabiana é boa intérprete, mas as vezes canta empostado demais, põe drama onde não tem
ResponderExcluirSe acha! Sente a pose de diva? Coitada!
ResponderExcluirCoitada? Fabiana faz o melhor tributo, entre os vários que foram prestados à Clara Nunes, e é chamada de coitada? O recalque mandou lembranças!
ResponderExcluirJá tinha ouvido isso do drama aonde não tem, realmente há um pouco disso, mas suas qualidades são tão maiores que isso. Prefiro o drama aonde não tem do que um canto sem vida.
ResponderExcluirRecalque de uma ilustre desconhecida? rs Se enxerga! Fã da MAIOR SAMBISTA DE TODOS OS TEMPOS (BY DANIELA MERCURY NO SAMBAS DA BAHIA).
ResponderExcluirFabiana Cozza é a maior cantora do Brasil, depois de Clara, claro!
ResponderExcluirrs O subtítulo do livro CANTADAS, do Jornalista Mauro Ferreira, já diz TUDO sobre a VERDADEIRA VOZ DO SAMBA.
ResponderExcluirO resto, nada a declarar. rs
Quem seria a "verdadeira" voz do samba? Será que o cidadão é tão fanático que desconsidera outras cantoras de samba,especialmente a que ABRIU caminhos para que outras cantoras,especialmente a "verdadeira voz do samba",tivessem às portas abertas nas grandes gravadoras?
ResponderExcluirRidículo entrar em tópicos sobre Clara Nunes para somente enaltecer Beth Carvalho.Coisa de gente que não sabe superar desavenças antigas e que envergonha a própria Beth Carvalho.
Espero ter o comentário publicado.
Atenciosamente.
Francisco Carlos
(Fã da MAIOR cantora que o Samba já teve,a VERDADEIRA Clara Nunes e admirador da grande Beth Carvalho,que não merece certos comentários desmerecedores motivados por picuinhas infantis)
Francisco Carlos, vulgo Muscleboy no facebook (pessoal do Galeria do Samba já me disse que é o seu nick),
ResponderExcluirEngraçado que não era como VOCÊ agia em outro site em que foi EXPULSO, não é? Vivia escrevendo inverdades sobre a BETH CARVALHO para enaltecer a Clara Nunes. E nunca engoliu os feitos que a mesma fez/faz pelo ritmo. Só escrevo o que eu penso.
E eu pelo menos sempre questionei com ARGUMENTOS ao contrário de Vossa Senhoria que precisou ser expulso pelo próprio dono do site. Teve que procurar outros meios para escrever os seus recalques.
Abs, Mauro! E desculpe pela lavação de roupa (dessa vez fui light para não descer o nível desse rapaz).
Marcelo Barbosa
Francisco e Marcelo, aviso que não vou publicar mais comentários de vocês que envolvam essa picuinha - nem nesta nem em nenhuma outra postagem. Se vocês querem se digladiar, ok, é um direito de vcs. Mas o confronto não vai ser mais feito via Notas Musicais. Pelo simples motivo de que essa briga não interessa aos leitores. Abs, MauroF
ResponderExcluirOk, meu caro! Mil desculpas!
ResponderExcluirMauro,desculpe se ocorreu um clima desagradável.Não era minha intenção.
ResponderExcluirUm abraço e,mais uma vez,desculpe-me.
Francisco Carlos.