Segundo álbum do quinteto paulista Vento em Madeira em três anos de carreira, Brasiliana sopra novidades nas harmonias e ritmos das músicas autorais registradas no CD editado pela gravadora Maritaca. Formado por Léa Freire (flauta e flauta baixo), Teco Cardoso (sax soprano, sax barítono, flauta e flauta em sol), Tiago Costa (piano), Fernando Demarco (baixo acústico) e Edu Ribeiro (bateria), o grupo tem a adesão de Mônica Salmaso - sentada na foto de Dani Gurgel - em várias faixas do disco que, de acordo com texto escrito pelo compositor carioca Edu Lobo para o encarte de Brasiliana, exala "aroma de Brasil". Em outro texto reproduzido no encarte, a flautista Léa Freire - líder do grupo - detalha o repertório do álbum:
"E já é o terceiro ano do Vento em Madeira, segundo CD. Este tem sido um caminhar cheio de bons frutos, um projeto que promete muito pro futuro e um prazer enorme no presente. Aqui já dá pra sentir pra onde que o Vento vai soprar: acredito que Brasiliana, do Tiago, faz aqui um papel de bússola, apontando um novo norte. Daí chegarmos ao consenso de nomear esse CD com ela, inclusive porque esse mesmo critério foi usado no CD anterior. Conto aqui alguma das histórias de cada composição, ou como eu pessoalmente as vejo. Então, pela ordem, começamos com Felipe na Área, do Tiago Costa, um sete ensolarado, com contracantos elaborados e surpreendentes, cheio de alegrias, com uma parte B muito inspirada, que termina como uma brincadeira. Um convite pra jogar mesmo.
Na sequência, Brasiliana, também do Tiago, que dá nome ao CD, uma melodia simples, fortemente brasileira, com uma cama de piano maravilhosa que prossegue para um improviso coletivo bitonal (F e F#), daí uma série de ‘pirâmides’ onde o piano e as flautas se sobrepõem, num movimento pifanístico que desemboca nos improvisos onde os ritmos vão se alternando, desdobrando, contorcendo até resultarem em chamados para a volta ao tema. Aqui os contracantos de flautas se intensificam e o final é um grito que se perde. Tudo isso encorpado, solenizado, engrandecido mesmo pela voz da Mônica.
Espiral, de minha autoria, já foi gravado antes no CD Cartas brasileiras, aqui uma versão de quinteto, num take muito inspirado, muito vivo. Aqui se fala dos ciclos da vida onde tudo se repete sempre diferente.
Labirinto é uma experiência melódico / rítmica em 12/8 onde melodias ecoam entre os instrumentos, o tempo 1 nem sempre é claro, contracantos distam apenas uma semicolcheia da melodia, tanto para frente quanto para trás, ressaltando a sensação de falta de chão e provocando uma certa tontura, um certo transe. O pan utilizado também ressalta essa sensação, havendo momentos em que existe uma melodia à esquerda, outra à direita e outra ainda no meio. O título tem mais a ver com labirintite mesmo - no caso, a minha. Dediquei ao Gabriele Mirabassi, que com seus solos provoca essas vertigens.
Angulosa é uma valsa maravilhosa do Teco Cardoso, cheia de contracantos verdadeiramente angulosos. Já na introdução duas melodias em formato pergunta-e- resposta se entrelaçam lindamente. No B um uníssono muito bem escrito, cheio de intenções e um C muito inspirado nesse 3/4 que sempre me evoca uma pinta no rosto, uma rosa na boca.
Dança das Pipas é, espero, a primeira de muitas parcerias instrumentais com o Teco (e com to-dos os outros do Vento) que pretendo realizar. Em cima de um piano que o Tiago bem classificou como motorzinho, o Teco construiu um ballett de pipas para duas flautas – tudo a ver com Vento em Madeira e tudo mais que o moço não dá ponto sem nó. Daí pediu pra Miroca fotos de pipas, vide capa, etc. etc. Mais um capítulo feliz.
Turbulenta é, ou tenta ser, a história de uma maria-fumaça cortando as montanhas de Minas. Por que Minas? Não tenho a menor ideia, mas no meu sonho era isso. Imagino que se possa ver / sentir o balanço do trem, as paradas, e ver as paisagens idílicas que estão no meu / seu sonho. Dedicada a Sérgio Albach, por ser a locomotiva cultural de Curitiba – tenho certeza de que ele vai me odiar por isso… (risos).
Nívea, do Edu Ribeiro, recebeu o Troféu Vento em Madeira de Melhor Segunda Voz de 2012, com louvor. É praticamente um voo de asa delta em dia de sol calmo com vento constante, muito boa de tocar, uma delícia para ouvir. Tem uma harmonia intrincada com duas melodias perfeitamente naturais e cantáveis, bom pra alma, fiquei cantando aquela segunda voz durante meses. Tava vendo um vídeo na internet da premiação do TED (site super bacana) para a Orquestra Simon Bolivar, da Venezuela, para jovens abaixo de 25 anos, dentro do projeto El Sistema. Um Shostakovich im-pres-sio-nan-te, chocante mesmo, tocado com a paixão nos cascos, uma beleza emocionante demais. Fiquei com vontade de compor uma coisa maluca mais ou menos daquele jeito e comecei com uns acordes tensos, tava indo bem até mais ou menos o compasso 20 quando a coisa desembestou pr’uma marcha rancho em 3/4. Não teve jeito, daí prum frevo e um final mezzo frevo, mezzo russo. Depois de pronta ganhou o nome de A coisa ficou russa. Ficar, ficou, mas foi por pouco tempo…
Encerramos o CD com uma versão curta de Brasiliana, a Brasilianinha, somente piano, flautas e voz, uma lembrança do futuro e dos projetos que inda virão". Léa Freire.
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Segundo álbum do quinteto paulista Vento em Madeira em três anos de carreira, Brasiliana sopra novidades nas harmonias e ritmos das músicas autorais registradas no CD editado pela gravadora Maritaca. Formado por Léa Freire (flauta e flauta baixo), Teco Cardoso (sax soprano, sax barítono, flauta e flauta em sol), Tiago Costa (piano), Fernando Demarco (baixo acústico) e Edu Ribeiro (bateria), o grupo tem a adesão de Mônica Salmaso - sentada na foto de Dani Gurgel - em várias faixas do disco que, de acordo com texto escrito pelo compositor carioca Edu Lobo para o encarte de Brasiliana, exala "aroma de Brasil". Em outro texto reproduzido no encarte, a flautista Léa Freire - líder do grupo - detalha o repertório do álbum.
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