Título: Pura claridade - Um tributo a Clara Nunes
Artista: Carla Visi
Gravadora: MHP Música / Sony Music
Cotação: * *
Em 2001, Carla Visi - cantora baiana que pôs os pés na profissão ao longo dos anos 90 como vocalista das bandas Cia. Clic e Cheiro de Amor - se lançou em carreira solo com bonita saudação à obra do compositor baiano Gilberto Gil. Só chamei porque te amo - Carla Visita Gilberto Gil sinalizou promissora carreira solo que não se cumpriu. Decorridos 12 anos e somente um disco, Por todo canto (2004), Visi se junta ao time de intérpretes que celebram Clara Nunes (1942 - 1983) neste ano de 2013 para lembrar os trinta anos da precoce saída de cena da cantora. Para Pura claridade, Visi selecionou uma música de cada um dos 15 álbuns de estúdio de Clara para montar repertório de disco aberto e encerrado com duas composições feitas em saudação à cantora, Mineira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1975) e Um ser de luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1983). A boa ideia permite que Carla visite álbuns da ignorada fase inicial da Guerreira, como A voz adorável de Clara Nunes (1966) e A beleza que canta (1969), dos quais Visi escolheu dois sambas-canção, Dia de esperança (Jorge Smera, 1966) e Foi ele (Carlos Imperial, 1969), que mostram que essa fase seminal da discografia de Clara não é totalmente desprezível, embora esteja distante anos-luz da coesão dos discos gravados pela cantora mineira a partir de 1971. Dia de esperança ganha registro que une a voz de Visi com a da cantora mineira Paula Fernandes, ícone do segmento pop sertanejo da atualidade. A propósito, em Pura claridade, Visi linka o repertório de Clara a nomes populares no Brasil do pagode e do sertanejo. Três integrantes do desativado grupo de pagode Exaltasamba fazem duetos com a cantora. Pinha é o convidado de Ê baiana (Baianinho, Fabrício da Silva, Miguel Pancrácio e Ênio dos Santos Ribeiro, 1971). Thiaguinho solta a voz em Tristeza pé no chão (Armando Fernandes Mamão, 1973) ao passo em que Péricles encorpa o Canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1976). Sem falar em Xande de Pilares. O vocalista e compositor do Grupo Revelação se junta a Visi em Coração leviano (Paulinho da Viola, 1977). Ninguém faz feio, mas tampouco brilha. Este é o problema de Pura claridade, disco produzido por Izaías Marcelo, com arranjos divididos entre Pezinho, Rildo Hora e o próprio Izaías. Tudo soa correto, mas sem aquela centelha de luminosidade que há, por exemplo, no tributo de Mariene de Castro a Clara. A homenagem de Visi começa surpreendente, lembrando sambas pouco ouvidos como Tributo aos orixás (Mauro Duarte, Noca da Portela e Rubem Tavares, 1972), mas, à medida em que avança, patina em clichês e cai no óbvio. Visi sucumbe à tentação de cantar os sucessos mais batidos de Clara e - claro - nada acrescenta de seu a sambas como Conto de areia (Romildo e Toninho, 1974), O mar serenou (Candeia, 1975), Guerreira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1978), Na linha do mar (Paulinho da Viola, 1973 - samba gravado por Clara em 1979), Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981) e Nação (João Bosco, Paulo Emílio e Aldir Blanc, 1982). De todo modo, vale registrar que Daniela Mercury - antecessora de Visi no posto de vocalista da banda baiana Cia. Clic - põe dendê em Morena de Angola (Chico Buarque, 1980), alterando a divisão do tema no arranjo de toque afro. Enfim, como o mercado já começa a ficar saturado com tantos tributos a Clara Nunes, é preciso ir mais fundo na pesquisa do repertório da Guerreira para escapar da repetição - pecado maior de Carla Visi em Pura claridade - até porque tudo já foi gravado de forma bela e luminosa pela homenageada.
24 comentários:
Em 2001, Carla Visi - cantora baiana que pôs os pés na profissão ao longo dos anos 90 como vocalista das bandas Cia. Clic e Cheiro de Amor - se lançou em carreira solo com bonita saudação à obra do compositor baiano Gilberto Gil. Só chamei porque te amo - Carla Visita Gilberto Gil sinalizou promissora carreira solo que não se cumpriu. Decorridos 12 anos e somente um disco, Por todo canto (2004), Visi se junta ao time de intérpretes que celebram Clara Nunes (1942 - 1983) neste ano de 2013 para lembrar os dez anos da precoce saída de cena da cantora. Para Pura claridade, Visi selecionou uma música de cada um dos 15 álbuns de estúdio de Clara para montar repertório de disco aberto e encerrado com duas composições feitas em saudação à cantora, Mineira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1975) e Um ser de luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1983). A boa ideia permite que Carla visite álbuns da ignorada fase inicial da Guerreira, como A voz adorável de Clara Nunes (1966) e A beleza que canta (1969), dos quais Visi escolheu dois sambas-canção, Dia de esperança (Jorge Smera, 1966) e Foi ele (Carlos Imperial, 1969), que mostram que essa fase seminal da discografia de Clara não é totalmente desprezível, embora esteja distante anos-luz da coesão dos discos gravados pela cantora mineira a partir de 1971. Dia de esperança ganha registro que une a voz de Visi com a da cantora mineira Paula Fernandes, ícone do segmento pop sertanejo da atualidade. A propósito, em Pura claridade, Visi linka o repertório de Clara a nomes populares no Brasil do pagode e do sertanejo. Três integrantes do desativado grupo de pagode Exaltasamba fazem duetos com a cantora. Pinha é o convidado de Ê baiana (Baianinho, Fabrício da Silva, Miguel Pancrácio e Ênio dos Santos Ribeiro, 1971). Thiaguinho solta a voz em Tristeza pé no chão (Armando Fernandes Mamão, 1973) ao passo em que Péricles encorpa o Canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1976). Sem falar em Xande de Pilares. O vocalista e compositor do Grupo Revelação se junta a Visi em Coração leviano (Paulinho da Viola, 1977). Ninguém faz feio, mas tampouco brilha. Este é o problema de Pura claridade, disco produzido por Izaías Marcelo, com arranjos divididos entre Pezinho, Rildo Hora e o próprio Izaías. Tudo soa correto, mas sem aquela centelha de luminosidade que há, por exemplo, no tributo de Mariene de Castro a Clara. A homenagem de Visi começa surpreendente, lembrando sambas pouco ouvidos como Tributo aos orixás (Mauro Duarte, Noca da Portela e Rubem Tavares, 1972), mas, à medida em que avança, patina em clichês e cai no óbvio. Visi sucumbe à tentação de cantar os sucessos mais batidos de Clara e - claro - nada acrescenta de seu a sambas como Conto de areia (Romildo e Toninho, 1974), O mar serenou (Candeia, 1975), Guerreira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1978), Na linha do mar (Paulinho da Viola, 1973 - samba gravado por Clara em 1979), Portela na avenida (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1981) e Nação (João Bosco, Paulo Emílio e Aldir Blanc, 1982). De todo modo, vale registrar que Daniela Mercury - antecessora de Visi no posto de vocalista da banda baiana Cia. Clic - põe dendê em Morena de Angola (Chico Buarque, 1980), alterando a divisão do tema no arranjo de toque afro. Enfim, como o mercado já começa a ficar saturado com tantos tributos a Clara Nunes, é preciso ir mais fundo na pesquisa do repertório da Guerreira para escapar da repetição - pecado maior de Carla Visi em Pura claridade - até porque tudo já foi gravado de forma bela e luminosa pela homenageada.
oi
Mauro, você escreveu "Visi se junta ao time de intérpretes que celebram Clara Nunes (1942 - 1983) neste ano de 2013 para lembrar os dez anos da precoce saída de cena da cantora". Mas na verdade são trinta anos.
Abraço!
Grato pelo toque, Felipe. Já corrigi o erro matemático. Abs, MauroF
Carla é uma ótima cantora! Seu cd tributo ao Gil ficou lindo!! Ela pode fazer uma carreira maravilhosa...falta produção , repertório e boas idéias!! Esse da Clara ficou bem fraquinho mesmo...
Nada contra as outras homenagens, mas achei o cd da Carla interessante exatamente pela cronologia fiel. Para mim, de ruim, é a presença de convidados dispensáveis e distantes anos luz de Clara. Exceto Daniela, que tem o link baiano com Carla, o mundo do samba tem gente melhor para ajudar na homenagem.
Por incrível que pareça eu gostei, até mesmo pela idéia de se extrair uma música de cada Lp.
Pena que ficou nas mesmas de sempre.
E as participações não comprometem. Carla Visi é uma ótima cantora que desperdiçava sua bela voz cantando axé de quinta.
fui a gravação do dvd da Fabiana Cozza no Ibirapuera e gostei, Carla errou na escolhas dos convidados
A homenagem da pseudo-diva de SP eu DISPENSO. Comprei o da Mariene, o da Carla e espero comprar o da Valéria, quanto a outra não compensa desperdiçar dinheiro.
Acho que faltou mais dendê e sabor neste disco... Achei ele apagadinho... Thiaguinho, Péricles e Paula Fernandes nada tem a ver com o repertório de Clara! Esses convidados ajudou a empobrecer o disco.
Bem.. na minha opinião a grande sacada do projeto é justamente a ação "despretensiosa de manter os arranjos originais da clara,já que a dinâmica da voz e da interpretação virtuosa da cantora não lembra em nada Clara Nunes, ao contrário do trabalho de Mariene de Castro que, mesmo quando não faz tributo à referida Guerreira, parece querer copiá-la em cada nuance. Sou cantor erudito e aos meus ouvidos a discrição soou como riqueza e virtude, pois o grande diferencial é a voz impecável de Carla Visi, aposto alto neste trabalho! Me surpreendeu! A expectativa entre os grandes músicos com quem pude conversar desde os populares aos de orquestra... é altíssima! É como se tivéssemos sido presenteados, alguém entendeu realmente como preencher a alma do músico erudito com um trabalho popular! Surpreendente!
A capa é alguma homenagem a algum disco da cantora que desconheço?
Realmente você desconhece, Thiago. Não há nenhuma capa de lado da Guerreira e com fundo azul. A não ser o Clara Clarice Clara com o fundo azul e na frente de uma porta ou o primeiro disco, o da fase brega, que remete apenas pelo fundo de mesma cor.
Nenhum deles têm essa luminosidade.
Concordo plenamente com o Thiago.Alem de ser totalmente ela mesma,Carla esta impecavel.Clara foi homenageada de forma respeitosa e consequentemente da forma mais brasileira possivel.E o mais importante e que sem abrir mao desse Brasil brasileiro tao insensado por Clara,Carla fez um trabalho atualissimo e extremamente palatavel para as noivas geracoes.Um dos grandes lancamentos do ano!
Thiago, a inspiração da capa de Carla Visi veio da foto da capa da coletânia "O Canto da Guerreira - Vol. 2":
http://www.lastfm.de/music/Clara+Nunes/O+Canto+da+Guerreira+-+Vol.+2
Bem, a participação de Daniela Mercury, pra mim, é justamente uma das mais duvidosas... ela brinca com a marcação do tempo e tal, traz a voz pra região da fala... mas mostra uma voz sem saúde, com pouca agilidade e os agudos desconfortáveis...contrastando com a precisão e clareza do canto de Carla Visi...é tudo redondo! Incrível!
Na verdade... pelo que pesquisei...Carla Visi foi apenas a cantora escolhida pelo mérito da voz e da interpretação... além da relação com Clara Nunes que vem de uma falecida mãe sambista e grande intérprete da homenageada...mas o projeto foi todo elaborados por terceiros e ela foi somente convidada para protagonizar.Portanto, oportunismo não se encaixa nesse quadro.
Concordo com vc Thiago Bols... a voz da Daniela há tempos perdeu brilho e força... E Carla merece um cd a a altura de seu talento. Ela é uma cantora espetacular!!!!
Essa capa serviria, no máximo, para estampar um cd gospel nacional. Ou nem isso. Onde estão os fotógrafos e designeres desse país?
99% das capas hoje estão nesse nível.
A CAPA TA MUITO RUÍM MESMO!!!! ISSO É UMA UNANIMIDADE... FOTO E ARTE... AMADORAS E DE NENHUM BOM GOSTO! O INUSITADO É Q DENTRO A COISA MELHORA...TANTO A FOTOGRAFIA QUANTO A ARTE!!!! KL, EU ME PERGUNTO A MESMA COISA Q VC, INCLUSIVE, EU, FARIA UM TRABALHO MUITO MELHOR, COM TODA CERTEZA!!!NÃO SERIA DIFÍCIL...
Thiago,
Eu acrescentaria o seguinte bordão, que uso em relação à (falta de) arte gráfica nas capas dos cds: E AINDA PAGARAM PARA FAZEREM ISSO.
Abraço!
P.S.: com toda a certeza, eu, você (ou meu sobrinho de 3 anos), qualquer fotógrafo-designer mediano faria melhor.
ah, e essa pose, com o dedo para cima? Bem sugestiva.
Cantora afinadíssima de canto virtuoso, fez um dos melhores discos do ano. As outras cantoras citadas de vozes abafadas devem ter ficado morrendo de vergonha de Carla Visi que não desafina nunca enquanto que elas com suas vozes abafadas, um dia irão cantar melhor quando tirarem o ovo da boca
Disco inspirado, emociona pela fiel cronologia e respeito a obra de Clara. Se torna atual por empregar cantores do momento e soa um patamar a frente para a carreira de Carla Visi. Gostei demais!
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