Título: Aos que estão por vir - Cida Moreira canta Bertolt Brecht e Kurt Weill
Artista: Cida Moreira (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Sesc-Ginástico (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 12 de setembro de 2013
Cotação: * * * *
Dois dias após ter feito a travessia Paris - Rio de Janeiro no show Da fenêtre vê-se o Redentor, atração do Instituto Moreira Salles na noite de 10 de setembro de 2013, Cida Moreira se ambientou num imaginário cabaré alemão para dar voz à obra criada pelos compositores alemães Kurt Weill (1900 - 1950) e Bertolt Brecht (1896 - 1956) para os palcos. Atriz e cantora, a intérprete paulista esteve em casa ao apresentar na tarde desta quinta-feira, 12 de setembro, o show Aos que estão por vir, fechando sua temporada no Rio de Janeiro (RJ) com a apresentação única deste espetáculo centrado nas canções teatralizadas de Brecht e Weill. A sós e à vontade com seu piano no palco do teatro Sesc-Ginástico, Cida reiterou sua intimidade com o "universo estranho" - o termo foi usado pela própria artista em cena ao falar das músicas - do cancioneiro dos compositores de temas como Die moritat von mackie messer (Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1928). São baladas épicas em que, à parte as estranhezas poéticas das letras, salta aos ouvidos a beleza de melodias como a de Canção de Salomão (Salomon Song) (Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1928 - em versão em português de Luiz Galizia). Além de cantar essas baladas com sua voz de timbre operístico, Cida contextualizou a origem das músicas do roteiro com conhecimento de causa - adquirido já em 1977 quando integrou o grupo paulista de teatro Ornitorrinco, se aprofundando no mundo de Brecht e Cia. - sem jamais exagerar no didatismo. Apresentado eventualmente pela artista desde 2006, o show Aos que estão por vir tem seu título extraído de texto de Brecht, lido em cena por Cida na tradução do poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886 - 1968). Parceiro de Brecht em músicas feitas para teatro, Kurt Weill aparece no roteiro também através de conexões com outros compositores. No meio do show, Cida canta Speak low (Kurt Weill e Ogden Nash, 1943) - em interpretação sedutora, repetida no bis - e My ship (Kurt Weill e Ira Gershwin, 1941), mas logo retorna às belas estranhezas do cancioneiro de Brecht e Weill, imprimindo registro histriônico a Alabama song (Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1927) e dando tom raivoso à Balada sobre a inutilidade do esforço humano (Bertolt Brecht e Kurt Weill, anos 1920), tema que funcionou como recado espirituoso para a parcela desatenta do público que, frustrado na expectativa de ver show digestivo na hora do almoço, conversou e deixou que celulares tocassem ao longo da refinada apresentação. Contudo, a voz de Cida soou mais forte nos tons altos da Benares song (Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1930), abafando tensões e desatenções. No fim, após contextualizada lembrança de Geni e o zepelim (Chico Buarque, 1977/78), Youkali-tango (Kurt Weil e Roger Fernay, 1934) reiterou toda a beleza e estranheza que há no mundo musical de um cabaré - gênero do qual Cida Moreira é a mais representativa cantora brasileira.
4 comentários:
Dois dias após ter feito a travessia Paris - Rio de Janeiro no show Da fenêtre vê-se o Redentor, atração do Instituto Moreira Salles na noite de 10 de setembro de 2013, Cida Moreira se ambientou num imaginário cabaré alemão para dar voz à obra criada pelos compositores alemães Kurt Weill (1900 - 1950) e Bertolt Brecht (1896 - 1956) para os palcos. Atriz e cantora, a intérprete paulista esteve em casa ao apresentar na tarde desta quinta-feira, 12 de setembro, o show Aos que estão por vir, fechando sua temporada no Rio de Janeiro (RJ) com a apresentação única deste espetáculo centrado nas canções teatralizadas de Brecht e Weill. A sós e à vontade com seu piano no palco do teatro Sesc-Ginástico, Cida reiterou sua intimidade com o "universo estranho" - o termo foi usado pela própria artista em cena ao falar das músicas - do cancioneiro dos compositores de temas como Die moritat von mackie messer (Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1928). São baladas épicas em que, à parte as estranhezas poéticas das letras, salta aos ouvidos a beleza de melodias como a de Canção de Salomão (Salomon Song) (Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1928 - em versão em português de Luiz Galizia). Além de cantar essas baladas com sua voz de timbre operístico, Cida contextualizou a origem das músicas do roteiro com conhecimento de causa - adquirido já em 1977 quando integrou o grupo paulista de teatro Ornitorrinco, se aprofundando no mundo de Brecht e Cia. - sem jamais exagerar no didatismo. Apresentado eventualmente pela artista desde 2006, o show Aos que estão por vir tem seu título extraído de texto de Brecht, lido em cena por Cida na tradução do poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886 - 1968). Parceiro de Brecht em músicas feitas para teatro, Kurt Weill aparece no roteiro também através de conexões com outros compositores. No meio do show, Cida canta Speak low (Kurt Weill e Ogden Nash, 1943) - em interpretação sedutora, repetida no bis - e My ship (Kurt Weill e Ira Gershwin, 1941), mas logo retorna às belas estranhezas do cancioneiro de Brecht e Weill, imprimindo registro histriônico a Alabama song (Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1927) e dando tom raivoso à Balada sobre a inutilidade do esforço humano (Bertolt Brecht e Kurt Weill, anos 1920), tema que funcionou como recado espirituoso para a parcela desatenta do público que, frustrado na expectativa de ver show digestivo na hora do almoço, conversou e deixou que celulares tocassem ao longo da refinada apresentação. Contudo, a voz de Cida soou mais forte nos tons altos da Benares song (Bertolt Brecht e Kurt Weill, 1930), abafando tensões e desatenções. No fim, após contextualizada lembrança de Geni e o zepelim (Chico Buarque, 1977), Youkali-tango (Kurt Weil e Roger Fernay, 1934) reiterou toda a beleza e estranheza que há no mundo musical de um cabaré - gênero do qual Cida Moreira é a mais representativa cantora brasileira.
Essa semana tá um OVER de Cida Moreira...Acho q vou até sonhar com ela!!
Augusto Flávio (Petrolina-Pe/Juazeiro-Ba)
Mauro, acho que Geni e o zepelim é de 1979 do disco Ópera do malandro.
oi, Augusto, sim, saiu em disco de 1979, mas foi lançada no teatro. Abs, MauroF
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