Título: O samba do Rei do Baião
Artista: Socorro Lira e Oswaldinho do Acordeon
Gravadora: Genesis Music / Instituto Memória Brasil
Cotação: * * * 1/2
♪ Lançado neste ano de 2013, desgarrado dos tributos apresentados ao longo de 2012 por conta do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), o CD O samba do Rei do Baião tem título dúbio. O nome pode sugerir um disco que reúna os sambas feitos pelo compositor pernambucano ou mesmo uma releitura em ritmo de samba da obra essencialmente nordestina de Gonzagão. Ambas as interpretações estão erradas. No caso, samba - como explica o jornalista Assis Ângelo (produtor do disco) - significa festa, tal como o termo era usado no século 19 e ainda na primeira metade do século 20. É nesse sentido que Socorro Lira - cantora paraibana, natural de Brejo da Cruz - faz sua festa ao lado de Oswaldinho do Acordeon ao dar voz a raridades do cancioneiro do compositor de Exu (PE). Gonzaga foi entronizado como Rei do Baião, mas sua obra cruzou a fronteira rítmica do Nordeste ao longo dos anos 40 e 50, como provam algumas preciosidades reunidas no disco. Meu pandeiro (Luiz Gonzaga e Ary Monteiro, 1947) é um samba mesmo, e dos bons, regravado por Lira em dueto com o cantor paulistano Oswaldinho da Cuíca, ex-integrante do grupo Demônios da Garoa. Já Tacacá (Luiz Gonzaga e Lourival Passos, 1956) é carimbó - o único composto por Gonzaga (sem o balanço típico do gênero). Gravado em O samba do Rei do Baião com a apropriada adesão da cantora portuguesa Susana Travassos, Ai, ai, Portugal (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1951) mistura fado e baião com ironia e orgulho nordestino. Já Bamboleado (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1945) é maxixe quase tão buliçoso quanto os melhores títulos do gênero, tendo sua interpretação sido dividida por Lira com o supra-citada Oswaldinho da Cuíca. Menos rara, pois já resgatada por Elba Ramalho em gravação mais sedutora, a valsa Dúvida (Luiz Gonzaga e Domingos Ramos, 1946) ganha no disco o tom empostado do cantor Ventura Ramirez, convidado da faixa. Companheiro certeiro de todas as 14 gravações do disco, o acordeom de Oswaldinho brilha soberano no choro Sanfonando e na polca Fuga da África, dois temas instrumentais, lançados por Gonzaga em 1942 e em 1944, respectivamente. E por falar em África, o maracatu Rei Bantu (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) - gravado por Lira em dueto com a voz de Papete - também bebe na fonte. Ritmo de compasso ternário e origem polonesa, a mazurca está presente n'O samba do Rei do Baião através de Dança Mariquinha (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1945). Há eventuais temas no vivaz CD que destoam do espírito festivo de um samba no sentido que o termo tem no disco, caso do Aboio apaixonado (Luiz Gonzaga, 1956), mas, no todo, a festa de Socorro Lira e Oswaldinho do Acordeom é boa e animada, além de ter valor documental.
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Lançado neste ano de 2013, desgarrado dos tributos apresentados ao longo de 2012 por conta do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), o CD O samba do Rei do Baião tem título dúbio. O nome pode sugerir um disco que reúna os sambas feitos pelo compositor pernambucano ou mesmo uma releitura em ritmo de samba da obra essencialmente nordestina de Gonzagão. Ambas as interpretações estão erradas. No caso, samba - como explica o jornalista Assis Ângelo (produtor do disco) - significa festa, tal como o termo era usado no século 19 e ainda na primeira metade do século 20. É nesse sentido que Socorro Lira - cantora paraibana, natural de Brejo da Cruz - faz sua festa ao lado de Oswaldinho do Acordeon ao dar voz a raridades do cancioneiro do compositor de Exu (PE). Gonzaga foi entronizado como Rei do Baião, mas sua obra cruzou a fronteira rítmica do Nordeste ao longo dos anos 40 e 50, como provam algumas preciosidades reunidas no disco. Meu pandeiro (Luiz Gonzaga e Ary Monteiro, 1947) é um samba mesmo, e dos bons, regravado por Lira em dueto com o cantor paulistano Oswaldinho da Cuíca, ex-integrante do grupo Demônios da Garoa. Já Tacacá (Luiz Gonzaga e Lourival Passos, 1956) é carimbó - o único composto por Gonzaga (sem o balanço típico do gênero). Gravado em O samba do Rei do Baião com a apropriada adesão da cantora portuguesa Susana Travassos, Ai, ai, Portugal (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1951) mistura fado e baião com ironia e orgulho nordestino. Já Bamboleado (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1945) é maxixe quase tão buliçoso quanto os melhores títulos do gênero, tendo sua interpretação sido dividida por Lira com o supra-citada Oswaldinho da Cuíca. Menos rara, pois já resgatada por Elba Ramalho em gravação mais sedutora, a valsa Dúvida (Luiz Gonzaga e Domingos Ramos, 1946) ganha no disco o tom empostado do cantor Ventura Ramirez, convidado da faixa. Companheiro certeiro de todas as 14 gravações do disco, o acordeom de Oswaldinho brilha soberano no choro Sanfonando e na polca Fuga da África, dois temas instrumentais, lançados por Gonzaga em 1942 e em 1944, respectivamente. E por falar em África, o maracatu Rei Bantu (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950) - gravado por Lira em dueto com a voz de Papete - também bebe na fonte. Ritmo de compasso ternário e origem polonesa, a mazurca está presente n'O samba do Rei do Baião através de Dança Mariquinha (Luiz Gonzaga e Miguel Lima, 1945). Há eventuais temas no vivaz CD que destoam do espírito festivo de um samba, caso do Aboio apaixonado (Luiz Gonzaga, 1956), mas, no todo, a festa de Socorro Lira e Oswaldinho do Acordeom é boa e animada, além de ter seu valor documental.
Gosto muito do trabalho da Socorro Lira tanto como compositora, quanto quando ela interpreta, pois faz boas pesquisas e consegue sair da preguiça óbvia em que alguns trabalhos incorrem.
Socorro Lira é um dos grandes tesouros culturais do Brasil.
Saúdo seu novo cd e que venham muitos mais.
abração,
Denilson
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