Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Edi prega no CD 'Contra nós ninguém será' que ainda existe amor em SP

Resenha de CD
Título: Contra nós ninguém será
Artista: Edi Rock
Gravadora: Baguá Records / Lua Music
Cotação: * * * 1/2

"O mundo é de quem ainda tem esperança", prega MC Flora Matos quando faz seu discurso no meio de Eu canto uq soul, sétima das 23 faixas do longo primeiro álbum solo de Edi Rock, Contra nós ninguém será, disco anunciado em setembro de 2012 com o clipe de That's my way, faixa gravada com Seu Jorge, mas efetivamente lançado neste ano de 2013. Onze anos após o último álbum do Racionais MC's, Nada como um dia após o outro dia (2002), Edi Rock - um dos cérebros do contundente grupo paulista de rap - apresenta suas armas de forma pacífica em disco solo que peca até pelo excesso, mas não pela omissão. Com extenso time de convidados, Edi Rock rima seu rap com a dor, a injustiça e a opressão que incidem sobre a população pobre da periferia da cidade de São Paulo - e não por acaso o CD abre com Selva de pedra, tema (gravado com a adesão de rappers como Helião e Nego Jam) que concilia a batida do funk norte-americano à moda de James Brown (1933 - 2006) e coro de fervor gospel. De todo modo, Edi Rock mostra ao longo de Contra nós ninguém será que ainda pode existir amor, fé e esperança em SP - e também não por acaso o disco inclui música intitulada Final feliz e gravada com a participação de Vanessa Jackson. Contudo, tal pregação positivista é feita sem mascarar a realidade. Em Você não pode se enganar, o recado - dado por Edi com Nego Jam e Sandrão - é direto na abordagem de cotidiano periférico às voltas com drogas e com cotidiano machista em que as minas por vezes são meros objetos descartáveis usados para a satisfação sexual dos manos. A sombria Na rota da ambição tampouco desanuvia o ambiente. Mas, como ainda existe esperança em SP, Edi recorre a Pixote e a Calado par discursar contra o crime em Salve negoo, rap cuja letra roça o tom de autoajuda. E, como existe também amor em SP, Marina de la Riva e Salazar desfiam a trivial ladainha romântica em Voltarei para você, faixa dispensável que mistura português e espanhol, com toques de tango. Sim, tango. Embora obviamente calcado no rap, Contra nós ninguém será cruza o universo do hip hop com outros ritmos, notadamente trilhas de soul e funk. A propósito, um funk-soul de Tim Maia (1942 - 1998) em sua fase Racional, Bom senso (1975), se harmoniza (nem sempre bem) com os scratches do DJ Cia em Estrela de David. E por falar em DJ, Negralha insere scractches no reggae Abrem-se os caminhos, outro tema de tom positivista gravado com as vozes de Alexandre Carlo (o cantor do grupo brasiliense de reggae Natiruts) e de Falcão, o cantor d'O Rappa, grupo carioca que em sua fase inicial esteve para as comunidades do Rio de Janeiro (RJ) como os Racionais MC's estiveram para a periferia de São Paulo (SP). Já um dos três interlúdios do disco é pontuado por trechos de Noite do prazer (1983), único sucesso do Brylho, o grupo da década de 80 que projetou Claudio Zoli. Em essência, Contra nós ninguém será é disco de rap que bebe tanto da fonte norte-americana - como mostram raps como Gangstar - quanto da música preta brasileira. Talvez pelo fato de soar excessivo, com longa duração que dilui suas boas ideias e ideais, o álbum solo do rapper não chega a causar impacto, mas mostra que Edi Rock - assim como Mano Brown, convidado de Homem invisível - representa a periferia de SP, aonde (ainda) existe fé, esperança e amor.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"O mundo é de quem ainda tem esperança", prega MC Flora Matos quando faz seu discurso no meio de Eu canto uq soul, sétima das 23 faixas do longo primeiro álbum solo de Edi Rock, Contra nós ninguém será, disco anunciado em setembro de 2012 com o clipe de That's my way, faixa gravada com Seu Jorge, mas efetivamente lançado neste ano de 2013. Onze anos após o último álbum do Racionais MC's, Nada como um dia após o outro dia (2002), Edi Rock - um dos cérebros do contundente grupo paulista de rap - apresenta suas armas de forma pacífica em disco solo que peca até pelo excesso, mas não pela omissão. Com extenso time de convidados, Edi Rock rima seu rap com a dor, a injustiça e a opressão que incidem sobre a população pobre da periferia da cidade de São Paulo - e não por acaso o CD abre com Selva de pedra, tema (gravado com a adesão de rappers como Helião e Nego Jam) que concilia a batida do funk norte-americano à moda de James Brown (1933 - 2006) e coro de fervor gospel. De todo modo, Edi Rock mostra ao longo de Contra nós ninguém será que ainda pode existir amor, fé e esperança em SP - e também não por acaso o disco inclui música intitulada Final feliz e gravada com a participação de Vanessa Jackson. Contudo, tal pregação positivista é feita sem mascarar a realidade. Em Você não pode se enganar, o recado - dado por Edi com Nego Jam e Sandrão - é direto na abordagem de cotidiano periférico às voltas com drogas e com cotidiano machista em que as minas por vezes são meros objetos descartáveis usados para a satisfação sexual dos manos. A sombria Na rota da ambição tampouco desanuvia o ambiente. Mas, como ainda existe esperança em SP, Edi recorre a Pixote e a Calado par discursar contra o crime em Salve negoo, rap cuja letra roça o tom de autoajuda. E, como existe também amor em SP, Marina de la Riva e Salazar desfiam a trivial ladainha romântica em Voltarei para você, faixa dispensável que mistura português e espanhol, com toques de tango. Sim, tango. Embora obviamente calcado no rap, Contra nós ninguém será cruza o universo do hip hop com outros ritmos, notadamente trilhas de soul e funk. A propósito, um funk-soul de Tim Maia (1942 - 1998) em sua fase Racional, Bom senso (1975), se harmoniza (nem sempre bem) com os scratches do DJ Cia em Estrela de David. E por falar em DJ, Negralha insere scractches no reggae Abrem-se os caminhos, outro tema de tom positivista gravado com as vozes de Alexandre Carlo (o cantor do grupo brasiliense de reggae Natiruts) e de Falcão, o cantor d'O Rappa, grupo carioca que em sua fase inicial esteve para as comunidades do Rio de Janeiro (RJ) como os Racionais MC's estiveram para a periferia de São Paulo (SP). Já um dos três interlúdios do disco é pontuado por trechos de Noite do prazer (1983), único sucesso do Brylho, o grupo da década de 80 que projetou Claudio Zoli. Em essência, Contra nós ninguém será é disco de rap que bebe tanto da fonte norte-americana - como mostram raps como Gangstar - quanto da música preta brasileira. Talvez pelo fato de soar excessivo, com longa duração que dilui suas boas ideias e ideais, o álbum solo do rapper não chega a causar impacto, mas mostra que Edi Rock - assim como Mano Brown, convidado de Homem invisível - representa a periferia de SP, aonde (ainda) existe fé, esperança e amor.

Anônimo disse...

E os Racionais lançam um novo disco até o sol esfriar ou não?