Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Excelente disco de banda, 'Embalar' expõe a dádiva da voz de Ná Ozzetti

Resenha de CD
Título: Embalar
Artista: Ná Ozzetti
Gravadora:  Circus / Ná Records
Cotação: * * * * 1/2

"Eis! É a dádiva da voz / Que diz por nós / Embalei / Pra vocês / Podem abrir", oferece Ná Ozzetti nos versos finais de Embalar (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), a bela composição que abre e intitula o décimo disco solo da cantora e compositora paulista. Embalar está à altura dos melhores álbuns dessa artista projetada no começo dos anos 80 como integrante do vanguardista grupo paulista Rumo, se alinhando no mesmo nível de títulos como Ná Ozzetti (Continental, 1988), (Núcleo Contemporâneo, 1994) e Estopim (Ná Records, 1999), que sempre mantiveram a cantora no rumo certo. Disco de banda que reúne Ná com Dante Ozzetti (violões), Mário Manga (guitarras e violoncelo), Sérgio Reze (bateria e percussão) e Zé Alexandre Carvalho (baixo acústico), Embalar é disco para quem aposta na canção, para citar verso de Musa da música (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), composição alocada no início metalinguístico do CD e gravada por Ná com a adesão das vozes de Juçara Marçal e Mariana Furquim. Mas é para quem aposta numa canção de caminhos melódicos e harmônicos menos previsíveis, como Miolo -parceria de Ná com Luiz Tatit - e como As estações (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), grande música de levada envolvente que aborda com poesia o cotidiano imutável da mulata que passa os anos a ensaboar e lavar roupa. Tema quase etéreo da lavra da compositora mineira Déa Trancoso, Minha voz se ajusta com perfeição à estética da obra da artista em gravação feita por Ná com Mônica Salmaso, cantora paulista conhecida pela perfeição de sua voz e, por isso mesmo, convidada ideal para composição metalinguística que exalta a dádiva da voz. Luiz Tatit é nome recorrente na composição de repertório inspirado que destaca A lente do homem, de Manu Lafer. Curiosamente, as duas músicas que mais evocam a arquitetura vanguardista do grupo Rumo foram feitas sem a colaboração de Tatit. Lizete - parceria de Kiko Dinucci com Jonathan Silva, gravada por Ná com a voz e a guitarra de Dinucci - é deliciosa composição de tom leve e teatral que narra as (des)ilusões amorosas da personagem-título, Lizete, após o rompimento com a namorada Rebeca. Nem oi (Dante Ozzetti e Makely Ka) também ecoa, em menor grau, a herança deixada pelo Rumo na música brasileira. Bela canção escorada no toque do violão de Dante Ozzetti, Olhos de Camões tem melodia mais clássica de Ná, ajustada com perfeição ao poema feito por Alice Ruiz com colagem de versos do poeta português Luis de Camões (1524 - 1680). Marcelo Pretto divide os vocais da faixa com Ná, que assina a produção do disco ao lado de sua azeitada banda. No fim, Os enfeites de cunhã (Ná Ozzetti e Joãozinho Gomes) - tema que alinha na letra vários termos do universo indígena - expõe a efervescência rítmica que reverbera também em Pra começo de conversa, a música que abre a parceria de Ná com a cantora e compositora paulista Tulipa Ruiz (um dos nomes mais bem-sucedidos da atual cena indie paulistana) e que ironicamente fecha este excelente álbum com pegada mais pop roqueira. Enfim, Ná Ozzetti sempre foi uma das grandes cantoras do Brasil. Com Embalar, CD já com lugar garantido na lista de melhores discos deste ano de 2013, a artista dá outro salto qualitativo em sua obra fonográfica, sem sair de seu quintal, mas já com novas conexões feitas com sua voz dadivosa.  

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Eis! É a dádiva da voz / Que diz por nós / Embalei / Pra vocês / Podem abrir", oferece Ná Ozzetti nos versos finais de Embalar (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), a bela composição que abre e intitula o décimo disco solo da cantora e compositora paulista. Embalar está à altura dos melhores álbuns dessa artista projetada no começo dos anos 80 como integrante do vanguardista grupo paulista Rumo, se alinhando no mesmo nível de títulos como Ná Ozzetti (Continental, 1988), Ná (Núcleo Contemporâneo, 1994) e Estopim (Ná Records, 1999), que sempre mantiveram a cantora no rumo certo. Disco de banda que reúne Ná com Dante Ozzetti (violões), Mário Manga (guitarras e violoncelo), Sérgio Reze (bateria e percussão) e Zé Alexandre Carvalho (baixo acústico), Embalar é disco para quem aposta na canção, para citar verso de Musa da música (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), composição alocada no início metalinguístico do CD e gravada por Ná com a adesão das vozes de Juçara Marçal e Mariana Furquim. Mas é para quem aposta numa canção de caminhos melódicos e harmônicos menos previsíveis, como Miolo -parceria de Ná com Luiz Tatit - e como As estações (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), grande música de levada envolvente que aborda com poesia o cotidiano imutável da mulata que passa os anos a ensaboar e lavar roupa. Tema quase etéreo da lavra da compositora mineira Déa Trancoso, Minha voz se ajusta com perfeição à estética da obra da artista em gravação feita por Ná com Mônica Salmaso, cantora paulista conhecida pela perfeição de sua voz e, por isso mesmo, convidada ideal para composição metalinguística que exalta a dádiva da voz. Luiz Tatit é nome recorrente na composição de repertório inspirado que destaca A lente do homem, de Manu Lafer. Curiosamente, as duas músicas que mais evocam a arquitetura vanguardista do grupo Rumo foram feitas sem a colaboração de Tatit. Lizete - parceria de Kiko Dinucci com Jonathan Silva, gravada por Ná com a voz e a guitarra de Dinucci - é deliciosa composição de tom leve e teatral que narra as (des)ilusões amorosas da personagem-título, Lizete, após o rompimento com a namorada Rebeca. Nem oi (Dante Ozzetti e Makely Ka) também ecoa, em menor grau, a herança deixada pelo Rumo na música brasileira. Bela canção escorada no toque do violão de Dante Ozzetti, Olhos de Camões tem melodia mais clássica de Ná, ajustada com perfeição ao poema feito por Alice Ruiz com colagem de versos do poeta português Luis de Camões (1524 - 1680). Marcelo Pretto divide os vocais da faixa com Ná, que assina a produção do disco ao lado de sua azeitada banda. No fim, Os enfeites de cunhã (Ná Ozzetti e Joãozinho Gomes) - tema que alinha na letra vários termos do universo indígena - expõe a efervescência rítmica que reverbera também em Pra começo de conversa, a música que abre a parceria de Ná com a cantora e compositora paulista Tulipa Ruiz (um dos nomes mais bem-sucedidos da atual cena indie paulistana) e que ironicamente fecha este excelente álbum com pegada mais pop roqueira. Enfim, Ná Ozzetti sempre foi uma das grandes cantoras do Brasil. Com Embalar, CD já com lugar garantido na lista de melhores discos deste ano de 2013, a artista dá outro salto qualitativo em sua obra fonográfica, sem sair de seu quintal, mas já com novas conexões feitas com sua voz dadivosa.

noca disse...

Estava devendo esse disco.E o resultado é impressionante.Na junto com Nana,Zizi,Monica e Jussara são as maiores cantoras do pais hoje!

Luca disse...

Ná é mesmo uma grande cantora e mesmo sem ter ouvido esse disco acredito que seja mesmo excelente, só acho nojenta essa mania do Mauro de ficar determinando no meio do ano os 'melhores' discos e shows do ano... pô, espera o ano acabar e aí faz a lista... crítico tem muito ego

Sandro Mendes disse...

Quanta gentileza: "só acho nojenta essa mania do Mauro..." Linguagem vulgar e desnecessária para se referir ao mediador do blog que pode na sua livre opinião achar quais são os seus melhores discos no inicio, meio e fim do ano. Ná Ozzetti é para ouvir os 365 dias do ano e depois de amanhã.

Insensato Mundo disse...

De fato é um excelente disco! Me pegou da primeira vez que o ouvi. Ná é pura inteligência somada a criatividade.

O comentário do leitor Luca serve apenas para afirmar que quem tem "muito ego" mesmo não é bem o Mauro, senão próprio comentarista. É o mesmo que entrar numa casa onde se é convidado e maltratar o morador. Como diria Sandra Annenberg: "que deselegância!".

CN disse...

Ouvir a querida Ná é sempre um presente e um aprendizado. Artista inquieta, ousada, que jamais se rendeu ao lugar comum. Dona de uma inteligência artística e musical, fez se única, com muita humildade e elegância. Aplaudo a sempre.
Carlos Navas

paulo sergio disse...

Ná Ozzetti é uma viagem pelas notas. Ninguém encarna a música tanto quanto.
Estou de malas prontas!

Pedro Bó disse...

Mário,
Talvez valha a pena mencionar que o disco está disponível para download legal e gratuito no site da cantora!

Fernando Lima disse...

Realmente, um dos melhores do 2013, se não for o melhor!!
Impressionante a pegada pop rock do disco, que tem um som maravilhoso" É uma nova Ná!