Título: Insular
Artista: Humberto Gessinger
Gravadora: Stereophonica
Cotação: * * * 1/2
A rigor, Insular pode ser caracterizado como o primeiro disco solo de Humberto Gessinger, ainda que, ao longo de sua discografia, o cantor e compositor gaúcho várias vezes tenha sido o comandante do exército de um homem só no papel de líder e resistente mentor do grupo Engenheiros do Hawaii. Em Insular, bom disco que versa inclusive sobre a solidão, Gessinger comanda exército de virtuosos músicos gaúchos - como Luis Carlos Borges, cujo acordeom pontua a regionalista Recarga - sem deixar de estar essencialmente solitário na criação e na apresentação de inspirada safra autoral. Prestes a completar 50 anos, em 24 de dezembro de 2013, o artista já não é o guri desbocado que se tornou um porta-voz da juventude brasileira - surda às patrulhas da crítica que sempre minimizou a importância dos Engenheiros - à medida em que avançava na highway que acreditava ser infinita. Harmonizando a linguagem do rock com as influências gaúchas sempre presentes na música de Gessinger, Insular transita pelas trilhas da maturidade, nas quais já é possível vislumbrar o fim da outrora infinita highway. Tanto que na música que abre o CD, Terei vivido, o cantor reflete sobre o fato de já ter percorrido a maior parte do caminho existencial. Na mesma sintonia, Segura a onda, DJ - faixa de vibe roqueira que conta com a voz e o acordeom do gaúcho Nico Nicolaiewsky - flagra Gessinger assustado diante do espelho com a consciência de que envelheceu ao longo dos anos. Afinal, o pop não poupa ninguém. Produzido pelo próprio Gessinger, Insular é o primeiro álbum de inéditas da lavra do artista gaúcho desde Dançando em campo minado (2003), disco lançado há dez anos pelo grupo Engenheiros do Hawaii. Ao longo dessa década, Gessinger engatou projetos paralelos - um trio de duração efêmera e o duo Pouco Vogal, formado com o conterrâneo Duca Leindecker - sem deixar de ser e parecer um homem só, longe demais do hype das capitais. Insular não o desvia dessa rota geográfica-existencial. A repetição do termo gaúcho Prenda minha na letra da balada Essas vidas da gente, para citar somente um único exemplo, situa Gessinger em seu habitat natural, de onde surgem milongas como a Milonga do xeque-mate, de gauchismo diluído pelo toque universal da guitarra de Frank Solari. Entre rock de pegada mais tradicional (Bora, do significativo verso "O tempo vai passando, o passando vai pesando"), rock de arquitetura folk (Sua graça, faixa pontuada pela harmônica tocada pelo próprio Gessinger) e canção estruturada no tempo da delicadeza (a boa música-título Insular), Gessinger reforça sua (sempre nítida) assinatura como compositor sem se escorar tanto nas autorreferências que diluíram com o tempo a força do repertório dos Engenheiros do Hawaii. Insular prova que o artista anda com coerência e coesão pela highway que já se revela finita.
5 comentários:
A rigor, Insular pode ser caracterizado como o primeiro disco solo de Humberto Gessinger, ainda que, ao longo de sua discografia, o cantor e compositor gaúcho várias vezes tenha sido o comandante do exército de um homem só no papel de líder e resistente mentor do grupo Engenheiros do Hawaii. Em Insular, bom disco que versa inclusive sobre a solidão, Gessinger comanda exército de virtuosos músicos gaúchos - como Luis Carlos Borges, cujo acordeom pontua a regionalista Recarga - sem deixar de estar essencialmente solitário na criação e na apresentação de inspirada safra autoral. Prestes a completar 50 anos, em 24 de dezembro de 2013, o artista já não é o guri desbocado que se tornou um porta-voz da juventude brasileira - surda às patrulhas da crítica que sempre minimizou a importância dos Engenheiros - à medida em que avançava na highway que acreditava ser infinita. Harmonizando a linguagem do rock com as influências gaúchas sempre presentes na música de Gessinger, Insular transita pelas trilhas da maturidade, nas quais já é possível vislumbrar o fim da outrora infinita highway. Tanto que na música que abre o CD, Terei vivido, o cantor reflete sobre o fato de já ter percorrido a maior parte do caminho existencial. Na mesma sintonia, Segura a onda, DJ - faixa de vibe roqueira que conta com a voz e o acordeom do gaúcho Nico Nicolaiewsky - flagra Gessinger assustado diante do espelho com a consciência de que envelheceu ao longo dos anos. Afinal, o pop não poupa ninguém. Produzido pelo próprio Gessinger, Insular é o primeiro álbum de inéditas da lavra do artista gaúcho desde Dançando em campo minado (2003), disco lançado há dez anos pelo grupo Engenheiros do Hawaii. Ao longo dessa década, Gessinger engatou projetos paralelos - um trio de duração efêmera e o duo Pouco Vogal, formado com o conterrâneo Duca Leindecker - sem deixar de ser e parecer um homem só, longe demais do hype das capitais. Insular não o desvia dessa rota geográfica-existencial. A repetição do termo gaúcho Prenda minha na letra da balada Essas vidas da gente, para citar somente um exemplo, situa Gessinger em seu habitat natural, de onde surgem milongas como a Milonga do xeque-mate, de gauchismo diluído pelo toque universal da guitarra de Frank Solari. Entre rock de pegada mais tradicional (Bora, do significativo verso "O tempo vai passando, o passando vai pesando"), rock de arquitetura folk (Sua graça, faixa pontuada pela harmônica tocada pelo próprio Gessinger) e canção estruturada no tempo da delicadeza (a boa música-título Insular), Gessinger reforça sua (sempre nítida) assinatura como compositor sem se escorar tanto nas autorreferências que diluíram com o tempo a força do repertório dos Engenheiros do Hawaii. Insular prova que o artista anda com coerência e coesão por highway que já se revela finita.
Em relação à crítica, Humberto Gessinger sempre riu por último.
Esse é o dito homem banda.Vale ressaltar o cd Gessinger trio de 1996 que de trio não tinha quase nada
Esse "Insular" me fez voltar a escutar Engenheiros do Hawaii e DE FATO o que mais me chamou atenção nesse trabalho do Gessinger foi a maturidade das músicas e letras. Tá um belo disco!
Com certeza o melhor dos últimos trabalhos da vida do cara!
HG se reinventa e jamais vive do "vampirismo" dos de sua geração que eternamente cantam Legião e Cazuza. HG é dos letristas mais sensatos e sensíveis do nosso pop rock. Sabe se por no devido lugar e jamais fica bancando o eterno adolescente de 50 anos,enfim,escritor e compositor top !! Eu amo
Postar um comentário