Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

'Puro malte', 9º álbum de estúdio do grupo Blues Etílicos, desce redondo

Resenha de CD
Título: Puro malte
Artista: Blues Etílicos
Gravadora: Substancial Music
Cotação: * * * 

Nono álbum de estúdio do grupo carioca Blues Etílicos, Puro malte desce redondo. É um disco em que o quinteto carioca - na estrada desde 1985 - reitera sua devoção ao blues de sotaque brasileiro, ainda que fiel às tradições musicais do Mississipi (EUA), berço do Delta Blues. Embora traga dois temas instrumentais, Cracatoa (Cláudio Bedran, Flávio Guimarães e Otávio Rocha) e Trem de prata (Flávio Guimarães e Greg Wilson), Puro malte é um disco basicamente cantado - em português. O grupo firma inclusive parcerias com dois poetas letristas ligados ao universo do pop rock nacional, Bernardo Vilhena - parceiro de Greg Wilson em Me leva para o Rio -e  Mauro Sta. Cecília, autor dos versos de Onde morava o mar, escritos sobre melodia de Cláudio Bedran e Greg Wilson. Do repertório autoral do CD, 11º título de discografia que inclui dois registros ao vivo de shows, a música-título Puro malte (Flávio Guimarães e Greg Wilson) - ode à cerveja artesanal - se impõe como o tema mais inspirado da atual safra de inéditas do Blues Etílicos (a faixa tem o toque do piano do norte-americano Donny Nichilo, músico que já trabalhou com Buddy Guy). Mas duas músicas de lavras alheias se destacam no álbum e confirmam o domínio que Cláudio Bedran (baixo), Flávio Guimarães (gaita), Greg Wilson (voz, guitarra e violão), Otávio Rocha (guitarra slide) e Pedro Strasser (bateria) têm do idioma do blues. Sucesso lançado pela dupla Toquinho & Vinicius no álbum São demais os perigos desta vida (RGE, 1971), o samba Cotidiano nº 2 (Como dizia o Chico) (Toquinho e Vinicius de Moraes) é ambientado no clima e no ritmo do blues com precisão que valoriza os versos em que a personagem do tema mistura poesia com cachaça para se anestesiar da dor causada pelos acontecimentos do dia-a-dia. Tema composto por Alceu Valença com refrão extraído do folclore de Alagoas, Espelho cristalino - música-título do álbum lançado pelo compositor pernambucano em 1977 - é banhado nas águas do Mississipi em outra sagaz releitura do Blues Etílicos que faz emergir os versos épico-psicodélicos-poéticos com que Alceu retrata o cotidiano da selva de aço. Cotidiano nº 2 e Espelho cristalino são as melhores músicas ouvidas em Puro malte. Mas o que conta no disco - e o dignifica - é a imersão dos músicos no universo do blues. Os toques da harmônica de Flávio Guimarães e da guitarra slide de Otávio Rocha valorizam temas como Joko loco (Cláudio Bedran, Otávio Rocha e Greg wilson) e H2O (Zeca Proença e Luiz Rochet). São músicos que tocam com paixão. Por paixão. São artesãos. É por isso que o disco Puro malte desce redondo como uma boa cerveja.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Nono álbum de estúdio do grupo carioca Blues Etílicos, Puro malte desce redondo. É um disco em que o quinteto carioca - na estrada desde 1985 - reitera sua devoção ao blues de sotaque brasileiro, ainda que fiel às tradições musicais do Mississipi (EUA), berço do Delta Blues. Embora traga dois temas instrumentais, Cracatoa (Cláudio Bedran, Flávio Guimarães e Otávio Rocha) e Trem de prata (Flávio Guimarães e Greg Wilson), Puro malte é um disco basicamente cantado - em português. O grupo firma inclusive parcerias com dois poetas letristas ligados ao universo do pop rock nacional, Bernardo Vilhena - parceiro de Greg Wilson em Me leva para o Rio -e Mauro Sta. Cecília, autor dos versos de Onde morava o mar, escritos sobre melodia de Cláudio Bedran e Greg Wilson. Do repertório autoral do CD, 11º título de discografia que inclui dois registros ao vivo de shows, a música-título Puro malte (Flávio Guimarães e Greg Wilson) - ode à cerveja artesanal - se impõe como o tema mais inspirado da atual safra de inéditas do Blues Etílicos (a faixa tem o toque do piano do norte-americano Donny Nichilo, músico que já trabalhou com Buddy Guy). Mas duas músicas de lavras alheias se destacam no álbum e confirmam o domínio que Cláudio Bedran (baixo), Flávio Guimarães (gaita), Greg Wilson (voz, guitarra e violão), Otávio Rocha (guitarra slide) e Pedro Strasser (bateria) têm do idioma do blues. Sucesso lançado pela dupla Toquinho & Vinicius no álbum São demais os perigos desta vida (RGE, 1971), o samba Cotidiano nº 2 (Como dizia o Chico) (Toquinho e Vinicius de Moraes) é ambientado no clima e no ritmo do blues com precisão que valoriza os versos em que a personagem do tema mistura poesia com cachaça para se anestesiar da dor causada pelos acontecimentos do dia-a-dia. Tema composto por Alceu Valença com refrão extraído do folclore de Alagoas, Espelho cristalino - música-título do álbum lançado pelo compositor pernambucano em 1977 - é banhado nas águas do Mississipi em outra sagaz releitura do Blues Etílicos que faz emergir os versos épico-psicodélicos-poéticos com que Alceu retrata o cotidiano da selva de aço. Cotidiano nº 2 e Espelho cristalino são as melhores músicas ouvidas em Puro malte. Mas o que conta no disco - e o dignifica - é a imersão dos músicos no universo do blues. Os toques da harmônica de Flávio Guimarães e da guitarra slide de Otávio Rocha valorizam temas como Joko loco (Cláudio Bedran, Otávio Rocha e Greg wilson) e H2O (Zeca Proença e Luiz Rochet). São músicos que tocam com paixão. Por paixão. São artesãos. É por isso que o disco Puro malte desce redondo como uma boa cerveja.